POV Amy

Cheguei da escola e fui fazer meu trabalho de biologia. Estava sentada encarando o computador sem conseguir escrever, esperando que algo me forçasse a fazer outra coisa.

Até quando vai me ignorar, Amy?

Recebi a mensagem de um número desconhecido.

Quem é? – respondi.

Soltei o cabelo, o coloquei para um lado e respirei fundo passando os dedos tirando as mexas que estavam ainda sobre meu pescoço, respirei fundo tentando afastar a sensação ruim que eu sentia no pé do estômago, enquanto esperava uma resposta.

O seu pai, Amy.

Eu não estava tentando te ignorar, Adam. – tentei parecer indiferente enquanto minha conversa com o senhor Booker passava como um filme na minha cabeça.

Então porque não me procurou? – ele insistiu que eu estava o ignorando.

Meu padrasto sofreu um acidente de carro. – enviei e continuei a digitar.

O namorado da minha irmã postiça morreu.

Eu briguei com a Karma.

Eu e meus amigos tivemos problemas na escola. – fui enviando uma frase de cada vez, me sentindo cansada só de lembrar a semana passada.

Podemos nos ver hoje à noite? Eu só quero conversar com você, Amy!

Hoje eu não posso. Eu tenho que estudar e vou sair a noite. – me senti grata por ter compromisso. Eu não conseguiria recusar.

Aonde vai?

Jantar. Coisa de família. – Quis mostrar que não precisava dele. Não mais.

Ok. Marcamos outro dia. – ele se despediu, quase que sem graça e respondi com um emoji de beijo.

A porta se abriu e escutei os passos até mim enquanto eu sentava na cama.

– Amy, querida. – a voz da minha mãe soou doce.

– Oi, mãe! – lhe deu um sorriso sem graça, imaginando se ela se irritaria em saber que estou combinando de sair com meu pai.

– Querida, eu tenho uma ideia e quero que você me apoie nisso. – ela sorria como que me suplicando.

– Que ideia?

– A Lauren está meio mal. E quero passar um tempo com minhas garotas. – ela sorriu e se sentou ao meu lado. – Quero levar vocês duas para comprar roupa para o jantar de hoje.

– Claro. – lhe dei um sorriso de lado.

– Você concorda? – ela abriu o maior dos sorrisos.

– Por que não? É uma ótima ideia.

– Eba! – ela deu um pulinho saindo da cama. – Vou chamar a Lauren.

– Dia das garotas no shopping! –escutei minha mãe entrando super animada no quarto da Lauren.

Eu peguei meu dinheiro e meu celular e coloquei numa bolsa, que estava pendurada numa cadeira e desci as escadas.

– Oi, Bruce. – eu o cumprimentei.

– Amy! – ele se surpreendeu. – Como vai? – ele deixou o jornal de lado.

– Tudo indo. Na medida do possível. – lhe deu um sorriso cansado. – Mas e você? Ainda dói? – apontei para as costelas dele.

– Só quando eu respiro. – ele zombou e eu ri.

– Vamos, vamos! – minha mãe desceu as escadas animada, acompanhada de Lauren. – Tarde das garotas.

– Amor, vamos passar a tarde no shopping. Quer ir? – ela sorriu pra ele.

– Quero. – ele respondeu, meio indeciso.

– Então vamos todos! – Lauren sorriu de leve para o pai.

– Comprar algo pro Liam. - ele explicou vendo minha cara.

A tarde foi tranquila. Compramos um vestido pra mim e um para Lauren e um sapato para minha mãe. Encontramos Bruce na praça de alimentação e ele tinha três sacolas.

– Ei, Amy! – Bruce se sentou do meu lado. – Você acha que o Liam vai gostar?

Ele me mostrou um estojo de madeira com pinceis de mil tipos.

– Claro! Parece o presente perfeito para um artista.

Estudando? – meu pai mandou.

Na verdade, estou no shopping. – respondi olhando Bruce fazendo Lauren rir com uma careta e completei. – Com minha família.

Guardei o celular e ri com Lauren. Quando levantei a cabeça, vi meu pai acenando, duas mesas a frente e desfiz meu sorriso.

– Lauren, vem comigo até a livraria? – a chamei.

– Não vão lanchar? – minha mãe perguntou.

– Pede pra gente? – pedi.

– Eu quero o prato número 03. – Lauren falou.

– Eu também! Vamos ser rápidas.

Saimos andando lado a lado, e segurei o braço da Lauren.

– Começa a falar. – Lauren exigiu.

– Meu pai está aqui. E quer falar comigo. Não quero que minha mãe o veja. – eu expliquei.

Entramos na livraria e ele entrou logo em seguida.

– Amy! – ele sorriu de leve.

– O que quer com minha irmã? – Lauren perguntou irritada.

– Ela é minha filha! – ele respondeu como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

– E mesmo assim você a deixou. – ela respondeu dando um passo em direção a ele, o deixando sem fala.

– Está tudo bem, Lauren! – toquei o ombro dela de leve – Nos dê um minuto.

Ela concordou com a cabeça, e encarou meu pai por um instante e foi até a outra sessão.

– Adam! Eu lhe disse que marcaríamos de sair. E eu espero que você saiba respeitar eu tempo. – ele pareceu confuso – Eu quero conversar com minha mãe antes, e me preparar pra isso. Quero que respeite meu espaço. Você entendeu? – perguntei firme e ele fez que sim.

– Ótimo. Então não me siga, ou me peça satisfações como se eu fosse tua filha. Não vamos fingir que você nunca me abandonou, mas podemos tentar nos conhecer.

– Desculpa, Amy. Eu não... – ele começou.

– Até mais, Adam! – chamei Lauren e saímos.

Lanchamos no shopping e fomos pra casa, ainda eram 16:00 quando chegamos em casa. Eu fui tomar um longo e relaxante banho, para pensar na conversa que logo iria ter com minha mãe.

Eu estava perdida nesses pensamentos quando ouvi o bater na porta.

– Anda logo, Amy! – Lauren soou, e fiquei feliz em ouvir ela brigando comigo pelo banheiro, era a primeira vez desde a morte do Anthony. – Você está aí a uma hora!

Me enrolei na toalha, abri a porta e a abracei molhada. Ela deu um grito fino.

– Eu te odeio! – ela me afastou e ri.

– Bom banho! – sai pela outra porta ainda rindo do grito da Lauren.

Desculpa ter feito um escândalo hoje no intervalo. – li a mensagem de Karma.

Tu tem me pedido muitas desculpas recentemente, não acha? – respondi me irritando.

Só porque você não têm me perdoado. – ela respondeu.

E nem você me perdoou. Prova número um: a cena de hoje. – eu digitei e imaginei se essa teria volta. Apaguei e reescrevi.

É só questão de tempo, Karma. - enviei.

Deixei o celular de lado e comecei a pentear meus cabelos. Me sequei e coloquei uma regata e um short para ficar mais confortável, sentei na cama e assisti um filme que comecei a assistir a alguns dias. Quando o filme acabou comecei a me arrumar. Passei hidratante, coloquei o vestido azul marinho fosco, quase preto, que compramos. O vestido ficava no meio da coxa, coloquei uma sandália preta e soltei meu cabelo que estava em um coque.

– Você não pode estragar o vestido, com essa sandália. – Lauren declarou, saiu e voltou com um salto vermelho. – Coloque esse.

Sentei para calça-lo e ela começou a mexer no meu cabelo. O partiu ao meio, deixou a longa franja caída ao lado do meu rosto prendeu duas mexas, como um meio rabo de cavalo, com alguns grampos, saiu correndo e voltou com uma presilha dourada, que ela colocou sobre os grampos.

– Lauren, você não precisa... – comecei, enquanto ela avaliava meu rosto.

– Acredite! Eu preciso. – ela fez uma cara de horrorizada, e começou a passar pó no meu rosto, fez o contorno e passou um pouco de sombra bronze claro.

– Sabe usar? – ela perguntou me entregando o rímel.

– Sei, Lauren! – eu ri.

– Então use. – ela saiu e voltou com minha mãe. – O que falta, Farrah?

– Um batom. – minha mãe respondeu depois de me avaliar, saiu saltitando e voltou com um batom em mãos. – Esse batom! – ela me entregou o batom vermelho para que eu o passasse.

Eu passei o batom enquanto Lauren arrumava alguns cachos com o babyliss e minha mãe não para de repetir sobre como eu e Lauren estávamos bonitas.

– Estão tão lin... – minha mãe estava prestes a repetir que estávamos linda quando Bruce bateu na porta.

– Pode entrar! – falei.

– Vocês estão lindas garotas. – ele falou com uma sacola da B&D jewels (B&D joias). – E eu tenho algo para cada uma de vocês.

– Eba! Joias para completar o look! – Lauren comemorou olhando a sacola.

– É isso mesmo. – ele sorriu de lado.

– Um anel para minha esposa. – ele colocou o anel de ouro com uma flor de prata em um dedo da minha mãe.

– Que lindo, amor. Obrigada! – ela o abraçou.

– Brincos para minha filha. – ele entregou a caixa com dois brincos com flores e pérola para Lauren que deu um gritinho quando conferiu os brincos e abraçou o pai agradecendo.

– E um colar para minha. – ele olhou pra mim confuso, como se fosse falar algo, mas decidiu no último minuto não dizer. – Para minha enteada.

Ele sorriu e veio até mim, me deixou de frente para o espelho, pediu que eu segurasse meu cabelo e colocou em meu pescoço um colar dourado fino e simples, com um pingente de uma rosa vermelha.

– Obrigada, Bruce! E adorei. – lhe deu um sorriso sincero.

Olhei as flores nos brincos de Lauren, a flor no meu colar, e a flor no anel da minha mãe e notei que ele usava um colar de couro com um pingente de uma árvore. Ele viu que eu percebi o colar e me deu uma piscadela enquanto Lauren e minha mãe comemoraram suas novas joias.

– Podemos ir, garotas? – Bruce nos chamou e saímos de casa.