Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 40
Quarenta




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Os quatro se reuniram na casa de Lucille e Gerard.

– Bem, o que sabemos é que as acusações são contra Von Gorthel. O meu nome ainda não foi mencionado.

– Não o seu. - corrigiu Lucille - O do capitão Vaan Sucher.

– É. - ele sorriu. - Eu passei tanto tempo com esse personagem que me esqueço. Bem, sendo assim, não há nada que me impeça de sair de Paris. Uma boa ideia seria sairmos separadamente de Paris. Hanna, Lucille e Nanette. Eu e Julian.

– E por que não em casais? - perguntou Lucille.

Julian e Gerard se entreolharam.

– É menos perigoso para vocês. Existe a possibilidade, ainda que remota, de que acabem me ligando aos crimes de Von Gorthel. Existem barreiras alemãs em cada cidade. Se isso acontecer...

Todos sentiram o peso das palavras dele. Hanna e Lucille olharam uma para a outra. Seria o destino tão cruel? Acenar-lhe com a felicidade e a arrebatar tão cedo?

– Não vamos pensar nisso! - disse Lucille com a praticidade que lhe era característica. Ela puxou o mapa para si. - Eu e Hanna pegamos o trem em Paris e... - ela olhou para Gerard.

– Sigam até Lyon ou arredores. De lá peguem outro trem até Genebra. Lá procurem a embaixada britânica e digam que foram lá a pedido de Lorde Archer.

– Quem é esse? - perguntou Lucille.

– Não se preocupe com isso. Só fale que estão lá a pedido de Lorde Archer para falar com o embaixador. Não aceitem falar com mais ninguém. Só com o embaixador

Lucille fez aquela expressão desconfiada que ele temia, mas limitou-se a concordar.

– E vocês? - perguntou Hanna olhando para Julian.

– Eu e Gerard iremos nos encontrar com vocês, se isso a está preocupando, minha querida. - ele afagou a mão dela.

– O importante é que vocês não fiquem nos procurando, ajam naturamente. Hanna - Gerard olhou para a moça. - Temos que esperar que você também não esteja sendo procurada. Se Rosenberg já achou o corpo de Von Gorthel a pergunta seguinte é: Onde está a esposa dele? Não é provável que pensem que você o matou. Mas que achem que você fugiu com quem o matou. Então estarão procurando um casal. Por isso temos que nos separar. Mas, por ter sido casada com ele e me desculpe por lembrar isso - ele apartou - você pode ser reconhecida por algum oficial que já a tenha visto em alguma recepção.

– Eu não saía muito com Otto. E quando isso acontecia, eu tentava passar a mais invisível possível. Falando muito pouco e mal saindo do lado dele.

– Isso é bom. Pessoas assim passam despercebidas. Você daria uma ótima espiã. Mas seria boa uma mudança. - ele levantou-se indo até a porta do porão. - Lucille você pode me ajudar?

– Sim. Estou indo.

Os dois desceram um lance de escadas e Gerard acendeu a luz.

– Você já veio aqui em baixo?

– Algumas vezes. Por quê?

– Por causa disso. - ele foi até uma das paredes e puxou algo que parecia um prego ou parafuso. Um pequenino espaço se abriu revelando algumas prateleiras. Embaixo de uma delas, havia algo parecendo uma gaveta. Nela havia vários compartimentos com cédulas e moedas de diversos países.

– Gerard! Isso é verdadeiro? È uma fortuna!

Ele achou graça do assombro dela.

– É sim. Sempre temos que estar preparados. Aqui estão alguns francos suíços e alguns marcos alemães. - ele separou as cédulas dando-as para Lucille. - Vocês vão precisar de moedas também. Agora, vamos ver como eu mudarei você. Esses olhos verdes de feiticeira... - ele pegou uma caixinha. Isso aqui são lentes de contato. Hanna deve aprender a usá-las. Vai deixá-la com aspecto de cega. Os olhos dela já são azuis, então parecerão turvos.

– Mas ela enxergará?

– Claro. Por isso é bom que ela se acostume com as lentes. Ela precisa acreditar que é cega. Para ser um bom disfarce, a pessoa precisa acreditar no disfarce. Você terá que ficar atenta a isso, já que será a acompanhante dela.

Lucille assentiu concordando.

Gerard pegou uma caixa na parte de cima. Uma nuvem de poeira os atingiu, fazendo Lucille espirar algumas vezes.

– Bem, você poderá não gostar, mas isso é para ser usado por baixo da roupa.

Ela olhou os enchimentos e sacudiu a cabeça.

– Eu não acredito que você queira que eu use isso?

– Por mim você usava isso para sempre e só tirava para mim. - apesar de perigoso a demora deles ali na casa, ele jogou os enchimentos para o lado e a abraçou. - Se você soubesse o quanto eu me corroí de ciúme vendo você linda e maravilhosa naquele palco?

Lucille fez uma carinha marota olhando para ele.

– É mesmo?

Ele a conduziu até uma das paredes pressionando o corpo dele contra o dela. Lucille suspirou ao sentiu a excitação dele em seu abdome.

– Sim. Eu quis arrancar você de lá e levá-la para um lugar tranquilo. Tirar a sua roupa e amá-la com paixão.

A cada frase, ele a beijava, deslizando suas mãos no corpo dela e mexendo os quadris como se estivesse fazendo amor com ela ali mesmo, de pé. Levantou as pernas dela do chão, fazendo a saia dela subir alguns centímetros, acariciando-a por cima da meia até atingir a pele entre esta e a calcinha.

Lucille sentiu-se derreter perante as carícias dele. Toda angústia, toda a adrenalina do cárcere, da libertação e de tudo que passaram juntos amoldou-se a paixão carnal que sentiam deixando-a quente, selvagem.

– Ei, pombinhos! Vão demorar muito ai embaixo ainda? Temos que pegar um trem. - eles ouviram Julian gritar do alto das escadas.

Gerard grunhiu de frustração. Deixou Lucille escorregar até atingir o chão com a ponta dos pés. Apoiou a cabeça no ombro dela. Os dois respiravam ofegantes.

– Já estamos terminando aqui, Desmonts. Já iremos subir. - ele respondeu.

– Ah tá. Não demorem...

– Eu devia ter matado esse cara quando tive a chance. - disse ele entre os dentes.

Lucille segurou o rosto do marido entre as mãos e o beijou.

– Não se preocupe. Terminaremos isso outra hora. É uma promessa.

– Ficarei contando os minutos. Agora suba na frente. - ele se afastou dela e Lucille pode ver o estado de franca excitação que ele estava. - Preciso de alguns minutos a mais para me apresentar.

Ela riu, recolhendo tudo e subindo as escadas.

***

Quando Rosenberg chegou na casa de Von Gorthel, viu que seu trabalho já havia sido feito. Seu comandante, futuro prisioneiro, já estava morto.

Ao se abaixar perto do corpo, ele suspirou:

– Eu sabia que Von Gorthel não aguentaria a vergonha de um julgamento. Que pena, tinha escolhido até a corda para o pescoço dele.

Ele levantou-se e ordenou aos soldados.

– Vasculhem tudo. Recolham o corpo do comandante.

No momento em que os soldados viraram o corpo ele viu o ferimento no joelho.

– Esperem! - ele se aproximou. - Isso é ferimento à bala. Talvez Von Gorthel não tenha sido assim tão covarde.

– Senhor, - gritou um dos soldados em frente a construção que Von Gorthel usava como cativeiro. - Há outro corpo aqui. É do sargento Kroll.

– Senhor, - outro soldado apareceu na sacada do quarto. - Há um corpo aqui. É de uma senhora.

– É a senhora Von Gorthel?

– Não. Ela é idosa.

– Talvez seja a criada dela. - ele olhou para cima. - Alguma outra coisa, soldado?

– Roupas reviradas e caixas de joias vazias.

– Uma fuga apressada. - ele virou-se para seu ajudante de ordens. - A senhora Von Gorthel está desaparecida, provavelmente acompanhada por um homem. Mande um aviso para todas as estações. Se isso foi um assassinato, vou pegar quem o fez.

***

Hanna e Lucille caminhavam apressadas pela estação de trem. Já haviam retirado os bilhetes e agora iam em direção ao ponto de embarque. O trem estava marcado para as 20:00 e eram 19:45. Um vento frio fazia as pessoas encolherem dentro dos agasalhados, mas elas estavam tão ansiosas que nem sentiam o frio.

– Lucille... Olhe quantos soldados. Você acha que estão procurando por nós?

– Não pense nisso, Hanna. Esses soldados não tem nada a ver conosco. Continue se apoiando em meu braço e vamos continuar a andar. Logo, logo o trem ira partir. Vamos embarcar.

Dois soldados se aproximaram de Hanna e Lucille e pediram os documentos.

– E ela? - um dos soldados indicou Hanna que olhava para o chão.

– É minha patroa. Ela é cega e perdeu o marido na guerra. - respondeu Lucille em alemão.

O soldado devolveu os documentos com um sorriso de simpatia.

– Há muitas mulheres nessa situação. Sinto muito.

Hanna levantou a cabeça e acenou com a cabeça dando um sorriso triste.

O trem apitava anunciando a partida. Nesse momento um grupo apressado chegou e esbarrou em Hanna derrubando a moça.

Um dos soldados a segurou a tempo impedindo a queda.

Hanna endireitou-se e falou:

– Obrigado, soldado. - se afastando rapidamente.

O soldado ficou olhando a dupla que se afastava. Alguma coisa estava errada... Então ele reparou que a cega não se apoiava mais na criada.

– Ei! Esperem! - ele usou o apito em alerta. - Parem já as duas!

Lucille pegou na mão de Hanna.

– Corre!

E as duas saíram pela estação. O trem já se movimentava lentamente. E os soldados correndo atrás delas. Mas intencionalmente ou não, as pessoas começavam a atrasa-los.

Lucille fez Hanna subir no vagão e jogou a sua maleta para ela. Nisso, um soldado que estava próximo e que ela não tinha visto, agarrou o braço dela.

– Está pega!

Lucille não teve duvidas. Deu uma pisada forte no pé do soldado com o salto de seu sapato e um soco quando ele a soltou.

O trem já estava quase deixando a estação, ela tirou os sapatos e correu o mais que pode, segurando na grade do vagão um minuto antes que a estação terminasse.

Irônica, ela voltou-se para os soldados e assoprou-lhes um beijo.

As duas se abraçaram rindo felizes como duas crianças que realizaram uma traquinagem. Então elas repararam que os outros passageiros as olhavam, estupefatos. Hanna e Lucille encaminharam-se para seus lugares como se nada tivesse acontecido.


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