Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 17
Dezessete




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A música acabou e Lucille sentiu-se exausta com se tivesse revivido o êxtase que tivera nos braços de Gerard. Inclinou-se novamente de forma rápida e quando ela abriu os olhos, o comandante estava diante dela.

– Maravilhosa! Absolutamente maravilhosa. – ele pegou na mão dela. – Venha! Vai cear comigo.

Ela olhou desesperada para Serge, que se colocou na frente dos dois.

– Senhor, isso não é usual.

Von Gorthel o olhou como se olhasse um inseto.

– Usual?

– Sim. Mas sempre se pode abrir uma exceção. – ela apressou-se em responder.

Von Gorthel sorriu vitorioso. A cantora sabia quem mandava. Ele saiu puxando Lucille pela mão. Ela ainda voltou-se para Serge e disse só com os lábios.

– Avise Claude.

Eles foram até a mesa principal onde mais aplausos se erguerem. Visivelmente embriagado, Von Gorthel jogou-se na cadeira indicando para ela fazer o mesmo. Não havia nenhuma outra cadeira.

Gerard, ou o capitão Aleksander, levantou-se oferecendo a cadeira dele.

Mademoiselle, por favor. – ele evitou olhar nos olhos dela.

Lucille deu a volta na mesa e sentou-se no lugar dele que coincidentemente ficava ao lado de Hanna.

Hanna olhou para ela com os olhos arregalados, mas com um tímido sorriso. Disfarçadamente, Lucille pôs o dedo sobre os lábios e sorriu de volta. Hanna voltou a sua fleumática posição.

– E então mademoiselle... Fale sobre você. – Von Gorthel pediu.

Lucille deu um sorrisinho falso antes de responder.

– Sinto muito, mon commandant. Não há muito em se dizer, exceto que aprecio muito que tenham gostado de nossa apresentação.

Von Gorthel tomou mais um gole do vinho. Ele sabia que ela estava desviando da conversa. Ele gostou disso. Um pouco de resistência.

– É claro que eu posso gostar ainda mais... Se você fizer um show particular para mim. – ele propôs inclinando-se para ela.

– Seria uma honra, mas infelizmente eu tenho que ir.

Von Gorthel pousou a taça sobre a mesa um pouco bruscamente. O sorriso tinha diminuído até virar uma linha fina, sarcástica.

– Por quê? – ele cruzou os dedos sobre a mesa. Ao tom de voz dele, o alerta de perigo acendeu na mente de Gerard. – O que poderia ser melhor ou mais importante do que esta reunião, fraulein?

Lucille pensou antes de responder. Se desagradasse Von Gorthel, ele seria capaz de punir todo o Moulin. E isso era algo que não podia acontecer. Ela sorriu coquete.

– Nada, mon commandant. Absolutamente nada. Mas... Estou preocupada. Como voltarei para casa depois do toque de recolher? E se algum soldado me prender? – ela piscou os olhos e fez uma carinha de indefesa.

“Como ela aprendera a ser tão dissimulada?” pensou Gerard olhando a cena. “Uma verdadeira atriz!” escondeu um sorriso.

– Sua preocupação é essa? Não tema. Vou mandar um carro ir levá-la. – ele declarou com um sorriso satisfeito.

“Vai sonhando, porco nazista, que você vai descobrir onde eu moro.” Lucille pensou com um sorriso que Von Gorthel pensou ser endereçado a ele.

– Então, ficarei encantada em desfrutar ainda mais de tão agradável companhia.

– Isso, isso! – ele fez sinal para o garçom colocar uma taça para ela.

Lucille viu Claude ao pé da escada de seu escritório juntamente com Serge aproveitou que ele estava distraído com uma das mulheres e falou ao ouvido do garçom.

– Jean, diga a Claude que estou bem. E mais uma coisa, - ela abaixou mais ainda a voz. – traga a champagne mais cara.

Jean olhou para ela assombrado:

– A mais cara, mademoiselle?

– Sim. A mais cara. Esses alemães perderam a noção do que estão bebendo. Por que não ganhar com isso?

O garçom deu um sorriso malicioso e saiu para atender o pedido de Lucille.

– Von Gorthel olhou para ela e disse em voz alta:

– Então meine lieben[1]. Cante para nós. Um show particular.

Ela meneou a cabeça negando, mas sorrindo para não ofendê-lo.

– Não, mon commandant... Meu horário já findou. O encanto já se quebrou. – Neste momento, o garçom volta com duas garrafas de champagne. – Mas, antes que eu me vá, um brinde! – ela pegou uma das garrafas e deu para o General. A outra ela abriu.

– Eu brindo a França! Que ela continue nos proporcionando o melhor da Europa. “E que a liberdade não tarde a chegar.” Ela completou em pensamento.

– À França! – o alemão, totalmente bêbado convocou um brinde em nome do país que dominava.

As rolhas estouraram e as taças tilintavam. Enquanto eles bebiam, o olhar de Lucille percorreu a mesa. Um esgar de desprezo crispava seus lábios, até que seus olhos cruzaram com os de Hanna e seu olhar suavizou-se. Eram irmãs na mesma falta de liberdade.

Hanna ergueu sua taça para Lucille e a moça retribuiu o cumprimento enquanto elas riam cúmplices partilhando o mesmo segredo.

Gerard, sentado em frente as duas, reparou na cumplicidade entre sua esposa e a jovem alemã e espantou-se. Como Lucille conhecera a jovem senhora Von Gorthel? E com as duas se entendiam se sua esposa não falava alemão?

Lucille terminou a sua champagne e levantou-se.

– Bem, já está tarde e eu tenho que ir embora mon commandant.

Um murmúrio decepcionado percorreu a mesa.

– Não posso fazer mais nada para mantê-la aqui, fraulein?

– Não, Général. – Lucille foi categórica. Von Gorthel a olhou detidamente. Ela arrepiou-se. Ele estava mais sóbrio do que aparentava. O que se passava na cabeça daquele homem?

– Bem, sendo assim... – disse suavemente fazendo um sinal com a mão. Um oficial adiantou-se batendo um calcanhar contra o outro. – Sargento, pegue o carro e leve fraulein Fortuné onde ela quiser.

O sargento Kroll olhou para Lucille e Gerard quase engasgou com a água que tomava.

“Pense rápido, Vermont! Pense rápido!” – ele não poderia deixar aquele sádico levar Lucille. Kroll a entregaria para Von Gorthel sem sombra de dúvida.

Novamente, ele arriscaria sua missão para salvar a mulher que amava.

[1] Minha querida


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