A Esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 9
Capítulo 9




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/598378/chapter/9

Quando acordo, meu corpo está rígido. Dolorido. Estou num quarto branco. A mobília é glamorosa. Gostaria que Katniss estivesse aqui, para ver como o presidente Snow é generoso. Hoje irei falar para ela. E quando essa revolução acabar poderei viver feliz com a garota que amo. Uma imagem de Katniss e Gale combatendo lado a lado fica pairando num lugar obscuro em minha mente. Eles se beijaram a algum tempo atrás. Mas Katniss disse que foi apenas um beijo. Talvez seja como eu me senti em relação a Delly. Mas eu não a beijei. Afasto estes pensamentos e tento me levantar. Um grito de dor sai por minha garganta, e eu caio da cama direto ao chão. Devo estar com algo quebrado. Não é possível. Fico no chão, imóvel com medo de com que qualquer movimento a dor volte. De repente me lembro de Johanna. Ela está aqui. Estão a maltratando. Por que estão fazendo isso com ela? Com muito custo, consigo me sentar, escorado na cama. Minha cabeça dói. Os olhos de Katniss são cinzentos. Ela me ama. Tenho que focar nisso. Vou falar com ela. A revolução vai ter fim, e tudo vai ficar bem. Sinto uma pontada terrível em minhas têmporas e então me lembro. Oh Deus... Cinna está morto. Eles o mataram. Os pacificadores. Por ordem de Snow. Eu odeio Snow, é por culpa dele que tudo isso esta acontecendo. Lágrimas e mais lágrimas escorrem por meu rosto, e eu vejo minhas mãos. Estão emplastadas de uma substância pegajosa e âmbar. É possível ver pequenas cicatrizes. Onde estavam os ganchos usados para me dar choques. Passo a mão em meu rosto, e sinto a substancia se derretendo ao contato com minhas lágrimas. Aperto com força minha cabeça. O que está acontecendo comigo? Hoje vou falar para Katniss. Ela vai me escutar. Ela tem que lutar. Outra pontada... E dessa vez eu me retorço no chão, sentindo a dor em minha costela. Estou tão confuso.... Mas aí, minha mente parece clarear, e eu me lembro do que realmente está acontecendo. Eu estou aqui, nessa condição, por culpa de Katniss. Johanna está sofrendo por culpa de Katniss. Cinna se foi... por culpa de Katniss. Ela precisa parar.

Nesse momento, quando finalmente entendo tudo com clareza, uma mulher, aparentando ser bem jovem, entra no quarto, com uma maleta preta nas mãos.

– Você está aqui para me arrumar? – sussurro, e minha voz parece não ser a minha.

Ela assente, e me ajuda a levantar. Caminhamos, eu, completamente trôpego até o banheiro. Eu tiro minhas roupas e entro numa banheira enorme, com agua morna e cheiro de rosas. A garota, com uma espécie de esponja, vai retirando toda a gosma de mim. E arde. Dói. Eu poderia dormir aqui, se não fosse pelos espasmos descontrolados da minha perna, ora do meu braço. Algo ruim está acontecendo comigo. Eu só não sei ao certo o que.

– Você... acha... – sinto dificuldade para falar, mas prossigo, afinal logo mais falarei para Katniss. Esse pensamento que me faz permanecer firme. – Você acha que Katniss... está fazendo tudo isso... consciente? – pergunto a garota que agora me entrega uma toalha, e se vira enquanto eu tento sair da banheira.

Ela dá de ombros.

Quase caio novamente. Minha visão escurece. Em intervalos.

– Eu acho que não estou bem – murmuro. Mas a garota apenas me fita. Vou me sentindo tonto. Queria que essa garota falasse comigo. Seguro com força a toalha enrolada em minha cintura, mas já não há o que eu possa fazer, sinto minhas pernas falharem, e quando a garota solta um grunhido agudo, consigo entender que ela é uma avox. A última coisa que escuto, é Katniss sussurrando o nome de Gale, sem parar.

Sinto frio. Muito frio. Meus olhos se abrem, revelando a luz do sol sumindo no horizonte. Nunca senti tanto frio em toda a minha vida. Olho para baixo e vejo que estou vestido. Não me lembro de ter vestido algo. Tento me levantar e desta vez consigo. Toco minha costela, e há algo duro a revestindo. Isso faz com que eu aguente ficar um pouco mais firme. De pé, caminho lentamente, escorado na parede. A cada passo, paro ofegante. Tremo de frio, e a dor ainda é muita para se aguentar.

– O que você está fazendo – alguém exclama.

Quando me viro, vejo que é Moira. Ela está terrível. Sem maquiagem, a pele pálida, e nenhum sorriso em seu rosto. E há manchas roxas terríveis em seu braço. Será que o comportamento de Katniss está afetando ela também?

– Venha aqui, sente-se – ela diz, enquanto me ajuda a sentar na cama novamente.

– Hoje tudo irá se resolver, Moira, você verá – digo, confiante, porém minha voz, soa fraca.

– Sim querido – é tudo o que ela diz, e se senta ao meu lado, segurando minha mão.

Percebo que ela está chorando.

– Sabe, Peeta... Eu não queria que nada disso acontecesse. Eu tinha apenas curiosidade sobre aquela droga de veneno. Passei anos da minha vida estudando aquilo, e fiz descobertas fantástica – ela faz uma pausa, para recuperar o folego, e continua aos soluços, enquanto eu aperto firmemente a sua mão. – Mas, aí, Snow me obrigou a usá-lo contra você..

– Do que você está falando? – pergunto atordoado, enquanto minha cabeça explode numa dor descomunal.

– Eu tenho família – Moira diz, enquanto todo seu corpo treme com a compulsão das lágrimas. – Eles vão saber que te contei, mas não fará diferença. Escute, eu nunca quis fazer isso com você. Mas eu não tenho escolha. Eu sinto muito Peeta.

Ela enxuga as lágrimas de seu rosto com a manga de seu casaco. Tenho tantas perguntas, mas não consigo formular nada. É como seu eu fosse incapaz de pensar com coerência. Mas, do que ela está falando? Percebendo minha duvida, ela me lança um sorriso, que me acalma imediatamente.

– Tome seu remédio – ela diz, e me estende um comprimido.

Eu tomo sem relutar, afinal, Snow quer o meu bem. Mas algo na expressão de Moira, faz eu duvidar se as intenções dele são totalmente boas.

– Vamos, Caesar está te esperando.

– Eu estou bem? – pergunto. – Katniss irá me ver. Eu tenho que estar bonito, para ela.

Moira me analisa e sua expressão parece murchar.

– Você está ótimo, querido – ela diz. – Na medida do possível – acrescenta baixinho, mas eu consigo ouvir.

Estou sentado de frente para Caesar. E de repente nada faz sentido. O fato de eu estar aqui. Katniss com os rebeldes. Não há ninguém aqui. Apenas eu e Caesar e uma câmera. Há um vaso de rosas na mesa em minha frente. Pego uma. O cheiro é doce. Se eu pudesse daria uma rosa dessas a Katniss... Ela ia amar.

– Peeta?

Levanto a cabeça, e vejo Caesar me estudando.

– Podemos começar? – ele pergunta.

Começar, o que? Penso.

Mas, quando percebo a luz verde da câmera esta acesa. E Caesar está dano boa noite aos cidadãos de Panem. Ah! Eu irei falar para Katniss. Agora me lembro.

– Então Peeta... Já se acostumou a Capital? – Caesar pergunta, e dá um leve soco em meu ombro – Soubemos que você tem uma fã especial.

Olho para as rosas hipnotizado. Minhas costelas doem demais. Tento me ajeitar, o que só resulta em mais dores. Solto um gemido. Olho para Caesar, e assinto.

– Sim – é o que consigo dizer, enquanto aperto minhas mãos, forçando-as a parar de tremer.

Caesar gargalha, em seguida fica sério novamente. Mas por baixo de toda essa representação, consigo ver a sua preocupação.

– Peeta. Você deve ter visto, ou ouvido algumas especulações sobre Katniss estar gravando “pontoprops” para os rebeldes – ele pigarreia. – O que você acha disso?

Penso a respeito. A voz de Snow penetra meus ouvidos. Eles estão usando-a. Não penso mais para responder.

— Eles a estão usando, obviamente. Para agitar os rebeldes. Duvido que ela saiba o que está acontecendo na guerra. O que está em jogo – digo, enquanto minha cabeça martela. Aperto bem meus olhos. Preciso falar mais explicitamente para Katniss parar.

— Há algo que você gostaria de dizer a ela? — Caesar sugere.

É a minha chance. Apenas não sei por que as palavras custam a sair. Engulo. Suspiro.

— Há — digo, e olho diretamente para a câmera, desejando que fossem os olhos de Katniss. Como eu sinto sua falta. Me controlo para não cair aos prantos. -

Não seja tola, Katniss. Pense por si mesma. Eles transformaram você em uma arma que poderia ser instrumento na destruição da humanidade. Se você tem qualquer influência real, use-a para colocar freios nessa coisa. Use-a para parar a guerra antes que seja tarde demais. Pergunte a si mesma, você realmente confia nas pessoas que você está ajudando? Você realmente sabe o que está acontecendo? E se não... descubra.

Minhas mãos agora tremem furiosamente.

– E Katniss, eu vou lutar por você, até o fim – digo, enquanto o ar ao meu redor parece me sufocar. Mas percebo com tristeza, que é tarde demais, e a câmera deixou de gravar. Um pacificador aparece e segurando firme o braço de Caesar o arrasta para longe de mim. Outros dois surgem, mas não me ajudam. Na verdade, parecem se divertir vendo o quão difícil é para mim, levantar, e andar. Vão me guiando pelos corredores sem fim, as escadarias que são quase um suicídio para mim, enquanto eu percebo que me corpo treme cada vez mais. Eu preciso de Katniss. Mais que tudo.

Gritos chamam minha atenção. E ignorando o fato de estar sendo escoltado, e quase não conseguir andar, eu me vejo seguindo esses gritos. Reconheço a voz de Johanna.

– Pare! Eu vou te matar, eu juro que vou... Pare por favor... Socorro... Socorro...

A agonia toma conta de mim. Começo a correr. Cada passo, parece que há uma espada sendo enfiada em minha costela. É difícil respirar. Meu corpo vacila. Mas eu não desisto.

– Johanna! – grito. – Onde você está?

– Peeta – sua voz ecoa no corredor como resposta. – Por favor, me ajude.

Sigo sua voz, e meus instintos, e escancaro uma porta no final do longo corredor.

O que vejo, faz meu corpo estremecer. E em seguida eu não tenho noção de mais nada. Apenas da fúria correndo como veneno em minhas veias, dos gritos, e do sangue em todo o lugar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Esperança - Peeta Mellark" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.