O Hotel Shell (Hiatus) escrita por Gneez


Capítulo 3
Renegado


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Mais um capítulo para vocês,boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/596778/chapter/3

Gideon começava a se sentir desconfortável com o olhar analítico daquela mulher intimidadora sobre si. Eles estavam agora no que deveria ter sido um escritório em algum momento passado, uma sala relativamente ampla mobiliada com uma enorme mesa de carvalho, uma estante de livros repleta do que deveriam ser registros encadernados, um sofá de couro vermelho e nos fundos da sala, quase imperceptível, uma jukebox. Evagreen pigarreou, chamando a atenção do forasteiro e agora intruso.

—Bem Gideon—começou—Não me leve a mal, mas eu gosto de ir direto ao assunto. O que você tem a dizer?

—A verdade é um tanto constrangedora —ele respondeu. Aquela era, se Eva não se enganava, a segunda vez que ele dizia aquilo—Mas para ser sincero, eu sou um...Renegado, entende?

— Renegado?

—Sim, mas... É mais como se eu houvesse renegado o meu clã. Eles são um grupo pequeno que vivem pela Europa, migrando de um país ao outro, por vezes se espalhando. Eu fui só mais um que se dispersou, mas não tenho lugar para ficar. Eu pretendia me alojar neste hotel, mas não esperava encontrar outro clã por aqui.

—Clã? - Evagreen ecoou, parecendo confusa—Bem, eu diria que somos mais um grupo de renegados, de forma que ter mais um conosco não será problema.

—Perdão?—Perguntou,ele queria ter certeza de que tinha entendido certo.

—Estou dizendo que pode ficar.

—Fala sério?

—Sim,se Hansel descobrisse que eu não deixei um vampiro que precisava de abrigo-e ele iria descobrir já que todos aqui parecem mais velhas fofoqueiras-ele provavelmente se irritaria.—Ela suspirou,pesadamente.—Francamente,o complexo paterno daquele idiota consegue ser muito inconveniente as vezes.—Resmungou.

* * *

Eduarda tinha quase total certeza de que aquela era a quarta vez que ela inspecionava o mesmo cômodo, o que havia sobrado de um dos quartos do que um dia havia sido um prostíbulo, e agora agora não passava de um velho prédio abandonado e castigado pelo tempo.O quarto no qual Eduarda se encontrava era grande; havia uma espaçosa cama de casal,cujos lençois, que um dia haviam sido vermelhos, estavam agora desbotados e puídos, algumas partes estavam consumidas pelo mofo. As cortinas já não passavam de tiras de pano penduradas na janela, balançando ao ritmo do vento. Apesar da classe e do bom gosto, Eduarda sempre nutrira uma atração especial - e por que não bizarra? - por prédios abandonados. Janelas estilhaçadas com os cacos espalhados pelo piso rachado ou tapetes caros corroídos pelas traças, trepadeiras espinhentas subindo pelas paredes, escadas incompletas e potencialmente perigosas; tudo aquilo lhe causava um certo fascínio,e aquele prédio em especial lhe tirava o fôlego o qual já não se fazia necessário para ela. Talvez por ter sido um símbolo de decadência e depravação mesmo quando era "vivo" e cuidado, o velho prostibulo havia se tornado, em questão de minutos, seu lugar favorito. Era realmente uma pena estar ali à tratar de "negócios".

—Encontrou alguma coisa?—Eduarda não precisava se virar para reconhecer a voz. Apenas Fergus era capaz de impregnar tanta arrogância numa frase tão aleatória.

—Não estamos procurando uma coisa, Fergus.

—Perdão, deveria eu ter sido politicamente correto?

—Você não conseguiria ser correto nem mesmo se o quisessee.—Ela dizia enquanto deixava o quarto e seguia pelo corredor, acompanhada pelo outro vampiro—em nenhum quesito.

O homem, que agora caminhava lado a lado com Eduarda, deu de ombros, e como se este gesto fosse uma deixa, um estrondo foi ouvido do andar de baixo. Vantagens vampirescas , em questão de segundos ambos se encontravam no andar térreo do prostibulo, onde um dia funcionara um enorme salão.

Seria uma cena engraçada de se ver, se não fosse potencialmente fatal; Fergus e Eduarda com a postura armada, prontos para o combate enquanto Maki, uma vampira asiática e de aparência frágil, se levantava em meio ao entulho no qual se transformara a bancada de um bar caindo aos pedaços, que funcionara nos fundos do salão.

O único homen entre os três e a mulher de cabelos cor de rosa relaxaram, enquanto assistiam a terceira se recompor e se aproximar, o que não demorou muito.

—O bar caiu em cima de mim enquanto eu inspecionava o local.

—Querida, eu não acho que você seja tão pequena a ponto de passar por baixo da bancada - disse Fergus, fazendo Maki ficar constrangida; não só por se sentir estupida, mas também pelo jeito que ele a chamara. Querida. Maki era era muito tímida e reservada, e Fergus adorava tirar proveito disso —O que você fazia ali?Quero dizer,é óbvio que o cara não estaria escondido no bar.—Maki se limitou a baixar a cabeça para esconder o constrangimento que passava pelo seu rosto.

—Que seja —Eduarda se pronunciou, cortando o clima tenso —, ele não está aqui. Mais uma busca inútil... —murmurou, ajeitando o cachecol de lã preta enrolado no pescoço. Os três vampiros deixaram o local ainda conversando entre si.

—Já revistamos a cidade toda,ele obviamente não está aqui—disse Fergus, entrando no carro de aparência cara estacionado do lado de fora do terreno de grama alta e mal-cuidada. O sol não nasceria tão cedo, e ele sempre gostara de viagens de carro-na verdade qualquer viagem em que não tivesse de correr como um animal selvagem pela noite- de forma que convencera as duas " parceiras de busca pelo traidor" a usar aquele meio de transporte.

—Bem,é claro que não estaria,ele não seria tão burro.—comentou Eduarda

—Bem, ele já cometeu certos atos que poderiam ser considerados estupidez.—disse Maki, acomodada no banco de trás.

—Ora, se até mesmo minha pequena concorda com a estupidez do homem...—Disse Fergus e,se Maki pudesse corar,teira corado intensamente com aquele comentário; porque não era o que ela queria dizer e além disso, minha pequena?

—Não dê atenção ao que ele diz, Maki , é apenas Fergus.

—Apenas Fergus ?—ecoou o dito —Doçura, eu sou muito mais —Completou, e Eduarda bufou no banco do carona, única e exclusivamente para demonstrar insatisfação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Hotel Shell (Hiatus)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.