A Esperança - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 8
Capítulo 8




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Dor? É uma palavra tão pequena, para seu real significado... Eu sinto as coisas perfurando meu rosto. Minha costela latejando. Queimando. Eu sinto. E o pior, é saber que não há o que fazer para isso parar. Acho que eu nunca ficarei bem novamente. Os gritos de Johanna só me fazem sofrer mais. Sei que estão fazendo algo com ela também.

– Eu conto – Johanna grita. – Eu conto tudo o que sei. Só deixem ele em paz.

Ela está chorando. Nunca pensei em ver Johanna assim. O sangue quente pinga de meus cílios. Fazendo eu ter dificuldade para enxergar. Além de meus olhos parecerem estar pegando fogo. Ao menos Thread parou de me bater.

– Resolveu nos contar, queridinha? – Thread pergunta num tom zombeteiro, enquanto segura o queixo de Johanna. Dá para ver que ele está segurando com muita força. Ela geme. Percebo agora, que o que restou de seus cabelos, está no chão. As paredes estão chamuscadas de sangue. Do meu sangue.

Thread solta Johanna.

– Eu vou contar – ela repete. – Mas vocês não vão mais nos machucar. Essa é minha condição.

Thread e o outro pacificador nos olham. E de repente começam a rir.

– Acho que o que você sabe, não é mais importante para nós – Thread diz, e dá um soco no rosto de Johanna, antes de sair acompanhado do outro pacificador, e trancar a porta atrás de si.

Sinto uma vontade imensa de abraçar Johanna. É inacreditável que aquela garota durona, e engraçada foi transformada nisso. Seu rosto sangra, suas costas estão arqueadas, imagino pelo peso da corrente em seu pescoço. Ela olha para mim, sem lágrimas nos olhos, agora.

– Eles vão pagar por isso. Por tudo isso – Ela diz, com rancor.

E de repente, antes que eu possa me dar conta estou chorando compulsivamente. Chorando por toda a dor que sinto, chorando por descobrir que Katniss está viva, mas estar tão distante dela quanto se ela estivesse morta. Chorando por Johanna, por Cinna, por todos os tributos mortos na arena, e chorando pelo futuro que eu sei que não terei.

– Nós vamos morrer aqui Johanna – soluço – eles vão nos matar. Justo agora, que descobri que Katniss está viva... Ela está viva Johanna...

– Peeta... – ela diz, enquanto rasteja até mim, e com muito esforço, consegue segurar minha mão. – Se Katniss está viva, nós vamos ganhar.

Fico em silencio.

– Johanna... Qual a cor dos olhos de Katniss?

Ela se encosta na parede, claramente com fortes dores.

– Eu... não sei... escuros... meio, acinzentados, talvez? Mas que droga de pergunta é essa Peeta?

– Cinzentos – repito. Sinto uma nova onda de lagrimas, mas me contenho. Eu me lembro agora. São cinzentos. Lindos, intensos, e de uma cor única. Ninguém nunca mais tirará essas memórias de mim.

– Peeta? – Johanna chama, enquanto seu estomago protesta por comida.

– Obrigado Johanna – consigo por fim dizer.

Antes que ela possa me interrogar acerca disso, ouvimos passos no corredor, e nos encolhemos, se preparando para mais alguma atrocidade.

Um pacificador, destranca a porta, e entra, sem dizer palavra alguma. Em seguida começa a tirar os ganchos ainda enfiados pelo meu corpo, sem piedade alguma. Quando ele termina, me força a ficar em pé, ignorando as ofensas de Johanna.

– Para onde você vai levar ele, desgraçado? – ela grita. – Quando eu sair daqui, vou fazer questão de matar todos vocês, um a um...

Olho para ela, incerto se essa será nossa última vez juntos.

– Johanna – grito enquanto o pacificador me arrasta para fora. – Obrigado. Por tudo.

Não obtenho resposta, e minhas pernas falham quando vejo outro pacificador entrando no cômodo e fechando a porta.

Começo a reconhecer o local que estamos. Estive aqui quando Katniss me empurrou depois de uma entrevista, resultando em cortes terríveis em minhas mãos. É como se fosse um hospital. Mas está vazio. Passamos por salas, cheias de equipamentos, que me causam arrepio sem eu sequer saber para que servem. Entramos em uma sala ampla, com uma cama hospitalar no centro e vários aparelhos metálicos ao redor. No canto da sala vejo Moira. Eu sorrio, mas ela não sorri de volta. Deve estar assustada com o estado no qual me encontro. Mas, além disso, percebo as olheiras em seu rosto, e a vermelhidão em seus olhos. Congelo, quando escuto a voz de Snow. Me viro, e o vejo, com sua postura impecável, mas seu rosto, com vários cortes, que graças aos remédios da capital, estão quase imperceptíveis.

– O sr. deve ter conhecido nossa estimada doutora Moira Crawne – ele começa, com sua voz teatral, ignorando totalmente o fato de eu estar em frangalhos, e o fato de eu ter tido aquela reação explosiva em sua casa. – Ela, é brilhante, e vem estudando o veneno das teleguiadas há muitos anos. Porém, nunca havíamos feito certos testes com esse poderoso veneno, em humanos. Está na hora de fazer isso, não acha?

Eu o fito. O ódio que sinto por este homem é tão grande, que está me intoxicando, me fazendo muito mal. Ele se aproxima ainda mais do meu rosto.

– Não se preocupe. Iremos reconstruir seu belo rosto. Logo mais – ele sussurra.

A rosa na lapela do seu terno branco e cinza tem um cheiro tão forte que me deixa enjoado. Não controlo meu impulso, e cuspo em seu rosto.

Ele parece não se abalar. Acena para o pacificador que ainda segura forte meu braço, e com um lenço branco limpa seu rosto.

Sou deitado na espécie de cama, e algemado nas barras de ferro ao redor dela. Moira não tira os olhos de mim, e percebo que suas mãos tremem.

Eu sei a dor provocada pelo veneno das teleguiadas. Devo me preparar para o pior.

Moira, com lágrimas agora pingando de seu delicado queixo, acaricia meu braço, antes de enfiar uma agulha em minha veia. Faz ou mesmo com meu outro braço.

– O que vai acontecer comigo? – pergunto, sentindo a agonia me engolfar.

Ela sorri. O que soa falso com a enxurrada de lagrimas que escorre por seu rosto.

– Nada querido.

As agulhas têm longos tubos conectados a elas. Moira liga estes tubos, a uma bolsa de plástico, que contém um líquido amarelo, quase ouro.

Há um monitor. Moira liga os fios dele, em meu peito, os colando. Um bip começa.

Ela se vira para Snow, e assume uma postura totalmente diferente. Totalmente profissional.

– Quando eu injetar o veneno, o sr. se comunicará com ele, e tudo o que for dito, ficará gravado na mente dele, como sendo o que é real – ela comunica.

Snow sorri animado. E a constatação do que irá acontecer, me atinge.

– Não – grito, e começo a me debater, ignorando as algemas esmagando meus pulsos e tornozelos já em carne viva. – Não! Por favor. Eu serei seu porta voz. Faço qualquer coisa.

O bip está acelerado. Snow continua a sorrir. Moira se vira de costas, e eu vejo seus ombros chacoalhando. Há mais três pacificadores agora, me segurando. Me debato com toda a força. Não posso permitir que este homem brinque com minha mente. Não posso permitir que ele faça o que quiser de mim. Não... Não irei permitir.

– Irá fazer o que eu quiser? – Snow pergunta, prendendo minha atenção.

Paro de tentar me libertar. O encaro. Assinto.

– Então, apenas fique quieto. Dra. Moira, faça – ele ordena.

Moira, com mãos ainda mais trêmulas, gira um pequeno registro, que fica abaixo da bolsa de liquido que pende em cima de mim. Apenas alguns segundos se passam, antes de eu sentir. São como garras, rasgando minhas veias. Cerro os dentes, e aperto bem meus olhos. Penso em Katniss. Apenas nela.

– Há uma revolução acontecendo nos distritos Peeta. Isto é culpa de Katniss – a voz de Snow ressoa em meus ouvidos.

Um turbilhão de memórias me desnorteia. Há uma garota com duas tranças na fila da escola. Ela me olha. E sorri. Seus olhos são cinzentos. Falta um dente em seu sorriso.

– Os rebeldes estão a usando. Você tem que alertá-la disto, Peeta.

Agora, eu vejo uma garota, muito magra, carregando o que parece seu uma ave selvagem, nas costas. Ela usa uma jaqueta desgastada. E botas.

– Você quer que isso acabe? Quer deixar de sofrer? Isso só irá acontecer, quando acontecer um cessar-fogo. E isso depende apenas de Katniss.

A mesma garota, que agora reconheço, ser Katniss, está olhando para o céu, com uma flecha no arco, e por fim atira. Um raio cai.

– Katniss tem que pôr fim nessa revolução. Eu estou do seu lado, Peeta. Só quero o seu bem.

Eu quase consigo sentir, Katniss avançando sobre mim, e me beijando docemente. Seus lábios cálidos.

Meus pulsos queimam, enquanto meu corpo balança violentamente.

Tenho um corte na perna. Cato tentou me matar. Katniss arriscou sua vida para pegar um remédio para mim. Ela está morta na poça de sangue.

Eu quero que tudo isso pare. Quero que essas memórias parem. Quero que a dor pare. Não quero mais sofrer. Ouço um bip, incessante, ensurdecedor.

– Presidente Snow, ele não vai aguentar, preciso parar – Ouço alguém gritar.

E então, é como se a agua tivesse apagado o fogo. Lentamente.

– Peeta, você está bem?

Olho para o lado. É moira.

Mas eu tenho apenas um pensamento.

– Preciso falar para Katniss. A revolução não pode continuar. Estão usando ela. Preciso falar – digo ofegando.

Percebo a presença do presidente Snow. Ele sorri para mim. Mas eu não gosto dele.

– Durma um pouco. Amanhã você poderá falar o que quiser a srta. Everdeen – ele diz, e sai, parecendo satisfeito.

Só então, fico consciente de todas as dores que eu sinto. Eu não aguento mais. Isso tudo... É culpa de Katniss. Ela precisa parar.

– Moira, eu preciso falar – suplico – tem que parar. Eles estão usando Katniss, é tudo uma mentira, Moira...

Ela suspira.

– Durma querido – ela diz, e injeta um liquido em meu braço. Meu corpo começa

a ficar dormente. Isso é bom, pois assim eu não sinto tanta dor. Eu quero mais deste líquido. Minhas pálpebras vão se fechando. Amanhã falarei tudo. Katniss vai pôr fim a isso. Ela vai descobrir que não é certo. Mas... Porque ela está fazendo isso? Ela não sabe o quanto estou sofrendo? Ela não sabe que para isso parar, ela tem que parar também? E se... ela sabe, e apenas não se importa? Katniss não faria isso comigo. Faria? Eu não sei...Talvez, faria.

Adormeço com uma sensação estranha. Uma dor latejante em minha cabeça, e um sentimento que eu nunca havia sentido antes, mas que só pode ser descrito como amargura.


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