Apaixonada Por Um Lobisomem escrita por RebOS


Capítulo 21
Encontro de notícias.


Notas iniciais do capítulo

A Tia Beks aqui prometeu noticias "quentes" não foi? Pois aqui estão elas! Espero que gostem, boa leitura!



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Acordei no meio de um matagal preto e alto. Não sei que lugar é esse, mas me levantei com dificuldade e olhei ao redor. Nada, apenas mato. Que tipo de mato é preto? Pelo que eu lembre, nenhum. Ouvi um barulho estranho que parecia que saia do chão. Talvez tenha animais neste lugar, não sei ao certo. Caminhei na direção em que meu cérebro mandou. Para mim, aquele era o “norte”.

Continuei atravessando o mato, abrindo espaço com as mãos. Parecia infinito. O mato era fino e não cortava meus palmos. Andei por um bom tempo, até ver uma luz. Acelerei meus passos e saltei para fora do mato.

Caí num local estranho. Era macio e rosa. Rosa claro para ser mais específica. Era... Cor de pele?! Levantei com um pulo. Dava para ver um corpo humano inteirinho, deitado sobre uma cama. O corpo estava dormindo e eu era um ser pequeno no meio de todo esse mundo enorme. Na verdade não era um mundo, era um quarto. Olhei em volta, eu conhecia este quarto. Era... Era o quarto do Rudolph!

Então, se isso aqui era o quarto do Rudolph, eu estava caminhando encima dele. Sim, era isso mesmo. Não era mato, era o cabelo dele! Por isso era tão... Macio.

Continuei caminhando até avistar um “terreno” íngreme. Olhei para os dois lados. Tanto do esquerdo, quanto o direito tinham pelos. Aquelas eram as sobrancelhas. Caminhei um pouco e passei a mão nos pelos da sobrancelha. Estiquei-me um pouco e vi os olhos adormecendo. Voltei ao lugar que estava. Dava para ver algo parecendo uma ponte, era o nariz. Caminhei tentando me equilibrar para não cair nos seus olhos. Estiquei os braços e continuei andando até estar na ponta do nariz. Estiquei meu corpo e lá estavam os lábios, fechados.

Os lábios do Rudolph eram bem desenhados. Eram finos, mas pareciam almofadas meio rosadas e macias. De repente tudo começou a se mover, ele estava acordando.

Meu corpo estava perdendo o equilíbrio, eu estava caindo. Tropecei e despenquei da ponta do nariz do Rudolph. A boca abriu-se e eu entrei na escuridão.

**********

Acordei com meu coração batendo. Eu estava deitada no sofá. É, parece que o cochilo depois do almoço se tornou mais do que um simples cochilo. Peguei meu celular e vi que tinham mensagens.

Rudolph Ehrlich: Aconselho a ir de casaco, cinemas fazem frio.

Nem decidi que roupa que eu iria. Nada demais, claro. Eu não colocaria um vestido para ir ao cinema e na pizzaria com o Rudolph. Ah, não ia mesmo.

Eu já odiava usar vestido para ir ao baile, quanto mais para sair com o Rudolph. Não, eu não precisava me arrumar para comer e conversar com ele. Olhei para o relógio. JÁ ERAM TRÊS E MEIA? Meu deus!

Subi as escadas correndo e entrei direto no banho. Quando terminei, fui diretamente escolher a roupa. Levar casaco seria uma droga, então decidi ir com uma blusa de manga comprida mesmo. Puxei a listrada branca e preta da gaveta do meu guarda-roupa e vesti. Sim, até agora estava tudo bem. Não, eu não estava parecida com uma zebra. Coloquei calça jeans preta e um tênis branco. Passei perfume e penteei o cabelo.

Olhei no relógio, faltavam 20 minutos para as cinco horas. Nem parecia que o tempo havia passado tão rápido. Entrei no carro, com frio na barriga. Por um lado eu estava:

É o Rudolph, seu melhor amigo. Que mal ele poderá fazer?

O outro lado estava:

Fala sério! Ninguém sabe o que pode estar passando na cabeça do Rudolph. E se ele estiver com um plano maligno?

Tentei relaxar olhando a paisagem pela janela. Passamos por arvores, campos, mais arvores... Até chegar a cidade. Prédios, casas, lojas, pistas, placas, semáforos... Um barulho sem fim. Acho que eu agradeço muito por morar afastada do centro da cidade.

–Onde vai ser esse encontro? –meu pai perguntou.

–No cinema... Aquele da avenida central.

–Ah, ok. –meu pai continuava focado no transito. –Ligue quando quiser ir embora.

–Se o Rudolph disser que pode me dar uma carona, eu posso ir com ele?

–Pode sim. Mas direto para casa hein? Nada de dar uma volta nem nada disso.

–Sim, capitão.

Entramos na avenida principal, que por sinal estava muito movimentada. Avistei o cinema, não estava tão lotado. Vi o Rudolph parado na porta.

–Ah, ele está ali. –apontei para o Rudolph.

–Não se afaste daquele seu amigo. É fácil se perder por aqui. –meu pai manobrou o carro e estacionou.

–Ok, beijos. –Despedi do meu pai e saí do carro.

Corri até o Rudolph e virei para olhar o carro partindo. Depois de perdermos o carro de vista, eu finalmente olhei para o Rudolph.

Estava com uma blusa azul claro, calça jeans azul e tênis preto. Seus olhos se moveram e eu tomei susto, novamente.

–Vai me dar a honra de te acompanhar, mademoiselle? –ele estendeu o braço.

Envolvi meu braço no dele.

–Sim, messiê.

Rudolph sorriu e eu também. Entramos no cinema. Caminhamos até a fila de ingressos.

–Quer assistir qual filme? –Rudolph apontou para um painel com os filmes.

–Romance não, ação não, terror não...

–Ficção cientifica? Aventura? Animação?

–Ficção cientifica é uma boa. –concordei.

Esperamos umas quatro pessoas comprarem o ingresso até chegar a nossa vez.

–Dois ingressos. Para assistir aquele filme de ficção cientifica. –Rudolph fala com a vendedora.

Fico olhando ao redor enquanto ele faz as compras. De repente um trio de garotas entra no cinema. Elas riem e param atrás de mim na fila. Rudolph vira e sorri para mim.

–Pronto, aqui estão nossos ingressos. Pode colocar na sua bolsa?

–Sim, claro. –pego os ingressos da mão dele.

–RAPAZINHO! A sala de ficção cientifica é a B-2, lá no segundo andar. –a vendedora grita.

–Ok, obrigado! –ele responde e volta a olhar para mim. –Vamos comprar os lanches?

–Não vou recusar uma oferta dessas.

Caminhamos até o local de lanches. Rudolph toca o sininho da bancada. O cheiro de pipoca invade minhas narinas, eu estava faminta.

Um vendedor aparece.

–Posso ajudá-los? –ele pergunta.

–Sim, queríamos fazer um pedido. –respondo.

–Podem falar.

–Duas pipocas grandes, dois refrigerantes grandes e docinhos... –ele vira para mim. –Como quer seus docinhos?

–Coco com chocolate.

–Idem. E dois docinhos de coco com chocolate.

–Ok, já está saindo! –o homem se moveu com rapidez e colocou a pipoca naqueles potinhos.

Depois, pegou duas barrinhas de doce de coco (a fruta, hein) e chocolate.

–Qual o sabor do refrigerante? –ele perguntou.

–Limão. –respondi.

–Eu também. –Rudolph concordou.

Poucos segundos depois, lá estava nosso incrível lanche encima da bancada. Rudolph acertou os preços, pagou o lanche e então faltava pouco tempo para o filme começar.

Subimos as escadas que estavam forradas com carpete vermelho e entramos na sala B-2. Decidimos ficar do lado esquerdo da sala. Subimos alguns degraus até estar numa fila confortável.

–Não coma a pipoca toda antes do filme começar. –falei para o Rudolph.

–Esse cheiro está me matando. –Ele respondeu.

–Controle-se. –falei sorrindo.

Aos poucos a sala foi enchendo de gente, até que estava cheio. Deviam ter chegado mais pessoas enquanto comprávamos as coisas. As três garotas da fila de ingressos entraram sorrindo. Atravessaram o cinema para o lado esquerdo e subiram os degraus.

Acalme-se Rebecca. Não é possível que elas sentem aqui perto.

Respirei fundo e foquei minha visão na tela gigante.

–Com licença. –Uma garota falou passando na minha frente.

As outras passaram também. As três ocuparam os assentos que nós havíamos deixado vazio. Poderíamos ter sentado perto da parede, mas deixamos quatro assentos sobrando para ver melhor. Uma sentou bem ao lado do Rudolph e as outras duas perto dela.

–Quer sentar em outro lugar? Encontros entre amigas costumam ser barulhentos. –cochichei para o Rudolph.

–O filme já vai... –as luzes se apagaram. –Bem, começou.

Acomodei-me na poltrona. Isso não poderia ser tão ruim assim.

************

Cinquenta minutos de filme baseados em risos e cabeças sendo esticadas para observar o Rudolph. Mais e mais risos. Aquilo já estava me deixando louca. Rudolph apenas assistia o filme e comia pipoca. Depois bebia um pouco do refrigerante e então tudo de novo.

Uma vez ou outra ele me olhava ou se movia para achar uma posição confortável. Os risos pararam e eu ouvi um “Já volto, meninas.” A chefe do trio levantou e passou na nossa frente. Desceu os degraus rebolando e depois de uns 3 minutos voltou.

–Licença, por favor. –ela pediu para mim.

Eu afastei minhas pernas para que ela pudesse passar. De repente a garota tropeçou em algo e caiu em cima do Rudolph, os rostos estavam quase se encostando. Rudolph sorriu com timidez e a garota sorriu encima dele.

–Meu deus como sou desastrada. –ela falou, finalmente saindo de cima dele.

–Sem problemas, acidentes acontecem. –Rudolph respondeu.

–Você está bem? –a amiga perguntou.

–Sim, estou bem. Não tive nenhum ferimento. –ela respondeu ajeitando o vestido.

Rudolph virou o rosto para mim. Eu devia estar muito emburrada, porque ele desviou o olhar. Não nos olhamos por um bom tempo. Eu apenas olhava a tela, sem entender o que havia acontecido no filme e resmungava baixo para mim mesma.

–Não está dando para ver direito daqui. Seu lugar dá para ver? –a chefe perguntou para o Rudolph.

–Talvez se você sentasse no colo dele seria mais fácil para ver.

Rudolph, a chefe e suas duas amigas me olharam assustados. Eu ergui a sobrancelha, finalmente meu ataque estava progredindo.

–O que você disse? –ela perguntou.

–Você ouviu o que eu disse, não vou repetir. –respondi.

–Por que está sendo grossa? Não te fiz nada.

–Ah, então quer dizer que quase se esfregar com meu parceiro aqui é um simples “nada”? –virei para encará-la. –Acho que você fez algo sim.

–Qual o seu problema? Se não quer que toquem nele, coloque uma placa.

–Se você foi cega o bastante para não enxergar que eu estava com ele, por que diabos você enxergaria uma placa?

–Eu não sabia que você estava com ele.

–Fala sério, pare de se fingir de besta!

–As senhoritas poderiam ficar em silencio? –um homem com uma lanterna chegou até nós. –Ou eu teria que pedir para se retirarem?

–Não precisa nem pedir. –Levantei-me da poltrona e saí da sala.

Fui até o corredor que levava até os telefones e aos banheiros. Entrei no banheiro e lavei o rosto. De repente ouvi alguém entrando. Era o Rudolph.

–Rudolph, ficou louco? Este é o banheiro feminino! –tentei empurrá-lo para fora, mas ele me levou junto.

Ficamos cara a cara no corredor.

–Eu não queria te ver assim. –ele falou. –Você está bem?

–Estou com raiva. –respondi.

–Rebecca, eu não queria que isso acontecesse. Pensei que você fosse ficar brava comigo.

–Estou brava com ela, não com você. Ela foi longe demais!

–Eu não sabia que ia chegar até aquele ponto.

–Sim, eu sei. Não foi culpa sua, relaxe.

–Vamos para a pizzaria, ok? Lá nós conversamos melhor.

–Vamos.

Saímos do cinema e seguimos o caminho até a pizzaria. Rudolph segurou a minha mão, do mesmo jeito que fez quando aconteceu o incêndio. Seu toque era quente e macio, trazia segurança. Ele parecia ser o tipo de cara que nunca te abandonaria, mesmo nas situações mais difíceis.

Rudolph quase não tem família ou amigos. Aqueles que restaram e que ficaram junto dele, são aqueles que ele se apegou e nunca vai abandonar. Nunca imaginei que um cara tão sombrio poderia ser atencioso e cuidadoso. Ok, o Rudolph não é TÃO sombrio, mas ele parece um tipo de pessoa que não se importa nem um pouco contigo.

–O que está pensando? –Ele perguntou.

–Eu? Nada.

Rudolph sorriu. Ele sempre fazia isso depois que eu falava de forma suspeita.

–Rudolph.

–Vai me contar o que estava pensando?

–Não, na verdade não. Eu quero saber que informação é essa que você quer me contar.

–Que informação?

–Você não disse que tinha algo para me contar? Eu quero saber o que é.

–Tudo em sua hora. –ele respondeu.

Fiquei em silencio. Parecia que ele havia estabelecido um “ponto final” na conversa. Continuamos caminhando lado a lado pela rua, cada um em seus próprios pensamentos. Ele ainda segurava minha mão, mas não da forma carinhosa de antes. Ele estava nervoso, eu podia sentir.

Talvez não seja apenas uma noticia qualquer, talvez seja “A” noticia. Aquela que vai mudar nossas vidas, aquela que vai fazer mais acontecimentos estranhos aparecerem de repente. Se o Rudolph está nervoso, eu também tenho todo direito de estar. Já que ele fez questão de contar para mim, devo estar envolvida.

Caminhamos um pouco mais até o Rudolph me guiar por uma rua larga e iluminada. Havia algumas lojas nas laterais da rua, mas no final dela estava a melhor pizzaria da cidade. Coiote Pizzas.

Desde pequena meus pais me levam nela. É como uma relação de amor entre um lugar e uma pessoa. Eu já estava sentindo o cheiro do lado de fora.

–Como você adivinhou que eu adorava esta pizzaria? –perguntei, com entusiasmo.

–Não adivinhei. Na verdade, desde que me mudei para cá, eu frequento este lugar.

–Pelo menos temos algo em comum.

–Devemos ter mais em comum do que você pensa. –ele respondeu com um sorriso.

Ignorei o comentário.

Entramos na pizzaria. Estava do mesmo jeito de antes. Nenhuma reforma havia sido feita. O balcão de madeira, bebidas alcoólicas em prateleiras, a cortina marrom que levava a cozinha, as paredes alaranjadas, o piso de madeira, os bancos pretos dispostos na frente do balcão, tudo estava do mesmo jeito. Olhei ao redor. Até os quadros de coiotes estavam pendurados nas paredes. As mesas de madeira arrumadas no espaço que restava e os corredores que levavam aos banheiros. Era tudo tão familiar e caseiro, que nos fazia sentir à vontade.

–Olá jovens. –Um garçom apareceu para nos atender. –Sejam bem-vindos ao: Coiotes Pizzaria. Desejam um local para sentar?

–Sim, adoraria. –Rudolph respondeu. Ele também parecia à vontade.

–Do lado interno ou externo?

–Externo! –respondemos em uníssono.

–Ora, ora, temos alguns amantes da natureza aqui. Sigam-me, por favor.

Seguimos o garçom até a parte externa. Eu adorava esse lado da pizzaria, parecia mais calmo. As mesas também eram de madeira, mas eram redondas com sombreiro preto encima. O local era rodeado pela floresta nas laterais e tinha um lago na frente. Trazia uma lembrança de Madagascar. Sim, aquele espaço do filme, só que menor.

O garçom indicou o espaço abrindo os braços. Depois, esperou que escolhêssemos a mesa para que pudesse mostrar o cardápio.

–Desejam fazer o pedido agora? –ele perguntou.

–Quanto tempo para a pizza sair? –Rudolph não tirava os olhos do cardápio.

–Uns vinte ou vinte cinco minutos.

–Nós vamos pedir daqui a pouco, ok? Só vamos discutir os sabores.

–Claro. Algo para beber?

–Refrigerante sabor limão? –Rudolph olhou para mim.

–Sim, pode ser. –respondi.

–Ok... –o garçom anotou no bloquinho. –Já vai sair!

–Ah, coloque limão e gelo no meu, por favor. –Pedi.

–No meu também. –Rudolph concordou.

–Qualquer outro pedido é só me chamar. Eu sou o Charlie. Já volto com o pedido de vocês.

–Obrigado, Charlie. –Rudolph respondeu enquanto o homem saia.

Charlie não demorou muito com as bebidas. Foi tempo o bastante para discutirmos o sabor e fazermos o pedido. Charlie recolheu os cardápios e então estávamos a sós.

–Então, vai me contar agora? –perguntei.

Rudolph me olhou e se ajeitou na cadeira para achar uma posição confortável. Parecia que o assunto o deixava desconfortável.

–É impressão minha ou este assunto de deixa um pouco...

–Desconfortável? Sim, deixa sim. –ele respirou e passou as mãos pelos cabelos.

–E... Por quê?

–Bem, não sei como você vai reagir ou que palavras usar.

–Que tal ir direto ao ponto? –sugeri.

Ele bebeu um pouco do refrigerante e então voltou a me olhar.

–Certo, vou começar por onde meu cérebro diz que devo começar.

–Pode começar. –respondi.

Rudolph passou a mão no rosto e respirou fundo.

–Eu... Lembra a proposta que eu te fiz? Da viagem de verão?

–Sim, lembro. –respondi.

–Bem, na verdade não é apenas uma viagem de verão é... Uma forma de te proteger.

–Como assim?

–Digamos que eu jurava para mim mesmo que, quando o livro estivesse comigo, você estaria livre e não correria mais risco algum. Mas... Mas eu tenho medo que estes caras voltem. Não sei o que eles planejam. Eles podem ter um plano mais complexo do que pensamos.

Franzi a testa.

–Por que você não me contou essa ideia de proteção? –perguntei.

–Porque achei que você ia achar ridículo e simplesmente desistir e correr perigo. Ah, sei lá!

–Rudolph, eu...

–Mas esse não é o motivo da conversa. Falamos disso depois, ok? Eu entendo que você esteja confusa e tudo mais, só que me deixe falar o que eu preciso falar.

–Claro, pode continuar. Eu deixo as perguntas para o final.

–Obrigado. –Rudolph respirou mais uma vez. –Essa viagem era para ser para algum local paradisíaco, como uma praia. Mas eu conversei um pouco com meu irmão e chegamos numa possibilidade de irmos para um acampamento. O acampamento não funciona apenas no verão, é do ano todo e... E pessoas como eu vivem lá e constroem toda uma família. –Ele bebeu um pouco mais do refrigerante. O meu estava intocado. –Meus dois irmãos mais velhos estão lá e eu não sei se vai ser seguro colocá-la para conviver no meio de tantas pessoas estranhas.

–Pessoas estranhas? É um acampamento psiquiátrico?

–Não! Não. É... É apenas um acampamento normal, mas as pessoas são um pouco diferentes. As atividades do acampamento são diferentes e... Bem, quase tudo é diferente de um acampamento comum.

–Como assim? –Puxei minha cadeira um pouco mais para frente. –Que lugar é esse? Quem são essas pessoas?

–São pessoas... São pessoas como...

–Como...?

–Como eu!

Dei um soco na mesa. Minha curiosidade foi substituída por raiva.

–E quem é você? –falei, quase gritando.

Rudolph abaixou o olhar e passou a mão pelos cabelos.

–Diga. Diga quem você é.

–Eu... Eu sou um... –Ele levantou os olhos e voltou a me encarar. –Eu sou um lobisomem.

Despenquei encima da minha cadeira. Eu estava na frente do meu pior medo. Eu era amiga do meu pior pesadelo.

–Não sabia como te contar. –ele continuou.

Meus lábios abriram, mas eu estava muda. Não conseguia falar uma se quer palavra.

–Eu... Eu posso ser um monstro. Eu posso estar nos seus piores pesadelos, mas... Mas eu nunca vou te machucar. Não quero que nossa amizade termine. Por favor, não... Não tenha medo de mim.

Meus olhos não conseguiam mais encará-lo. Eu até tinha suspeitas que o Rudolph é descendentes de lobisomens, mas...

–Rebecca, por favor, diga... Diga alguma coisa. Você sabe que eu nunca te faria mal, sabe que eu não faria algo que possa te ferir. Eu posso ter um lado animal descontrolado dentro de mim, mas... Mas eu ainda tenho o lado humano. –Ele segurou o meu queixo levemente, e levantou para que eu pudesse encará-lo. –Esse lado humano tem sentimentos e ele gosta de você. Eu gosto de você e nunca faria algo que pudesse te machucar.

Ele colocou o cabelo atrás de minha orelha e esfregou carinhosamente minha bochecha com o polegar.

–Quero que você confie em mim.

Segurei sua mão e apertei-a contra minha bochecha. Eu adorava seu toque, isso era óbvio.

–Eu confio em você. –confirmei. –Sei que você nunca me decepcionaria, mesmo sendo meu medo.

Rudolph puxou a cadeira dele para perto de mim e me deu um abraço. Envolvi meus braços ao redor do seu corpo e senti seu cheiro.

–Desculpem-me interromper o momento, mas a pizza chegou. –Charlie estava na nossa frente com a pizza nas mãos.

Ajeitamo-nos na mesa e devoramos a pizza. Depois, fomos até o balcão para que o Rudolph pagasse a conta.

–Aqui está. –Rudolph falou, dando o dinheiro para o homem.

–E... –O homem teclou algumas coisas. –Aqui está o troco e a nota fiscal.

–Obrigado. –ele colocou tudo nos bolsos. Depois virou para mim com um sorriso. –Vamos?

–Vamos.

Rudolph passou o braço pelos meus ombros e eu passei o meu pela sua cintura. Saímos da pizzaria.

–Gostou do nosso encontro? –Ele pergunta olhando para a calçada.

–Gostei sim. Apesar de receber uma noticia daquelas, gostei de tudo.

–Tudo mesmo? –ele ergue uma sobrancelha.

–Ok, menos do cinema.

–Sabia que ia dizer isso.

Ficamos em silencio por alguns segundos até ele voltar a falar.

–Gosto de estar com você. –ele fala. –Parece que fico feliz.

Meu rosto estava ardendo, acho que eu estava corada. Ficou mais ardido no momento que percebi que ele estava me olhando.

–Também gosto de estar com você. –respondi, tentando não encará-lo. –Você parece um amuleto de segurança, sempre disposto a nos proteger.

–Essa de amuleto é nova. –ele diz, sorrindo. –Acho que já podemos passar para o próximo nível.

–Que nível?

–Aquele nível que somos verdadeiros um com o outro. Aquele nível que dizemos o que sentimos. O que você está sentindo?

–Estou sentindo que você está falando de sentimentos ocultos por uma amizade.

Rudolph para no meio da rua e me vira de frente para ele.

–E...?

–E eu acho que você deve deixar os sentimentos seguindo o caminho deles.

Ele tira a mão dos meus ombros.

–Sim, você tem razão. Se os sentimentos derem um sinal, não deixe de me avisar.

–Pode deixar.

Continuamos caminhando lado a lado.

–Onde estamos indo? –pergunto.

–Ah, quero te apresentar meu irmão, Tristan. Ele está num bar aqui perto, lendo seus livros.

–Ok.

–Vou pedir para que ele nos leve para casa. Quer uma carona?

–Vou aceitar, sim.

–Ah, é aqui.

Entramos no bar e subimos por uma escada. No canto estava um jovem rapaz de cabelo cheio, longo e preto. Ele bebia algo num copo e se concentrava num livro. Devia ser o Tristan.

–Tristan. –Rudolph cutucou o irmão. –Esta aqui é Rebecca.

O homem se virou e olhou para mim.

–Muito prazer, Rebecca. Eu sou o irmão do Rudolph. Por favor, sentem-se.

Nós sentamos nas cadeiras que estavam disponíveis.

–Rudolph fala muito de você. –ele continuou. O Rudolph corou, era engraçado. –Soube que você é uma ótima amiga. Fico feliz que ele tenha encontrado bons amigos.

Não respondi nada, apenas sorri.

–Tenho a impressão que nos conhecemos.

–Ah, sim. Foi na fila do shopping, eu acho. –respondi.

Tristan parou um pouco para pensar. Ele tinha expressões e movimentos que me lembravam o Rudolph em alguns momentos.

–Sim! Isso mesmo! Acho que você me confundiu com este camaradinha aqui. –ele deu tapinhas no ombro do Rudolph.

–Foi, foi sim.

–Querem algo para comer ou beber?

–Não, obrigada. –respondi.

–Acabamos de sair da pizzaria, cara. –Rudolph resmunga.

–Calma, só foi uma pergunta educada. Vou pagar a conta, já volto.

Tristan levantou e deixou o cheiro delicioso do seu perfume no ar. Ele estava usando uma camisa estampada estilo tribal, calça jeans azul clara e meio desgastada e sandálias masculinas de dedo.

–E eu achando que toda sua família era tirada a gótica. –comento.

–Tirado a gótico? Que papo é esse?

–Esquece.

Continuo olhando para o Tristan no balcão. Depois de alguns segundos ele volta à mesa e pega a mochila marrom que está no chão. Coloca seus livros e a carteira dentro, tira a chave do carro e faz sinal para segui-lo.

Andamos um pouco até chegar numa caminhonete. Ele joga a mochila na parte traseira e entra na parte do motorista. Rudolph deixa que eu entre primeiro, então fico no meio entre os dois. A caminhonete parece nova e é vermelha.

Tristan dá a partida e nós seguimos rumo ao final de uma noite inesquecível.


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Notas finais do capítulo

Ok, ok eu sei que já era obvio, mas valeu a intenção! Espero que tenham gostado do capítulo, vou já ir planejando o outro. Abraços peludos lobinhos, não se esqueçam de comentar :3 Até o proximo capítulos.



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