No dia seguinte, naquele mesmo balcão em que eu trabalhava todos os dias, um cliente diferente apareceu e mexeu com meu coração de um jeito mais diferente ainda. Vê-lo ali me fez sentir como nunca eu havia sentido em toda a minha vida. Nem mesmo ao lado do Dean, meu namorado.
- olá. – ele disse enquanto eu estava distraída em pé em cima de um banquinho arrumando a prateleira.
Quando eu me virei e vi quem era... Conclusão: caí que nem fruta madura no chão, causando a maior confusão em toda a livraria. Sorte que não havia muita gente por lá, e o Dean estava em horário de almoço. Sorte mesmo ele não estar ali para ouvir toda a conversa...
- oh meu Deus, me desculpe! – ele disse me ajudando a levantar e ficar de pé.
- não de desculpe, eu que fui descuidada. – eu sorri sem graça e ajeitei meu uniforme.
- você está bem? Mesmo?
- sim, sim. Estou ótima. – eu parecia uma boba com um sorriso engraçado no rosto e quando percebi fingi estar séria, mesmo com as pernas tremendo embaixo do balcão.
Ele deu um sorriso e passou a mão pelos cabelos, isso quase me fez desmaiar mas eu tive que me controlar.
- então... – ele me olhava com a boca aberta, parecia querer dizer algo mas nada saía.
- então... – eu repeti.
- eu estava procurando algum livro de terror, você poderia me indicar algum?
- claro! Os mais procurados aqui são os do Stephen King e se eu fosse você, levaria o “Tripulação de Esqueletos” que é muito bom. Tem também o “A Hora do Vampiro” e eu acho que você vai gostar.
- como você sabe que eu gosto de vampiros?
- ah.. eu.. eu não sei... você gosta mesmo? – perguntei um pouco incrédula com a coincidência.
- adoro. Sou praticamente um! – nós dois rimos. – e você, gosta de quê moça?
- vampiros. – dessa vez ele riu. – não acredita?
- sinceramente... não. – fiz uma cara de ofendida.
- só porque tenho essa carinha de inocente é? saiba que eu gosto de muitas coisas que te deixariam surpreso, senhor...
Ele segurou em minha mão e a beijou. Eu estava mais gélida do que um defunto.
- Gerard Way. Muito prazer. E a senhorita se chama...?
- Annabelle McField, muito prazer.
Querem saber o que aconteceu depois? Ele comprou o livro sobre vampiros e foi embora, simples assim. Mas isso não ficou tão simples como eu pensava, as complicações vieram justamente depois...

Kate, uma menina que trabalhava no caixa, veio em minha direção segurando um papelzinho e sorrindo.
- menina de sorte hein... – ela disse baixinho.
- hã? por quê?
- toma. Aquele deus grego mandou te entregar quando pagou o livro. – ela me deu o papel e eu guardei no bolso sem nem abrir. – além de lindo, ele é educado. – ela deu uma risadinha e saiu.
Dean me olhava de longe, nossa história ainda não estava resolvida e ele parecia muito mal com isso. Vencida pela curiosidade e com muito cuidado para que ele não notasse, eu tirei o papel do bolso e li o que estava escrito em letras miúdas.
“Você foi a mulher mais linda que vi até hoje. Por favor, não deixe que o tempo apague de mim essa lembrança.
(31) 20 6693092 – Gerard Way”

Meu mundo quase desmoronou. Primeiro pensei: “Será que ele esta falando sério?? Não, nada disso é possível”. Depois me veio a cabeça todos os acontecimentos tristes da minha vida nesses últimos meses. Seria bom arriscar, não seria?
- oh Deus, o que estou pensando? E o Dean, como fica? – falei baixinho e me debrucei no balcão. Minha vida estava mesmo diferente...

Busquei Jessy na escola e a levei pra nossa casa que ficava no centro da cidade. Ela foi falando o caminho inteiro e eu estava com a cabeça no mundo da lua.
- aí aquele menino que eu te falei veio me pedir a resposta do exercício, só que eu não dei e ele... Anne, você tá me ouvindo?
- o quê? Você disse alguma coisa? – ela me olhou de cara feia – desculpe Jessy, eu não to com cabeça pra te escutar, me desculpe.
- o que tá acontecendo? Você e o Dean terminaram?
- não! Nada disso, é só que... – suspirei – não sei... – ela me abraçou.
- ah minha irmãzinha, não fica assim não. Você é linda, pode ter quantos caras maravilhosos e gostosos quiser. – ela me fez rir.
- olha só, tão nova e só pensa em garotos.
- nova? Eu já tenho 15 anos! Daqui a pouco fico solteira pra sempre, se não arrumar logo um namorado também.
- que isso, tá doida? A senhorita tem é que estudar pra passar de ano senão vai ficar sem presente hein.
- ahh nãooo! Eu preciso da minha guitarra pro campeonato de fim de ano! Por favor maninha, eu juro que vou estudar, mas não me deixa sem minha guitarra... – ela fez cara de sofrida e eu não agüentei.
- tá bom, tá bom. Eu vou comprar sua guitarra.
- yeaaaaaaah!
Nós duas éramos muito unidas, sempre fomos. Jessy era muito pequena quando houve o acidente e nossos pais morreram. Ela nem se lembra direito mas eu nunca esquecerei da cena dos nossos pais presos entre as ferragens do carro. Horrível de se lembrar e impossível de se esquecer.
O sonho dela era tocar numa banda de rock e pra isso precisava enlouquecidamente de ter uma guitarra nova. Pra que eu fui prometer logo uma coisa tão cara? Ai, ai...

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