Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 21
Vinte e Um




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– Finalmente! – Gerard exclamou abrindo um envelope com a palavra Vertraulich. Uma correspondência confidencial. Cuidadosamente, ele abriu o envelope. Tirou algumas folhas de dentro e sentou-se para lê-las.

Aquilo era muito importante! Um carregamento para as tropas de Rommel na África. Se esse carregamento não chegasse, as tropas aliadas poderiam ganhar mais um tempo parta receber reforços. Gerard leu que o carregamento passaria pela França a caminho do Mar Mediterrâneo e entraria pela Argélia. Berlim estava comunicando que as forças nazistas na França deveriam auxiliar no transporte dos suprimentos. Auxiliar...

Gerard tinha que levar esse comunicado para Huntingdon ver. Se eles conseguissem fazer com que esse carregamento não chegasse a Rommel, as forças de ocupação na França sofreriam um golpe moral. Von Gorthel ficaria desacreditado e, possivelmente seria retirado do cargo.

Rapidamente ele microfilmou os documentos e os guardou novamente no envelope. Refez o lacre e juntou aos outros que iria levar para a sala de Von Gorthel. Quando saía de sua sala, encontrou o responsável pela contabilidade do comando alemão.

Hail Hitler! – Gerard cumprimentou o homem. – Bom dia Sr. Fritz.

Hail Hitler! Bom dia, capitão respondeu o contador.

– Sr. Fritz, por acaso o comandante já lhe devolveu a autorização de pagamento que eu lhe requisitei.

– Não, capitão. Estou até estranhando. O comandante geralmente autoriza rapidamente às solicitações de pagamento.

– Ele deve ter esquecido. Vou comunicar a ele. Ah, - ele pegou um dos envelopes. – isso é para o senhor. Já ia pedir para lhe entregar.

Fritz olhou o envelope.

– Ah, é o pedido de prestação de contas. Ai, ai. Justamente hoje... – suspirou o homem. – Hoje é meu aniversário de casamento e isso vai me tomar muito tempo. E minha esposa vai ficar furiosa se eu não estiver em casa para jantar.

– Quer um conselho? Compre uma joia bem bonita para ela. Nenhuma mulher resiste a uma joia.

– Se coubesse em meu orçamento, eu até faria isso. Não resta muito para os funcionários civis, capitão. Uma vez que a maior parte do espólio francês vai para os bolsos do alto comando. Gerard ficou interessado na conversa.

– É mesmo Fritz? Não tinha conhecimento disso.

– O fato é desconhecido pela graduação inferior, capitão. Mas o primeiro escalão fica com a maior parte dos tesouros arrecadados. O Gen. Von Gorthel por exemplo. Só a casa que ele mora tem uma despesa de 200.000 francos ao mês. Fora as despesas pessoais dele. – o contador confidenciou em voz baixa.

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes por que dois oficiais passavam pelo corredor naquele momento.

– Mas isso é relatado à Berlim, Fritz?

– Claro que não! – respondeu Fritz com se achasse aquilo absurdo. – Se Berlim souber disso, vamos todos ser presos. Eu tenho que maquiar um pouco os relatórios antes de mandar para Berlim. Tudo a mando do General.

– Então Von Gorthel manda você maquiar os relatórios para que o alto comando possa roubar o Reich?

– Por favor, capitão, fale baixo! – o contador olhou para os lados, preocupado. – É como eu disse. Se Berlim ficar sabendo disso, vamos ser fuzilados, sem julgamento.

– Fique tranquilo, Fritz. No que depender de mim, você nunca vai ser implicado nisso.

– Conto com a sua descrição, capitão. Afinal, por mais absurdas que sejam, estamos aqui para cumprir as ordens deles, não é?

– É, Fritz. Bem, deixa eu ir cumprir as minhas então. Até logo e sorte com sua esposa.

– Obrigado, capitão.

Os dois homens apertaram as mãos e seguiram em direções opostas.

Ele seguiu até a sala de Von Gorthel, bateu na porta e entrou quando o comandante autorizou com um “Entre” com voz seca e dura.

Hail Hitler! Bom dia, senhor.

Hail Hitler! Bom dia, Capitão.

Gerard estendeu os documentos para o comandante.

– Aqui estão os documentos do despacho de Berlim.

– Ah, já não era sem tempo. Tenho vários pedidos para mandar. – Von Gorthel pegou os documentos começando a lê-los.

– Senhor, falando em pedidos, eu encontrei o Sr. Fritz da contabilidade e ele me disse que ainda não recebeu a autorização de pagamento para os senhores... – ele abriu a agenda, fingindo que procurava alguma coisa. - ... Ah, Claude Favel e Aristide Savigné.

O comandante levantou os olhos para Gerard.

– Quem são esses?

– Os responsáveis pela recepção que o senhor deu.

O alemão voltou a fazer o que estava fazendo.

– E nem vai receber.

– Senhor? – Gerard achou que não havia ouvido bem.

– Eu disse que Fritz não vai receber a autorização.

– Mas por que senhor?

– Por que, meu caro Vaan Sucher, eles tiveram um privilégio por me servirem. Por que eu deveria pagá-los? – Von Gorthel reclinou-se na cadeira, olhando para o seu secretário.

– Por que eles tiveram despesas senhor?

Os olhos de Von Gorthel adquiriam um brilho glacial.

– Você está me questionando, Vaan Sucher?

– Claro que não senhor! – Fervendo por dentro, Gerard assumiu uma postura servil. – É que o senhor sempre cumpre seus compromissos, então estou surpreso .

– Não se preocupe com isso, meu caro. E a noite nem terminou de maneira agradável.

Gerard fingiu inocência.

– Aconteceu alguma coisa depois que eu saí?

– Aquela rameira da cantora deles me preparou uma armadilha. Mas ela não perde por esperar. – Von Gorthel rosnou.

Gerard quis esganá-lo pela maneira com que ele se referiu a Lucille. Mas algo lhe dizia que Von Gorthel tinha péssimos pensamentos em relação à Lucille.

Ele daria um jeito em Von Gorthel. Um plano já se desenhava na mente de Gerard.

***

Lucille fechou a porta e já descia os degraus em direção da rua, quando uma senhora a interpelou.

Madame Vermont?

Lucille a encarou pois percebeu o sotaque alemão nas palavras dela.

– Sim, sou eu. A senhora é...?

– Sou Clara Berger. A ama da senhora Von Gorthel.

– Ah, sim. – Lucille abriu um sorriso. Clara se sentiu aliviada. Tinha medo de falar com os franceses. Temia não encontrar o endereço que Hanna havia lhe dado. Para sua surpresa o endereço era próximo da residência dos Von Gorthel.

– Hanna pediu para lhe dizer que gostaria de vê-la. E que vocês poderiam marcar na igreja.

– É claro! Vamos ver... – Lucille olhou no relógio. – Fale para ela que estarei na igreja por volta das três da tarde. Seria um bom horário para ver as crianças.

– Sim, madame. Direi a ela. Obrigada. – a mulher se afastou rapidamente.

Lucille suspirou. A pobre devia ter receio de sair nas ruas com medo de ser hostilizada. As mulheres eram sempre as maiores vitimas das loucuras dos homens.

***

Hanna andava de um lado para o outro, impaciente. Para ela a demora de Clara já durava horas, mas na verdade a senhora só havia saído há exatos 40 minutos.

Quando a porta do quarto se abriu revelando a figura de Clara, Hanna voou para ela tal como uma criança que espera um presente.

– E então? Conseguiu vê-la? Falou com ela? Ela ira ao encontro? – bombardeou a senhora com perguntas.

A velha senhora ergueu a mão pedindo alguns minutos enquanto sentava-se numa cadeira respirando longamente.

– Um minuto, criança. Sua Nannau não é mais jovem. E essas escadas...

A jovem ficou calada, mas mexia-se ao redor de Clara como se estivesse ligada na tomada.

– Eu consegui encontrar a jovem senhora Vermont e sim, ela irá ao encontro que está marcado para as três da tarde.

Hanna olhou para o relógio em cima da cornija da lareira. Ainda eram dez da manhã. Iria ser uma longa espera. Estava ansiosa para ver a amiga. Quem sabe elas iriam ao Orfanato.

– Agora preste atenção Hanna. Você passou quase dois anos aqui sem praticamente sair de casa. Essas saídas repentinas podem despertar a atenção do comandante.

– Otto nem presta atenção no que eu faço. Se eu morresse, ele só sentiria minha falta uma semana depois.

Clara não pareceu muito convencida.

– Eu só quero que você fique bem, minha querida.

Hanna abraçou a senhora.

– Não se preocupe, Nannau. Eu estou tão bem como nunca me senti antes. A época de tristezas já passou.

Clara deixou-se abraçar. Sua pobre menina sequer desconfiava de quantas tristezas a vida ainda poderia lhe dar.


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