- por que você veio até aqui? – ele perguntou seco, mas tentando conter as lágrimas.
- eu não sabia que você estaria aqui, a banda da minha irmã vai abrir os seus shows aqui no país. – eu me sentei no sofá e tampei o rosto com as mãos. – eu não sei se viria se soubesse...
Ele continuava parado na porta do camarim me olhando sem acreditar que era eu mesma que estava ali.
- por que você fez aquilo, Anne? Justo quando nossa vida juntos estava tão feliz.
Eu me levantei e o encarei furiosa.
- quem você pensa que é pra pensar isso de mim, hein?? Eu nunca trairia você!
- você tá dizendo que eu sou cego? Eu vi com meus próprios olhos aquele beijo! E quem sabe não deixei de ver algo mais antes disso... – ele disse com raiva e com deboche.
Eu não me segurei e dei um tapa no rosto dele, que me olhou assustado.
- você tá maluca??
- eu não admito que você fale assim de mim. Eu estava esperando um filho seu, Gerard. – falei com ódio na voz.
- e onde ele está agora? Onde está o SEU filho, hein? – ele disse elevando o tom de voz.
- ele não existe mais, Gerard. Aquela criança não tinha culpa e mesmo assim nem chegou a nascer. – me sentei novamente e comecei a chorar desesperadamente.
- me desculpe, eu não... – ele se aproximou de mim com pena.
- me deixa, Gerard. Você não sabe a dor que é perder um filho. Dói demais, dói muito.
Ele se sentou ao meu lado no sofá e eu não consegui expulsa-lo, por mais que meu coração sentisse raiva de tudo o que ele tinha dito e feito comigo. Eu levei um susto quando ele levantou meu rosto e ficamos nos encarando, era como se nada tivesse acontecido e fôssemos apaixonados de novo.
- o que aconteceu, Anne? Como isso aconteceu? – ele perguntou triste, deixando uma lágrima cair de seus olhos verdes.
Comecei a lembrar de tudo e achei que ele deveria saber como. Afinal, o filho dele morreu.
----- Flashback -----
1 mês havia se passado desde que Gerard me deixou e eu ainda não conseguia me conformar como tudo tinha acontecido tão rápido, as coisas boas e as coisas ruins.
Eu não me alimentava mais, não bebia nem comia nada o dia inteiro. Era praticamente um corpo vivo, mas sem alma e sem coração.
Sue e Jessy estavam muito preocupadas comigo, passavam quase o dia inteiro tentando me fazer reagir. Em vão. Eu não queria e não iria reagir.
Até que um dia eu resolvi que deveria viver por meu filho que não tinha culpa do que aconteceu. Eu iria viver somente por ele, e por mais ninguém nunca mais. Me levantei da cama e fui pra cozinha. Comi tudo que podia e não podia, me ‘enchi’ de todas as formas.
Acho que a fome de tantos dias era tanta que eu não sentia nem o gosto do que engolia, apenas sentia o prazer de estar mastigando de novo.
Estava tudo bem até que eu comecei a passar muito mal e quando Jessy chegou em casa, me viu no chão vomitando tudo o que tinha ingerido.
- oh meu Deus, Anne!!!
- Jessy... me leva pro hospital. Por favor. – falei tentando respirar de tanta dor.
- o que você fez? O que você fez... – ela repetia sem parar.
Chegamos no hospital e assim que entramos eu senti algo quente e viscoso escorrendo entre minhas pernas. Era um sinal de que tudo era bem pior do que pensávamos.
- eu não to bem... me ajudem, por favor... – eu falei e logo depois desmaiei.
Acordei no dia seguinte em um quarto do hospital com Sue e Jessy ao meu lado.
- se sente melhor, amiga? – Sue perguntou fungando e com o nariz vermelho.
- um pouco. – falei tentando me erguer na cama.
- você vai precisar descansar por um bom tempo. Ainda está fraca, pois perdeu muito sangue. – Jessy disse séria.
- eu to melhor, juro. Posso ir pra casa agora? – as duas deram um sorriso e depois Jessy me olhou séria a ponto de chorar.
- não faz mais isso, ok? Você nos deixou desesperadas. Por mais de um minuto você morreu.
- como assim, morri?
- seu coração parou de bater e nem os médicos sabem dizer como você reagiu. – eu não acreditava no que estava ouvindo da boca de Sue – é um milagre estar viva.
- e tem algo que você precisa saber, mesmo sendo terrível te contar isso... – Jessy começou a chorar. – você... você... perdeu o bebê.
Eu fiquei em choque e as duas me abraçaram chorando.
----- Fim do Flashback -----

- eu nunca irei esquecer essa cena... nunca. – falei aos prantos, mas tentando evitar que mais lágrimas caíssem.
Gerard parecia em choque também, ele me olhava sem acreditar e sem saber o que fazer.
De repente ele me abraçou e eu amoleci. Soltei tudo o que estava segurando dentro de mim e acho que meu choro poderia ser ouvido até pela platéia do show que aguardava ansiosa pelo início do espetáculo.
Adam entrou no camarim desesperado e nos viu abraçados e com os rostos inchados.
- ah... eh... me desculpem, mas o show vai começar e o Gerard precisa apresentar a banda de abertura, como foi programado. E também temos que procurar o Frank.
- por favor Adam, peça que eles esperem mais alguns minutos. Eu preciso terminar de conversar com a minha noiva.
Eu quase desmaiei quando ouvi isso saindo da boca dele, do homem que até alguns minutos estava gritando comigo me dizendo que eu não prestava. Adam não disse mais nada e saiu. Gerard me olhou e deu um sorriso tímido, pedindo perdão.
- me perdoe, Anne. Eu estava cego sim, por ciúmes de você e não vi que tudo não passava de um mal entendido. Eu sei que te fiz sofrer muito, perdemos nosso filho... – eu abaixei a cabeça – mas eu nunca poderia esquecer a mulher que me fez mais feliz nesse mundo. Você é a mulher perfeita pra mim, é a mulher da minha vida. Eu te amo, muito.
Eu já não tinha mais palavras então resolvi agir. O beijei como nunca havia beijado. Foi um beijo doce, mágico e inesquecível, repleto de amor e saudades.
Ele ria feito criança enquanto tentava secar as lágrimas de felicidade.
- Gerard, o show. – eu lembrei tentando parar de chorar também. – você precisa ir.
- você vem comigo. Mas antes precisamos achar o Frank.

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