Amsterdã, Europa – 3 anos atrás...

Estávamos num pub, eu e minha amiga Sue tomando um chocolate quente e conversando sobre minha patética vida amorosa...
- eu não sei mais o que faço, Sue. Acho que ele não gosta mais de mim...
- ah, não diga isso Anne, vocês estão há tanto tempo juntos. – ela tentava me consolar.
- por isso mesmo, acho que tudo o que pensávamos que era amor, acabou. – tomei um gole do meu chocolate e deixei cair uma lágrima dentro do copo. – ainda mais depois do que aconteceu no mês passado...
- não chore, vai ver que vocês ainda têm uma chance.
- ou quem sabe, é hora de terminar a nossa história. – eu olhei triste pelo vidro e vi um rapaz moreno e muito bonito vindo em direção ao pub.
Sem me dar conta, comecei a segui-lo com o olhar e vi quando ele entrou no local conversando com alguns amigos. De repente, ele se virou e me viu. Nossos olhares se encontraram e eu abaixei a cabeça com vergonha.
- helloooooo! Tem alguém aí? Terra chamando Annabelle... – Sue tentou me chamar a atenção e eu ‘acordei’.
- ah, oi. – dei um sorriso sem graça.
- que foi? Pareceu que tinha entrado em órbita de repente. – ela riu e eu sorri também.
- não foi nada.
- Annabelle...
- eu me distraí, é só.
- hum... – ela me olhou pensativa e então se virou na cadeira. – Uaaaaal, que gato! – eu gelei.
- quem?
- discretamente vire-se e dê uma olhada por si mesma.
Sem saber o que fazer e sem outra opção melhor, virei bem na hora que ele olhava pra minha mesa. Nossos olhares se encontram de novo e eu corei depois de vê-lo dar um sorriso muito lindo.
Deixei escapar um suspiro e voltei a olhar para o meu copo de chocolate.
- ele não é incrível? – Sue disse baixinho em meio a risadinhas. Eu estava mais do que concentrada na mesa e comecei a sussurrar.
- aquele corpo, aquele jeito, aquele olhar. Nada disso é estranho pra mim...
- hã? Do que você tá falando, doida?
- dele. Eu tenho a impressão de que já nos conhecemos de algum lugar.
- e você nunca me apresentou aquele gato? – ela falou um pouco mais alto que o normal e todos olharam pra gente, inclusive ele. Morri de vergonha nessa hora e tentei me enterrar o mais fundo que pude. – to brincando. Como assim, vocês já se conhecem?
- eu não sei, é só uma sensação estranha sabe. Não sei explicar.
- isso sim é estranho. – ela fez uma cara estranha e sorriu – bom, pelo menos você parou de chorar.
- é, isso é verdade.
Depois que saímos do pub, eu fui pro meu trabalho e Sue foi às compras. Ela adorava se esbaldar no shopping comprando tudo que talvez nunca fosse usar. Sim, ela é fútil, mas tem um ótimo coração e é uma ótima amiga também. Nós duas nos conhecemos desde pequenas e tínhamos uma amizade muito forte. Podíamos contar uma com a outra sempre, para o que precisar.
Cheguei no meu emprego e troquei de roupa. Vesti meu uniforme de atendente e fui pro balcão. Há quase 2 anos eu trabalhava numa livraria, a maior e mais chique de Amsterdã. Desde nova sempre gostei de trabalhar e sempre precisei, pois eu precisava cuidar da Jessy, que era 2 anos mais nova do que eu.
Quando cheguei no balcão, senti duas mãos me segurarem pela cintura e um beijo meloso em meu pescoço.
- Dean, pára. – tentei me esquivar dele e acabamos ficando frente a frente.
- que foi? Não tem ninguém a essa hora aqui. O lugar tá vazio.
- eu sei, mas aqui é lugar de trabalhar, não é pra gente ficar se agarrando. – os grandes olhos azuis dele me cegavam, mas isso não mexia mais comigo como antes...
- tá bom, me desculpe ok? – ele me largou e se afastou. – eu não devia insistir...
- Dean, você sabe que...
- que tudo está diferente agora... – ele me completou.
- não é isso, é que... que a gente não...
- está chegando um cliente. Depois a gente conversa sobre isso, ok? – e ele saiu triste e voltou pra área de livros infantis, onde ele trabalhava.
Eu passei o resto do dia deprimida, triste por não conseguir dar um jeito no meu namoro com o Dean. Além de lindo, ele era um cara super legal, que me entendia e me apoiava em tudo. Nós namorávamos desde que eu tinha 15 anos, há exatos 4 anos, mas nosso amor foi acabando aos poucos e eu ainda levei um golpe maior ao saber que tinha sido traída. É, eu também passei por isso e o que é pior, eu vi quase toda a cena. Desde então, nosso namoro esfriou e eu sentia que não tínhamos mais futuro, pelo menos não juntos como pensávamos.
Dean era meu grande amigo apesar de tudo, com ele eu desabafava e contava todas as minhas angústias, ele me entendia. E isso era um dos motivos pra que eu nos desse mais uma chance, uma chance ao amor que tivemos.
Só que isso tudo estava diferente agora, como ele disse. Eu não me sentia mais tão motivada a continuar e precisava respirar novos ares, me sentir mais viva. Talvez, encontrar um novo amor.
E foi isso que acabou acontecendo, mais cedo do que eu pensava...

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