O Reflexo escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

No último capítulo, tivemos uma explosão do Wes. Como já mencionei ao responder um comentário agora há pouco, a ignorância do Artie é como álcool para o Wes, e o deixa atordoado. Mas ele ainda vai tentar mais uma vez. No que isso vai dar?



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Eu corri pelas ruas até não poder mais. Eu corri até ficar tão cansado que tive que parar. Era uma praça movimentada, mas começaram a cair grossos pingos de chuva. A maioria das pessoas estava com crianças, então eles correram para os carros, para as casas, para as tapagens. E eu me sentei em um banco de madeira e chorei. Eu estava com muito frio, afinal, eu não tinha colocado uma blusa depois da minha atuação que não deu em nada. Toda essa ideia ridícula só serviu para me deixar pior. Para me fazer ter certeza de que aquele tal de Artie era um homem qualquer. Um pobre homem que foi agredido por causa de nada. Por ser confundido com alguém que sequer existiu.

Seria mesmo? Eu me recusava a acreditar que Reflexo havia sido uma ilusão. Às vezes eu pensava que deveria odiá-lo por ter me abandonado. Mas me odiava ainda mais por ter causado essa reação. Era tudo culpa minha. Eu olhei para o céu de Nova York, o céu que deveria abrigar meu recomeço, mas encharcava minha ruína, me molhava com gotas geladas que se confundiam com minhas lágrimas mornas. Eu não sabia o que fazer, ou o que pensar. Tinha horas que começava a pensar que Artie era um cretino. Outras, me convencia de que ele não tinha culpa de nada. Era tudo uma infeliz coincidência.

Coincidência demais. Ele era loiro de olhos acinzentados, um pouco maior e mais forte que eu, como Reflexo. Ele gosta de tirar fotos e de gatos, como Reflexo gostava. E todo o jeitinho dele era muito parecido. Parecia impossível que não fossem a mesma pessoa. Mas cada vez mais eu tinha certeza de que estava errado.

Chegou um ponto em que eu parei de pensar. Só fechei os olhos, chorei e sofri pelos meus dolorosos sentimentos. Eu era apaixonado por alguém que não existia, e estava me apaixonando por um homem comprometido e apaixonado. Mesmo que, por algum acaso, ele me quisesse, eu já tinha estragado tudo com aquele teatro ridículo e o tapa na cara. Eu estava mesmo ferrado.

Passei quase meia hora debaixo da chuva, chorando e me recriminando por meus atos, desde a primeira vez que gritei com Reflexo e o mandei ir embora. Os carros passavam na rua à minha frente. Até que eu vi um carro conhecido. O carro de Artie. Achei que meus olhos estavam me enganando. Mas Artie parou o carro no meio do trânsito (tá, era uma rua de faixa única e bem calma, mas havia alguns carros atrás dele, e não demorou para as pessoas começarem a buzinar), bateu a porta e veio até mim correndo. Apesar da chuva atrapalhar um pouco a minha visão, eu pude ver Mary Ann dentro do carro, com cara de preocupada. Quando Artie chegou até mim, eu me levantei.

– O que você quer? Achei que não viria atrás de mim depois do que fiz.

– Eu quero entender o que está acontecendo, Wes – o pobre Artie já estava todo encharcado. – Você precisa me explicar.

Na chuva, eu tive certeza. Era ele. Eu sabia que era ele. Não era mais coisa da minha cabeça. Talvez ele não se lembrasse de mim. Talvez eu fosse pra ele só uma velha, triste e esquecida memória de infância.

– Tá bom, Artie, já que você não quer abrir o jogo, eu refresco a sua memória. Nós tínhamos sete anos e você apareceu na minha janela. Você queria brincar comigo, e nós brincamos. Foi divertido, e nós viramos amigos. Você sempre vinha me ver, mas nunca dizia seu nome. E eu te chamava de Reflexo. Você não lembra disso?

Artie parecia completamente confuso. Ele balançou a cabeça negativamente, e era bem provável que achasse que eu estava louco.

– Você deve ter me confundido com outra pessoa.

– Não! Eu não te confundi! É você, é você, eu tenho certeza! Eu... Eu gritei com você e te mandei embora, e você foi, e de noite...

– De noite o quê?

Achei melhor mostrar do que explicar. Eu segurei o rosto dele e o beijei por longos segundos. Eu sabia que Mary Ann estava assistindo tudo, e que várias outras pessoas com raiva nos carros atrás estavam nos observando. Eu não sabia como ele reagiria, mas eu tive esperanças de que isso acendesse alguma memória nele. Quando o soltei, ele permaneceu estático. Ele estava sem reação.

– Eu sei – eu disse. – Você não lembra.

E então, eu saí andando.

~

Eu caminhei na chuva grossa e gelada até chegar ao meu apartamento. Eu já estava bem esgotado, e pingando. Eu subi, deixando um rastro molhado por onde passava. Minha casa estava bem ali, intacta. Minha salinha sem televisão, apenas um sofá confortável como uma cama na beira da janela, um criado-mudo na parede esquerda, que era ligada ao quarto. E na direita, a parede da cozinha, havia um espelho.

Eu andei até ele e o encarei. Aquele maldito espelho. Maldito Reflexo. Maldita fantasia de criança que insistia em atormentar a minha vida, em me perseguir mesmo que eu mudasse de país. Que droga de vida!

Nesse momento, eu soquei o espelho bem no centro. Ele se rachou todo, e abriu uma enorme ferida na minha mão. Mas eu não sentia dor nela. Sentia uma dor no coração. Eu comecei a chorar, porque doía demais. A ignorância dele machucava tanto o meu coração, e quanto mais eu olhava para os cacos na minha parede, mais eu sentia dor e raiva, mais eu sentia vontade de destruir aquela ilusão e aquela lembrança. Eu joguei o espelho no chão e os cacos se estilhaçaram como o meu coração. Eu estava destruído, e caí ali mesmo, sobre os cacos. Meu corpo não sentia dor, e mesmo que sentisse, não havia forças para que eu fosse para outro lugar.

Eu desmaiei.

~

Um aroma inconfundível de sopa de legumes. Parecia deliciosa. Meu faro de garçom não se enganava. E o cheiro de uma boa comida sempre era um despertador. Mas eu não estava em minha melhor situação. A dor física tardou, mas chegou. Eu sentia todo o meu corpo doendo tanto, mal conseguia me mover, mal conseguia abrir os olhos. Mas eu sentia que minhas feridas estavam enfaixadas. Alguém tinha cuidado delas. Alguém estava fazendo sopa na minha cozinha. Mas quem seria?

Bom, eu não sabia quem era essa pessoa, mas eu a ouvi se aproximar, e com ela, o cheirinho da sopa. A pessoa havia feito a sopa para mim. Eu precisava saber quem era, e me esforcei para abrir meus olhos. E fiquei muito surpreso.

– Mary Ann?


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Notas finais do capítulo

Wat? Pois é, galera. Mary Ann. Mas por que ela está ali, hein? Bom, isso é assunto para o próximo capítulo. Mas posso adiantar que é hora de saber se Mary Ann é mesmo a boa alma que se preocupa com o Wes. Até os comentários, meus divos e divas.



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