Evolution: Parte 2 escrita por Hairo


Capítulo 21
Dividir e Conquistar


Notas iniciais do capítulo

Preparados para o que vem por aí? Vamos ver no que isso vai dar!

Boa leitura!



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Capítulo 21 – Dividir e Conquistar

Quando Dave acordou ainda era noite e a névoa o rodeava mais de perto. Continuava na mesma clareira, mas o frio havia apertado, provavelmente devido à extinção do fogo na fogueira improvisada que ele mesmo montara mais cedo. As lembranças do que tinha acontecido eram ainda mais densas e confusas do que a fumaça clara que o cercava.

Lembrava-se de conversar abertamente com seus dois amigos e de olhar furtivamente para os lados a todo o momento. Os barulhos da floresta e as suas histórias de viajantes perdidos realmente tiveram efeito no menino e ele pressentia constantemente alguma coisa se aproximando. Tinha dito a si mesmo que era apenas sua imaginação, e, para espantar os fantasmas de medo que o assombravam, ele tinha decidido ignorar todos os sons que viessem de fora da clareira.

Fora difícil no início, e ele se pegou, por varias vezes, olhando por cima dos ombros para algum galho que se mexera com o vento, e arrepiando-se com o uivar de mais uma das correntes de ar frio que muitas vezes cortava o lugar, mas a fogueira foi perdendo a força e o sono foi começando a tomar conta do rapaz, o que tornou mais fácil a tarefa de se acalmar.

A última coisa que lembrava era de ouvir um leve farfalhar de folhas, mas se forçar a manter os olhos na menina que falava ao seu lado, enquanto abraçava os joelhos, em uma inútil tentativa de espantar o frio. Sentira-se nervoso, mas não se permitira sequer mexer o olho para descobrir o que causara o barulho. E então, como se tivessem se materializado à sua frente, uma densa cortina de poeira brilhante começou a cair sob as cabeças do grupo.

Foram necessários alguns segundos para que tudo lhe fizesse sentido, e quando Dave olhou para cima e seguiu a trilha de esporos, apenas conseguiu ver uma mancha borrada sumindo do lado oposto da clareira. E então, tudo ficou preto.

Agora se levantava lentamente, coçando a cabeça com uma mão enquanto a outra esfregava os olhos. Bocejou alto e endireitou-se, sentado no chão. Aparentemente pegara no sono fora do seu saco de dormir, o que lhe era muito estranho, principalmente considerando o frio que fazia. Se tivesse que adivinhar, ele teria pensado que dormira não só a noite, mas também o dia seguinte inteiro, de modo que estava apenas acordando na outra noite, mas algo lhe dizia que aquilo não era verdade.

Virou-se para o lado procurando Mindy e Jake, mas, para a sua surpresa, nenhum dos dois estava à vista. Com os olhos arregalados, o menino precisou piscar algumas vezes para acreditar no que via. Não havia um rastro sequer dos amigos e nem mesmo as suas mochilas podiam ser vistas. Será que eles o haviam abandonado ali?

Como um instinto ele procurou Eevee, e, para seu alivio, o viu dormindo um pouco a sua direita, mais próximo de onde o fogo queimara algumas horas antes. Um suspiro de alivio percorreu o corpo de Dave, mas mesmo com a presença do amigo, o coração do garoto batia em um ritmo acelerado.

Levantou-se com esforço. Apesar de sua mente já estar em estado de alerta, seu corpo ainda não parecia ter recebido as doses de adrenalina necessárias para acordar os seus músculos e fazê-los trabalhar normalmente. Ele pôde sentir e ouvir um estalo em sua coluna quando se projetou em direção ao pequeno Pokémon, deitado a menos de dois metros de distância.

– Acorda Eevee! Acorda!

– Uee...

A pequena raposa marrom se mexeu e virou-se de lado, como se não quisesse acordar e soltou um leve gemido que deixou seu treinador impaciente. O rapaz sacudiu-o mais uma vez, e dessa vez, reparou em algo que tinha lhe fugido à atenção anteriormente. Eevee usava uma pequena e fina coleira preta quase invisível na escuridão da noite. Apenas depois de as pupilas terem se acostumado com a falta de luz do ambiente Dave conseguiu distinguir o pequeno cordão que o Pokémon usava. Por um momento, pensou que aquele não fosse o seu amigo.

– Uee, Ueevee! – disse a criaturinha, olhando feio para o menino enquanto se postava de pé, claramente sonolento. Quando se levantou um pequeno envelope pendeu do tecido em volta de seu pescoço, tão pequeno que cabia na palma de uma mão. Rapidamente sentiu na pele o contato de algo que lhe era estranho e olhou para baixo, nervoso. Deu dois pulos, tentando enxergar melhor o que era aquilo, mas nada conseguia ver.

– Espera Eevee, pára! O que é isso? – Disse Dave, se assustando com a súbita reação do Pokémon. Se antes o coração do menino estava acelerado, agora ele estava prestes a sair-lhe pela boca. O seu amigo nunca usara uma coleira antes e pensar que talvez aquele fosse um Eevee diferente fez os pelos do rapaz se arrepiarem.

Quando o Pokémon se aproximou e permitiu que o garoto lhe tirasse a coleira, Dave rapidamente sacou a carta que estava presa a ela. O pequeno envelope não parecia capaz de conter mais do que um pequeno cartão de plástico, mas estava estufado, de modo que ele imaginou que quem quer que houvesse deixado o bilhete, deixara-o em um papel de tamanho normal, dobrado muitas vezes.

Quando abriu o envelope, viu que não tinha se enganado. Era uma folha branca de tamanho regular, igual a que ele usava no centro de informática de sua cidade, quando ele tinha tempo para acessar o computador e imprimir algum novo fato interessante sobre Pokemons. Ele podia ver que havia algo impresso na folha, provavelmente por um computador, mas estava escuro de mais para ler.

Rapidamente procurou sua mochila, percebendo enquanto isso que seus olhos se acostumavam com a escuridão, e, mesmo que ainda com dificuldade, ele não precisou de muito esforço para localizá-la. Tenho quase certeza que trouxe uma lanterna de casa... Pensava ele, enquanto abria o zíper e tateava suas coisas. Não demorou muito e achou um pequeno dispositivo que, com um clique, lançou um raio de luz não maior do que uma bola de baseball. Dave teve que afastá-lo alguns centímetros para iluminar toda a extensão impressa do papel.

Sua primeira reação ao ler a carta foi, mais uma vez, de alivio, ao perceber que aquele era de fato o seu Eevee, e o menino acariciou-lhe os pelos, sentindo-se um péssimo treinador por não ter tido a certeza do fato antes. O que veio a seguir, porém, lhe aterrorizou.

“Prezado Sr. David Dire Hairo,

Vimos por meio dessa, lhe convocar a um encontro de extrema importância, tanto para você como para aqueles a quem quer bem. O senhor, como bem sabe, está em posse de algo que nos é muito caro e valioso, de modo que é de nosso grande interesse recuperar o nosso bem.

Tendo em vista os nossos sucessivos encontros passados, chegamos à conclusão de que entrar em um acordo razoável seria, de um ponto de vista prático, impossível, de modo que tivemos que tomar uma atitude pouco convencional, visando sempre, é claro, apenas recuperar o que é nosso por direito. Assim, usando-nos de artifícios que nos eram disponíveis, tomamos-lhe não apenas um, mas dois de seus bens que tem em alta estima.

Gostaríamos de esclarecer que não pretendemos, de fato, nenhuma injúria ou dano permanente a nada nem ninguém. Simplesmente achamos que somente assim estaríamos em uma posição minimamente igualitária para negociação, de modo que agora, o senhor tem algo que nos interessa e nós temos algo de seu interesse.

Tendo dito isso, nós lhe seremos gentis o suficiente para poupar-lhe trabalho e dizer onde nos encontrar, de modo que possamos fazer a nossa troca. Seguindo diretamente pela trilha a sua direita, encontrará uma pequena cabana plástica improvisada, de alta tecnologia, onde estaremos lhe esperando, juntamente com uma de suas posses: a menina.

Tomando, porém, o caminho da trilha que segue a sua esquerda, encontrará uma cabana similar, onde também estaremos presentes e ávidos para realizar a troca, dessa vez pela segunda de suas posses: a criança.

Acreditamos que tenha percebido que apenas existe a possibilidade de uma troca, o que imaginamos que lhe incomode profundamente. Assim garantimos que graças a dispositivos de comunicação interna, conseguiremos, em qualquer das localizações escolhidas, lhe garantir o acesso a ambos de seus bens valiosos. Presumindo, é claro, que a troca seja previamente executada.

Caso, porém, escolha o caminho de uma negociação mais ousada, como tem feito ultimamente, poderá condenar um dos seus à um desfecho desagradável, sendo obrigado a dizer-lhe adeus.

Daremos-lhe até o amanhecer para fazer a sua escolha.

Esperando que tome sua decisão sabiamente, desejamos-lhe o melhor,

Equipe Rocket.”

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Quando Mindy acordou, ela se viu sentada no chão em um lugar desconhecido. A terra em que se deitava parecia a mesma da floresta em que se lembrava estar, porém as paredes à sua volta eram definitivamente algo novo. A menina teve que coçar os olhos para garantir que o que via era real. Por toda a sua volta uma estrutura aparentemente de alumínio crescia coberta por um material branco que dava a impressão der ser lona, se não fosse visivelmente mais rígido.

Havia uma fonte de luz no teto, mas a menina não ousou olhar diretamente para ela, uma vez que seus olhos ainda se acostumavam com a claridade. Nada do que via lhe fazia sentido e ela tentou se lembrar do que acontecera, mas tudo lhe parecia um borrão. Estivera com seus amigos e, de repente, adormecera. Não se lembrava nem de ter se deitado, nem sequer como chegara àquele lugar.

Afinal, onde eu estou? E cadê todo mundo? Perguntava-se a menina, enquanto olhava freneticamente para os lados e tentava inutilmente localizar os amigos. Viu sua sombra se mexendo na parede imediatamente a sua frente, dançando enquanto imitava os seus movimentos cada vez mais agitados, até que, sem aviso, a sua sombra se quebrou.

Mindy ficou paralisada de susto quando viu um pedaço retangular da parede se abrir para fora, jogando uma grande faixa de luz branca na escuridão exterior. Logo em seguida, um homem de cabelos igualmente brancos passou pela porta, sorrindo para a menina.

– Finalmente acordou? – disse Jack, olhando fundo nos olhos assustados da menina.

– Você? De novo? – perguntou ela, indignada - Não acredito que vocês ainda estão tentando esses truques baratos!

– Cale a boca, menina insolente! – respondeu ele duramente enquanto a expressão no seu rosto se fechava – Não é ninguém para me falar o que fazer. Esse não é mais um truque barato!

A menina se assustou com o tom alterado do homem e se arrastou um pouco para trás, ainda sentada no chão de terra. Uma de suas mãos foi instintivamente para o cinto de Pokebolas, mas logo percebeu que ele estava vazio. O homem de cabelos brancos riu.

– Não pensou que lhe deixaria com seus Pokemons não é menina? Mas fique tranqüila. Se o seu amigo for sensato, logo os terá de volta.

– Quando é que vocês vão aprender a nos deixar em paz?! – disse ela, reunindo mais uma vez coragem para desafiar seu seqüestrador – Não percebeu que seus planos nunca funcionam? Eu e o Dave sempre conseguimos nos safar! E ainda tem o Jake para ajudá-lo dessa vez.

Jack sorriu ao ouvir o nome do menino mais novo.

– Ora, mas o Jake é exatamente o que nos faltava. Antes apenas seqüestrávamos você, mas agora temos o nosso trunfo, garotinha.

Mindy deixou o queixo cair ao ouvir as palavras que Jack lhe dizia com tanto gosto. O sorriso maldoso do homem apenas aumentava à medida que o entendimento tomava conta do rosto da menina. Junto com ele veio o desespero. Jake?! Eles seqüestraram o Jake também?!

– Onde ele está?! – bradou a menina, levantando-se transtornada – O que vocês fizeram com o Jake?!

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Jack saiu da cabana iluminada mais incomodado do que gostaria. Não gostava do jeito com que tinha que tratar sua prisioneira, mas suas ordens eram diretas. Não deveria ferir a prisioneira e deveria mantê-la alimentada e bem cuidada, pelo menos até segunda ordem. Até mesmo fora instruído a devolver-lhe os pertences, uma vez que confiscadas as Pokebolas e qualquer objeto que pudesse auxiliá-la em uma possível fuga.

Ele se sentiu realmente estranho após deixar a mochila da garota dentro da cabana e saber que ela não estava nem sequer com os pulsos amarrados. Claro, a porta da cabana só podia ser aberta com um controle que ele mantinha escondido em um bolso oculto de suas vestes, e era a única entrada e saída do lugar, mas ainda assim, ele se sentia desconfortável.

Para piorar, a menina ainda tivera a ousadia de enfrentá-lo diretamente, fazendo perguntas e dizendo-lhe verdades insolentes. De fato os seus planos nunca davam bons resultados, mas aquele plano não era seu, era de outra pessoa.

Isso, porém, não era um fato tão consolador. Quando ela perguntara onde estava seu amigo mais novo, ele não pôde responder. Mesmo que pudesse não teria dado a prisioneira aquela satisfação, mas o fato de realmente não poder por não saber a resposta o tirava do sério. Tudo o que sabia era que ele estava com Jody, em algum lugar da floresta. Não sabia nem como a mulher deveria tratá-lo, uma vez que receberam suas ordens individualmente.

Além disso, falar com a parceira era impossível. Ele tinha um rádio comunicador preso à cintura, mas somente poderia contatar o supervisor G. Se precisasse avisar sobre a aparição do menino e de Eevee, diria a ele, que repassaria a informação para a outra agente.

Mas enquanto isso não acontecia, só restava ao homem montar guarda e esperar. Pelo menos tinha consigo duas Pokebolas; a de Cubone, como sempre, e a Pokebola do supervisor G. Ficara com ele porque seu superior havia garantido que Dave apareceria ali, e que não estaria disposto a fazer a troca, por tanto, seria prudente ter um Pokémon a mais.

Mesmo assim, Jack estava confuso. Se estavam assim tão certos de que o garoto apareceria ali, por que separam-lhe de Jody? Seriamos mais fortes se estivéssemos juntos, pensou. Na verdade, seria até mais sensato ter envolvido mais agentes na operação... Lembrou-se então que Giovanni queria manter aquelas buscas e operações em sigilo, de modo que talvez Jack e Jody fossem os únicos a quem ele podia confiar à tarefa. Como esse pensamento, o homem de cabelos brancos estufou o peito, orgulhoso.

Dessa vez aquele Eevee não me escapa. Ele vai pagar por tudo o que fez com a gente ultimamente!

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Dave estava de pé, com a mochila nas costas e Eevee no ombro, parado no centro da clareira. Respirava pesadamente e tremia de frio e de nervosismo, com a lanterna acesa nas mãos. Ainda não acreditava no que estava lhe acontecendo.

Apontou mais uma vez a lanterna para o desenho de seta que encontrou no chão. Era grande, feito aparentemente a mão na terra e largo o suficiente para que se escrevesse “direita” em letras grandes, também a mão, no seu interior. Do outro lado, um desenho semelhante dizia “esquerda” e ambos apontavam para trilhas saindo da clareira. Dave estremeceu.

Apontou mais uma vez para o papel em sua mão e releu a carta. Se seguisse a direita encontraria Mindy, se seguisse pela esquerda, encontraria Jake. Para salvar os dois, porém, teria que abrir mão de Eevee, e isso ele não estava disposto a fazer.

O pequeno Pokémon marrom tremia de frio em seu ombro e parecia desanimado e triste. Dave fizera de tudo para que ele não se culpasse, mas se bem conhecia o amigo, não o tinha convencido. O que mais assustava o treinador era que mesmo assim Eevee não se voluntariava a se entregar. Dave sentia-se imensamente grato por isso, pois esperava ter que controlar o amigo, que sempre se mostrara tão valente e preocupado com os outros, mas a Equipe Rocket realmente parecia ser um trauma na vida da pequena raposa.

– Acho que eu não tenho escolha, Eevee – disse Dave, finalmente tomando uma decisão. O menino olhou para a carta mais uma vez, e para as setas desenhadas no chão, e com um grande peso no coração, murmurou para o vento:

– Me desculpe – e se virou.

Antes, porém que desse um passo sequer ele viu alguma coisa passar a sua frente e um arrepio percorreu a sua espinha. O rapaz caiu no chão de susto, enquanto Eevee pulava de seu ombro e caia de pé na terra, com as orelhas levantadas em alerta.

Catando a lanterna com a mão, Dave apontou para frente, onde ele tinha certeza ter visto um corpo negro se movendo, mas só viu névoa. Estranhamente, a fumaça estava mais próxima do que antes, no centro da clareira, como uma nuvem pequena que havia se desprendido de outra maior.

Ainda com a respiração ofegante, o menino se levantou e, quando apontou novamente a luz na direção onde vira a névoa, ela já havia se dissipado. Eu devo estar ficando maluco pensou ele.

– Vamos Eevee, não podemos perder tempo.

Mas o Pokémon não se mexeu. Ao invés disso, pulou, virou de costas, abriu a boca e formou uma grande bola de energia negra, com o centro roxo, e a soltou na escuridão. Mas o que...? Pensou Dave, quando viu a bola de energia explodir próxima a borda da oposta da clareira. Dave não sabia o que era mais impressionante, o ataque que seu Eevee acabava de revelar saber, ou o fato de a Bola das Sombras ter explodido tão sonoramente no meio do ar, como se tivesse atingido alguma coisa que estivesse ali

– Eevee, o que foi isso?! – Perguntou Dave, com o coração palpitando a toda velocidade.

Seu Pokémon não teve tempo de lhe responder, pois, logo em seguida, uma segunda bola das sombras, dessa vez lançada da escuridão, veio em sua direção. Dave somente a viu quando estava a pouco mais de um metro de distancia, mas Eevee deveria tê-la ouvido cortar o ar segundos antes, pois conseguiu pular para o lado antes do ataque explodir a poucos centímetros de onde ele e Dave estavam. O treinador caiu no chão com o impacto do ataque a seus pés, mais assustado do que devidamente ferido.

– O que está acontecendo?! – gritava Dave, balançando a lanterna em meio à nuvem de terra que se levantara – Eevee você está bem? Com quem está lutando?

Mas Eevee não respondeu. Em vez disso, passou do lado da cabeça de seu treinador, ainda deitado no chão, e colocou uma das patas na boca do menino visivelmente assustado. Suas orelhas continuavam levantadas atentas aos sons que tinha a volta, enquanto a poeira que ainda atrapalhava as já precárias condições de vista baixava lentamente.

Dave se surpreendeu com a atitude tão consciente do amigo enquanto o via observar atentamente o ambiente a volta à procura do atacante e perguntou-se se o Pokémon ao menos sabia com o que lutava. Muito provavelmente não, mas ele continuava resoluto. Tinha que lhe admirar a coragem e a capacidade de não se desesperar.

E então Eevee abriu a boca mais uma vez, lançou um segundo ataque, e correu para o escuro. Dave se levantou e o seguiu correndo, saindo da nuvem de poeira a tempo de ver a Bola das Sombras explodir mais uma vez em pleno ar, provavelmente acertando seu alvo.

Dessa vez, porém, Eevee sorria, um pouco atrás de onde o seu ataque atingira o oponente oculto.

– Uee, Ueev! – Chamou urgentemente o Pokémon, demonstrando satisfação consigo mesmo.

Dave ainda relutou em se aproximar, mas não resistiu à curiosidade e, passo a passo, foi se aproximando. Foi preciso estar a menos de um metro de distância para reconhecer o formato esférico negro que estava deitado no chão. De longe e durante a noite, aquela criatura seria praticamente invisível em meio à escuridão da floresta. Mesmo relativamente próximos, o garoto ainda não identificava o que, de fato o era.

Dave precisou reunir as ultimas gotas de coragem que lhe restavam para dar os últimos dois passos e reconhecer aquela criatura como o que devidamente era. Quando finalmente viu, não acreditava em seus olhos. Um Gastly!

Enquanto isso, Eevee correu e sua direção e pulou do seu lado, batendo com a pata em uma das Pokebolas vazias do cinto do treinador. Não foi o suficiente para a esfera cair no chão, mas Dave entendeu o recado. Sacou-a e jogou na direção do Pokémon nocauteado. Não foi preciso mais do que duas sacolejadas para que a captura fosse feita, e, subitamente, Dave tinha um novo Pokémon.

O rapaz olhou para a Pokebola em sua mão por um longo tempo, até que Eevee puxou novamente suas calças.

– Uee! – dizia ele, com a barra da calça jeans do menino em seus dentes.

Só então Dave apontou de novo a lanterna para o chão, um pouco a sua frente. La estava à seta que ele tinha escolhido antes. Não se podia mais ler o lado que ela indicava, pois o ataque de Gastly havia destruído parte do desenho, mas Dave tinha certeza de que apontava para onde ele queria ir.

Colocando então seu mais novo Pokémon no cinto de Pokebolas, ele seguiu decidido para enfrentar o desafio que a Equipe Rocket lhe impusera.

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Jody estava sentada do lado de fora de sua cabana, esperando pacientemente para dar procedimento a sua missão. Aquilo não era algo que ela estivesse acostumada a fazer e seu treinamento não a havia preparado para o que enfrentava, mas, pelo menos ao que seu novo supervisor havia lhe dito, a natureza havia se encarregado de fazê-la perfeita para aquele trabalho.

A mulher sentira-se lisonjeada com os elogios e se postou mais confiante desde então. Estava segura de que a missão estava próxima do êxito, e na próxima tentativa, tudo se colocaria no lugar certo, e ela só precisaria que a natureza que a havia preparado tão bem tomasse seu curso. Tudo seria muitíssimo natural.

Ela olhava para a sombra dentro da cabana, pequena, que agora se movimentava de um lado para o outro, e lembrou-se do menino que encontrou sentado, abraçado tristemente aos próprios joelhos, quando entrou na cabana pela primeira vez. Uma coisa ela não previra que aconteceria. Ela ganhou estima pelo pequeno garoto falador e até achava graça quando ele começava um de seus longos discursos desesperados.

A mulher achou dentro de si uma paciência que nunca pensara possuir quando o ouviu falar, e agora se sentava ali admirando os movimentos de sua sombra de um lado para o outro. Por um momento, pensou estar sentindo pena da criança. Pelo menos o seu ânimo está melhor do que quando acordou... Reconfortou-se ela. De fato, o garoto dormira menos do que ela pensara que dormiria. Pensava que o pó do sono teria um efeito mais duradouro e torceu para que ele realmente se prolongasse nos outros, para que ela tivesse mais tempo para fazer o que lhe cabia nessa missão.

Para sua infelicidade, entretanto, sentiu seu comunicador vibrar na cintura, pendurado no cinto de seu uniforme. Com a urgência que o susto lhe proporcionara ela puxou o pequeno dispositivo portátil e falou a ele.

– Agente Jody, na escuta.

– Agente, como está progredindo? – disse a voz digitalmente modificada através do aparelho.

A expressão no rosto de Jody era de desgosto quando ela respondeu.

– Preciso de mais tempo, senhor.

– Pois não temos muito mais tempo agente. Direi a Jack para segurá-lo o máximo que puder quando o garoto aparecer. Apresse-se.

– Sim, senhor. Cambio desligo.

Jody prendeu seu comunicador de volta no cinto e deu um grande suspiro, olhando para os pedaços do céu da madrugada que podia ver por entre as folhas das árvores, pensando em quão longa aquela noite estava sendo.

Pelo menos logo deve amanhecer, e tudo estará resolvido. Pensou ela, reconfortando-se enquanto se levantava e se preparava para dar prosseguimento ao plano.

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Jack entrou na cabana novamente, irritado e entediado enquanto esperava o desenrolar da trama de seu superior. Todo plano exigia paciência e isso nunca tinha sido um problema para ele, tendo Jody a seu lado para se distrair, mas agora os minutos pareciam demorar mais a passar do que um Slowpoke demorava para se mexer. Resolveu então aproveita-se mais uma vez da posição de vantagem que tinha em relação a sua prisioneira, para se divertir.

Encontrou-a sentada no chão, encolhida a um canto do cômodo claro, olhando para algo que parecia ser uma flor em suas mãos. Lembrava-se de ter visto a planta quando revistava a bolsa da menina, mas não havia reparado em sua coloração única. Realmente, a menina parecia segurar um caule verde com uma chama na ponta. Ela nem sequer dirigiu-lhe o olhar quando ele entrou, mantendo a cabeça baixa, com os cabelos longos a cair-lhe pelos lados do rosto até quase encostarem-no chão.

– Acho que seu namorado não vai aparecer afinal de contas – provocou o homem, mas não obteve resposta – Parece que nem mesmo virá efetuar a troca aqui. Parece que o seu amiguinho e o Pokémon são mais importantes do que você.

A menina então levantou o rosto para seu seqüestrador e ele sentiu a dureza e a raiva espelhadas no olhar dela. As maçãs de seu pálido rosto estavam vermelhas e brilhavam, como se molhadas, mas a expressão da menina era séria.

– Espero mesmo que ele encontre Jake – disse ela. Jack riu-se.

– E como você se sente sabendo que o moleque prefere ver aquele menino insolente antes de vê-la de novo? Como se sente, sabendo que é a última de suas prioridades?

Ele sentiu que a menina tremeu ao ouvir as suas ultimas palavras e os olhos dela pareciam ter se enchido d’água, porém ela voltou seu olhar para a flor em suas mãos e em seguida levou-a ao nariz, fechando os olhos e sentindo seu cheiro como se respirasse o mais puro dos ares.

– Fico feliz que ele saiba que o Jake precisa de mais ajuda do que eu – disse ela, ainda de olhos fechados. Quando encarou o rosto presunçoso de Jack, completou – Sei que depois ele não vai me abandonar aqui.

– Você é tola se pensa que haverá um depois – disse o homem, começando a ficar enraivecido com as respostas de sua prisioneira. Nem ao menos provocá-la ele conseguia. Resolveu então tentar um truque baixo – Foi ele quem lhe deu essa flor?

Jack aproximou-se e esticou a mão na direção da planta, mas Mindy subitamente deu um tapa em sua mão, levantou-se de um pulo e correu para o outro lado da cabana.

– Nela você não encosta!

– Ora, quem você pensa que é para falar assim comigo?! - Enraivecido, o homem se projetou na direção da menina, mas então sentiu seu comunicador vibrar em sua cintura. Olhou para Mindy e viu um rosto que tentava esconder o medo que sentia, e virou-se para a saída da cabana.

– Salva pelo gongo – disse, antes de sair.

Fechou a porta e atendeu ao comunicador.

– Agente Jack, na escuta.

– Agente, pelos meus cálculos, o menino deve aparecer brevemente. Precisamos ganhar tempo, entende? – disse a voz modificada.

– Com certeza, senhor. Mas, se me permite a pergunta, porque precisamos ganhar tempo?

– Não lhe permito a pergunta agente. Cumpra apenas as suas ordens. Mantenha a garota presa e a salvo e impeça o rapaz de alcançá-la até segunda ordem, compreendido? Preciso também que garanta que ele não chegará à menina sem que saibamos.

– Mas senhor, ainda não compreendo o objetivo de tudo isso. O que preten... – Jack foi cortado pela voz de seu comandante, que mesmo com a modificação digital se mostrava impaciente.

– Não lhe cabe nada mais do que obedecer as suas ordens compreende agente? Você me deve obediência e explicações, e não ao contrário!

– Desculpe senhor – disse o homem de cabelos brancos, engolindo seu orgulho – Tudo será feito como planejado. Cambio desligo.

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Dave percebeu que a alvorada não tardaria a chegar enquanto observava os pedaços já acinzentados de céu por entre as copas das arvores. A névoa já ia se dissipando e o garoto apressou o passo temendo chegar tarde de mais.

Ele andava enraivecido, nervoso e temeroso, como todos os nervos e sentimentos a flor da pele, enquanto Eevee parecia concentrado ao seu lado. O que a Equipe Rocket iria fazer Dave não sabia, mas ele estava disposto a tudo para salvar ambos os amigos. Fora forçado a tomar uma decisão, mas não se dera por vencido. No que dependesse dele, chegaria a Zaffre com os dois amigos a seu lado.

A trilha pelas arvores era estreita e tortuosa, e no escuro fora incrivelmente difícil de seguir, mas agora a claridade começava a aumentar o campo de visão do rapaz. Dave pulava raízes que brotavam subitamente da terra, passava sob os galhos baixos e se desviava das plantas que bloqueavam a passagem até que percebeu que o caminho fazia uma acentuada curva à direita. Quando virou-se, viu que tinha chegado onde queria.

Uma grande estrutura branca se erguia no fundo de uma pequena clareira que tinha menos da metade do tamanho daquela onde ele e seus amigos acamparam. Ainda sem se mostrar na, Dave se posicionou atrás de uma arvore na borda da trilha e observou. De fato aquilo parecia ser tecnológico, a primeira vista. Se não fosse a clara rigidez do material, ele diria que era uma lona, porém sabia que aquilo não se quebraria tão facilmente. Procurou uma porta ou janela, mas nada viu, e ficou imaginando como faria para entrar ali.

Em seguida Jack apareceu, vindo de um ponto da clareira que Dave não conseguia ver. O homem de cabelos brancos espiou longamente pela trilha, como se algo fosse saltar dali a qualquer momento. Jody deve estar com Jake pensou o garoto. Será que eles serão tão estúpidos como da última vez?

De repente um raio de esperança surgiu no coração atribulado de Dave. Lembrando-se da ultima vez que estivera em uma situação semelhante, ele conseguira escapara fazendo com que seu Sandshrew se aproximasse invisível, pelo subsolo. Se pudesse cavar um túnel daquele ponto da trilha até dentro da cabana de Mindy, poderia salvá-la sem que Jack notasse, e então partir para salvar Jake. O treinador de Grené sorriu e liberou seu Sandslash, confiante de que seu plano daria certo.

– Sandslash, a Mindy está dentro daquela cabana. Preciso que você a tire de lá por baixo da terra, acha que consegue?

O Pokémon terrestre sorriu, acenou positivamente com a cabeça e começou a cavar, enquanto Dave agradecia o fato de ter um Pokémon tão prestativo em seu time. Cavar um buraco não era um problema para Sandslash, mas fazer um no meio da floresta, desviando de raízes profundas, grande o suficiente para que uma pessoa pudesse passar seria um verdadeiro desafio, e, entretanto, seu Pokémon não somente o havia aceitado como estava feliz por isso.

O roedor terrestre não tardou a desaparecer pelo chão, e depois de algum tempo Dave nem mais conseguia ouvi-lo raspando a terra dura com suas ágeis garras afiadas. E então o menino sentou-se, ainda escondido na borda da trilha, e percebeu, enquanto acariciava Eevee, que não lhe restava nada a fazer se não esperar.

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Mindy observava seu novo guarda com muita ressalva, sentada a um dos cantos da cabana, afastada de onde ela aprendera ser a porta, apesar de não conseguir vê-la quando fechada. O Pokémon voava no mesmo lugar, olhando fixamente para a menina, enquanto ela tentava ignorar a sua presença.

A tarefa, porém, se mostrava mais difícil do que parecia. A garota se sentia incomodada sendo observada a todos os momentos, a cada movimento que fazia, e ainda por cima sentia-se ameaçada pelos possíveis ataques da criatura voadora.

Agora ela entendia como havia sido levada para aquele lugar. Com certeza fora sob a influência do pó do sono que adormecera. O que não entendia era como Jack havia posto a mão naquele Pokémon. Nunca antes ele tinha usado-o em seus encontros, e, ainda assim, o Pokémon parecia ser forte e bem cuidado, mais até do que Cubone.

A única explicação que a menina achou para o fato era de que aquela criatura não pertencia ao agente Rocket. Mas isso respondia um pergunta tanto quanto levantava outra. De quem então seria e por que estava na posse de Jack? Talvez um roubo pensara ela, mas logo descartou a possibilidade. Se fosse roubado teria que tê-lo sido recentemente, e não estaria obedecendo aos Rockets ainda...

Ela rodava a flor de fogo entre os dedos enquanto tentava encontrar uma explicação plausível, mas seus pensamentos foram subitamente interrompidos por algo que a fez levantar de um pulo, enquanto seu guarda começara a voar nervosamente de um lado para o outro da cabana, sempre passando perto de sua cabeça.

Um monte de terra começou a se formar no centro da cabana e a garota entendeu de pronto o que estava acontecendo. Não pôde deixar de sentir-se feliz por ver Sandslash saindo do subsolo no que mais parecia uma reedição da ultima tentativa de seqüestro que ela sofrera pelas mãos da Equipe Rocket.

Apenas algumas diferenças separavam uma situação da outra. A primeira era que aquele Sandshrew que brotara da terra na floresta ao redor de cardo era agora um Sandslash maior e bem mais forte e Mindy sorriu ao constatar o fato. As outras diferenças porém, rapidamente vieram a sua mente para tirar-lhe o sorriso do rosto.

Dessa vez, Mindy não era a única em perigo e a presença de Sandslash ali, apesar de significar que Dave a havia escolhido, implicava evidentemente que Jake ainda estava em posse da Equipe Rocket e não tinha perspectivas de resgate tão cedo.

A outra diferença era que, dessa vez, os Rockets tinham sido espertos o suficiente para vigiá-la de perto. Assim que o Pokémon terrestre ficou visível pelo buraco que ele mesmo cavara, o grande Venomoth que fora colocado dentro da cabana atacou-o com uma poderosa dose de pó paralisante.

Sandslash fora pego de surpresa e não conseguiu reagir, sendo atingido e perdendo instantaneamente a capacidade de mover um músculo sequer. Seu adversário, porém, não parou por ali. Os olhos da mariposa Pokémon começaram a brilhar e logo o Pokémon de Dave se viu alvo do ataque Confusão, sendo levantado do chão e arremessado contra o centro da parede oposta da cabana, onde ficava a porta escondida.

Venomoth precisou arremessá-lo contra a parede cinco vezes até que conseguisse, enfim arrombar a porta. Mindy olhou estupefata enquanto aquele que fora enviado para lhe salvar era lançado para longe como um frágil graveto quebrado carregado por um furacão.

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Eevee estava deitado no colo de Dave quando ouviu um baque surdo ao longe. Rapidamente levantou as orelhas e atentou para o som, que não demorou a se repetir. Seu treinador percebeu a movimentação do Pokémon e olhou-o curioso.

– O que houve Eevee? – aparentemente, o rapaz não ouvia a batida surda, como se abafada, que acabara de se repetir pela terceira vez.

Eevee se levantou e pulou do colo de Dave, dando alguns passos na direção do buraco a sua frente, por onde há vários minutos Sandslash havia sumido e ouviu, dessa vez mais alto, uma quarta batida. A quinta, porém, até o garoto conseguiu ouvir e o pequeno Pokémon marrom chegou a pular de susto ao se virar de costas. Dave pareceu entender o que estava acontecendo, pois se pôs pé em um pulo.

– Sandslash! – exclamou em um sussurro.

Eevee pulou para o ombro do rapaz quando este lhe sinalizou com a cabeça e ambos se esconderam atrás de uma arvore, de modo que com uma breve inclinação da cabeça, conseguiram ter uma visão direta da clareira e da cabana. O dia agora já estava mais claro e era possível enxergar sem dificuldades. Eevee prendeu a respiração quando percebeu a porta da cabana escancarada, com Sandslash caído próximo a entrada da trilha, completamente imóvel. Curiosamente, na clareira, Jack parecia tão surpreso como ele, mas fora outra coisa que mais chamara a atenção do Pequeno Pokémon marrom. De dentro da cabana, saia um grande Pokémon inseto de cor lilás, batendo as asas levemente.

Dave não conseguiu se segurar ao ver seu Pokémon derrotado, caído no chão a mercê de seus inimigos, e logo se precipitou pela trilha, finalmente se fazendo ver. Seu plano tinha falhado, e agora ele precisava agir rápido.

– Sandslash! – disse ele, mas, enquanto corria, foram todos os seus outros Pokemons que ele liberou. Em um segundo Poliwag e Pidgeotto já estavam ao seu lado. Eevee teria se sentido orgulhoso do amigo ao perceber que ele tinha deixado Gastly dentro da Pokebola, para se recuperar da ultima batalha, mas a raposa estava ainda parada atrás da arvore, olhando fixamente para Venomoth, sem querer acreditar em seus próprios olhos. Apenas percebeu o que estava ocorrendo quando Dave ordenara o primeiro ataque.

– Pidgeotto, pegue aquele comunicador!

Jack, em vez de sacar a sua Pokebola assim que viu o menino, sacou um pequeno aparelho do cinto e apertou um botão. Antes que pudesse falar qualquer coisa, porém, o pássaro de Dave passou por ele, arrancando o aparelho de sua mão.

Eevee sacudiu a cabeça e se precipitou para a clareira, tentando deixar os pensamentos para trás. Enquanto corria, ele viu Mindy dar as caras pela porta da cabana olhar para Dave. Foi por uma fração de segundo que os olhares dos dois se encontraram, mas Eevee podia jurar ter visto um sorriso no rosto da menina. Logo em seguida Dave voltou a se concentrar na batalha.

Jack agora liberara seu Cubone, mas ele estava tendo problemas em fugir dos jatos d’água de Poliwag. Apesar de ser um dos mais novos membros do grupo, o Pokémon girino se mostrava ágil e não permitia que Cubone tentasse se aproximar, nem sequer dava espaço para que o adversário lançar seu osso. Aquela luta, Eevee sabia que Dave poderia vencer com facilidade, mas ele temia pela outra. Pidgeotto tinha a vantagem de tipo, mas estava tendo terríveis dificuldades para atingir Venomoth, que parecia dançar no ar enquanto se desviava dos ataques do Pássaro.

Com duas batalhas ocorrendo ao mesmo tempo, Dave se mostrava um pouco confuso, sem poder concentrar seus pensamentos e suas ações em um só conflito, então Eevee resolveu ajudá-lo. Precipitou-se na direção de Venomoth, que voava alto, e saltou tentando alcançá-lo. Não tinha esperanças de acertá-lo, mas o forçara a ganhar mais altura para fugir do ataque, desviando a atenção de Pidgeotto por um breve momento. O pássaro aproveitou o momento e se aproximou com um poderoso ataque de asas preparado, mas o inseto foi mais rápido, atingindo-o em pleno ar com o ataque confusão. Sem conseguir se mover, Pidgeotto não conseguiu evitar ser jogado contra Eevee, que ainda nem chegara ao chão depois do ultimo movimento.

– Eevee! Pidgeotto! – exclamou Dave, mas antes que pudesse fazer alguma coisa teve de ordenar que Poliwag se desviasse do osso de Cubone, que finalmente tinha conseguido atirá-lo.

Eevee se levantou ainda sob o impacto do ataque e percebeu o seu amigo azul tendo que pular para o chão enquanto o osso bumerangue passava a centímetros de sua cabeça. Dave, entretanto, fora mais esperto e deu uma ordem inusitada que pegou Jack de surpresa.

– Poliwag, Jato d’água no osso!

O Pokémon aquático se levantou e atirou um poderoso jato de água na direção do osso bumerangue, que agora traçava seu caminho de volta para o dono. A arma de Cubone foi atirada a metros de distancia, longe do alcance de seu dono, que era, agora, quase inofensivo.

O momento de distração de Eevee, porém, lhe custou caro. Quando ele voltou sua atenção para seu oponente, já era tarde de mais para se desviar do ataque de vento prateado que ele lhe lançara. Os raios brilhantes em forma de crescente atingiram-lhe seguidamente e ele era atirado um pouco para trás a cada novo impacto. Foram 5 raios até que o Pokémon mariposa fora obrigado a se desviar de Pidgeotto, que tentara um ataque rápido inutilmente.

Eevee se pôs de pé e aproveitou o momento para lançar um ataque de Bola das Sombras. A energia negra e roxa se carregou rapidamente em sua boca e o Pokémon desferiu seu golpe o mais rápido que pôde, mas não fora rápido o suficiente. Venomoth mais uma vez atingiu Pidgeotto com a confusão, usando o pássaro como escudo para o ataque de Eevee. Quando sentiu o impacto do ataque, o Pokémon voador caiu ao chão imediatamente, desacordado.

– Pidgeotto!

– Cubone!

Dave e Jack gritaram praticamente juntos, uma vez que, ao mesmo tempo em que o pássaro vinha ao chão, Cubone era atingido pelo ataque hipnótico de Poliwag, caindo em um forte sono induzido. Os dois treinadores recolheram seus Pokemons feridos imediatamente, e Dave ordenou que Poliwag viesse à ajuda de Eevee.

– Poliwag, use o ataque de bolhas! Eevee, tente de novo com a bola das sombras!

– Venomoth, cuidado! – gritou Jack!

Eevee sentiu-se bem sendo mais uma vez comandado por Dave. Por mais que pudesse lutar sozinho, tinha se acostumado às ordens e ao estilo de seu treinador, e sentia-se incompleto quando não lutava ao seu lado. Ele soltou seu ataque confiante, e Poliwag fez o mesmo, mas o oponente mais uma vez se mostrou superior, desviando do ataque de Eevee e contra-atacando com o vento prateado, de modo a destruir o ataque de bolhas de Poliwag.

Eevee percebeu a surpresa não só nos olhos de Dave, mas também nos de Jack, quando o Pokemons inseto executou seus movimentos. Antes que o treinador pudesse reagir, Eevee viu o vento prateado destruir todas as bolhas e seguir para atingir o Pokémon azul. Como um reflexo, o pequeno Pokémon soube que o amigo não era páreo para Venomoth, e pulou contra ele, tirando-o da frente do ataque. Tanto Dave como o Poliwag se assustaram, e nada puderam fazer quando Eevee mais uma vez foi atingido pelo ataque de seu oponente.

– Eevee! – exclamou Dave, sem ação, enquanto o Pokémon tentava se por de pé mais uma vez, com dificuldades – Poliwag, rápido, acerto-o com o Jato d’água!

Enquanto o amigo atacava Venomoth, Eevee se levantou ainda com as patas tremendo. Suas energias estavam acabando depois de sofrer os incrivelmente fortes ataques da mariposa roxa. Ele observou enquanto Poliwag o distraia com seus golpes, tentando inutilmente ganhar tempo para que ele se recuperasse. O oponente desviou-se do primeiro e do segundo, e depois fez com que o Pokémon girino levitasse enquanto usava a confusão.

–POLIIII!

Eevee apenas conseguia imaginar a pressão esmagando o corpo do seu amigo, e teve certeza que assim que fosse arremessado longe, Poliwag cairia inanimado, sem condições de luta. Tentou reunir energias para uma Bola das sombras, mas estava fraco. Como se de repente, ele percebeu que já não era tão forte como um dia fora. A bola de energia negra que ele tentava formar com a boca aberta estava do tamanho de uma bola de golfe, e ele tentava inutilmente aumentá-la, quando, sem mais explicações, uma forte rajada de fogo passara ao seu lado e encobrira o Pokémon inseto.

– Belo ataque Charmeleon! – exclamou Mindy, enquanto seu Pokémon corria para o centro da área em que ocorria a batalha.

– Mas como... – Jack olhava para trás, percebendo o grande erro que tinha cometido ao não carregar consigo as Pokebolas que havia tirado da menina.

Venomoth continuou a voar, mas as marcas das queimaduras em suas asas mostravam que mesmo com sua boa resistência, o ataque havia lhe causado efeitos. Dave percebeu que aquela luta não duraria muito mais tempo.

– Ótimo! – Disse Dave, abrindo o maior sorriso que já abrira enquanto Mindy se posicionava ao seu lado.

– Quando é que você vai conseguir me salvar sem a minha ajuda em Dave Hairo? – falou a menina, sorrindo.

Não havia tempo para mais cumprimentos, pois o inseto Pokémon já estava atacando, dessa vez com o pó atordoante. Charmeleon, porém, queimou o pó com uma simples rajada de fogo, e Venomoth foi impedido de dar continuidade ao ataque pois se viu obrigada a desviar de um jato d’água de Poliwag. Eevee aproveitou o tempo para se recuperar, e logo voltou ao campo de batalha.

– Desista! – disse Dave – Você não tem mais como vencer!

Mindy sorriu enquanto Venomoth parecia analisar a situação e Eevee, por um momento, achou que o oponente fosse desistir. Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, porém, um alto “bip” foi ouvido. Todos viram-se para Jack, que estava de volta com o comunicador na mão e Eevee viu quando as expressões de medo tomaram conta dos rostos de Dave e Mindy. Logo ele também se lembrou de Jake e viu que talvez, nem tudo estivesse terminado. O curioso, porém, era que em vez de estar comunicando o que estava acontecendo, Jack parecia estar simplesmente ouvindo ordens.

– Venomoth, temos ordens para nos retirarmos, imediatamente!

– O que?! – exclamaram juntos, Dave e Mindy.

Eevee não acreditava no que ouvia. Venomoth ganhou altura em seu vôo, e logo desapareceu pelo céu, voando acima das arvores na direção de onde Dave viera. Em poucos segundos um som de helicóptero pode ser ouvido ao longe, aumentando o seu volume a medida que se aproximava com velocidade.

– O que vocês pretendem fazer com Jake?! – exclamou Dave – Deixe-o em paz!

Eevee percebeu que Jack se segurava para não rir.

– Você devia ter tentado a troca moleque. Agora paga o preço alto pela sua estupidez!

As lágrimas começaram a brotar nos olhos de Mindy e Eevee sentiu-se enfurecido por não ter podido ajudar mais. Se ao menos tivesse derrotado Venomoth rapidamente, como sabia ser capaz, talvez tudo tivesse terminado de um jeito diferente. Mas isso significava voltar a um passado que ele apenas queria deixar para trás. O som do helicóptero se aproximou e agora o vento que as hélices produziam começava a se fazer sentir, enquanto a grande maquina pairava acima da clareira. O som era insuportavelmente alto.

– Adeus! – Gritou Jack, quando uma corda lhe foi lançada, e ele se prendeu pela cintura a ela. Venomoth voava dentro do Helicóptero ao lado de Jody, que parecia muito satisfeita consigo mesma. Jake não estava à vista quando a aeronave continuou a voar enquanto içava o homem de cabelos brancos para dentro.

Eevee viu o pânico no rosto dos amigos e sentiu um enorme calafrio ao lembrar-se do menino falador que talvez eles nunca mais fossem ver. As lágrimas ameaçaram surgir quando ele, mais uma vez, lembrou-se de como poderia ter acabado com tudo mais rapidamente, se tivesse se entregado, ou ao menos admitido o seu passado para Dave. Em vez disso, nada fizera.

Mindy, finalmente deixava as lágrimas rolarem, e Dave se aproximou da amiga, dando-lhe um forte abraço. Eevee virou os olhos para o chão, sem saber o que pensar de si mesmo, sentido-se pesado de culpa, quando ouviu a única coisa que podia lhe animar naquele momento.

– Não acredito que encontrei vocês! – disse a voz de um menino mais novo, que saia da trilha completamente sujo de terra.

Eevee abriu um grande sorriso quando viu Jake sair, mancando, da trilha por onde ele viera com Dave. O menino correu de encontro aos outros amigos, sem nem dar-lhes tempo para separar o abraço um do outro, e os abraçou ao mesmo tempo, as gargalhadas.

– Jake! Jake você esta aqui! – disse Mindy, sem acreditar nos próprios olhos

– Mas, como... como?! – perguntava Dave, separando o apertado abraço para olhar para o amigo.

– Bom, sabe, quando eu tava com a Jody, ela recebeu um comunicado estranho e começou a desarmar a cabana e juntar todos os materiais. Foi muito estranho, mas eu aproveitei que ela estava distraída, e fugi. Eu corri muito sabe, muito mesmo, e não sabia onde encontrar vocês e resolvi ir para a clareira onde a gente tinha dormido. Não encontrei ninguém lá, obviamente, mas ai eu ouvi o barulho do helicóptero e vim para cá.

O longo discurso do menino parecia musica para os ouvidos de Eevee, que a pouco estivera se perguntando quando ouviria algo do tipo novamente.

– Inacreditável! – Disse Mindy, e por um momento Eevee viu o sorriso de Jake pareceu vacilar, mas logo em seguida o menino continuou a contar-lhes como havia sido maltratado por Jody e tudo o que ela fizera com ele, e então Eevee pensou que talvez tivesse imaginado o que vira.

– Nossa... Assim eu fico até feliz por ter sido o Jack a me guardar – disse Mindy, depois de mais dez minutos onde o menino não parava de falar.

Eevee então pulou para o ombro de Dave, aliviado feliz em saber que podia deixar seu passado para trás, e, mais ainda, feliz por ter os amigos que ao seu lado no presente.

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Dave e Mindy estavam sentados um ao lado do outro, próximos a fogueira, na noite daquele mesmo dia. Continuavam dentro da floresta, mas dessa vez não tinham encontrado uma clareira onde dormir. Por um lado, se sentiam mais seguros com a cobertura das árvores. Isso os ajudaria a se manter escondidos, caso a Equipe Rocket tentasse atacá-los de novo. A nevou não era mais motivo de medo, uma vez que Gastly fazia uma ronda no local, assegurando de que tudo ficaria bem.

O menino percebeu que Jake pegara no sono rapidamente, provavelmente por causa de todas as dificuldades que passara durante o dia, e pela primeira vez ele se viu sozinho com a menina aquele dia. Seu coração estava acelerado e ele não sabia o que dizer. Ela, entretanto, parecia saber.

– Sabe Dave, de algum jeito eu sabia que você ia tentar me salvar – disse ela, arrastando-se para mais perto do rapaz.

– É claro, que escolha eu tinha? – perguntou ele, olhando para o chão.

– Ora, você deveria ter ido atrás do Jake. Eu podia me virar...

O menino olhou incrédulo para a amiga, sem acreditar que ela estava de fato reclamando que ele a escolhera. Ela riu e continuou.

– Mas eu sabia que você iria vir atrás de mim, e pelo visto estava certa.

– Sabia como? Imaginou que eu fosse ser tão estúpido aposto... – disse ele, mostrado-se tão indignado com a reação da menina que nem ao menos percebeu o quão próximos estavam.

– Não exatamente – ela então puxou a mochila um pouco para perto e tirou do bolso a flor que ele lhe dera na manhã anterior. Suas pétalas murcharam e o vermelho agora parecia negro, mas, incrivelmente, seu caule a mantinha firme. A menina levou-a ao nariz e tragou seu cheiro, enquanto Dave a admirava sem saber o que pensar.

Com a mão livre, Mindy tocou a mão de Dave e a segurou enquanto voltava a falar.

– Sabe como eu sabia Dave?

Dave se limitou a balançar a cabeça negativamente, enquanto olhava, vidrado, os olhos da menina. Assim de perto, ele não conseguia desviar o olhar.

– Porque eu também nunca escolheria outra pessoa...

E assim, menina e menino inclinaram seus rostos um na direção do outro, lentamente, até que seus lábios se tocaram. Dave sentia o seu coração explodir em seu peito, e sentia o dela fazer o mesmo, no mesmo ritmo. Sua cabeça se desligou da Equipe Rocket, do frio e do resto do mundo a sua volta, e ele se entregou àquele momento como nunca tinha feito antes. Se durou um minuto ou uma hora, Dave nunca soube dizer. Para ele, aquela passou a ser a definição de infinito.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Esse é um capítulo mega importante para a história como um todo e eu queria muito ouvir de vocês!

Espero todos nos cometários! =)



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