Evolution: Parte 2 escrita por Hairo


Capítulo 12
O Último Ato Solo


Notas iniciais do capítulo

E aí, preparados? Assim como o ultimo, esse é um capítulo importante por marcar uma divisão de águas, mas dessa vez para o nossos vilões...

Espero que gostem.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/597944/chapter/12

Capítulo 12 – O Último Ato Solo

– Vamos Cubone, acerte apenas um pescoço dessa vez – ordenou Jack, apreensivo. Já era a terceira tentativa aquela manhã e seu Pokémon não conseguia se acostumar com o novo atributo improvisado pelos Rockets em seu osso. Aquilo atrapalhava e muito o seu lançamento, e era por isso que treinar seria tão importante e necessário.

Mais uma vez a tentativa falhou, e Jody se irritou profundamente. Seu Doduo corria de um lado para o outro, em linha reta, servindo de alvo móvel para que o pequeno Pokémon terrestre aprimorasse sua mira e técnica de lançamento, mas até o momento, tudo o que fizera fora se cansar debaixo desse torturante sol que parecia derreter até mesmo a paisagem.

– Jack, ele tem que melhorar! Se não consegue acertar nem o meu Doduo, como pretende acertar o Eevee do chefe?! – reclamava a mulher de cabelos roxos.

– Eu sei Jody, mas tenha paciência. Ele ainda está se acostumando...

– Já tem dias que estamos treinando!

– E ele vem melhorando a cada dia! – retrucou o homem, também perdendo a paciência. – Até outro dia não conseguia acertar o Doduo nem mesmo parado. Estamos progredindo, fique calma!

Ela pareceu engolir o que o seu parceiro disse e resolveu não continuar com a discussão, afinal, ela não levaria a nada. Bebeu um gole de água do seu cantil para esfriar os ânimos e se refrescar. A dupla precisavam se concentrar e continuar treinando, antes que fosse tarde de mais.

– Sabe que essa é a nossa ultima chance de pegá-lo não sabe? – disse ela, já em um tom mais controlado e sério, dando até mesmo um toque de melancolia a sua voz. – Nossa única chance da glória máxima dentro da equipe.

– Eu sei... – respondeu Jack, passando uma das mãos em seus curtos cabelos brancos que reluziam ao sol, em um gesto de preocupação, quase beirando o desespero.

– Mas nós não vamos falhar de novo... – e apesar do que disse, Jody demonstrava certa insegurança na sua voz.

– Não, não vamos – Respondeu ele, firme, como se estivesse tentando se convencer. E se virando para Cubone, Jack ralhou – Está parado por quê? Continue arremessando!

***

Dave e seus amigos caminhavam com dificuldades pela tortuosa estrada que se estendia além de onde os olhos alcançavam. Desde que tinham saído de Etton a paisagem mudara consideravelmente. Os bosques e gramados verdes eram coisas do passado enquanto eles eram cercados por uma terra dura e seca, com arbustos escassos espalhados esporadicamente pelos cantos e algumas árvores magras e sem muitas folhas que figuravam na paisagem ainda mais raramente. O sol parecia ser mais quente naquele lugar, e apesar de eles saberem da existência de um rio por perto, acreditavam cada vez mais estar em um deserto.

Mas se a paisagem piorava a cada passo, Mindy estava ficando um pouco mais animada a cada dia que passava, apesar de em alguns momentos ainda ser bem clara a falta de disposição e energia, denunciando que o que quer que estivesse incomodando a menina ainda não fora devidamente resolvido. Ela apenas estava aprendendo a deixar aquilo de lado por cada vez mais tempo, enquanto viajava com a companhia dos amigos.

Participava das conversas mais ativamente do que nunca, sempre procurando um assunto qualquer como se estivesse querendo forçar o dialogo. Para a sua sorte, ela podia contar com alguém como Jake no grupo, que não encontrava dificuldade em falar sobre qualquer tópico, sempre estendendo as conversas por muito mais tempo do que todos achariam possível. O rapaz, pessoalmente, não podia estar mais contente com o fato. Nunca conversara tanto com a menina e o sorriso em seu rosto era não só incontrolável, mas impossível de esconder. Até mesmo pensou que tinha superado a sua temporada de ódio ao seu outro amigo, a quem voltara a tratar bem.

Dave, por sua vez, estava mais tranqüilo do que nunca esteve enquanto caminhava com Eevee em seu ombro. O fato de ter adicionado um Machop em seu time aliviara tanto a pressão exercida pelo professor Noah, quanto a sua desvantagem em relação à Rusty. Ele sabia que uma única adição não seria suficiente, mas ao menos ele teria algumas boas noticias a serem publicadas no mês que vem da revista mensal de Cardo. Além disso, o sorriso normal de Mindy voltara a surgir mais constantemente em seu rosto pálido, e aquilo o deixava menos preocupado com a amiga.

Até aquele momento ele nunca tinha reparado de como gostava de vê-la genuinamente feliz, mesmo quando discutia com ele. Alguma coisa naquele sorriso morno passava por cima de qualquer palavra que saísse de sua boca e ele sabia, que mesmo que o significado do que ela estivesse dizendo não fosse um elogio, tudo estava bem. O sumiço recente daquele sinal de tranqüilidade o havia preocupado bastante e ocupado seus pensamentos por mais tempo do que ele mesmo esperava. Por várias vezes ele se pegou pensando em o que poderia ter acontecido em Etton que a tivesse deixado assim, mas por mais que vasculhasse a mente, não conseguia achar a resposta. De qualquer maneira, ele se tranqüilizou ao vê-la participando mais ativamente das conversas e voltar a sorrir com constância, mesmo que aos poucos.

– Nossa, como você sabe tanto sobre tudo isso? Achei que sua especialidade eram os Pokemons inseto – disse Mindy para um orgulhoso Jake. Receber elogios já era uma grande coisa para ele, mas quando vinham de Mindy faziam o garoto até mesmo estufar o peito.

– Não, não me especializo só em Pokemons insetos. Já estudei muito sobre todos os tipos de Pokemons. Sabe, eu tenho em casa uma coleção de livros feitos por um pesquisador Pokémon chamado Professor Carvalho que são simplesmente geniais. Ele, junto com a Apis, me ensinaram tudo o que eu sei, ou pelo menos tudo que eu sabia desde que sai para viajar com vocês... – com a menção do nome da líder de Auburn, Mindy fechou a cara e proferiu algumas injurias baixinho, demonstrando que estava de volta ao seu estado normal. Jake apenas não percebeu por que continuava a discursar orgulhoso sobre todo o seu conhecimento Pokémon – Sabe tem sido muito legal ver tudo em primeira mão, os mais diferentes Pokemons bem na minha frente e tudo mais. Ganhar aquela batalha das irmãs perto de Etton foi incrível! Se não fosse por vocês eu não tinha conseguido. O Dave foi genial! – continuou o menino. Dave se preparava para agradecer o elogio, mas Mindy foi mais rápida.

– Ei! Eu sei que ele ajudou também, mas quem botou fogo naquelas irmãs foi o meu Charmeleon! – disse ela, rindo.

– Eu sei, eu sei Mindy – voltou a falar Jake – Mas é que você é sempre importante. Quando ele faz alguma coisa que preste a gente tem que dar uma força não é?

A menina gargalhou sonoramente e Jake se maravilhou ao vê-la rindo de sua piada. Enquanto isso Dave fechava a cara com uma expressão de cinismo.

– Jake, já basta a Mindy para pegar no meu pé. Você também não vale... - disse ele, enquanto a amiga ainda gargalhava. Apesar de estarem rindo dele, Dave não se conteve em um sorriso. Sabia que seus amigos estavam apenas brincando e ver aquela risada sincera da menina era algo que valia a pena.

– Esperem para me ver no torneio de Brass – continuou o rapaz se virando para frente – Eu e o Machop vamos arrebentar o velho do Sr. Walter e ganhar aquele cinturão.

Jake aproveitou a deixa para demonstrar um pouco mais do seu conhecimento – Mas você devia tomar cuidado Dave, aquele Hitmonchan não é qualquer adversário e eu aposto como aquele velho chato está treinando desesperadamente depois de perder no outro dia. Sabe, um Hitmonchan é um Pokémon muito útil, principalmente quando bem treinado. Existem vários registros de alguns deles que conseguiam dar seqüência de socos invisíveis aos olhos humanos, de tão rápidos que eram. Ainda tem aqueles que conseguiam quebrar paredes e grossos blocos de concreto com um soco só. São incríveis esses Pokemons sabe... E sabia que não existem fêmeas desse tipo? Ainda é um mistério como eles se reproduzem... Um dia, quem sabe eu não consigo descobrir? Vou ser um grande pesquisador, talvez até mesmo maior que o próprio Professor Carvalho...

Jake realmente se empolgara nesse discurso e começou a falar não apenas uma grande quantidade de informações, como também em uma grande velocidade. Mais uma vez, foi necessária uma intervenção inesperada para que o menino conseguisse se calar. Saindo da Pokebola como se estivesse ouvindo cada palavra de seu treinador e não agüentasse mais, sua Squirtle parou a frente dele e lhe lançou seu costumeiro jato d’água, arrancando altas risadas dos outros dois companheiros e até mesmo de Eevee.

– Um dia... blup!... Eu vou se...blup!...Mui... blup! blup! – dizia ele, pego de surpresa no meio de uma frase. Somente quando a água cessou e ele conseguiu parar de tossir, o rapaz conseguiu voltar a falar.

– Sabe Squirtle, eu só não vou brigar tanto com você por que eu estava com muito calor – disse o menino, passando a mão pelos cabelos e jogando respingos de água em Mindy.

A menina, que em um primeiro momento se encolheu tentando fugir das gotículas que vinham de Jake, foi logo atingida por um jato d’água da sorridente Pokémon tartaruga e ficou ensopada. Assim como Jake, ela gostou da brincadeira, riu e até pediu mais. Logo, todos se animaram com a idéia e resolveram parar naquele ponto da estrada. Já estava próximo à hora do almoço e eles encontraram uma pequena arvore seca a alguns metros a frete. Apesar de não oferecer muita sombra, pelo menos o grupo teria um lugar para apoiar suas coisas enquanto usava a pequena Pokémon aquática como chafariz para ajudar a controlar o forte calor que fazia naquela região árida. O grupo estava feliz e motivado apesar da altíssima temperatura. Tudo estava bem.

Para levantar ainda mais os ânimos dos amigos para o restante do que prometia ser um dia de calor escaldante, Jake, que também possuía certas habilidades culinárias, resolveu caprichar no almoço. Dave, como não entendia de cozinha, ajudou apenas a montar as duas pequenas fogueiras com os poucos galhos secos que eles puderam encontrar e foi treinar com seu Machop, visando o torneio que se aproximava.

Enquanto Mindy tentava acender a precária fogueira com seu Charmeleon, Jake abriu uma massa em um pequeno tabuleiro portátil de plástico e a esticou ate que ficasse bem fina. Cortou-a em pequenos quadrados, que recheou com um pedaço de carne e os fechou, formando o que pareciam ser pequenos embrulhos. Tendo acendido o baixo fogo, a menina começou o preparo de um molho branco em uma das panelas de viajem que trouxera de Cardo, e o rapaz rapidamente inseriu os seus caprichados raviólis dentro da outra, torcendo para que o fogo se mantivesse forte o suficiente para cozinhar todos.

Enquanto esperavam sua comida ficar pronta, os dois decidiram preparar toda a comida para o grupo de Pokemons que crescia cada vez mais. Olhando para Squirtle, que brincava de fazer malabarismo com algumas pedras usando o jato d’água, Mindy não se conteve em lembrar com saudades tudo que já lhe tinha acontecido desde que saíra de casa.

– Nossa, eu ainda lembro quando éramos apenas eu e o Charmander...

– É, mas antes você não tinha ninguém para te ajudar como eu – respondeu Jake, sorrindo.

– Realmente. Cozinhar com você é muito mais divertido – riu-se a menina, fazendo o rapaz sorrir e empinar o nariz. Ela continuou. – Foi muito legal a gente se encontrar Jake. Você pode ter uma boca grande de mais para o seu tamanho, mas eu gosto de você.

Ele não conseguiu responder. Seus olhos se arregalaram de surpresa com a declaração inesperada da menina e o menino sentiu o seu rosto tomar a cor de molho de tomate enquanto tentava inspirar o ar que tinha lhe fugido. Ele virou a cara repentinamente, fingindo verificar o estado do macarrão, e ficou de costas para ela por alguns minutos, até que Dave voltou a aparecer, com Eevee no colo.

– E ai? O que teremos para comer hoje, já decidiram?

– Hoje o Jake ficou encarregado do prato principal – respondeu Mindy – Como está o ravióli, Jake?

– Ele... ele está... é... quase... quase pronto – conseguiu finalmente dizer o menino. Ainda não havia se recuperado inteiramente do ocorrido e o ar lhe era escasso no momento. Como sempre, Dave não reparou na reação estranha do amigo.

– Ravióli? Nossa não sabia que você cozinhava assim Jak...

O rapaz foi repentinamente interrompido por um pequeno monte de terra que apareceu, bem em baixo de uma das fogueiras, justamente a que continha o quente molho branco que Mindy estava preparando. Rapidamente o monte cresceu, destruindo o fogo baixo que Charmeleon havia acendido com custo e jogando para o alto a panela com todo o seu conteúdo dentro, ao mesmo tempo em que um Cubone surgia de dentro da terra.

Jake e Dave observaram como em câmera lenta enquanto a panela virava no ar e se preparava para derramar todo o liquido fervente exatamente em cima da menina que, de costas, mal tomara conhecimento do que estava acontecendo.

Jake estava mais próximo e, em um ato puramente instintivo, deus dois passos rápidos e empurrou a menina para longe, derrubando-a juntamente com o recipiente com a comida Pokémon ainda em estagio de preparação. O menino então tropeçou e rolou por cima dela, conscientemente puxando-a para o mais longe possível da trajetória do liquido que caía.

Tudo durou aproximadamente dois segundos e nos momentos seguintes, mal houve espaço para entender o que acontecera. Mindy olhara de Jake, para o pequeno arranhão no braço que tivera e para a panela com todo o seu molho borbulhando no chão, bem onde ela estivera em pé poucos minutos antes. Alguns respingos haviam atingido eles, incomodando por estarem praticamente fervendo, mas nada comparado ao que poderia ter acontecido. Se Jake não tivesse agido, não seria Brass o próximo destino do grupo, mas sim um hospital.

– Você está bem?! – perguntou ele para a menina assustada.

Enquanto isso, Dave e Eevee, que observavam a cena há alguns passos de distância, começaram a entender a origem de toda aquela confusão. O primeiro olhar foi direcionado à Cubone, que acabara de aterrissar no chão. Por que ele não está segurando o osso? Pensou Dave. Só não conseguiu perder mais tempo estudando o assunto porque duas vozes relativamente conhecidas se fizeram ouvir às suas costas. O menino não se conteve em pensar Eles de novo não...

Jack e Jody começaram:

– Prepare-se para encrenca!

– Pois quando chegamos o clima esquenta!

– Para trazer ao mundo a devastação,

– Para mostrar a força de nossa nação,

– Para provar que nada que é bom tem valor,

– E rir na cara da verdade e do amor.

– Jody!

– Jack!

– Equipe Rocket está pronta para decolar!

–Então apertem os cintos e preparem-se para lutar!

Eevee já havia pulado do colo de Dave e se postara no chão desafiadoramente, em posição de batalha, enquanto os dois Rockets riam do estrago causado no almoço do grupo.

– O que vocês querem aqui mais uma vez? – Questionou Dave, sem rir – Vocês quase mandaram a Mindy para o hospital!

– Me desculpe – disse Jack, forçando uma expressão de pena – da próxima vez nós prometemos melhorar a pontaria. – Jody riu. O pequeno Jake se enfureceu.

– QUEM VOCÊS PENSAM QUE SÃO?! Vocês podiam ter machucado a Mindy muito sério! Sabiam que aquele molho estava fervendo? EU VOU ACABAR COM VOCÊS SEUS DESGRAÇADOS!

Até mesmo Dave e Mindy se assustaram com o acesso de fúria do menino, que se levantara enquanto falava e tinha todo o seu corpo vermelho e tremendo de raiva. Seus olhos demonstravam determinação e a sua respiração, acelerada, porém ritmada, mostrava que apesar de tudo, o menino não havia de fato perdido o controle. Ele estava enfurecido, mas usaria isso a seu favor.

– Olha, parece que a menininha arrumou mais um namorado. Como vocês fazem? Estão brigando por ela ou estão repart... –Jody falava cheia de desdém, mas a surpresa de ver seu parceiro ser derrubado por um forte canhão de água a calou antes que terminasse a frase.

Jake tinha seu Squirtle posicionado a sua frente. A Pokémon parecia contente e carregava seu típico sorriso de quem adoraria enfrentar mais um desafio. Ao seu lado, Eevee estava virado para o outro adversário, esperando que Cubone fizesse o primeiro movimento. O Pokémon terrestre se assustou ao ver seu treinador ser atingido tão repentinamente e pulou de volta em seu buraco sem mais avisos. Eevee também se assustou com a atitude inesperada e deu uns passos a frente, despercebido, enquanto seu treinador e Jake observavam Jody liberar Doduo da Pokebola.

Abalado, Jack ainda se levantava quando Cubone voltou a reaparecer na superfície, assustando Eevee mais uma vez e fazendo-o saltar para trás. Mas era tarde de mais. O Pokémon terrestre pulou do buraco já com seu osso na mão e o atirou na direção de Eevee antes mesmo de voltar ao chão. Dave ainda estava se virando para observar o que assustara seu amigo quando percebeu que o osso não era o mesmo de sempre. Dessa vez ele vinha com a ponta de uma corda amarrada nele, fazendo com que o resto dela o seguisse, enquanto a outra ponta ficava na mão livre do oponente

Foi como um clique que Dave entendeu que o objetivo não era atacar Eevee, mas sim envolvê-lo com a corda e puxá-lo, quando o osso bumerangue voltasse para seu dono. Em menos de um segundo, ele entendeu que a aparição de Jack e Jody, do outro lado do campo, era apenas uma distração para que Cubone pudesse agir sem muita dificuldade. Tudo fora, mais uma vez, bem pensado pela dupla de Rockets e Dave não tinha mais tempo de fazer nada.

Mas Mindy tinha. A menina que se levantara do chão e sacudira a poeira, tinha os olhos em Eevee desde o início, não se deixando distrair pela aparição dos dois vilões humanos, e já corria na direção do Pokémon quando o bumerangue foi lançado. Entrando na frente dele, ela foi envolta pela corda, que girou pelas suas pernas apertando-a da altura das canelas. O bumerangue voltou para Cubone, que, surpreso, deu continuidade ao plano mesmo assim. Puxando a corda, O Pokémon terrestre derrubou a menina e começou a puxá-la em sua direção.

– Ai! – disse ela, ao cair de costas no chão e bater com a cabeça. Sentiu-se ficar tonta enquanto tentava gritar – Me solta! Me solta!

Dave estava com as palavras para ordenar um ataque na boca, mas mais uma vez Jake foi mais perspicaz. De alguma maneira o menino parecia extremamente atento a tudo que estava acontecendo.

– Squirtle, agora, giro rápido no Cubone! Dave, me de cobertura!

Sem tempo para ter outra reação, Dave apenas mudou o alvo de seu movimento.

– Eevee, ataque rápido no Doduo!

O Pokémon de pelo marrom virou-se e partiu em grande velocidade em direção a ave de Jody, que ainda estava surpresa com o desdobramento imprevisto de seu plano infalível. A mulher demorou um segundo a mais para reagir, o que foi crucial para que o ataque atingisse o corpo de seu Pokémon em cheio. Jack já se levantara e estava enfurecido. Talvez se eu tivesse treinado por mais um dia teria acertado o alvo certo. Mas ainda assim, existia uma chance.

– Cubone, solte seu osso e use a evasiva!

Cubone obedeceu e logo Mindy não estava mais sendo arrastada pela áspera terra que a arranhava. Squirtle havia errado seu ataque, mas pelo menos conseguirá liberar a menina. Jake correu para seu lado preocupado e se abaixou, ajudando ela a se soltar da corda e levantar.

– Squirtle, continue com os ataques! Investida! – ordenou ele, mas em seguida não viu o que de fato aconteceu, pois olhava para Mindy segurando em uma de suas mãos. – Você está bem?

– Estou sim, muito obrigada Jake – disse ela, soltado sua mão da dele e colocado-a sobre a cabeça machucada.

Cubone se desviou de Squirtle mais uma vez e, aproveitando o momento de distração do treinador oponente, mergulhou em direção ao seu osso, que não estava mais preso à perna da garota. Aramado mais uma vez, ele desferiu o ataque que era sua marca registrada.

Squirtle observou sem entender enquanto o osso bumerangue girava em volta de seu corpo. Em segundos ela estava amarrada e imóvel pela corda, que já voltara para a mão de seu oponente.

– Jake, a batalha! – disse Mindy, chamando atenção do menino que não tirava os olhos dela.

– O que? Ah sim! - Ele se virou e percebeu que seu Pokémon estava em uma situação desconfortável, preso pela corda e vulnerável ao próximo ataque de seu adversário. Mas a adrenalina ainda corria no seu sangue e ele não demorou a perceber uma saída.

– Cubone, investida! – ordenou Jack, confiante na vitória. O nervosismo o impediu de ver o óbvio.

– Squirtle, você não precisa se mexer para usar seu jato d’água!

E de fato, não precisava. Squirtle engoliu ar e logo soltou seu forte golpe em direção ao Pokémon que corria com velocidade contra ela. O ataque o atingiu sem deixar chances de recuperação, jogando-o metros para trás. A desvantagem de tipo o venceu e Cubone já estava fora de combate antes de cair no chão mais uma vez.

Enquanto isso, Doduo já havia se recuperado do ataque rápido, assim como sua treinadora já havia se recuperado da surpresa, e ambos tentavam oferecer um duelo a altura de Eevee e Dave.

– Continue com o Ataque de Fúria! – disse a mulher de cabelos roxos, tentando pensar em um novo jeito de capturar Eevee.

– Continue na evasiva Eevee – ordenou Dave. Vendo Mindy liberta, o menino estava mais calmo e sob controle de si mesmo. Se eu bem conheço o Eevee, ele pode se desviar desse passarinho o dia inteiro.

Doduo continuou seu ataque, mas o Pokémon do menino era rápido de mais. Ele nem parecia estar fazendo esforço e, depois de alguns minutos e algumas bicadas no vazio, Dave percebeu o ritmo da ave diminuindo. Era hora de finalizar aquela luta.

– Eevee, pule para trás e use a cabeçada!

O Pokémon obedeceu e se desviou do bico de seu adversário dando um salto atrás e se afastando. Assim que encostou suas patas no chão, porém, pegou impulso e desferiu uma forte cabeçada na cabeça que se abaixara para atacá-lo. O ataque, que atingiu apenas uma das cabeças da ave, deixou-a completamente cega de tontura. Jody arregalou os olhos com a velocidade do movimento. Se ele não tivesse falado cabeçada eu jurava que isso era um ataque rápido pensou a mulher.

Em seguida, Dave ordenou um ataque rápido nas pernas do oponente, que se desequilibrou e caiu. Eevee parou em frente à cabeça ainda consciente de Doduo, olhando fundo nos seus olhos e vendo o medo que eles emanavam. Seu adversário já estava machucado o suficiente e não conseguiria se levantar, então, sem pestanejar, Eevee virou as costas e se encaminhou de volta a seu treinador.

Jack recolheu seu Pokémon derrotado, mas Jody ainda estava em estado de choque. A operação e a batalha não durara mais de dez minutos, e nesses dez minutos, eles foram da iminente glória à derrota humilhante. Ela não conseguia aceitar o fato.

– Levante-se seu Pokémon idiota! – dizia em um ataque nervos – Volte para lutar Eevee, onde você pensa que vai?!

– Acabou Jody – disse Dave – o Doduo não pode mais lutar...

– E quem você pensa que é para falar do meu Pokémon seu moleque covarde?! Quem decide isso sou eu! Fique quieto e lute!

Nesse momento Jack botou a mão em seu braço e olhou-a significativamente. Havia desolação em seu olhar, mas também havia aceitação. Pelo menos ele sabia perder. A mulher olhou nos olhos do seu parceiro cheia de raiva, desconsolada. Queria chorar, mas não se permitiu esse luxo.

– Vamos – disse ele, em voz baixa. – Acabou...

A mulher não disse nada por longos segundos, mas em seguida recolheu seu Pokémon e ficou observando o pequeno grupo de amigos a sua frente, tentando engolir o seu fracasso. Eevee já havia voltado para o colo de Dave e Jake já havia voltado a se preocupar com Mindy. Os dois se abraçaram forte e Jody pensou perceber o menino sorrir radiante enquanto envolto pela garota. Dave não havia tirado os olhos de sua oponente, para garantir que não haveria nenhum tipo de trapaça, mas já fazia carinho em Eevee com sua mão. A dupla de Rockets estava derrotada.

O que é que esse Pokémon tem de tão especial? Perguntou-se ela. Foram quatro tentativas de roubá-lo e quatro falhas seguidas. Ela não sabia explicar o porquê dele se recusar veementemente a ser roubado. Nunca havia conhecido conhecera alguém que resistira tanto e ela sabia que mesmo que sua carreira como agente Rocket fosse curta, isso não era normal. Eles tinham sido treinados para isso e uma hora um plano tinha que dar certo. Era sempre assim.

– Vamos – repetiu Jack, puxando-a pelo braço mais uma vez. E ela se deixou levar pelo companheiro.

– Podem ir – disse Dave, ainda postado desafiadoramente no mesmo lugar – e entendam que eu nunca vou deixar que vocês levem o Eevee de mim.

Os amigos apenas observaram enquanto a dupla de inimigos se afastava lentamente da cena do ataque ao grupo. E que não voltem nunca mais pensou Dave.

***

Aquela noite, Jack e Jody estavam muito calados em seu acampamento. Eles haviam caminhado o dia inteiro desde a desastrosa derrota para o grupo de meninos que acolhera o Eevee de seu chefe, mas palavras lhes faltavam naquele difícil momento na carreira. Jack parecia muito desapontado, afinal, seu Pokémon era a parte principal do plano que falhara aquela manhã e que estragara a ultima chance que eles teriam de se firmar de maneira gloriosa na Equipe. Mas Jody estava inexplicável.

Se existia uma coisa que a aquela jovem mulher não suportava era a humilhação, e era assim que ela se sentia. Humilhada. Um grupo de crianças conseguiram lhe desferir a sua primeira derrota dentro do mundo do crime. Nunca antes eles tinha sido presos, mas já em seus primeiros encontros com o pequeno grupo, a dupla de bandidos se viu obrigada a escapar da prisão. Depois chegaram incrivelmente próximos ao sucesso, mas o acaso os atrapalhou duas vezes. Uma vez na forma de Nidoran, outra na forma de uma criança faladora. E agora isso.

O pior é que dessa vez não foi a sorte nem o acaso, mas sim incompetência que os derrubara. Eles haviam falhado miseravelmente em sua missão e tinham sido humilhantemente jogados ao chão por um grupo de crianças que nem podiam ser chamados de jovens ainda. Que tipo de vilã eu sou? Pensava.

Ela não podia mais agüentar a derrota. Pior, ela não podia admitir a derrota. Ser forçada a admitir que falhara e ter que desistir de seu objetivo era algo que não conseguia entender completamente. Perdemos nossa ultima chance ecoava a voz de Jack em sua cabeça.

– Eu vou ligar para ele – disse Jack, montando seu equipamento portátil de transmissão.

– Não, ainda não. Se nós pudermos esperar mais alguns dias...

– Está ficando tarde Jody, e você sabe que já devíamos ter ligado há uns dias atrás. A ultima vez que falamos com ele foi antes do assalto ao Laboratório em Cardo! Já perdemos tempo de mais.

A mulher olhou nos olhos de seu parceiro quase em súplica, mas o homem estava resoluto. Não podiam mais adiar aquele fato. Era inevitável. Se quisessem continuar como Rockets, eles teriam que se reportar a seus superiores.

– Tudo bem – concordou ela suspirando fundo – ligue.

– Fique tranqüila – acalmou Jack – nossas noticias não são ruins. Só não são as melhores...

O telefone tocou algumas vezes, até que um homem loiro de cabelos igualmente repartidos para os lados atendeu do outro lado da linha. Seu rosto apareceu na pequena tela do aparelho, mostrando seus olhos com olheiras cansadas, algumas rugas e um ar de agitada preocupação.

– Saudações supervisor Szell! – disseram os dois juntos, batendo continência

– Maldição! Por onde vocês dois andaram?! Já faz mais de um mês que vocês não fazem um relatório! È melhor que tenham resultados senhores...

– Temos resultados senhor – disse Jack, sério. Jody permaneceu calada.

– E então, que resultados? É melhor que eles expliquem esse sumiço sem aviso! – esbravejou o homem, irritado – Vocês não sabem a quantidade de desculpas que eu tive que dar por aqui para explicar isso! Eu também tenho superiores sabiam?

– Sim senhor, nós sabemos... – disse finalmente Jody, claramente nervosa.

Um silêncio perdurou no acampamento enquanto o homem olhava avidamente para seus subalternos pela telinha do aparelho de cominação, enquanto alguns homens de aparência parecida andavam atrás dele em uma sala de fundo branco, cheia de computadores. No fundo, podiam-se ver apenas as pernas vermelhas da enorme letra “R” que os dois sabiam marcar o local.

– E então? Desembuchem logo!

Jack e Jody se entreolharam com lamentação e respiraram fundo antes de conseguir emitir qualquer som. Foram necessários mais alguns segundos, mas, no fim eles se viraram para o receptor e falaram em uma só voz.

– Nós achamos o Eevee no chefe, senhor.

O homem loiro pareceu para de respirar por um instante, sem acreditar no que estava ouvindo. O tempo parou. Ele chegou até a se afastar um pouco da tela, como se a noticia tivesse atravessado o mundo virtual e lhe acertado diretamente no rosto. Foram necessários alguns segundos fitando os seus comandados tentando inutilmente ver sinais de mentiras antes dele realmente acreditar. Eles estavam falando a verdade. Finalmente, o Eevee havia sido encontrado, e justamente por um agente sob o seu comando. Szell se sentiu um homem de sorte. Com um breve sorriso apagando todo o cansaço do rosto do homem, ele se ajeitou na cadeira e olhou para os lados para checar se alguém mais ouvira o que fora dito, mas todos estavam ocupados com seus afazeres. Ele colocou um fone de ouvido antes de continuar.

– Expliquem-se – ordenou.

E então, Jack e Jody explicaram.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? O que será que vem pela frente?
Fiquem ligados!

Espero vocês nos comentários



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Evolution: Parte 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.