Evolution: Parte 2 escrita por Hairo


Capítulo 14
Cerrando os Punhos


Notas iniciais do capítulo

Agora as coisas começam a ficar mais interessantes.



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Capítulo 14 – Cerrando os Punhos

– Vamos Dave, você está aqui há quase uma semana e ainda não saiu para ver como essa cidade é linda a noite! – disse Mindy, tentando convencer o menino deitado na cama, em um dos quartos do Centro Pokémon de Brass.

– Acredite Mindy, eu queria muito poder curtir com vocês, mas amanhã é o primeiro dia do Torneio. Eu preciso me concentrar.

– Pois é, ele está certo Mindy. Vamos só nós dois, ele precisa descansar – Se intrometeu Jake.

– Ele precisa mesmo é se distrair – insistiu a menina, olhando feio para o rapaz mais novo – Vem Dave, você só faz treinar desde que chegou aqui! Acorda, vai correr, volta para treinar. Só consegue parar quando vai comer, e mesmo assim voltar para treinar a tarde toda! Se você não se divertir um pouco não vai agüentar a pressão!

– Não sei, Mindy, já são quase oito da noite e eu quero estar na arena amanhã as dez. Preciso dormir direito.

– Eu te prometo que a gente volta antes da meia–noite, que tal?

Dave olhou com duvidas para a animada e sorridente menina em sua frente, mostrando-se indeciso. De fato ele só havia visto como era a cidade durante o dia, pois treinava na arena subterrânea que esse Centro Pokémon possuía. O único momento em que saia à rua era de manhã cedo, quando encontrava a cidade deserta, suja e feia. Era difícil acreditar nos seus amigos quando diziam que durante a noite ela brilhava com todas as luzes e cores. Era impossível negar que ele estivesse curioso.

– Vamos, por favor Dave! – Disse a menina, mais uma vez puxando o braço do amigo.

– Tudo bem – cedeu o rapaz, se levantando e colocando uma de suas costumeiras jaquetas verdes por cima da camisa branca que usava – Mas antes de meia noite estaremos de volta! Amanha vou acordar as oito e preciso das minhas horas de sono.

– Isso! – comemorou Mindy, abrindo a porta do quarto – Hoje a noite vai ser boa!

Dave sorriu e não conseguiu esconder a animação que sentia. Ele vinha se proibindo de sair com os amigos, mas não podia negar que queria se divertir com eles. Afinal, ele não podia se dar ao luxo de não estar na sua melhor forma para o torneio. Ainda que estivesse feliz, um sinal vermelho parecia piscar dentro de sua cabeça. Eu me concentrei todos esses dias para sair justo na véspera do torneio?

Com o animo leve e a consciência pesada, ele saiu atrás da menina de cabelos negros e de um desanimado Jake, que parecia não ter gostado muito da idéia de ter a companhia do amigo naquela noite. Eles andaram pelo corredor dos quartos e entraram no elevador que levaria ao Hall. Era impressionante a estrutura daquele centro Pokémon. Apesar de a cidade a que servia não ser uma grande metrópole, ele possuía vários andares e até um subsolo com arenas de treinamento. Tudo muito bem cuidado e com equipamento sempre de primeira linha.

Ao chegarem ao nível térreo, Mindy logo saiu pela porta elevador, com um enorme sorriso estampado na cara, e passou pelo balcão sem dizer nada. Normalmente a enfermeira Joy se preocuparia com treinadores saindo à noite, mas naquela cidade, nem o centro Pokémon fechava de madrugada. Pela porta de vidro podiam-se ver as diversas cores das luzes piscando nos letreiros de neon dos prédios em volta. Se não fosse o relógio para lhe informara as horas, Dave juraria que ainda era dia, de tão iluminada que a rua parecia estar.

Os meninos seguiram a amiga mais atrás, em um passo mais lento, cumprimentando a mulher de cabelos rosa, que estava atendendo um menino loiro de olhos azuis, recém-chegado. Dave fez um leve aceno de cabeça para o garoto ao passar por ele, por pura educação e simpatia, mas assim que o gesto foi retribuído, ele estancou no meio do hall de entrada. Mindy, que já estava do outro lado da porta de entrada, na calçada, olhou para o menino com um olhar curioso, enquanto Jake parava e olhava para a expressão pensativa do amigo.

– Jake? – disse Dave, se virando para o balcão.

– Sim, o que foi? – respondeu seu amigo mais novo.

– Não, você não. Ele! – disse o rapaz, se voltando para o menino loiro no balcão.

O garoto de olhos azuis se virou e olhou para Dave como quem tentava lembrar onde conhecera o menino que falava com ele.

– Jake de Azure, não é? – perguntou Dave, sorrindo para ele – Sou Dave de Grené, está lembrado de mim?

E então, uma sombra de entendimento passou pelo rosto do confuso recém chegado e ele abriu um largo sorriso.

– Dave! Como é que eu me esqueci de você?! – disse ele, apertando a mão do garoto que o cumprimentava – Você foi genial no torneio de Cardo, cara! Ainda tenho pesadelos com aquela luta em que você me venceu.

– Que isso, você também foi muito bem. Eu quase perdi aquela semifinal – disse Dave, sorrindo para o rival que cruzava seu caminho mais uma vez. – Como vai o seu Mankey cara?

– Está ótimo! Ele acabou de evoluir para um Primeape e eu vim aqui competir no Torneio de Lutas! Não vai me dizer que você também não é?

– Vou sim, cara. Capturei um Machop!

Mindy, que estava confusa e impaciente do lado de fora, voltou para o hall para chamar seu amigo.

– Ei Dave, você vem ou não vem?

– Já vou – respondeu ele. – é que eu encontrei um velho amigo. Jake, essa é a Mindy e o Jacob, que a gente também chama de Jake.

– Oi, é um prazer conhecer vocês gente. Você é a neta do Prof. Noah não é? – disse o menino loiro.

– Sim, sou eu – devolveu imediatamente a menina, forçando um sorriso simpático. – Dave, vamos logo, a gente só tem até meia noite lembra?

– Nossa, mas você vai sair assim na véspera do torneio cara?! – perguntou Jake, surpreso – Quanta confiança...

E, ouvindo essas palavras, Dave deixou seu sorriso esmorecer. Sem graça, o menino de Grené deixou a cabeça cair e ouviu a voz de sua consciência falar mais alto do que nunca. Você mal vai conseguir acordar amanha se sair agora, Dave. E então, com o desapontamento estampado nos olhos, o rapaz olhou para as luzes piscando do lado de fora, olhou para seu amigo recém chegado e depois encarou Mindy enquanto a deixava ler a expressão sofrida em seu rosto. Ele não podia sair.

– Ah não! Não acredito que você está desistindo... – disse a garota, enquanto seu amigo mais novo se permitia sorrir de novo.

– Desculpa gente, mas eu não posso sair, não hoje... – Disse Dave, e, dando boa noite a todos, se encaminhou de volta para o quarto. – Divirtam-se.

Mindy olhou incrédula para o menino de jaqueta verde que rumava de volta para a cama, de onde tinha sido tirado com tanto custo, e depois olhou para o menino de olhos azuis a sua frente, se deixando ficar vermelha de irritação.

– Seu nome é Jake, não é?

– Sim, é – respondeu o garoto com cuidado, percebendo que talvez não tivesse ajudado muito os objetivos da menina aquela noite.

Bufando, ela simplesmente balançou a cabeça negativamente e, sem se despedir ou explicar nada, voltou a caminhar de volta para o seu quarto, dizendo apenas algumas poucas palavras por baixo da respiração:

– As pessoas com esse nome sempre acabam falando de mais...

Sem entender o porquê de a amiga estar voltando para o quarto, Jake, o mais novo, teve de correr para acompanhar o acelerado passo da menina, deixando o garoto recém chegado postado no hall de entrada, ainda perplexo com o que tinha acabado de acontecer.

– Ei, onde você vai?! A gente não ia sair? E o que você quer dizer com essa coisa do nome ai?!

Mas era tarde de mais, a menina já tinha entrado no elevador e nem sequer esperara pelo menino, deixando-o sozinho no hall de entrada, confuso. Mas ela tava tão animada... Pensou o garoto de Auburn, não tendo outra opção se não aguardar o elevador voltar peara levá-lo de volta ao seu quarto. Acho que eu nunca vou entender as mulheres...

***

Quando a manhã seguinte chegou, Dave acordou-se de sobressalto, assustando Eevee que dormia em seu lado. Seu despertador tocara mais alto do que o normal, e Jake também abriu os olhos confuso, tentando ver de onde saia o barulho. Normalmente ele não acordava com o despertador do amigo, mas isso por que saia com Mindy toda noite até tarde, o que, na noite anterior, não ocorreu. A menina, por sua vez, estava em um quarto separado, pois, apesar de não se comportar mais tristonha, pareceu ter gostado da liberdade que a privacidade oferecia.

– Por que isso está tocando tão cedo? – disse Jake, esfregando os olhos

– Está tocando no horário de sempre, as oito, para que eu tome café e saia para correr – Dave já se levantara e descia a escada do beliche que dividia com o amigo.

– Mas você não vai correr hoje. Hoje não precisa treinar...

– É claro que precisa. A corrida é só um aquecimento e o Machop sempre correu todos os dias. Ele está acostumado, não vai cansar.

E com isso, Dave saiu do quarto, já com sua roupa normal, rumando para o café. Como de costume, Eevee ficou para trás com Jake. Ele desistira de correr com o treinador depois de dois dias, por gostar de mais do conforto e aconchego das cobertas na cama.

Apesar de se comportar como se aquele fosse outro dia qualquer, o treinador de Grené não podia negar que seu coração estava batendo mais rápido naquela clara manhã. Pelo que sabia do torneio, ele teria que lutar duas vezes hoje, e no dia seguinte apenas os dois finalistas se enfrentariam. Isso significava que hoje a noite ele iria dormir sendo um finalista, ou então seria eliminado em algum ponto do dia. A ansiedade era de mais para não transparecer.

Ele tomou um reforçado café da manha, carregado com ovos mexidos, bacon, panquecas e outros alimentos que dariam substância para todo o esforço do dia. Em alguns minutos ele tinha terminado a refeição, junto a seu Machop, que comia mais de um quilo de comida Pokémon toda manhã, e eles começaram a breve corrida de uma hora pelos arredores da cidade.

Como sempre a cidade estava vazia, e os ventos arrastavam pedaços de papel rasgado e copos plásticos pelo chão, trazendo consigo um cheiro de sujeira e lixo. Algumas poucas pessoas já caminhavam pelas quase desertas ruas, mas pareciam cansadas, com olheiras, como tivessem passado a noite em claro e só agora se encaminhavam de volta para suas casas.

Dave e seu Pokémon se sentiam confortáveis enquanto corriam pelo meio do asfalto da rua, uma vez que o movimento de carros àquela hora era quase nulo. Ele via os letreiros coloridos e os altos prédios brilhantes, mas com a luz do sol eles pareciam perder o seu efeito impressionante, e passavam a ser feios e exageradamente enfeitados. O rapaz não podia deixar de admitir que gostaria de ver como a luz da lua transformava aquele cenário degradante em um lugar animado e bonito.

Uma coisa que ele percebeu era que aquela cidade melhorara era o seu animo e sua resistência. A sua pesada carga de treinamento diário era realizada a cada dia com menos esforço, e, se há uma semana ele se esgotara depois de uma longa corrida, uma hora de corrida diária, hoje, parecia um simples aquecimento, que servia para dar mais animo e acordar os músculos que ainda dormiam.

Principalmente nesse dia tão importante, o menino nem sentiu a hora passar e já estava de volta ao centro Pokémon antes que percebesse. Mindy, Jake e Eevee já o esperavam do lado de fora, prontos para sair, e seu Pokémon logo pulou para o ombro do treinador, acariciando seu rosto.

– Uee!

– Bom dia para você também, Eevee.

– E ai, preparado? – perguntou Jake, demonstrando também certa ansiedade pelo amigo.

– Talvez. Estou um pouco nervoso eu acho, mas eu sei que o Machop vai se dar bem depois de tanto treino.

– Chop, chop! – concordou o Pokémon, animadíssimo.

– Se você tivesse saindo ontem, não estaria nervoso – disse Mindy, contrariada.

Dave riu e deixou os olhos rolarem para trás, enquanto fingia ignorar a provocação da menina – Vamos então? Quero chegar logo e descobrir quem será o meu primeiro adversário.

– Tomara que seja o Sr. Walter – disse Jake, rindo – queria ver você eliminando ele logo na primeira fase.

E assim, os amigos se encaminharam para a grande arena onde o torneio ocorreria. Ela ficava em uma área central da cidade, encaixada no centro de um circulo de imensos arranha-céus, o que deixava a atmosfera do local ainda mais única. Para todos os lados em que se olhava era possível ver uma enorme construção, e ali no centro, quase como uma pérola para dar o toque de classe a um simples colar, a grande e larga arena se postava de forma firme e confiante.

O trio nunca vira uma estrutura tão grande, com capacidade para tantas pessoas, e precisaram da ajuda de um prestativo segurança para se achar, quando visitaram a arena pela primeira vez. Hoje porém, Jake e Mindy já havia garantido seus lugares em um camarote especial, reservado para acompanhantes dos competidores. Eevee iria com os dois, pois, obviamente, não poderia lutar.

Ao se separar de seu Pokémon, pela primeira vez Dave percebeu que lutaria completamente sozinho, sem ter nem Eevee ao seu lado, e isso o deixou com certo frio na barriga. Não parecia certo não ter o peso do Pokémon em seu ombro enquanto ele batalhava, ou não tê-lo ao seu lado. Tentando afastar esse pensamento da cabeça, ele e Machop, que pedira para ficar fora da Pokebola desde o inicio, se encaminharam para o local de concentração, passando pelo meio da imensa multidão que formava fila para entrar na arena.

Foi uma longa luta, devido à enorme multidão que o rapaz tentava adivinhar de onde havia saído, mas depois de vinte minutos se desviando dos mais variados tipos de pessoas, os dois conseguiram entrar no corredor exclusivo de competidores. Somente lá ele descobriu que cada competidor possuía a sua própria sala de concentração separada, para evitar brigas e discussões que não dentro do ringue de luta. Ele foi direcionado por um segurança alto e forte para uma das portas do longo corredor.

Ao entrar, meio inseguro de si, o menino se surpreendeu com a incrível estrutura luxuosa do lugar. Ele viu uma larga sala, maior ate do que o quarto que ele dividia com Jake no Centro Pokémon, equipada com um largo sofá, espelho, saco de pancadas, uma cozinha com fogão e geladeira além um banheiro que contava até com hidromassagem. Para que isso tudo?! Pensou o garoto, estupefato.

Ele percebeu uma grande televisão presa à parede e nela aparecia todo o chaveamento do Torneio, indicando também os horários das lutas. Procurando seu nome, o rapaz viu a sua foto ligada a outro rapaz, de pele morena, chamado Mike. Aquele seria o seu adversário e a luta ocorreria dentro de pouco mais de trinta minutos.

– Nós lutaremos daqui a pouco, Machop. Está pronto?

– Chop, Chop! – concordou o Pokémon, acenando com a cabeça. Ele parecia feliz só de estar ali, mas seu treinador estava apreensivo. Ele queria a sua vitória. E mais, ele queria a sua vingança.

Voltando seu olhar para a tela, ele procurou o Sr. Walter e não teve dificuldades de encontrá-lo. – Olha, o Walter vai lutar contra o Jake! – surpreendeu-se o menino - E se a vencermos a nossa luta, nós lutaremos contra um dos dois na semifinal!

Dave não conteve a surpresa com a revelação e não sabia o que queria que acontecesse. Por um lado ele ficaria muito feliz em ver Jake avançar na competição e vencer o Sr. Walter, mas isso significava que, além de ter que enfrentar um amigo na semifinal, ele não teria a chance de enfrentar seu rival principal, o homem que até pouco tempo atrás abusava de seu Pokémon. Mas por outro, ele não queria ver seu amigo eliminado tão cedo da competição, principalmente por uma pessoa tão mau caráter. Acho que não cabe a mim decidir isso pensou ele, desanimado. Pelo menos eu não vou precisar torcer, já que as lutas são no mesmo horário.

E, enquanto pensava, de uma caixa de som embutida no teto uma voz assustou o rapaz, que olhou diversas vezes a sua volta até identificar de onde ela vinha.

– Competidores da luta das onze horas, favor se apresentar na arena.

– Somos nós Machop – Disse ele, se levantando e sentindo a eletricidade do nervosismo correr em suas veias. – É agora. É para esse momento que estamos treinando duro há mais de uma semana. Foi para esse momento que eu te tirei daquele buraco de vila e te trouxe comigo. Está pronto para vencer?

O menino viu o rosto de seu Pokémon se contrair em expectativa e animação e não pôde deixar de sentir admiração por aquele bravo lutador, que teve a coragem de enfrentar todas as dificuldades que a vida lhe impusera sem reclamar, e soube aproveitar cada fator para se fortalecer. Aquela era a oportunidade de sua vida. E lá estava ele, pronto para enfrentá-la. Dave não poderia desapontá-lo. No que dependesse do garoto, nada os separaria daquele cinturão de campeão.

Com esse pensamento, ele e seu Pokémon saíram de seu quarto particular e se encaminharam para a arena, seguindo animados pelo longo corredor. Já era possível ouvir o estardalhaço da torcida do lado de fora, que parecia ser imensa. Apesar de buscar na memória, o treinador não conseguira se lembrar de outro momento em que ouvira tantas vozes juntas.

No fim do corredor, ele fez uma curva a esquerda e se deparou com a entrada para o que parecia se um ringue de batalha, colocado no centro de varias arquibancadas lotadas. Ainda no túnel individual de cada treinador, Dave e Machop se viram barrados por outro segurança, que botou a mão no peito do menino o impedindo de adentrar a área das competições.

– Espere as apresentações antes de deixar o público te ver, rapaz - disse o home de voz grossa.

Antes que Dave pudesse responder, as luzes da arena se apagaram, com exceção de dois holofotes móveis, que giravam em volta de um único homem vestido de juiz, no centro do ringue de batalha. Fortes batidas rítmicas foram ouvidas pelas altas caixas de som do lugar, o que fez com o que os pelos da nuca de Dave se arrepiassem. A multidão se calou instantaneamente.

– Senhoras e senhores, bem vindos ao nosso tradicional Torneio Anual de Lutas de Brass! - disse o homem através do microfone preso ao seu rosto. A multidão foi ao delírio em palmas e ele teve que esperar a agitação diminuir para continuar - Nessa manhã, dividimos a nossa imensa arena em quatro arenas menores, onde as oito lutas que definirão as semifinais ocorrerão simultaneamente! À tarde, as semifinais também ocorrerão dessa maneira, e vocês conhecerão os grandes finalistas de amanhã! - O publico mais uma vez explodiu em palmas e gritos, e Dave ficava mais nervoso à medida que a longa apresentação chegava ao fim. - Como todos sabem, procuramos sempre mesclar treinadores mais convencionais com os novatos que chegam dos mais diversos cantos de Kanto para essa competição, e dessa vez não poderia ser diferente. Do meu lado direito... - Dave suspirou aliviado, ele estava do lado esquerdo e seu coração parecia estar na boca de tão nervoso. Não queria ser apresentado primeiro -... teremos o nosso mais querido e conhecido lutador, que mora aqui mesmo em Brass e já chegou duas vezes às finais do torneio, Mike!”

Os holofotes rapidamente apontaram para um corredor igual a onde Dave estava, mas na outra ponta da arena quadrada. De lá, muito aplaudido, saiu um homem que aparentava ser mais novo que realmente era. Sua pele morena e seu rosto juvenil contrastavam com seu corpo alto e bem definido. Ele entrou sem camisa, de peitoral aberto, coberto de aplausos, assovios e suspiros do publico feminino. Nossa, será que a Mindy ta vendo isso? Assim que pensou isso, o garoto levou instintivamente a mão ao seu próprio peitoral pouco desenvolvido, sentindo uma pontada de inveja de seu oponente. Rapidamente ele afastou esse pensamento. Ele acha que impressiona as meninas com isso ai? Vamos ver com que a Mindy vai estar comemorando no final dessa luta. Antes, porém, que ele pudesse tentar entender o que estava sentindo, o juiz voltou a falar.

– E agora, do outro lado, temos um novato que veio de um remoto canto do nosso continente, de uma cidadezinha chamada Grené! Será que ele conseguiu resistir às tentações de nossa cidade e está pronto para luta? Por favor, povo de Brass, dêem muito boas vindas para Dave Hairo!

Nessa hora os holofotes apontaram diretamente para o rosto de Dave enquanto a torcida explodia em aplausos mais uma vez. Ele teve que ser empurrado pelo segurança para que começasse a andar pelo corredor que passava entre as arquibancadas e o levava até o centro do ringue. Com a luz lhe atrapalhando, ele mal conseguia enxergar o caminho a sua frente, e o barulho era tão ensurdecedor que o deixava tonto. Com dificuldades, o rapaz chegou até o ringue sendo seguido de seu Pokémon, e subiu, se segurando nas cordas firmes e duras. Machop, sem titubear, passou por entre elas e se postou na área de luta, enquanto Dave ficava no canto de fora, apenas para dar as instruções. Ele nem vira quando Mike havia liberado seu Hitmonlee, mas reparou que o homem também estava absorto em conversas com seu comandado.

– Boa sorte – Dave quase tinha que gritar no meio do enorme barulho que a multidão fazia – fique muito atento e lembre de tudo o que treinamos, de tudo que passamos para chegar aqui. Nossa hora é agora Machop, e ninguém pode ficar na nossa frente. Nós não viemos aqui para perder!

– Lutadores, posicionem-se - Ordenou o juiz.

Ainda um pouco atordoado com toda a atmosfera, o garoto observou seu amigo se encaminhar para o centro do ringue, e parar frente a frente com seu adversário. Hitmonlee encarava o adversário com um olhar presunçoso, demonstrando confiança, enquanto Mike, do outro lado, acenava para a torcida a sua volta, esperando o gongo soar. Dave também olhou para os lados, procurando algum rosto conhecido, até localizar Mindy e Jake, sentados nas primeiras filas.

Antes que ele pudesse cumprimentá-los, porém, o juiz voltara a falar, chamando sua atenção - Essa luta será sem limites de tempo e durará até o “knockout” de um dos competidores. Comecem! - O alto e ressoante som do gongo vibrou pelas arquibancadas e a luta havia sido iniciada.

Machop rapidamente pulou para trás, tomando distancia e, mesmo que sem querer, desviando do primeiro chute do adversário, que já mostrava ser bastante ágil. O chute seguinte, que completava o ataque Chute Duplo, obrigou que o Pokémon de Dave bloqueasse com o braço conscientemente.

– Ótimo trabalho Machop! Agora role para o lado e use o golpe de caratê!

Obedecendo, O Pokémon azul fez um rápido rolamento para a direita e desferiu o golpe com seu forte braço, mas o alvo foi mais rápido e se movimentou para trás, desviando.

– Continue com a combinação que treinamos! – ordenou Dave

Machop então deu um leve salto na direção de Hitmonlee, com um dos braços brilhando, no ataque Quebra-Telha. O adversário desviou mais uma vez com facilidade, mas assim que voltou ao chão Machop fez um rápido movimento de Rasteira, que derrubou o Pokémon do chute. A platéia soltou uma clara exclamação de surpresa com o belo inicio do lutador principiante.

– Ótimo trabalho, agora acabe com ele! Use o Mega Soco!

Aproveitando o oponente caído, Machop deu forte impulso para o alto e estava pronto para cair por cima de Hitmonlee, atingindo-o com seu poderoso ataque, quando o adversário rolou para o lado e desviou do que poderia ser o fim prematuro do combate. Droga, esse cara é rápido! pensou Dave.

– Agora, mostre para ele o que é uma seqüência de verdade! – ordenou a forte voz do treinador de pele escura.

O Pokémon lutador marrom, em um pulo, desferiu um poderoso golpe que Dave reconheceu como o Chute de Pulo Alto, mas que foi desviado por Machop. O objetivo do movimento, porém, não era de fato causar dano, mas se aproximar do oponente sem lhe dar chances de atacar. Quando Hitmonlee voltou ao chão, caiu mais próximo do seu alvo, que agora estava dentro do raio de alcance de seus chutes, se tornando um alvo fácil. Machop conseguiu se desviar com habilidade de algumas das seqüências de chutes duplos que eram dadas por seu adversário, mas logo se viu obrigado a se proteger todos com os braços, deixando eles vermelhos e machucados.

– Machop, cuidado, saia daí! – ordenou o treinador de Grené, vendo que seu Pokémon estava em apuros.

Mas Machop não conseguia se distanciar o suficiente dos incríveis chutes de seu oponente. Apenas se defendendo, logo o Pokémon azul se viu encurralado em um dos cantos do ringue. Ele estava visivelmente sentindo o impacto das intermináveis chutes que aparava com o braço.

– Você o tem onde quer Lee! Finalize!

Dave se assustou com os comandos de Mike, e ainda sem saber o que fazer, assistiu enquanto Hitmonlee acertava o queixo de seu Machop com um poderoso Chute Pulando. O Pokémon azul bateu com as costas em uma das traves de metal que seguravam as cordas e caiu com um joelho no chão, tentando absorver o impacto do forte golpe. Hitmonlee, agora no ar, descia em alta velocidade no que parecia ser o Chute do Pulo Alto, mais uma vez. Sem chances de se desviar, ainda tonto com o último golpe, Machop foi atingido na parte de trás da cabeça, caindo no chão com um forte baque, de olhos fechados.

Dave correu em volta do ringue, pelo lado de fora das cordas, enquanto o juiz se aproximava para averiguar a queda de Machop. Assim que o homem de uniforme listrado se aproximou, ele levantou um dos braços com o número um sinalizado nos dedos. Estava começando a contagem para o Knockout.

– Vamos Machop! Levante! – Implorou Dave, agora praticamente cara a cara com seu Pokémon, que estava estirado no ringue. – Vamos! nós não vemos perder agora não é?

O dedo do juiz se abaixou e se levantou novamente, dessa vez acompanhado de mais um.

– Vamos! Não desista! – Insistiu ele. Mas o Pokémon não dava resposta, parecendo estar desacordado. O braço do juiz se abaixou de novo e dessa vez três dedos foram mostrados quando ele o levantou mais uma vez. Dave olhou para os lados desesperado, vendo toda a multidão já comemorando a vitória do treinador natal, que não dera chances para o novato estreante. O quarto dedo foi levantado firmemente no ar. Os olhos do rapaz encontraram seus amigos, ali bem perto, sentados em seus lugares privilegiados com olhares espantados. Eevee parecia estar surpreso e desolado, em um dos raros momentos em que ficara sem ação. O menino não sabia o que fazer. O quinto dedo foi levantado quando ele voltou a olhar para seu Pokémon estirado no chão.

– Desculpe, Machop! Eu queria tanto te ajudar a ganhar. Parece que eu não cumpri minha promessa não é? - Algumas lágrimas surgiram nos olhos do rapaz enquanto a contagem atingia o numero seis. Dave continuou – Eu sei que deveria ter feito mais por você. Eu te prometi que iríamos nos vingar, prometi que iríamos vencer! Me desculpe, amigo, eu tentei mas...

Assim que a contagem chegou ao número sete, os olhos do Pokémon caído se abriram devagar, o que fez com que seu treinador, à beira das lagrimas, perdesse o ar no meio do discurso emocionado. Dave observou impressionado quando alguns músculos de seu amigo voltavam à vida e ele apoiava a mão espalmada no chão, enquanto uma expressão de incrível esforço passava pelo seu rosto.

– Chop... – gemia o lutador, com os dentes cerrados.

Imediatamente o treinador se sentiu culpado e enraivecido com si mesmo. Como eu pude desistir tão cedo? Ele ainda não se deu por vencido, eu também não posso me deixar vencer! O numero oito foi levantado no ar enquanto a multidão se calava, à medida que ia percebendo que a luta talvez não tivesse acabado. Mike, que já tinha dado as costas para o ringue, foi alertado pela reação da torcida sobre o que estava acontecendo.

– Vamos, levante Machop! Força! – dizia Dave, nervoso, enquanto observava seu companheiro agora de joelhos - Você consegue, vai!

O nono dedo do juiz foi levantando enquanto ele mesmo tentava esconder a surpresa por ver o pequeno Pokémon azul se levantando. Machop botou a mão em seu joelho e no que pareceu ser o maior esforço que já fizera, ele se levantou antes que o numero dez fosse mostrado pela torcida.

– Isso! – comemorou Dave, impressionado – Você é incrível Machop! Você é sensacional!

Mike e Himonlee não conseguiam esconder a surpresa em ver que não haviam ainda conseguido a vitória, e o forte competidor se mostrou furioso com seu Pokémon por não ter terminado o serviço.

– Não acredito que ele levantou! Era para você acabar com ele, Lee!

O Pokémon chutador simplesmente encolheu seus curtos ombros, ainda surpreso, e se postou para continuar a luta. O juiz se afastou para um dos cantos mais uma vez e apitou. Tudo começara mais uma vez.

– Acabe logo com isso Lee, Mega chute – ordenou Mike.

Dave, se recuperando rapidamente da surpresa, observou que seu Pokémon ainda estava meio tonto e bolou uma rápida estratégia de defesa.

– Machop, se impulsione nas cordas e role!

Seu Pokémon obedeceu e deixou seu peso cair contra uma das cordas rígidas, que pouco se dobrou e já o impulsionava de volta para o lado oposto, enquanto ele mergulhava em uma cambalhota no chão. O movimento foi perfeito, ajudando Machop a se deslocar até o outro lado do ringue enquanto Hitmonlee errava por muito o alvo tentado. A platéia riu do movimento inusitado e da tentativa frustrada de ataque. Mike ficou furioso.

– Lee, ele acha que pode brincar assim com a gente! Mostre para ele quem manda aqui!

O irritado Pokémon marrom rapidamente pulou para o alto e começou sua característica seqüência uma segunda vez. De novo, Machop se viu obrigado a defender com os braços, mas agora Dave teve uma idéia que poderia mudar o rumo da luta a seu favor.

– Agüente firme Machop! Não saia daí!

Mike se surpreendeu com o comando do novato, mas tento não deixar transparecer a preocupação. Em vez disso, resolveu que não esperaria nem mais um segundo.

– Agora, termine isso como da ultima vez!

Perfeito pensou Dave – Machop, arremesso sísmico!

– O que?! - Deixou escapar o treinador local.

Enquanto Hitmonlee se preparava para seu Chute Pulando, o primeiro golpe da seqüência que quase dera fim a luta poucos momentos antes, Machop agarrou a perna que desferiria o ataque antes que ela o atingisse. Segurando firme, com as duas mãos, ele sentiu o oponente perder o equilíbrio apoiado em apenas uma de suas pernas e, com uma expressão de força, ele começou a girá-lo, tirando o do chão e dando velocidade ao movimento.

– Mire ele na trave, que é mais dura que o chão do ringue! – ordenou Dave, tendo essa idéia no último segundo.

Machop entendeu e largou seu oponente enquanto ele ainda girava, jogando-o direto na trave de metal que servia de apoio as cordas do ringue. O barulho agudo foi maior até do que o gongo que dera início à partida e Dave observou Hitmonlee atingir o alvo que ele mandara seu amigo mirar. Incrivelmente, ele caiu sentado, tentando absorver o impacto.

– Ele ainda agüenta mais, Machop! Rápido, use o Mega Soco!

O Pokémon de Dave correu enquanto carregava o poderoso golpe em seu punho, já cerrado, e atingiu seu adversário antes que ele pudesse esboçar qualquer reação. Mike apenas teve tempo de gritar “LEE!” antes de ver seu Pokémon ser atingido e cair de vez no chão, desacordado.

O Juiz rapidamente se aproximou, afastando Machop com um empurrão e começando a contagem. A platéia estava no mais absoluto silencio com a rápida reviravolta que o combate teve, segurando a respiração a cada vez que o juiz levantava os dedos no ar. Ele estava no número três quando Dave pensou ver um dos braços de Hitmonlee se mexer. Mike estava ao lado de seu Pokémon, incentivando-o do lado de fora do ringue, do mesmo jeito que Dave estivera minutos atrás.

– Vamos Lee! Nós não podemos perder para um iniciante!

O Pokémon não se mexeu de novo até o numero cinco, quando colocou os dois braços no chão, se posicionando para se levantar. Dave ouviu todos no ginásio prenderem a respiração, assim como ele mesmo e seu próprio Machop fizeram, enquanto o sexto dedo se levantava no ar.

Os braços do Pokémon marrom tremiam e ele esboçou o movimento de levantar o tronco dobrando os joelhos, mas os braços finos e mal preparados não agüentaram o peso de seu corpo e se deixaram dobrar mais uma vez, batendo no chão enquanto o juiz contava o número sete.

Só então Dave permitiu que a sombra de um sorriso surgisse no seu rosto, e, enquanto o juiz contava oito e nove, o sorriso realmente se concretizou. Ele se segurou firme nas cordas, e assim que o juiz contou dez, pulou para dentro do ringue enquanto a platéia explodia em êxtase. O menino abraçou seu Pokémon, que parecia extasiado e sem ação, e levantou um dos braços com o punho fechado, comemorando.

– Vencemos Machop! Vencemos! - Ele olhava para o lado enquanto todo o ginásio gritava e aplaudia. Localizou rapidamente o rosto sorridente de Mindy, pulando e gritando ao lado de Jake, enquanto os dois bradavam juntos “Machop! Machop!”

O locutor/juiz começou a comentar a incrível virada de Dave e Machop, mas ele não conseguia mais ouvi-lo. Tudo que podia distinguir eram os gritos alucinados da torcida e o choro de emoção de Machop, agora agarrado com seu treinador. Dave teve de gritar, mesmo estando a centímetros do ouvido de Machop, para poder ser ouvido.

– Nós conseguimos, parceiro. Depois de tudo isso, a gente venceu! Você venceu! – Só então o menino deu atenção a algumas palavras ditas pelo homem no microfone.

–... E agora, Dave Hairo é o único novato a conseguir avanças às semifinais! - Disse o homem, enquanto menino de Grené entendia exatamente o que aquilo significava. O Walter ganhou do Jake. Pensou ele, se lembrando de seu amigo e de seu mais novo rival.

– Na próxima rodada lutaremos contra o Hitmonchan, Machop! – berrou, agora não mais sorrindo, mas lembrando que ainda tinha um campeonato inteiro para lutar. E, principalmente, uma luta muito importante para vencer – Na próxima rodada, nós vamos conseguir vingar você!

E assim, ele e seu Pokémon se olharam nos olhos com seriedade e decisão, e rumaram de volta a sua sala privada, para se preparar para a luta da tarde. Mais do que simplesmente vencer o campeonato, era para esse embate que Dave vinha treinando arduamente com seu amigo. Era por essa luta que ele mais esperava. Era essa a luta que ele não podia perder, de jeito nenhum.

– Nós vamos vencer Machop! Amanhã nós iremos para a final! – disse Dave, enquanto acenava para a torcida a caminho do corredor que o levaria para sua sala. Machop não respondeu, apenas olhou de novo para seu treinador, confiante.

É isso, pensou o menino. Que o Walter se prepare para voltar para aquele buraco que ele chama de casa, por que eu e o Machop vamos direto para final, de qualquer maneira!


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Espero vocês nos comentários



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