Crônicas da Nova Terra escrita por Oldboy


Capítulo 3
III - A Busca Começa, Castelo Miasmático.




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CLÁS

 

— Então, até logo Rony – Disse Clás, enquanto saia.
— Por que não fica para ajudar Clás? Ainda falta muito para este velho lugar voltar a funcionar. Sua ajuda para reconstruí-lo é muito necessária... – Ryon suplicou para que Clás ficasse.
— Eu não demorarei muito Ryon, é apenas algo que preciso saber. –  Ignorou o pedido, em seus olhos azuis, Clás transmitia tristeza, poderia não voltar mais.
— Bem, sei que não me dirá exatamente onde vai e porque. Trés bien, até logo! – Despediu-se com ânimo, algo que não era comum a Ryon, que permanecia quase sempre sério. Ryon sabia, Clás não era de contar seus planos nem problemas, era um tanto orgulhoso nesse sentido. Odiava ser ajudado.

Saiu, havia acabado de secar suas lágrimas. Disse a Ryon que ia apenas visitar um amigo, Ryon não havia acreditado, mas fingiu ter caído e o deixou partir. Heatville, o lugar onde Clás cresceu, é uma das maiores cidades e possivelmente a mais antiga, e é pra lá que ele estaria indo agora.  Na Nova Terra o governo que existe não é exatamente um governo. Não há leis nem penas por parte dele, entretanto, nas cidades pode ocorrer de o povo se organizar como uma comunidade para tomar conta de uma ‘’Cadeia’’ e até nomear um xerife, como no velho-oeste. Sendo assim, o governo apenas oficializa cidades e assim elas são colocadas nos mapas.

Havia consigo apenas o dinheiro da passagem, algumas moedas reluzindo a luz do sol em seu rosto, não tinha a máscara para protegê-lo dos grãos de areia que violentamente o acertavam. Parecia para Clás que a cada dia que passava estes grãos se tornavam mais agressivos, um péssimo sinal, talvez uma tempestade de areia esteja por vir. Clás estava no Terminal de Yoraath, cidade mais próxima de Heatville.

 Yoraath era a cidade mais calma da região, por estes motivos Steven montou seu Bar lá. Mylla e Clás fugiram de Heatville antes que os Observadores os encontrassem, pegando carona escondidos em um HUV, a marca dos ônibus que cruzavam o deserto viajando para as cidades.
Clás chegou ao Terminal, as plataformas tinham suas placas enferrujadas e quase ilegíveis.  Estava um tanto movimentado, os vendedores ambulantes cobertos por suas capas de couro estavam lucrando, pelo visto.

— Olá garoto, interessado em algumas balas? – O vendedor trazia consigo uma mala repleta de doces. – Você parece do tipo mais perigoso...  Posso lhe conseguir armas – Sussurrou.
— Não, obrigado, não preciso de nada disso. – Respondeu Clás friamente. Não era muito de confiar em vendedores ambulantes devido a acontecimentos passados.
— Mas é claro... Com esse seu Digenium. – Saiu andando, dando uma risada com sua voz rouca.
— Espera, oque disse?! – Clás procurou o vendedor, mas não o encontrou no meio das pessoas passando.

Comprou a passagem. O ônibus chegaria em poucos minutos, por sorte. E já estava na plataforma quando ele chegou.

— Ingressos, por favor! – Disse o motorista, ao descer.
Uma fila se formou, bagunçada, mas se formou. Clás era o quarto, o primeiro passageiro havia acabado de surgir. A sua frente havia um punk, em meio de todas as jaquetas marrons, uma jaqueta preta e um moicano eram raros de se ver. E como sempre, uma confusão já estava prevista.

— Senhor, seu ingresso é falsificado. – Disse o motorista com uma cara de desconfiança.
— Como assim?! Tu tá me tirando, seu velho do caralho! – Empurrava o motorista, como se quisesse uma briga mesmo. Mais uma vez, tentou empurrar o motorista quando Clás o puxou pela jaqueta e o jogou pra trás, no chão. Uma roda se formou em volta, e todos que ali passavam gritavam e clamavam por uma luta! E Clás se animou com isso, se era uma luta que eles queriam, uma luta ele iria dar.

— Seu desgraçado, vai se arrepender, vou pendurar seus intestinos na porta da minha casa! – Disse o Punk enquanto se levantava e adquiria a base de um boxeador.

Só agora Clás havia percebido os anéis em seus dedos, aquela quantidade de aço certamente machucaria Clás se fosse atingido. Optou por usar um estilo de luta que ele mesmo havia criado, era ótimo pois era rápido e poderoso, e perfeito pra atingir e não ser atingido. A multidão gritava enquanto Clás se colocava de lado, com uma mão fechada próxima ao peito e a outra na altura de sua cintura, aberta.

Assim veio o Punk, com um soco poderoso de esquerda, Clás girou enquanto o golpe passava por suas costas, quase deslizando. Ao concluir o giro, o Punk estava com suas costas viradas, Clás chutou com força empurrando em direção à multidão, que o jogou de volta, aproveitando o impulso, deu um pulo e violentamente explodiu com um soco tão rápido que pegou Clás despercebido. Se não tivesse colocado o Digenium sobre o peito, o soco com certeza teria quebrado o tórax de Clás.

— Haha, gostou dessa, otário?! – O Punk se exaltava ainda mais, a adrenalina parecia ter tomado conta de si.

Era hora de parar de brincar. Um golpe, um nocaute. Clás se preparou na mesma base, o próximo soco veio, como o esperado, ao invés de ir para o lado, Clás se jogou para frente do soco e desviou apenas a cabeça. Enquanto o soco passava por cima do ombro de Clás, ele apenas deu um soco muito rápido na costela do Punk. Um pequeno tornado de areia foi levantado com o impacto. O jovem rebelde estava paralisado com a dor, e  não disse ao menos uma única palavra antes de cair no chão e cuspir sangue.

— Haha, gostou dessa,otário? – Clás cantava vitória enquanto a multidão delirava.

De repente, uma súbita pausa. Clás parou de se vangloriar, agora, uma parte da multidão dava espaço. Eram os amigos do Punk, nada felizes em ver Clás.

— Olha só, abateram nosso pequeno urubu. – Carregue-o , Tór. – Disse um homem muito bem vestido, com um ar irônico e provocativo.

— Claro, Tank. – Um punk que mais parecia uma criança foi até o companheiro deitado no chão, o colocou no ombro como se não pesasse nada e foi embora.

— Bem, agora somos só nos quatro – Haviam mais dois com este, que parecia os comandar. – Me chamo Tank. E sou da Legião dos Motores, você mexeu com as pessoas erradas garoto.

Tank fez um gesto com a cabeça, o homem ao lado esquerdo se aproximou e assumiu a postura de um boxeador, deu dois passos e rapidamente desferiu alguns socos, combinações bem trabalhadas, Clás foi atingido e caiu no chão, antes que o seu oponente pudesse se aproximar para ataca-lo no chão, chutou sua perna, e conseguiu uma boa rasteira, derrubando-o. Rapidamente o socou com seu Digenium, ainda coberto por bandagens, o fazendo desmaiar imediatamente. Seu rosto agora estava sério, suas pupilas agora vermelhas refletiam o espanto de Tank ao ver.

— Agora se prepare, meu Digenium está acordado.  – Clás disse com um tom de voz intimidador, enquanto tirava as bandagens e mostrava um Digenium com rachaduras escarlates.
— Oque estão esperando idiotas?! Ataquem ele! – Tank olhava para os outros que estavam fora da multidão, esperando ordens. – Você também,vá! – Empurrou o jovem que estava do seu lado para Clás. Ele tentou desferir um soco aberto que Clás desviou apenas se abaixando, e subindo com um  forte gancho, lançou o garoto no ar, que já caiu desmaiado no chão. A multidão toda estava vendo, um desconhecido que mesmo assim conquistou o respeito de todos ali, até os motoristas dos ônibus que chegavam desciam para acompanhar o combate.

Vieram três ao mesmo tempo, passando pelo meio da multidão. Com um forte chute Clás atingiu a costela de um deles, e logo depois desferiu um soco no rosto de outro inimigo que vinha correndo para pegá-lo, dando continuidade ao movimento, girou com um chute lateral contra o próximo oponente, que apenas levantou os braços para defender, e conseguiu mesmo, agarrou a perna de Clás,  porém, Clás pulou e apoiou suas mãos no chão, estendendo a outra perna rapidamente semelhante a um coice de cavalo, lançando o jovem em direção a Tank, que desviou facilmente.

— Seu desgraçado! – Gritou Tank – Rhygor, venha aqui! – Chamou o Punk que era pequeno e parecia uma criança, mas tinha se mostrado muito forte, a aparência engana. – Mate ele. – Ordenou Tank, Rhygor apenas sinalizou com a cabeça.

Seu rosto era sério, era um tanto menor do que Clás, em volta de um metro e sessenta de altura, um cabelo espetado e uma jaqueta com espinhos de aço nos ombros. Tirou uma corrente que estava usando como cinto e amarrou em seu punho. Investiu contra Clás com um forte chute na coxa, Clás defendeu levantando a perna e expondo sua canela para o impacto. Rhygor tentou soca-lo com a corrente, Clás segurou seu punho com o Digenium e usou sua habilidade. Enferrujou em questão de milésimos de segundo a corrente e a explodiu em incontáveis estilhaços, machucando a mão de Rhygor, aproveitando a distração, usou um chute frontal no peito que o mandou para longe. Sem ar e com estilhaços de metal presos em sua mão, Rhygor recuou ainda com o rosto sério.

— Merda, corram seus inúteis! – Tank fugiu, abandonando os desmaiados. Os feridos o seguiram enquanto a multidão os vaiava.

Clás se aproximou do motorista do ônibus.

— Muito obrigado! – Disse com um grande sorriso – Eles já incomodavam essa estação a meses, não sei se demorará, mas sei que eles voltarão.
— Não há de que, a justiça é importante para mim, agora podemos partir? Estou com um pouco de pressa.

Clás agora percebia, nem sempre estaria ali para defender o local, eles voltariam, e voltariam irritados. Precisava de alguma forma proteger o local permanentemente, mas se o fizesse, deixaria por mais um tempo sua viagem. Enfim fez sua escolha, um tanto cruel, deixou aquele lugar, sem proteção. Ainda pensativo, entrou no ônibus e partiu.

Clás era muito preocupado com as coisas, em sua mente via as situações mil vezes pior, mesmo que no fundo ele soubesse disso, ignorava.

MYLLA

Enquanto perdia sua consciência, piscava os olhos lentamente. Escutava uma voz, a cada piscada menos distorcida. Finalmente conseguia entender os berros de raiva ali.

— Seu idiota! Pare já com o teste, preciso dela viva. – Uma voz familiar gritava em um tom muito ameaçador, Mylla se perguntava oque estava acontecendo enquanto as paredes e o altar começaram a distorcer-se e sumir devagar. Sua Clone a fitava incessantemente com um sorriso diabólico, fez um aceno de ‘’Adeus’’ enquanto desaparecia.

— Ainda está viva, a beira da morte. – Mylla via uma figura, não conseguia enxergar bem, havia uma forte luz apontada para seu rosto e sua visão estava distorcida demais para reconhecer. O lugar onde antes havia batalhado sumiu, estando agora em uma sala escura, apenas aquela forte luz iluminava o local.

Mylla finalmente desmaiou. E quando acordou, tocou onde havia sido perfurada, sentia uma grande cicatriz ali. Ainda estava no chão que parecia ser feito de placas de metal, haviam grades e duas cadeiras na sala onde estava. Era uma cela.

Ouviu passos vindos do corredor completamente escuro do lado de fora das grades. O som ecoava cada vez mais alto enquanto o súbito sentimento de angústia invadia e tomava Mylla completamente.

Finalmente nas grades, um rosto familiar, Karth.

— Olá, dormi–  Karth foi interrompido por Mylla,que se levantou e correu, tentou chutar a grade o mais forte que pôde, mas apenas foi lançada para o fundo da cela com a mesma força que chutou.

— Não seja tão descuidada, querida. Não quero seu mal, se quisesse te matar, teria feito isso antes. Seria tão fácil como arrancar a cabeça de um elefante com as mãos. Aliás, existem poucos vivos hoje em dia, são mais raros que uma garrafa de refri de cola, lembra deles na antiga terra?

— Seu desgraçado, me solte agora e lute comigo, vou lhe destruir! Onde está Celic?! – Mylla o provocou, com uma ira profunda, e uma confusão maior ainda.

— Só estou tentando conversar, mas tudo bem. – Tirou uma chave do bolso de sua calça e abriu a cela. Virou-se de costas e começou a andar pelo corredor escuro.

— Volte aqui! – Mylla correu seguindo Karth que já havia adentrado a escuridão do enorme corredor. Continuou o procurando seguindo em frente até sua visão ser tomada totalmente pela escuridão.

— Estou aqui! – Veio uma voz atrás de Mylla, que se virou rapidamente com um chute. Karth bloqueou facilmente.

— Não quero lhe fazer mal, tenho que lhe mostrar uma coisa. Aliás, não sei sobre seus amigos, provavelmente devem estar procurando você. – Disse com um claro sorriso em meio a escuridão.

Karth gentilmente pegou a mão de Mylla e a levou, tomada pela curiosidade, resolveu o seguir. Após algum tempo andando em meio aquele corredor chegaram a uma porta metálica enorme, Karth puxou a maçaneta gigante e abriu a porta. Mylla sentiu a luz nos seus olhos, ficou temporariamente cega. Ao recuperar a visão, estavam em um grande salão de oque parecia ser um castelo. O piso coberto por azulejos brilhantes e azuis como as águas das ilhas Maldivas enquanto a Terra ainda era Velha Terra.

Ao seu redor duas grandes escadas em espiral que levavam a uma grande varanda. Ao subir as escadas e olhar pela varanda, Mylla se deparou com uma vista destruida, apenas desertos e um sol capaz de matar qualquer vida que recebesse seus raios por um tempo prolongado. Enquanto Karth subia as escadas com calma,Mylla se torna impaciente.

— Oque você queria me mostrar? – Disse Mylla, ainda curiosa.

— Olhe em volta, oque você vê aqui? – Karth perguntou, enquanto ansiosamente esperava a resposta certa.

— Hum... É um castelo, um grande castelo. Talvez seja o único de toda a Nova Terra. Como conseguiu construir isso tudo? – Mylla estava pensativa, não entendia o motivo de um castelo.

— Não, sua tola! Isso é um abrigo! – Exclamou decepcionado com a resposta de Mylla. – Olhe pra todas as cidades, milhares de crianças, idosos, pessoas boas morrendo nesse mundo desgraçado pelos próprios humanos!

Mylla estava confusa agora, Karth não parecia ter boas intenções quando destruiu o Bar do Steven, mas agora diz planejar salvar as pessoas. Algo que não faz sentido.

— Venha agora, vou lhe mostrar como reconstruir a terra!

Karth desceu as escadas e dobrou em um corredor, Mylla o seguiu. Karth entrou primeiro, logo depois Mylla, estava chocada com oque viu. Fileiras e fileiras de gaiolas, contendo Oblinus, de todos os tipos. Restos humanos podiam ser vistos aos pés das criaturas. Karth fez um gesto de silêncio e disse:

— É um mal necessário.


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