Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa
Lucille olhou para o soldado e disse:
– Vou tirar a roupa de apresentação e então podemos ir. – ela se encaminhou em direção ao palco e foi para os camarins.
Claude a esperava aflito.
– Meu Deus, Lucille! O que aconteceu?
– Eu pedi a Jean para lhe tranquilizar. Von Gorthel foi até o palco depois da última música e me levou até a mesa dele. Houve alguns brindes e eu consegui escapar. Ele destacou um soldado para me acompanhar até em casa.
– E vai deixá-lo esperando?
– É claro! Apesar de não ser sensato. – Lucille respondeu. Ela despiu o vestido com a ajuda de Elsie. Já havia tirado a peruca e agora removia a maquiagem quando eles ouviram uma batida na porta.
Os três entreolharam-se e Claude foi atender a porta.
O sargento Kroll estava plantado na porta.
– Estou aguardando fraulein conforme as ordens do Kommandant.
Claude o olhou e deu um torcer de lábios. Fechou a porta.
– Lucille, o capanga do nazista está ai fora aguardando você...
A moça parou de se vestir. Olhou para Elsie e agitou a mão indicando a peruca.
– Elsie pegue a peruca. Não vou me apresentar ao natural para eles. Vou continuar ruiva.
Elsie ajeitou a cabeleira ruiva sobre a cabeça de Lucille.
– Pronto! Metade Lucille, metade Angelique. – comentou.
As duas riram, mas Claude permanecia sério.
– Não concordo com isso, Lucille. Acho perigoso.
– Não tenho escolha, Claude. Eu ia enganá-lo, mas Von Gorthel pareceu adivinhar o que eu ia fazer. Qualquer coisa que o desgoste, ele pode querer punir todos vocês.
– E se o capanga dele não a levar para casa?
Lucille ficou pensativa, depois pegou sua bolsa e dela tirou uma pequena pistola.
– Qualquer que seja a intenção do chefe ou do capanga, eles não vão realizá-la. – declarou a moça com voz sombria.
Claude olhou para Elsie com o cenho franzido.
***
Alheio às decisões de Lucille, Gerard também se levantou da mesa.
– Senhor, - ele chamou a atenção de Von Gorthel – se me permite, vou me retirar também. Amanhã chega os despachos de Berlim e sei que o senhor vai querer vê-los assim que chegar.
– Claro, Vaan Sucher. Está dispensado. – Von Gorthel fez um sinal com a mão – Achei que ia se divertir, mas percebi que continua sozinho.
– O jantar foi agradável, Senhor. Assim como o show. Mas, mesmo assim, não devo esquecer minhas atribuições.
– É claro. Até amanhã.
Gerard perfilou-se e encaminhou-se para a saída.
Um dos oficiais virou-se para Von Gorthel:
– Queria que meu ajudante de ordens fosse tão eficiente quanto o seu, Von Gorthel.
O alemão bebeu um gole de vinho e respondeu.
– Vaan Sucher é o melhor, por que eu só recebo o melhor, meu caro Rosenberg. Estou pensando até em pedir sua promoção junto à Berlim.
– Faça isso. Tenho certeza que ele merece. Assim como você merece o melhor, Kommandant. – retrucou Rosenberg, contudo com uma expressão de desagrado que o outro não notou.
Gerard agradeceu ao porteiro e suspirou ao sentir o ar frio da noite no rosto. Caminhou devagar para não chamar a atenção dos soldados de prontidão na portaria. Mas, ao atingir o final da calçada, encostou-se na parede e correu para a entrada lateral do teatro.
Como esperava, o porteiro Henri estava a postos.
– Henri! – chamou.
O homenzinho olhou na direção do chamado.
– Monsieur Vermont?
– Venha, não temos tempo. Lucille está em perigo.
– O que o Senhor quer que eu faça? – perguntou Henri prontamente.
– Veja se Lucille e o sargento Kroll vêm para cá. – pediu enquanto tirava o paletó e o quepe e os deixava escondidos.
– Sim, senhor. – o homenzinho correu para a esquina.
Gerard tirou um canivete do bolso e fez um furo em um dos pneus do carro de Von Gorthel.
Henri juntou-se a ele novamente.
– Eles vêm para cá, senhor.
– Venha. – eles ocultaram-se atrás de uma caçamba de lixo.
Von Gorthel, Hanna, Lucille e o sargento encaminharam-se para o carro.
O casal Von Gorthel acomodou-se nos bancos traseiros e Lucille ficou no banco ao lado do motorista. O carro começou a andar.
– O que vamos fazer para salvar madame Vermont? – perguntou Henri.
– Eu furei o pneu do carro. Eles vão s distanciar, mas não irão longe. Dê o sinal.
Henri deu dois assovios e outro homem apareceu num outro carro.
– Siga o carro. – mandou Gerard sentando-se em um dos bancos. Henri sentou-se ao lado do motorista.
– Quando o carro deles parar, vamos render o soldado e tirar Lucille do carro. Henri, você a levará para casa.
– E por que o senhor não a leva? Assim, ela saberá que o senhor voltou e a salvou do nazista.
Gerard deu um sorriso triste.
– Seria bom que eu pudesse fazer isso, meu amigo. Mas ainda não é chegado o momento.
O homem sentado no banco do motorista informou a Gerard.
– O carro deles está diminuindo, senhor.
– Então pare aqui. Vamos descer.
Enquanto isso no carro de Von Gorthel, o barulho começou a ser ouvido pelos ocupantes. O sargento parou o carro.
– O que aconteceu sargento? – o alemão perguntou assim que o carro parou.
– Não sei, senhor. Mas vou verificar. – disse Kroll descendo do carro.
Minutos se passaram em silêncio até que o sargento voltasse com uma expressão cautelosa no rosto.
– Um dos pneus furou, senhor.
– Então o que está esperando? Troque logo isso que estou com pressa. – o olhar que ele deu em direção a Lucille o fez parecer um lobo diante da presa.
– Sim, senhor! – o soldado então fez um sinal para o batedor para que juntos eles trocassem o pneu.
Gerard e seus homens chegaram movendo-se silenciosamente por trás dos alemães. O batedor caiu após um golpe na nuca. O sargento Kroll soltou a alavanca que segurava e tentou atacar Henri, que se esquivou.
Com um potente direto de esquerda, Henri pôs o sargento para dormir. O homenzinho franzino já havia sido campeão de boxe no exército francês por quatro anos seguidos, só parando quando dera baixa do exército em 1919.
Como Kroll havia soltado a alavanca que sustentava o automóvel, ele deu uma inclinada para o lado.
Assustados, os ocupantes desceram do carro sendo surpreendidos por homens armados.
Von Gorthel viu seus dois soldados caídos desacordados no chão e ficou furioso.
– Mas o que... – ele parou irritado. – Seus idiotas! Sabem quem eu sou?
– Sim, é claro. – Gerard aproximou-se de Lucille pegando a mão dela.
– Mademoiselle... Acho melhor vir conosco. Acredito que não vá apreciar a hospitalidade do comandante Von Gorthel.
Ela o olhou sem entender.
– Não acho que esse seja o caminho para sua casa...
Foi então que Lucille olhou em volta e fuzilou Von Gorthel com os olhos.
– Um aviso, comandante. – Gerard disse – Nessa o senhor não tocará. Nem que eu precise matá-lo, nela o senhor não colocará as mãos sujas. Está avisado, senhor! – Gerard apontou a arma para ele.
Von Gorthel continuou parado, enquanto o grupo saia correndo.
Cheio de ódio, ele foi até os soldados e os chutou.
– Levantem-se imbecis!
Os dois acordaram meio desnorteados, mas o sargento logo se recuperou.
– Conserte logo isso, sargento. Se não eu o rebaixo de posto e o mando para a África.
Como nenhum soldado queria se mandado para a África, considerada o inferno na Terra, Kroll e o soldado apressaram-se em trocar o pneu do carro.
Durante toda a confusão, Hanna permaneceu parada observando. Ela era boa nisso e por alguns instantes pensou ter reconhecido o líder dos homens. Algo na postura dele e na voz a fez pensar em alguém que estivera com eles há poucos minutos. Na verdade, que estivera sentado ao seu lado no jantar...
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!