Olhos Carmesins escrita por BeaTSam


Capítulo 3
Capítulo 2




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Capítulo 2

– O que você faz aqui? – o ar de surpresa na sua voz era notável.

– Hã? Ah! Estava procurando a entrada do castelo. - Elizabeth mentiu.

– Por quê?

– Eu quero me candidatar a empregada do castelo. – ela teria que mudar o rumo daquele interrogatório rapidamente, antes que fosse descoberta ou expulsa dali. – Mas o que uma pessoa do castelo está fazendo pulando o muro da parte de trás?

– Você parece ser mais observadora do que uma candidata à empregada qualquer.

O rapaz estreitou os olhos. Ele estava muito preocupado com algo. De repente, Elizabeth lembrou da visão da vida da rainha. Não fora uma vida lá muito feliz. Depois que teve um filho, começou a enlouquecer, pois eram inúmeras as tentativas de assassinato a ela e ao seu filho, mesmo ele ainda tendo poucas semanas de vida. Não quis que divulgassem o nascimento dele. Ela não estava aguentando a pressão. Nobres perguntavam em festas sobre quando teria um filho para poder casar suas filhas com ele, e vice-versa. Ela trancou o príncipe numa ala separada do castelo e espalhou boatos sobre sua suposta esterilidade. A pressão era tanta que ela mal conseguia olhar para o seu próprio filho. E este era quem estava encarando Elizabeth agora. Nicholas era o nome dele.

– Príncipe Nicholas. - Elizabeth disse sem pensar.

O rosto do rapaz se empalideceu. Nicholas era filho biológico da rainha. Mas por quê? O amor materno não deveria superar tudo no mundo? Elizabeth não entendia muito de famílias, porém era isso que ela lia nos livros. A lembrança só havia criado mais perguntas na cabeça de Elizabeth, porém ela se esforçava para não deixar isso transparecer.

– Você... Você está louca!

– Então por que estava saindo por aqui e não pela entrada principal? – ela estava deixando-o sem saída senão assumir sua verdadeira identidade, só faltava o golpe final. – A não ser que seja um ladrão. Se esse for o caso, eu vou gritar até que chegue uma multidão aqui. Socorro! Socor...

O príncipe rapidamente tapou a boca de Elizabeth. A falsa tranquilidade que ele tentava manter se esvaiu e foi trocada pelo completo desespero. Ele a arrastou pelo braço até o estábulo, a colocou num cavalo e galopou o mais rápido possível até um lugar bem distante, numa densa floresta.

– O que você está fazendo? Deixe-me ir! Isto é sequestro!

Ele não falou nada até parar numa clareira. Tentava parecer calmo, mas por dentro estava em pânico. Ninguém poderia saber daquele segredo. Ninguém.

– Tudo bem. Você ganhou. Eu sou o Príncipe Nicholas. Já que você sabe disso, desculpe, mas eu não vou deixar você viver nem um segundo a mais.

Nicholas desembainhou sua espada, revelando vestes incomuns para um nobre por baixo da capa. A ira em seu semblante só era desmentida pelo tremor em suas mãos. Ele não queria matar um inocente, mas deveria proteger sua mãe e estava determinado a isso. Entretanto, quando olhava para aqueles enormes olhos roxos, tinha a impressão de estar prestes a matar um indefeso bichinho da floresta.

Elizabeth suava frio. Não poderia morrer ali. Porém ele aparentava estar tão nervoso quanto ela. Teve uma ideia. Ela colocaria a sua vida nas mãos dele. Teria que confiar na bondade e na honra do garoto para sobreviver. De súbito, Elizabeth puxou a espada para si, machucando um pouco suas mãos e levemente encostando-se a seu peito.

– Mate-me, se isto lhe deixar melhor.

Nicholas não sabia o que fazer. Ela o encarava pronta para morrer, se necessário. Ela estava ali, em frente a sua espada, esperando para morrer por um segredo de um desconhecido. Seria aquele segredo mais importante do que a vida daquela pessoa? Ela não parecia ameaçar o seu segredo e seria mais uma pessoa para poder compartilhar o seu pesar. Ele sempre fora o tipo de pessoa que movia os outros por palavras. Se ela resolvesse espalhar o seu segredo, ele cuidaria disso depois. Mas ele não a mataria. Sabia melhor do que ninguém que palavras são mais afiadas que lâminas. Ele largou a espada, que bateu no chão com um alto e irritante barulho metálico, como um anúncio para o seu dono que caía de joelhos em seguida. Nunca mataria um inocente, nem por sua mãe. Isso não era necessário. Se o fizesse, se culparia pelo resto da vida.

– Por que fez isso!? E se eu tivesse lhe matado?! Você não dá valor à sua própria vida?!

A culpa venceu Nicholas, que se escondia atrás de suas próprias mãos. Ele se sentia derrotado pela coragem daquela garota. Ela pôs-se em frente a uma espada, correndo sério risco de vida, enquanto ele tentara matá-la sem justificativa plausível.

– Você nunca daria um bom soldado. – a voz feminina zombeteira ecoou em seus ouvidos.

Nicholas levantou a cabeça e encarou os gentis olhos roxos que o encaravam.

– Eu confiei que você não iria me matar, príncipe.

Um pouco da culpa passou. Ele se sentou no chão, ainda encarando Elizabeth.

– Você é muito boa manipulando as pessoas, sabia? Como você sabe do segredo?

– Eu descobri há alguns dias atrás quando estava andando pelos arredores do castelo – mentiu. – Eu sei que é um segredo importante. Não vou contar para ninguém.

– Eu espero, ou nós dois vamos ter problemas. Você não vai ter uma segunda chance. – blefou. – É por isso que quer se tornar empregada do castelo?

– Sim.

– Se você pretende ganhar dinheiro ou status sendo minha amiga, é melhor esquecer. Se ninguém sabe da minha existência como príncipe, é por um motivo que eu não posso te contar agora. Eu não posso me tornar rei, meu status é igual ao de uma pessoa comum, ou até menos.

– Não era isso que eu queria quando eu decidi me tornar empregada do castelo.

– Então era o quê? Ameaçar-me com o segredo? Já vou avisando que isso não vai dar certo.

– Calma, eu não sou tão ruim quanto pensa! Você só me pareceu uma pessoa interessante, então eu quis saber mais sobre você...

– Isso não soou muito convincente.

– Não posso fazer nada quanto a isso então. – ela parecia realmente estar se divertindo com aquela conversa enquanto observava cuidadosamente aquele local. – Por que raios você me trouxe aqui?

– Só lhe trouxe aqui para não descobrirem sobre a minha existência. – ele se levantou, se espreguiçando. – Se continuássemos lá, alguém acabaria nos vendo. Eu não posso vagar livremente pelo castelo, por isso eu só posso andar em uma ala específica.Também não deveria sair do castelo, mas a curiosidade foi maior. Desde os meus seis anos eu saio de lá escondido. Eu fiz amizade com os guardas que sabiam da minha existência como filho da rainha, Jonathan e Thomas. Eles são meus melhores amigos, não que eu converse com muitas pessoas o suficiente para nos tornarmos próximos, e eles me ajudam a sair já que guardam o muro. Minha mãe soube há alguns anos, mas faz vista grossa, pois, além dessas fugas, não me sobra nenhum outro divertimento no castelo, a única condição dela é que ninguém me veja e muito menos descubra a minha relação com o castelo, o que acabou de acontecer graças a certa pessoa. – Nicholas lançou um olhar reprovador para Elizabeth, porém o seu tom de voz e seus olhos demonstravam que não estava realmente bravo. – Eu acabei encontrando esse lugar numa dessas fugas. Aqui me acalma. Ninguém me vê, exceto os animais. Cada dia eu descubro algo diferente: bichos, plantas, rios, lagos, lugares. Eu trouxe você para cá sem nem pensar. Foi o costume, eu acho.

– Esse lugar é lindo, lembra a minha casa...

– Mudando de assunto, o seu cabelo é realmente dessa cor? – ele demonstrava uma curiosidade infantil pela cor de cabelo tão exótica.

– Sim.

– Como assim? Nunca vi ninguém com uma cor de cabelo como a sua!

– Eu vim de um país longínquo. Lá é comum. - mentiu novamente.

– É lindo. – Nicholas puxou uma mecha do longo, levemente ondulado e macio cabelo de Elizabeth, observando-a com curiosidade. Tudo naquela garota era misterioso e o príncipe estava disposto a descobrir o máximo possível sobre aquela que estava diante de seus olhos – Ah! Que falta de educação a minha! – lembrou-se, soltando o cabelo dela. – Qual é seu nome?

– Elizabeth.

– Muito grande. Posso te chamar de Liz?

– Claro, se você preferir.

– Então você pode me chamar de Nick, se quiser. Nicholas é muito complicado. – durante quase toda a conversa, ele mantinha um sorriso brincalhão, muito longe da falsa calma que vestira durante a ameaça que fizera há pouco.

– Nicholas é um nome bonito.

– Me chame como quiser, então.

Elizabeth se sentia atraída por alguma coisa naquele lugar, não sabia porquê. Tinha essa sensação desde que chegara ali e ela só aumentava com o tempo. Ela tinha que ir para o oeste. Era como uma urgência. Como se ela precisasse disso para viver tanto como precisava de ar. Ela sentia todos as veias do seu corpo latejando, implorando para que encontrasse o que procurava, mesmo que nem soubesse o que fosse. Ela subiu no cavalo por instinto. Antes que começasse a cavalgar, Nicholas montou no cavalo também.

– O que você pensa que está fazendo?! Pretende me deixar aqui sozinho no meio do nada?!

Elizabeth estava galopando tão rápido que mal escutava Nicholas. Contudo, mesmo se escutasse, isso nem fazia diferença. Ela estava completamente imersa naquele sentimento, isolada de qualquer outra coisa que estivesse acontecendo.

– Por que está indo tão rápido?

– Eu preciso chegar logo. É mais divertido quando se vai rápido!

– Mas nós vamos cair! - Nicholas berrava enquanto agarrava a cintura de Liz.

– Ei! O que você está fazendo?! Largue-me!

– Então vá mais devagar!

– Não posso.

– Aliás, para aonde estamos indo?

– Não sei, só sinto que tenho que ir.

– É assim que se fala.

Liz parou em frente a uma caverna. Logo após descer do cavalo, ela mal esperou Nicholas e entrou correndo na caverna.

Quando entrou, entendeu o porquê de ser tão fortemente atraída por aquele lugar. Quase não acreditou no que viu: era uma Teia da Aracnea abandonada, na verdade, os restos dela.


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