Road Trip escrita por Machadinho e De Assis


Capítulo 11
Capitulo 11


Notas iniciais do capítulo

Por: Machadinho



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“Ele não é minha primeira opção”
Aquela frase ficara rodeando seus pensamentos durante a última hora. Ela havia desaparecido depois da briga, provavelmente voltara para o hotel e permanecera lá até então. Regina, apesar de mais calma, continuava indignada com as palavras de Emma.
_Aquilo não é verdade! Ele não me abandonou...Ele não teve escolha! _ Murmurou enraivecida_ E veja só, ela me deixou aqui, e agora estou falando sozinha.
O dia anunciava um tempo agradável e ensolarado, o vento matinal beijava sua face e bagunçava seu penteado. A prefeita resolveu tirar o casaco e sentar-se num banco em frente a uma sorveteria que acabara de abrir. Uma jovem loira saiu pela porta de entrada carregando algumas caixas, Regina arrepiou-se.
“Loiras e sorveterias, isso realmente é traumático”
Logo, um casal com uma criança chegou ao local. Eram aparentemente pobres, notava-se pelas roupas gastas que usavam, o garotinho parecia frágil e doente, contudo feliz ao andar com os pais. Entraram sorrindo e desapareceram pelo vidro escuro.
Aquela cena de uma alegria frugal voltara a agitar sua mente.
“Qual o meu problema? Por que não consigo ser feliz? Eu tenho uma casa, um filho, o perdão de meus inimigos, sucesso no trabalho... Talvez nem tanto no amor. Mas...Meu Deus, o que mais está faltando? Algo que preencha esse vazio. Algo que satisfaça esse desejo de felicidade...”
Lembrou-se da vez em que ela mesma entrara naquela sorveteria, anos atrás. Fora um momento feliz, ela e Henry. Mas a felicidade naquela época nunca fora plena, a escuridão ainda fazia parte de sua vida. Uma escuridão que hoje, e cada vez mais, distanciava-se. Desde o dia em que Emma pisara em Storybrooke, uma grande batalha começara, mas não entre os moradores. Era uma batalha interna, a luz e as trevas em guerra para decidir quem ficaria com seu coração.
Resolveu levantar-se e caminhar pelo píer, tentando reconhecer o lugar. Passando pelos locais onde Henry percorrera há tantos anos. Entre tantas lojinhas de souvenires, pensou em procurar algum presente simples para ele.
“Oh, um carrinho. Vou levar um verde, um azul, um amarelo...” Parou ao pensar no fusca e nos possíveis comentários de sua dona _ “Okay, ele não é mais uma criança. Mas deve haver algo aqui.”
Passou por algumas outras lojas, contudo centenas de chaveiros não era exatamente o que procurava. Estava prestes a desistir e voltar ao banco, quando avistou ao longe uma loja que não vira na sua primeira vez. Provavelmente chegara com as inovações do parque, era pintada de preto por fora, com vidros esfumaçados e levemente avermelhados. Resolveu conferir: se não fosse uma Lan House, poderia ser uma casa de magia negra.
Ao passar pela porta de vidro pesado o ar viciado ressecou sua garganta. Uma quantidade imensa de HQ’s estendia-se por prateleiras apertadas e certamente empoeiradas. Uma luz fraca e fria emanava indireta entre uma imensurável variedade de...Bonequinhos.

Eram dos mais diversos, nas mais variadas posições. Heróis atuais, antigos e uma imensidão de personagens desconhecidos, passou por alguns estandes antes de ser interrompida por um susto: Um adolescente totalmente...largado.
Ele era alto e magro, usava uma calça de moletom cinza e algum tipo de camisa azul, ambos pareciam ter acabado de sair de um baú. A maior surpresa então, foi quando o rapaz disse em tom simpático:
_Bom dia...Senhora. _ Hesitante ao notar a idade de Regina.
“Oh meu Deus, ele é o vendedor? Se o vendedor é assim, não quero imaginar o dono.”
_Hm, bom dia_ Respondeu ainda admirada com a situação. _ Será que você pode me ajudar? Procuro um presente para meu filho.
Ele coçou a cabeça como se quisesse dizer não. A resposta, obviamente, foi o contrário:
_Sim, claro. Do que ele gosta?
_Bom, qualquer coisa ligada a esses heróis. Digamos que ele tem uma certa fixação pelo...Bem. Esses bonequinhos_ Dizia segurando uma miniatura detalhada do Homem de Ferro_ Quanto custam?
_ São Action Figures, senhora_ Disse em tom sério_ Bonequinhos são brinquedos, estes são peças de colecionador.
“Ora, faça-me favor! Sou EU que estou comprando, se quiser os chamo de Rumpelstilskin”
_ Certo, que sejam. Mas e o preço?
_ Depende muito. Este por exemplo é 20 dólares.
Ela observou a miniatura em sua mão. A posição do herói. Não pôde segurar o riso ao pensar que os heróis que conhecia tão bem, não tinham nada de super. Eram todos tão falhos e humanos, quanto qualquer um. E talvez fosse isso que tornasse Emma Swan uma heroína, sua humanidade. Seu tato por erros e acertos, tornavam-na uma heroína humana.
Ele suspirou insatisfeito_ “Odeio esses noobs”_ Pensou._ Duvido que ela saiba diferenciar o Spider-man e o Super-Man. Mas não importa, ela já tem um filho? Uau, com esse corpo? Que boca engraçada, parece uma peça com defeitos...Olhe só essas cicatrizes.”
_Você tem alguma do Wolverine?
Ela interrompia o devaneio do pobre jovem
_ Huh, sim! Vou pegar algumas no estoque, só um minuto. Fique bem à vontade...Digo, fique à vontade.
Ela murmurou um “claro” enquanto o vendedor dava-lhe as costas. Correu os olhos por todas as prateleiras a sua frente. Eram tantos bonecos masculinos. Malhados, magrinhos, altos, baixos, brancos, negros, azuis...
Estatizou ao fitar uma imagem diferente. Feminina. E estranhamente familiar. Pálida, severa, as sobrancelhas arqueadas, faces rosas. Segurando uma maçã. O manto preto caía sobre os pés, uma coroa dourada jazia em sua cabeça. Ela não estava em lugar de destaque, mas emanava uma importância inacreditável.
Tentada e fascinada o suficiente, alcançou-a rapidamente e a pôs sobre o balcão de vidro. Era uma peça realmente bela, a face e mãos de porcelana pintadas e ricamente detalhadas. A maçã de resina vermelho rubro, cintilava estranhamente.
Ele voltou e encontrou sua cliente fitando a peça, seus cabelos negros caídos escondiam os olhos brilhantes de fascínio.
_ Ah, a Senhora encontrou-a?!_ Disse o Jovem carregando algumas caixas.
Regina parecia enfeitiçada. Perguntou quase infantil:
_Quem...Quem é ela?
Ele pareceu incrédulo.
_ Você REALMENTE não a conhece?
“Sim, eu a conheço. Conheço tão bem, que compreendo sua alma.”
Respondeu mentindo:
_Não.
Ele riu, mas logo percebeu que ela falava sério. Fitou a beleza da mulher a sua frente, e o mistério que cercava sua aura. Ela era bela, “a mulher mais bela de todo o reino”. Pensou em talvez convida-la para um café, conversar sobre aquela aura misteriosa e sobre o mundo da Disney. Desistiu da ideia.
_Bom, então diga “olá” para a Evil Queen.
>...............................
Ela voltara a sentar no banco. Em suas mãos a imagem de seu passado. Uma rainha, má, severa, poderosa, e provavelmente louca. Esse era seu passado.
“Eu sei o que está faltando. Eu nunca precisei de perdão, consentimento, ou qualquer coisa do gênero, não. Eu só precisava me aceitar. Eu não aprendi a me aceitar, a amar quem eu sou. Eu não sou a melhor pessoa do mundo, mas eu aprendi muita coisa. Eu preciso aceitar.
Aceitar que eu não sou duas pessoas. Não existe a ‘Regina do Passado’ nem a ‘Regina do Futuro’. Eu sou Regina. Uma Regina com passados, presentes e futuros. Não preciso renegar essa escuridão, ela faz parte de mim, também fará parte do meu futuro.
Eu sou tudo isso. Todos esses medos, essas inseguranças, sonhos... A mesma. E é nessa esperança que eu me agarro todos os dias, são nesses sonhos que me guio.
Toda essa solidão conseguiu me tornar como essa boneca. É assim que me viam, uma imagem tão destorcida. Uma imagem tão verdadeira. Pensava que amar e não ser amada era o pior, mas não.
Estava tão errada. Pior que amar e não ser amada, é simplesmente não amar. Foi a falta de amar, e não de ser amada, que me transformou nessa rainha.
Foi a falta de amar.”
A boneca caiu de suas mãos. Regina já sabia o que fazer.
Ajeitou seu cabelo para frente, que a fez de repente rejuvenescer. E ao sair olhou o banco calado, onde ficou seu passado e pelo chão...Uma boneca.
“Eu estou indo para meu futuro, e ele é branco, lindo. Uma página em branco, para eu escrever minha história. O futuro é isso, vazio.”
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