Evolution: Parte 2 escrita por Hairo


Capítulo 15
Sacudindo a Poeira


Notas iniciais do capítulo

Lembro que no planejamento oficial, eu queria fazer u ginásio a cada 5 capítulos. Aí vem a realidade e muda todos os planos...hahahhaha

De qualquer jeito, o torneio é um bom substituto,não acham?
Espero que curtam.
Boa leitura



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Capítulo 15 – Sacudindo a Poeira

De volta a sua sala particular, Dave havia se encaminhado para o chuveiro em uma tentativa de aliviar a grande quantidade de tensão que a batalha anterior o havia causado. A água quente esfumaçava enquanto batia de leve em sua pele e ele tinha que se manter em constante movimento, alterando o lugar onde ela o atingia, para evitar que se queimasse. Quando tentou lavar a cabeça, percebeu que talvez fosse melhor esfriá-la um pouco.

Seu animo, porém, continuava agitado enquanto a água massageava suas costas. Se o banho quente estava ajudando a descarregar a grande carga de adrenalina que a vitória anterior despejara nele, isso apenas abria espaço para a ansiedade que vinha junto com o próximo combate. Não havia espaço para mais nada dentro de sua cabeça além da luta seguinte enquanto ele se lembrava do duro semblante entalhado pela idade de seu próximo adversário. O rapaz tentava se lembrar de seu primeiro encontro com o velho e de sua primeira luta, que Machop surpreendentemente vencera, mas a único pensamento que o dominava era a imagem da foto que descobrira nos fundos do bar do homem idoso. Ele e seu Hitmonchan, mais novos, segurando no alto o enorme cinturão do título.

O menino foi pego de surpresa quando ouviu o barulho de um telefone tocando do lado de fora do banheiro, e, já cansado do enorme tempo livre que o banho lhe dava para pensar, ele agradeceu a distração. Desligou a água, se enrolou na toalha, enxugando rapidamente os pés para não molhar de mais o chão, e correu para o quarto. O telefone ficava preso na parece, e não tinha tela de video, de modo que não era possível ver quem lhe falava do outro lado da linha.

– Alô

– Boa dia senhor Hairo, aqui quem fala é a central do Torneio de Brass – disse uma foz feminina.

– Bom dia – respondeu ele, curioso.

– Primeiramente nos gostaríamos de informar que em alguns minutos, caso ache necessário, uma enfermeira ira passar para dar uma rápida checada em seu Pokémon. Gostaria que isso fosse providenciado?

Surpreso com o prestativo serviço oferecido, o garoto não tinha como recusar – Claro! Muito obrigado!

– Ótimo. Gostaria de lembrar também que existe um cardápio especial em sua cozinha, com alguns pratos que o senhor pode requisitar para o almoço, caso não se sinta confortável à frente do fogão. Todo o serviço é prestado de graça para os participantes.

Com os olhos arregalados, ele se virou rapidamente e percebeu um pedaço de papel plastificado repousando em cima da bancada de mármore da pequena cozinha do cômodo. Seu queixo caíra e ele demorou alguns segundos para responder a doce mulher que atendente que tão prontamente lhe comunicava de todas as regalias disponiveis.

– Nossa! Isso é de mais!

– Obrigado senhor. Fazemos de tudo para acomodar bem nossos participantes. Agora preciso da sua permissão para permitir que dois visitantes lhe façam uma visita. Seus nomes são Jacob e Mindy.

– Claro pode deixá-los entrar – disse o menino.

– Ótimo, eles estão a caminho, assim como sua enfermeira. Boa sorte na próxima fase – terminou a educada atendente, desligando o telefone.

Uau! Será que a Liga Pokémon também tem todo esse luxo? Pensou o menino, sorrindo. Rapidamente ele se lembrou das visitas que estavam a chegar, e olhou para o seu corpo ainda bastante molhado, enrolado na toalha. A fumaça saia da porta entreaberta do banheiro, que agora parecia mais uma sauna, então, com pressa, o menino terminou de se enxugar do lado de fora mesmo e vestiu suas calças jeans com a sua camisa branca, deixando a jaqueta verde pendurada em uma cadeira.

Enquanto penteava desordenadamente o cabelo, a campainha tocou pela primeira vez e ele correu em direção a porta apenas para, ao girar a maçaneta, se deparar com uma Chansey esperando pacientemente no corredor iluminado.

– Chansy!

– Ah, é só você – concluiu o rapaz, se virando para a mesa onde estava seu cinto com as Pokebolas. Ele desprendeu a que continha seu Machop e entregou na mão da Pokémon rosada, que, sorridente, saiu a passos rápidos pelo corredor.

Agradecendo, ele tornou a empurrar a porta, se virando de costas e esperando que ela fechasse sozinha. Antes que a porta se fechasse por completo, entretanto, uma mão a impediu e voltou a empurrá-la violentamente para dentro. Dave, assustado com o barulho, quase perdeu o equilíbrio ao se virar bruscamente para entender o que estava acontecendo. Antes que ele pudesse processar direito, sentiu dos braços se jogarem por seu pescoço e o abraçarem fortemente, enquanto conseguia apenas ver os longos cabelos negros de quem o fazia, o qual, pelo cheiro, ele reconheceu como sua amiga.

– Que luta! Que luta! – repetia a menina aos ouvidos do amigo, que agora retribuía o apertado abraço.

– Obrigado! Por um momento lá fora eu achei que ia perder, mas o Machop foi de mais! – respondeu o garoto, que suavemente foi afrouxando os braços. –

– Uee! – disse Eevee que logo pulou nos ombros de seu treinador e recebeu um leve carinho atrás das suas longas orelhas.

Jake chegou logo depois e, apesar de assistir ao momento de intimidade dos amigos, não conseguiu ficar realmente incomodado. Parecia também extasiado com a luta que ocorrer há menos de uma hora atrás.

– Dave, que sensacional! Você foi de mais cara, o Machop foi de mais. Aquele Mike nem viu o que atingiu ele! Você foi de mais! De verdade, de mais! Eu não sei nem o que falar... – essa ultima parte, porém, era uma mentira, pois o menino começou mais um de seus discursos longos sobre como a luta foi incrível, relembrando lance a lance, com detalhes, os minutos em que ela ocorrera. - E depois quando ele começou a te atacar de novo, e você mandou o Machop continuar lá...

– Eu acho que ele sabe disso Jake. Eu tenho a leve impressão de que ele estava lá também. – interrompeu Mindy, rolando os olhos para trás.

Dave apenas riu enquanto o amigo ficava visivelmente envergonhado e parava de falar, baixando a cabeça. Aproveitando a brecha, ele contou aos amigos, cheio de animo, todos os detalhes sobre os serviços que o lugar parecia oferecer. Mostrou o banheiro luxuoso, onde não se demorou, graças à bagunça que ainda reinava após seu ultimo banho; mostrou também a grande televisão presa na parede, que agora anunciava as notícias locais, mas mantinha um pequeno relógio no canto direito da tela, que mostrava quanto tempo restava antes da próxima luta do rapaz; contou também animado sobre a geladeira, cheia de pequenas guloseimas e mantimentos, caso o treinador gostasse de cozinhar, mas o ponto mais bem recebido foi a notícia de que eles poderiam pedir qualquer prato das diversas opções suculentas apresentadas no cardápio individual dos treinadores para a refeição que se aproximava.

Animados, eles não se demoraram a encomendar o almoço, que ficou pronto e foi servido em poucos minutos à porta do extasiado grupo, que ficou boquiaberto com prontidão do atendimento. Tudo era realmente de primeira linha, profissional, e completamente diferente de qualquer coisa Dave estivesse acostumado.

– Sabe Dave, você devia conhecer essa cidade, sair com a gente – disse Mindy também animada – Essa cidade é simplesmente espetacular, cheia de surpresas.

– Não vamos voltar nesse assunto de novo não é? – disse o menino, tentando disfarçar o desapontamento por não poder sair atrás de um falso aborrecimento com a amiga. Eevee continuava em seu colo.

– Não estava pedindo para você sair. Estava só comentando sabe... – disse ela, se fazendo de inocente e balançando os ombros. Nesse momento, o grupo ouviu suaves batidas na porta.

Estranhando o fato de alguém lhe visitar sem ser anunciado pela atendente, Dave se levantou para atendê-la. Ao abri-la o rapaz se deparou com um menino cabisbaixo, escondendo seus olhos azuis por entre seus cabelos loiros. O visitante olhou para o menino que o atendia assim que a porta foi aberta, e fingiu um breve sorriso.

– Jake? – disse Dave, surpreso

–Oi, cara. Desculpa a surpresa, mas como eu sou treinador também, consegui chegar aqui sem passar pela atendente. Vim aqui só para me despedir e te desejar boa sorte no resto do torneio. Fiquei sabendo que você vai enfrentar o Walter como eu não é?

– Pois é, vou sim – respondeu o menino, sem saber como lidar com o amigo derrotado – muito obrigado por vir aqui, cara.

Jake parecia desolado e olhou para dentro do quarto do amigo com uma expressão que mesclava admiração e uma pitada de inveja – Eu acabei de sair da minha sala. Incrível isso aqui não é? – começou o menino, enquanto acenava a cabeça para os amigos de Dave, ainda sentados a mesa do almoço – Pior que eu nem consegui almoçar. Eles não permitiram.

– Ora não seja por isso – acrescentou rapidamente o menino de Grené – Entra e a gente pede uma coisa para você!

– Que isso cara, não foi pra isso que eu vim aqui. Além do mais, eu tenho que seguir viagem – disse o treinador de Azure.

– Nem adianta cara. Você vai ficar aqui e me ver ganhar do Walter por você!

E com isso, sem poder se conter em entrar, mesmo relutante o rapaz loiro acompanhou seu antigo rival e mais novo amigo para dentro do quarto, parecendo um pouco mais feliz. Ele se juntou ao grupo e Dave fingiu que queria repetir a refeição quando ligou para pedir mais comida. O tímido menino não sabia como agradecer, mas logo começou a interagir mais normalmente.

Ele se deu bem com seu xará, que tinha grande facilidade em fazer pessoas tímidas se sentirem mais confortáveis, uma vez que seus longos discursos eliminavam a necessidade de a pessoa ter que falar. Mindy também passara a aceitar melhor o menino depois de algum tempo, apesar de ainda se lembrar que ele frustrara seus planos na noite anterior. Logo o rapaz de olhos azuis decidiu ficar na cidade para assistir a final do torneio, torcendo, obviamente por Dave, e já estava fazendo planos para sair com eles durante a noite.

– Vocês ficam muito presos com esse torneio sabia? Deviam se deixar divertir um pouco mais – disse Mindy quando o rapaz lhe disse que também não havia conhecido Brass à noite!

– Essa noite eu posso ir – respondeu ele animado, e rindo para Dave, completou – Pelo menos tem essa vantagem de ter sido eliminado.

O treinador de Grené retribuiu forçadamente o sorriso, mas por um momento se sentiu realmente incomodado. Ele queria sair com seus amigos assim como com o rapaz, que, pelo menos aos olhos de Dave, parecia ganhar cada vez mais intimidade com Mindy.

Olha esses dois conversando animados pensava ele, enquanto observava um conversa amistosa entre o garoto e a garota. Ei Dave, também qual o problema? Eles não podem nem conversar? Disse uma segunda voz dentro de sua cabeça, que ele reconheceu como sua. É eu sei, mas alguma coisa me incomoda nisso tudo... Concluiu o rapaz, sem, na verdade, chegar a uma conclusão concreta.

A linha de pensamento foi interrompida com o tocar do telefone. A atendente ligara para avisar que seu Machop estava pronto e lhe seria devolvido em instantes. Avisou também que faltavam apenas trinta minutos para a luta, e que os amigos deveriam sair do quarto e voltar a seus lugares de honra.

Imediatamente a ansiedade voltou a tomar conta do rapaz enquanto ele percebia que nem ao menos sentira o tempo passar. Seu coração veio à boca e ele se sentiu triste por ter de se separar mais uma vez de seus amigos, principalmente de Eevee, que saiu nos ombros de Mindy. Foi necessário insistir que Jake acompanhasse os outros dois para o camarote, mas, no final, o garoto de Azure concordou. Antes de sair, porém, deu a Dave um último aviso.

– Olha Dave, eu não tenho muita certeza, nem tive como provar. Mas acho que Walter trapaceou quando lutou comigo. Se eu fosse você eu ficava de olhos bem abertos – e, com isso, ele deixou o competidor sozinho esperando ser chamado para a luta. O rapaz, ainda surpreso com o que ouvira, demorou um segundo a mais para processar e reagir, e quando quis pedir uma explicação melhor, viu que o amigo já havia se distanciado.

Trapaceou? Mas como? ­

***

Cerca de vinte minutos depois Dave e Machop estavam novamente esperando à saída do túnel que o levaria ao ringue de batalha do torneio. A multidão parecia agitada enquanto se acomodava em seus lugares, ainda voltando do almoço, e, novamente, o menino se assustou com o apagar das luzes do local. O mesmo homem que comandará sua primeira luta estava no centro do ringue, sendo novamente cercado pela luz dos fortes holofotes que giravam a sua volta, em meio à escuridão.

Dessa vez, porém, o juiz se virou para o seu lado primeiro, começando as animadas apresentações.

– Bem vindo de volta para a segunda luta do Torneio. Espero que todos tenham se alimentado bem pois teremos mais uma grande batalha nessa tarde! Essa luta definirá um dos finalistas do torneio, que irá acontecer amanhã, às 11 horas da manhã, nesse mesmo local! – a multidão voltou a aplaudir o homem, começando a se sentir entusiasmada com o clima de decisão que pairava no ar. O homem continuou – De nosso lado esquerdo, o único novato que sobreviveu a primeira fase, em uma luta emocionante e de triar o fôlego, temos diretamente de Grené, Dave Hairo!

A multidão se levantou, já gritando a aplaudindo, ainda mais entusiasticamente do que a primeira vez. Dave suspirou pesadamente se preparando para enfrentá-la e sentiu seu Pokémon estremecer ao seu lado, enquanto davam juntos os primeiros passos em direção ao ringue.

– Nervoso? – perguntou Dave, olhando para seu amigo.

– Chop – disse o Pokémon, acenando positivamente com a cabeça e olhando com um sorriso para o treinador.

– Não posso mentir e dizer que também não estou – riu-se o menino, se aproximando das cordas para subir no ringue. Antes que Machop passasse por elas, ele continuou – Mas eu sei que podemos vencer Machop. Já fizemos isso antes, sei que podemos mais uma vez.

O juiz se virou para o outro lado, e Dave observou friamente enquanto Walter era apresentado.

– Do nosso lado esquerdo, os mais velhos competidores que esse torneio já teve, o ex-campeão que mostrou o vigor de um menino ao derrotar o novato na primeira rodada, recebam o Senhor Walter Moore e seu Hitmonchan!

O velho senhor saiu de seu túnel caminhando confiantemente com um sorriso visível por entre seu rosto barbado. Seu Hitmonchan o acompanhava lado a lado, saudado a torcida com a mão direita levantada, mas o homem tinha o olhar fixo em Dave e Machop, que não abaixaram a cabeça, encarando-o diretamente nos olhos.

Chegando ao ringue, ele o subiu de um salto, mostrando maior facilidade do que seu jovem desafiante, e sorriu desdenhosamente enquanto caminhava na direção do menino.

– Agora vou te ensinar algumas coisinhas sobre como se ganha um campeonato meu jovem – provocou ao se aproximar – e você vai se arrepender por tentar ajudar esse saco de pancadas.

– Eu acho que você vai ver que os tempos mudaram desde que sua barba começou a ficar branca – devolveu Dave, surpreendendo o velho.

Antes que pudessem continuar as provocações, o juiz colocou a mão entre os participantes enquanto a torcida ia ao delírio com o clima tenso na arena. Eles haviam ido assistir lutar Pokemons, mas não pareciam se importar se fossem os humanos a disparar os golpes.

– Vamos resolver nossas diferenças no ringue, tudo bem cavalheiros? – disse o homem de uniforme listrado, com uma expressão urgente.

Sem nada responder, Walter se encaminhou de volta para seu lado do ringue e o juiz se posicionou para começar a batalha. Machop parecia gostar da situação, encarando seu adversário diretamente nos olhos enquanto o juiz explicava as regras da competição. Dave esperou o gongo soar, e logo pode ouvir o forte ressoar agudo que ele produzira para anunciar o início do combate.

Seu Pokémon, como antes pulara imediatamente para trás, como uma estratégia para se distanciar de seu oponente, que normalmente começava atacando. A estratégia funcionou e os primeiros dois socos de Hitmonchan erraram o alvo, e ainda abriram a guarda do adversário. Observando a oportunidade, Dave ordenou o primeiro golpe.

– Rápido, Mega Soco!

O golpe foi desferido, e mesmo com o rápido movimento que o adversário fez para tentar se desviar, o punho poderoso de Machop raspou o lado do rosto de Hitmonchan, que deu dois passos atrás cambaleando.

– Continue Machop! Agora use o Quebra-telhas!

O Pokémon azul se aproximou com velocidade, tendo um dos braços levantado e brilhando, mas foi surpreendido com a rápida reação que seu oponente teve. Com a mão esquerda Hitmonchan acertou um rápido soco em seu rosto e Machop deu dois passos para trás, visivelmente atordoado. Dave se assustou enquanto seu amigo cambaleava e levava rapidamente a mão ao local do rosto que fora atingido, com um movimento atípico.

Sorrindo, Walter ordenou que os ataques continuassem enquanto o menino de Grené tentava entender a reação estranha de Machop.

– Mostre para ele o que é um Mega Soco – ordenou o velho, e seu Hitmonchan rapidamente desferiu o poderoso golpe, que era a sua marca registrada. Machop não esboçou reação e foi atingido diretamente, recuando mais alguns passos, ainda com a mão apertando no rosto. Hitmonchan preparava um segundo soco, quando Dave percebeu que seu amigo não tinha condições de continuar daquela maneira. Mas eu não posso parar a luta disse para si mesmo, enquanto tentava pensar no que fazer.

De repente, enquanto Machop recebia o segundo Mega Soco seguido, Dave teve uma idéia.

– Se deixe cair! – gritou. E seu Pokémon, agoniado com alguma coisa no rosto, obedeceu prontamente, dobrando as pernas e se deixando desabar.

O juiz rapidamente afastou Hitmonchan, enquanto começava a contagem para o Knockout. Dave já havia corrido para o local em que Machop caíra, e não perdeu tempo.

– Tire a mão do rosto – ordenou, e seu Pokémon obedeceu prontamente. A visão assustou o treinador. Os olhos de seu amigo estavam mais vermelhos do que ele jamais vira antes, e pareciam lacrimejar de dor. A contagem havia chegado ao numero dois.

De repente, o alerta de Jake, o ultimo a enfrentar Walter, voltou a sua mente como em um filme, e em uma fração de segundo, o jovem compreendeu o que havia acontecido. O Jake achava que ele estava roubando, mas não sabia como... Agora eu sei, ele esta jogando alguma coisa nos olhos dos adversários concluiu.

Se virando enraivecido para o Juiz, Dave viu de relance o rosto preocupado de Walter do outro lado do ringue. Ele obviamente não contava que Dave usasse dessa estratégia inusitada. Enquanto isso, o juiz, que já contava quatro, ouviu Dave lhe chamando e se virou para o rapaz.

– Juiz, olha só o que...

Ele estava pronto para denunciar o oponente, mas antes que pudesse terminar, Machop o segurou pelo braço apertando-o fortemente e fez um sinal negativo com a cabeça. Confuso, Dave não sabia o que fazer. Ele não quer que eu fale com o juiz?

O Pokémon repetiu o gesto negativo com a cabeça e o confuso juiz continuou a contagem, olhando com perplexidade para o menino.

– Não é nada, esquece – disse Dave, deixando o homem ainda mais perdido.

Se virando para Machop ele viu o Pokémon começar a se levantar com facilidade da queda premeditada que tivera, enquanto o juiz, que não parara de contar, chegava ao numero seis. Ele se voltou para o adversário, ainda com os olhos vermelhos, mas com as mãos prontas para a luta, enquanto seu surpreso treinador observava.

O juiz deu sinal para que a luta continuasse, e a torcida vibrou com a seqüência de rápidos socos que foram desferidos contra o Pokémon recém levantado do ringue. Dave percebeu que Machop bloqueou alguns golpes com o braço, mas não conseguia evitar outros, que também não seriam muito difíceis de bloquear. Walter parecia sério e preocupado por ter entendido que Dave vira o que estava de fato acontecendo, mas continuou a lutar normalmente.

Ele está com dificuldade de enxergar observou Dave, enquanto via seu amigo receber diferentes golpes diretos, e continuar de pé, lutando e se defendendo. Mas eu não estou... E com essa conclusão, o menino viu a única saída para a situação.

– Esquerda, Esquerda, Gancho direito – começou a narrar ele, entusiasticamente, gritando os golpes que o adversário de Machop desferia antes deles terem alcançado o alvo. Seu amigo rapidamente compreendeu o que estava acontecendo e passou a se defender com mais facilidade, guiado por seu treinador, enquanto o Pokémon de soco que começava a mostrar cansaço. A torcida foi à loucura com os rápidos movimentos de Machop.

– Direita, Direita, Esquerda, Use a Rasteira! – ordenou Dave, sorrindo enquanto seu Pokémon bloqueava os três ataques que foram desferidos e se abaixava para contra atacar. O movimento deu certo tanto o Pokémon quanto o treinador adversário foram pegos desprevenidos. Hitmonchan caiu de costas no chão, assustado, enquanto Walter mostrava sua verdadeira face.

– Levante seu imprestável! O que você pensa que está fazendo?!

Mas era tarde de mais, Dave agora tinha a vantagem de ter o oponente no chão e não ia desperdiçá-la.

– Use o Mega Chute!

Antes que o juiz pudesse interferir, Machop rapidamente acertou um poderoso chute na lateral do corpo do adversário caído, que foi jogado para o canto do ringue.

– Levante-se seu lutador inútil! – dizia Walter, enquanto o juiz começava a contagem. Dave, porém, sabia que a luta não havia acabado. O Pokémon do Soco se segurou com dificuldades nas cordas, usando apenas uma das mãos, enquanto a outra apertava o local onde fora atingido pelo Mega Chute. Aparentemente o golpe que sofrera o havia machucado

– Agora acabe logo com isso com uma seqüência de Socos Dinâmicos! – disse Walter, apreensivo, ordenando que seu Pokémon usasse seu ataque mais poderoso.

Obedecendo a seu treinador, ele começou a dar rápidos passos para frente, enquanto Machop coçava o olho. Dave, entretanto, estava atento.

–Cuidado! Esquerda, esquerda, gancho direito, direito! – voltou a falar o menino, ajudando seu amigo a se desviar e bloquear os ataques. Então ele lembrou-se de seu treinamento, e de um movimento em especial que guardara para essa ocasião. Com um sorriso no rosto, o menino deu seu mais inusitado comando a Machop, fazendo com que todos no estádio prendessem a respiração.

– Se deixe atingir! – disse ele, e o poderoso soco de Hitmonchan passou por entre a guarda do Pokémon azul, que de modo obediente deixara seus braços se separarem, fazendo de seu rosto um alvo fácil. A mão enluvada de seu adversário o atingiu na bochecha direita, fazendo com que seu rosto virasse e ele visse estrelas por um curto momento enquanto Dave torcia para que ele agüentasse.

No momento seguinte, porém, ele voltou seu rosto à posição normal, abalado, mas ainda de pé e capaz de lutar. Ao ver que Machop havia agüentado Dave rapidamente ordenou. – Use o ataque Vingança na costela direita!

Machop carregou então um poderoso golpe de caratê com seu braço e atingiu diretamente a costela machucada, de seu adversário, que desabou rapidamente no chão com o poderoso golpe. O Juiz correu para o centro do ringue, separando Machop, que imediatamente voltara a coçar os olhos, e começando a contagem, enquanto a torcida suspirava de surpresa com o golpe.

Hitmonchan estava visivelmente acordado, mas não havia esperanças de que ele se levantasse, uma vez que demonstrava dificuldades até mesmo para respirar. Walter xingava a incompetência de seu comandado do lado de fora, enraivecido, mas nada conseguiu trazer o Pokémon de volta a seus próprios pés antes de a contagem chegar a dez.

A torcida foi ao delírio com a vitória de Dave, que não se deu ao trabalho de comemorar logo em seguida. Pulando para dentro do Ringue, o rapaz deixou que toda a raiva que e adrenalina que estava sentindo finalmente tomasse conta de sua cabeça e puxou seu Machop pelo braço. Chegando ao lado do juiz, ele apontou para os olhos de seu amigo, que continuavam vermelhos e lacrimejando.

– Olhe a luva esquerda de Hitmonchan. Aposto que encontrará vestígios de alguma substancia ilegal por lá! - disse Dave, tendo que berrar em meio a toda gritaria da torcida. Walter havia parado de esbravejar e olhava assustado do juiz para o menino, percebendo o que estava acontecendo. Com um movimento brusco, ele se virou para o corredor e começou a correr, procurando fugir do local, não se preocupando nem ao menos com seu Pokémon machucado.

Aquela atitude por si só contou mais do que a averiguação que depois foi feita pelo juiz, e que encontrou um tipo de poeira nas luvas do Pokémon lutador. O velho foi rapidamente cercado pelos seguranças do local e impedido de se mover, enquanto o juiz se encaminhava para ele. Dave, porém, foi mais rápido e chegou cara a cara com o homem de cabelos e barbas brancas, que o encarava lívido de fúria

– Você me paga seu moleque! Você me paga!

– Quem vai pagar é você – disse Dave, se medo do homem imobilizado por três enormes seguranças – por tudo o que você fez ao meu Machop. Espero que nunca mais possa participar de uma competição oficial de lutas.

Com isso, o menino se virou e, junto com seu Machop, voltou para a sua sala particular, sem comemorar, enquanto Walter sofria a repreensão do juiz e as vaias de toda a torcida, que percebera a atitude covarde do homem ao tentar fugir abandonando seu Pokémon.

Dave, porém, continuava sério. Aquela havia sido sua maior vitória até o momento, talvez a mais importante, mas nem ele, nem seu Pokémon, pareciam simpáticos a idéia de gritar e pular no meio de toda aquela multidão. Dave passou seu braço pelo ombro de Machop e lado a lado, como dois amigos decididos, eles se recolheram saboreando pacientemente o doce sabor que aquela vitória havia deixado na boca. Naquele momento em especial os dois não se sentiam apenas felizes e realizados. Mais do que nunca, eles tinham a sensação de dever cumprido.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Espero vocês nos comentários!



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