Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 19
Dezenove




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O grupo correu até o carro parado. A rua deserta fazia os saltos de Lucille ecoar na noite. Em nenhum momento, o líder mascarado soltou sua mão, mas ela não sentiu medo. Por dois motivos: Por ter reconhecido Henri entre os homens e por ter reconhecido a voz do líder, apesar de ter se passado dois anos desde última vez que se encontraram. A voz profunda e rouca fez seu coração saltar dentro do peito. Ela sabia, desde o primeiro momento, que era seu salvador da noite.

Eles pararam e o líder abriu a porta do carro para ela.

– Entre, mademoiselle. Henri a levará para casa.

Lucille não entrou.

– Você não vem conosco?

– Não. Ainda tenho algo a fazer.

– E como farei para vê-lo de novo? – ela sentia uma tristeza ao deixá-lo. Diferente da última vez, em que seus olhos queimavam de raiva dele.

– Como eu lhe disse em nosso último encontro, mademoiselle, eu sempre estarei por perto. No momento em que você precisar.

– Eu preferia que você estivesse sempre por perto, e não só quando eu precisasse... – ela se aproximou dele.

Ele ficou em silencio por alguns segundos. Ela viu que o pomo de adão em seu pescoço subia e descia como se ele tivesse engolido em seco e os maxilares travavam como se ele tivesse contendo uma forte emoção. Ele estava perturbado com sua proximidade.

– Vá, mademoiselle. – ele acenou com a cabeça indicando o carro. – Você parece gostar de brincar com fogo. Você pode se queimar da próxima vez. Fique longe de Von Gorthel. Ele tem gostos estranhos em relação às mulheres.

Lucille se sentiu ofendida com as palavras dele. Não quisera estar com Von Gorthel. O fizera somente para não prejudicar Claude e os outros funcionários do Le Moulin.

– Você não me conhece! Não sabe por que eu estava lá. – enraivecida, ela entrou no carro.

Gerard olhou para Henri e pediu.

– Leve mademoiselle para casa, Henri.

O homenzinho balançou a cabeça tristemente. Seu amigo estava perdendo a chance de revelar-se para sua esposa. Quem sabe se a chance se repetiria novamente até a missão acabar.

– Sim, monsieur. – ele sentou-se ao lado da moça e o carro partiu.

Só quando o carro se distanciava, é que Gerard tirou a máscara que usava. Mais uma vez a deixava com raiva dele. E mais uma vez ele sentia dor ao deixá-la ir.

***

Lucille engoliu as lágrimas que queriam correr pelo seu rosto. Ela não conseguia explicar, mas sentia uma dor profunda toda vez que sentia raiva do seu salvador da noite. Era como se ela soubesse que era errado brigar com ele. Mas por quê? Por que ela se sentia doente cada vez que eles seguiam caminhos opostos?

Ela olhou para o fiel Henri sentado ao lado dela.

– Não vai adiantar perguntar a você quem ele é?

Henri olhou para a jovem.

– Não posso revelar isso, mademoiselle. Muita coisa está em jogo e esse segredo não é meu.

– Ele sempre parece saber onde estou e se estou bem. É como se ele me seguisse todo o tempo. Tenho certeza disso.

– Pense somente nele como um anjo da guarda mademoiselle. Sempre próximo mas ao mesmo tempo inatingível.

O carro parou em frente à casa de Lucille naquele momento. Mas antes de sair, ela teve a última palavra.

– Mas um dia, Henri, eu hei de cortar as asas desse anjo até que ele se revele para mim. – e então saiu do carro.

Henri recostou-se no banco com um sorriso. Gostaria muito de ser uma mosquinha no dia em que isso acontecesse.

***

Lucille abriu a porta da casa e acendeu a luz. A figura sentada na confortável poltrona abriu os olhos.

– Lucille? – era Julian que cochilara esperando-a.

– Julian? Estava me esperando até agora? Você precisa descansar por causa de seus ferimentos.

Ele olhou o relógio da parede. Era maia noite.

– Nossa! Não pensei que era tão tarde. Como você conseguiu passar depois do toque de recolher?

– Eu consegui um passe especial. E um funcionário do Le Moulin me trouxe de carro.

– Um funcionário ou um admirador? – perguntou ele com voz suspeita.

– Um funcionário! – ela respondeu irritada. – E mesmo que fosse um admirador, você não teria nada que ver com isso.

– Como não? Nós estamos juntos. E eu acho que agora você não precisa mais se apresentar como cantora. Eu vou cuidar de você.

Ela sentiu o ar lhe faltar tamanha a sua raiva.

– Nós dormimos juntos. Não se esqueça disso. – ela retrucou. - Você só finge que é meu marido. Você não o é.

Ele a encarou abismado com a explosão. O fato dele não ter continuado a discussão agiu como um balde de água fria nela. Mas toda a tensão do dia deixou-a exausta.

– Olha, me desculpa por isso. Mas eu não vou admitir cenas de ciúme ou tentativas de me sufocar. Sou uma mulher adulta. – ela suspirou – Vou tomar um banho e dormir. Esquecer que essa noite existiu e que nós discutimos.

Lucille subiu as escadas sem se incomodar se ele a seguia ou não.

Julian dissera que a amava, mas ela não iria se submeter a ele. Gerard sempre respeitara o seu espaço, sabia como ela lidava com a vida e, por mais que a amasse, nunca a sufocara com cenas de ciúme. Ele era cuidadoso. Um marido cuidadoso, mas não ciumento. E algo lhe dizia que Julian iria querer lhe dominar.

Ao sair do banho, Lucille viu que ele já estava em sua cama. Ela despiu o penhoar e deitou-se. Julian virou para ela e a abraçou. Beijou a cabeça dela murmurando um “eu te amo.”

Lucille aninhou-se no peito forte. Mas seu último pensamento foi para o homem que segurou sua mão firmemente enquanto corria com ela pela noite. E, quando dormiu, foi um beijo proibido que povoou seus sonhos.


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