Crônicas da Nova Terra escrita por Oldboy


Capítulo 2
II - Memórias de infância, O clone.


Notas iniciais do capítulo

Ooolá :3
Depois de algum tempo parado, estou de volta! Vim trazer esse capítulo aqui de leves com presentinho no final :3
Espero que gostem! Ótima leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/597022/chapter/2

MYLLA

Horas se passaram, o tempo voava como uma folha ao vento, calma e sutilmente. Mas não para Mylla, o suor escorria pelo seu corpo inteiro, a temperatura de um deserto era normalmente acima de 45ºC, havia arrancado um pedaço de pano para pôr em sua perna. Mylla agora sorria, mesmo não estando contente, lembrava–se da primeira vez que ficou perdida no deserto, logo em um lugar que certa vez foi conhecido como Arizona.

Brincava do lado de fora da grande cidade de Heatville, era um dia como aquele. Sol escaldante e o vento impiedosamente lançando grãos de areia na pele, a cidade, formada de um antigo e enorme ferro velho era guardada pelos Observadores. O mais próximo que podemos chamar de ‘’Polícia’’ naquela cidade.

Largou a bola e correu em direção ao deserto, ninguém sabe o porquê, Mylla nunca respondeu a essa pergunta. Só se sabe que passou três dias lá, perdida. Agora nem via o tempo passar, havia dois dias que estava caminhando, sempre em linha reta, sobreviveu apenas extraindo água de cactos e comendo pequenas plantas, assim como na sua primeira vez. Já estava perdendo os sentidos quando viu ao longe, um grande prédio destruído, inclinado e tomado pela areia...

Mal podia ver. Apenas uma imagem desfigurada ao longe, a luz solar vinha na mesma direção atrapalhando ainda mais a visão distorcida de Mylla. Estava se aproximando a cada passo que dava dobrava seu cansaço, até que parou em frente a enorme sombra projetada pelo prédio, e se espantou. O prédio era o mesmo inclinado de onde havia começado. Era exatamente igual.

– Oquê?! –Mylla não aguentou. Caiu em seus joelhos, fechou os olhos, e sentiu seu corpo cair de encontro a areia. Dormiu.

CLÁS

Clás se levantava. Tocava o braço como sempre, tinha medo de perder o controle e acabar machucando alguém. Dois dias desde que o Bar do Steven foi destruído, a destruição era evidente, estilhaços de vidro pertencentes às bebidas alcoólicas estavam espalhados em igual aos pedaços de madeira do balcão, não acho que preciso falar do teto, mas ainda assim o lugar não deixava de ser seu lar. Steven e Ryon haviam sido atingidos pela explosão e com muita sorte não morreram, estavam dormindo em alguns colchões no chão, Ryon já estava de pé.

– Bonjour! Pensei que não iria acordar. – Disse Ryon, acenando, seu braço estava enfaixado devido aos ferimentos causados pela explosão.

– Ah, olá – Clás não estava com o mínimo ânimo, estava deveras preocupado com Mylla, teria partido sozinho em busca dela, mas Ryon o convenceu a esperar.

– Me dê um minuto – Andou em direção a Steven, agarrava o travesseiro e estava babando, como sempre, ao menos ele não roncava. – Réveille–toi! Acorde agora! Você tem negócios a fazer e um bar inteiro pra reformar!

Steven acordou, ou talvez tenha apenas se levantado, nem abrira os olhos ainda e foi andando em direção ao banheiro, se esbarrando em uma pilastra de madeira.

– Merda! – Steven seguiu cambaleando até o banheiro, no final do corredor.

– Clás, não fique assim, Mylla está bem... É difícil derrubar aquela garota. – Ryon tentava consolar o amigo

– Temos que ir atrás dela. – Disse Clás.
– Acalme–se. Eu já disse– Ryon foi interrompido por Clás.
– Ela foi a única que estava comigo quando eu era criança. Para todos em Heatville eu era apenas um monstro por causa do Digenium, eu me culpei por muito tempo a morte da minha família, por causa dessa merda! – Bateu forte na parede com seu Digenium, destruindo a madeira e criando um enorme buraco. Clás tentava evitar que as lágrimas saíssem, não podia. Apoiava a testa na parede, apenas pensando.
– Desculpe Clás. – Ryon respirou fundo – Eu sei o quanto ela é importante pra você.

Clás conheceu Mylla quando tinha cinco anos, lembrava–se veemente do dia. Haviam se passado anos desde que sua família morrera, roubava alimentos para sobreviver. Costumava visitar a feira de Heatville, um conjunto de várias ruas usadas apenas para vendedores ambulantes e pequenas tendas com materiais e até mesmo relíquias cujos donos não sabiam o verdadeiro valor.

Se soubessem, ah se soubessem as fortunas que vendiam como meras bijuterias de rua. Independente dos estilos, classes sociais, generosidade, todas as pessoas daquela cidade ouviram sobre o incêndio no bairro de Wan, um dos mais pobres, os boatos se espalharam com velocidade espantosa, uma família quase inteira morta e em todos os boatos apenas um culpado era mencionado, o único sobrevivente ‘’O garoto com a mão de Lúcifer’’.

Anos Atrás

Clás corria desesperado, já estava ofegante. Estava sendo seguido por um açougueiro e seu ajudante

– Volte aqui seu merdinha! – O açougueiro corria pelos becos estreitos, mal se desviando dos obstáculos no caminho.

O pobre garoto se assustava sempre ao olhar pra trás, seus perseguidores estavam cada vez mais perto dele. Precisava criar um contratempo para eles, mas como? Não conseguia raciocinar direito. Apenas corria, os prédios eram altos e em grande parte estavam velhos, pessoas nas janelas apenas olhavam ninguém se importava com um garoto amaldiçoado com um Digenium que ia da ponta dos dedos até o pulso.

A areia cobria todo o chão, como sempre. Dificultava o andar com a sandália desgastada de Clás. O açougueiro trazia consigo um facão tradicional daquela cidade, ameaçador e coberto com sangue de animais. Em seu olhar havia apenas ódio, o açougueiro sabia que se matasse aquele garoto ninguém iria reclamar ou denunciar. Clás viu uma oportunidade, um beco ainda mais estreito, se esgueirou e conseguiu passar, correu até o final e percebeu sua terrível ideia. Um beco sem saída.

Olhou aquela grande parede alta demais para sequer tentar escalar, mesmo assim, tentou e falhou, suas mãos escorregavam pelos blocos de mármore. Olhou para trás, os seus perseguidores estavam lá.

– Agora pegamos você – Ria loucamente, assustando o garoto. – Não sairá daqui vivo.

– Não. Não faça isso! – Clás recuava até dar com as costas na parede. – Ajuda! Alguém me ajude! – Gritou alto.

– Nós... Faremos mesmo isso? – Perguntou o ajudante do açougueiro.
– Mas é claro! Olha esse ladrãozinho, ele merece morrer, é um órfão mesmo. Não iria sobreviver muito mais que isso. – O açougueiro levantava o facão. – Morra! – Desceu ele violentamente.

Clás se jogou para o lado, caindo no chão. Todos os prédios eram altos, janelas barricadas com tábuas e velhas varandas metálicas tomadas pela poeira. Não havia como escalar ou escapar de lá, poderia tentar passar pelo homem, mas seu ajudante o pegaria logo depois.

– Ei! Aqui em cima! – Gritou uma garota, jovem, estava no topo de um dos prédios, seu cabelo vermelho estava diretamente sob a luz do sol. Era tão linda. – Acho meio injusto dois contra um, não acham também? – Sorria ironicamente. Pulou, pulou como se pudesse voar, caiu sobre uma varanda, e depois para outra, como se fosse um gato. Até pular em direção ao açougueiro, que novamente levantou seu facão.

– Mais uma? Morrerá também! – O açougueiro mostrava ódio, Clás não havia feito nada demais, nem ao menos conseguiu roubar o pedaço de carne que iniciou toda essa perseguição.

O facão meramente triscou um fio de cabelo da garota, caiu e se abaixou.

– Oh, que pena, não gosto que toquem o meu cabelo, mas enfim, já olhou para o céu hoje? – Disse dando uma risadinha meiga. O homem ao olhar pra baixo foi surpreendido. A garota ruiva girou seu corpo levando uma perna para frente do homem, e a estendeu violentamente atingindo o queixo do açougueiro que olhou para o céu, e depois caiu no chão.

– Que diabos?! Quem é você?! – O ajudante perguntou, tremia de medo. Era perceptível. Tinha tanta banha que até elas tremiam.

– Bem, não gosto de injustiças, e olha só, o garoto é até bonitinho. – A jovem garota soltou uma risadinha em direção a Clás.

Clás tinha em seus olhos um olhar de surpresa, apenas observava aquela cena, ainda no chão. Tocou sua mão e seu pulso, ambos cobertos pelo Digenium.

– Você ainda pode correr, eu deixo – Sorria novamente.
– Tu– tudo bem, me desculpe! – Correu, quase entalou na passagem mas conseguiu enfim sair.
– Então amiguinho, como se chama? Ah, eu me chamo Mylla, prazer – Disse a jovem estendendo a mão para Clás. Que não respondeu. – Porque está tão vermelho? – Perguntou com curiosidade.
– Bem, é que... Cuidado! – Não havia percebido a tempo, mas o açougueiro estava de pé novamente, e violentamente balançou o facão com uma fúria descomunal, Mylla quase não conseguiu desviar, e caiu no chão.

– Oh droga! – Estava em desespero.
– Morra sua vadia! – O açougueiro novamente levantou o facão, agora não havia como escapar. Clás nunca havia tido um amigo de verdade, talvez aquela seja a primeira pessoa que tenha falado com ele gentilmente. Via aquela cena como se o mundo estivesse mais lento, desejou que aquele açougueiro sofresse. E percebeu apenas por um momento, sua Digenium, que ia do pulso até os dedos, se expandiu, indo até o cotovelo, linhas vermelhas que pareciam veias escarlates começaram a reluzir, em um padrão tribal. Essas linhas se moldaram até ficarem parecendo rachaduras.

Em um piscar de olhos, Clás estava na frente do facão, com seu Digenium a sua frente para levar o golpe, e assim foi. Uma explosão escarlate aconteceu, levantando uma nuvem de poeira que impedia a visão de Mylla, apenas estava confusa e boquiaberta. Quando a poeira baixou, Clás estava em pé. As rachaduras escarlates em seu Digenium escureceram soltando uma fumaça negra que parecia ser muito densa, até desaparecer deixando apenas a aparência metálica que a partir de hoje cobriria metade de seu braço.

A frente de Clás, o corpo do açougueiro estava estirado, com um grande buraco em seu peito, sangrava muito. E mesmo assim, o homem não parava de resmungar.

– A propósito, me chamo Celic Áshemare. – Disse Clás.
– Celi... Celi oque? – Mylla não conseguia pronunciar.
– Celic – Disse Clás.
Mylla tentou pronunciar, mas não chegou nem perto. Chegou até a fazer caretas e se engasgar, não conseguiu pronunciar nem o primeiro nome.

– Ah, dane–se, vou lhe chamar de Clás, é mais fofo, não acha? – Deu uma risadinha meiga.
– Vamos embora, o barulho vai atrair Observadores. – Disse Clás, caminhando em direção a saída.

Algo mudou em Clás naquele dia, algo despertou nele. Uma chama de amizade que ele nunca havia sentido, um desejo enorme de proteger aquela garota custe oque custar. Pela primeira vez, sabia o significado da palavra ‘’Amizade’’.

MYLLA

Acabara de acordar e já sentia o desconforto dos grãos de areia na pele. Levantou–se, ainda com os olhos mal abertos e pegou a Perfuratriz. Em sua frente ainda estava o edifício inclinado e destruído.
– Eu não entendo... Como? – Mylla estava totalmente confusa.

Deu alguns passos em direção a estrutura quando percebeu um bilhete caindo de seu bolso. Nele dizia ‘’ Você não pode escapar, enfrente. Venha atrás de mim. ’’ Fazia agora uma careta de dúvida. Andou em frente até chegar próxima a uma janela quebrada que poderia usar como entrada, antes de entrar, olhou em volta e viu nada mais do que areia, dunas e um sol escaldante. Estava lá dentro, havia apenas um corredor, as janelas destruídas permitiam a passagem da luz do sol que clareava aquele lugar. Uma única porta ao final.

Ao entrar naquela porta, se surpreendera, um grande salão coberto por azulejos e pilastras de mármore em padrão grego, ao final havia um altar. Mylla ouviu o barulho da porta ao se fechar, quando virou para olhar, a porta não estava mais lá. Ficou confusa novamente, enquanto andava pelo carpete vermelho que levava até o altar, pensou se tudo aquilo era coisa de sua cabeça. E esse pensamento só se intensificou ao chegar perto do altar e se deparar uma garota deitada sobre ele. Mas, como pode? A garota deitada era Mylla, exatamente igual, apenas seu cabelo era roxo. Abriu os olhos, sentou–se no altar.

– Ah, olá Mylla, fazia tempo que não lhe via. – Riu loucamente – Você não deve estar entendendo nada. É normal.

– Quem é você?! Porque é tão igual a mim?! – Aquilo deixava a mente de Mylla completamente perturbada.

– Ora, eu sou você! Estúpida, não percebeu? Agora, vamos ao que interessa. Eu explicarei de maneira bem simples, tenho que lhe matar! – Tirou de trás do altar a Perfuratriz, pulou para cima de Mylla com força total. – Morra!

Mylla desviou por um triz, estava quase inteiramente paralisada de medo. Puxou a perfuratriz de suas costas. Mal deu tempo de bloquear, enquanto a outra voltava para fazer outro ataque, tentando perfurar ferozmente o coração da verdadeira.
Ao bloquear, empurrou fazendo com que a inimiga perdesse o equilíbrio, agora seria sua oportunidade, tentou a perfurar usando uma investida com o corpo, no máximo arrancou um fio de cabelo roxo e acabou sendo surpreendida com um chute na costela. Mylla foi lançada como uma pedra se chocando fortemente contra uma das pilastras de mármore.

Sua visão estava turva, mais rápida do que imaginava, a Perfuratriz vinha em sua direção. Conseguiu esquivar com dificuldade, a poderosa lança perfurou a pilastra e a destruiu, a transformando em pó. Mylla rastejou em direção ao altar pelo tapete vermelho, sua cópia a perseguia.

– Não fuja de mim, eu farei rápido. – Ria como uma louca, sua voz era assustadora.
– Saia de perto de mim! – Mylla gritou
– Não mesmo! – Puxou a Perfuratriz e novamente tentou atacar Mylla.

Em sua mente, a jovem garota ruiva pensava em como contra–atacar e derrota–la em apenas um golpe. Precisava planejar. Era a hora de lutar de volta, só assim sairia viva. Mylla tirou suas botas enquanto olhava para sua oponente, que caminhava em sua direção devagar.

– Finalmente decidiu se aceitar? – Estava com um olhar de interesse.

Seus pés descalços, da ponta dos dedos até os joelhos, totalmente negros, tinham um aspecto metálico cromado e de vidro, não eram como pele. Não havia pelos, muito menos unhas, eram apenas como pedaços de obsidiana em forma de pernas, dos joelhos até os pés, Digenium.

Sua rival fez o mesmo, e se moveu em sua direção tão rápida quanto o som, Mylla já previa este movimento e a esperava com um chute poderoso, a levantando no ar. Sua rival se chocou no teto, se recuperou e desceu com toda a velocidade, ao bater no chão estraçalhou o solo causando um leve tremor que desequilibrava Mylla. A oponente arremessou sua Perfuratriz, com facilidade Mylla a desviou, mas não esperava que sua inimiga se movesse tão rápido para pegar sua arma de volta, e foi surpreendida por um golpe que cortou seu braço.

– Você melhorou, mas de nada adianta, eu lhe conheço melhor que você mesma! – Ria ironicamente.

– Merda... – Mylla estava desesperada. – Não sou eu quem vai morrer hoje!

Mylla atacou ferozmente sua inimiga, que desviou e chutou sua perna, a desequilibrando. Mylla caiu próxima ao altar, a Perfuratriz voou de sua mão, olhou para o lado e a viu rolando pelo chão. Sentiu um forte apertão no peito, quando olhou para frente, a Perfuratriz estava enfiada em seu peito, completamente atravessada. A sua inimiga ria como uma louca enquanto o sangue escorria e cobria o chão, uma palma ensanguentada marcava o mármore do altar. Mylla perdia os sentidos, pouco a pouco, esvaindo sua existência.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crônicas da Nova Terra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.