O Hotel Shell (Hiatus) escrita por Gneez


Capítulo 1
Forasteiro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/596778/chapter/1

Três homens velhos permaneciam sentados sob o toldo da barbearia.Estavam acostumados as chuvas constantes de Portland,observavam a água escorrer do toldo até o chão e então correr rua baixo até o bueiro,uma cena corriqueira.Corriqueira sim e bastante tedidosa,tanto que os homens perceberam com antecedência a aproximação de um quarto homem,muito mais jovem e desconhecido,provavelmente um forasteiro.

O quarto homem buscou abrigo sob o toldo e baixou o capuz do casaco que usava sob a jaqueta grossa,revelando o cabelo loiro-escuro bagunçado.

—Senhores.—Cumprimentou,ao passo que os homens responderam com um breve aceno de cabeça.-Se não se importam,—prosseguiu o forasteiro—eu gostaria de saber se há algum hotel no qual eu posso me hospedar aqui perto.

—Hum..-Um dos homens velhos coçou a barba rala,pensativo.—O senhor vá me desculpas,mas aqui perto não tem nenhum hotel,não.

—Mas Church—disse o segundo homem velho— não tem aquele tal Hotel Shell,lá pras bandas de Lower Drive?

—Hotel Shell?—indagou o forasteiro, curioso.

—Ah, é! O hotel Shell... Mas ele já está fechado faz tempo.—disse Church.

—É filho, o hotel está abandonado faz tempo- Disse o segundo homem velho.—Está nas mãos de Deus.

—Ou do diabo...- murmurou o terceiro homem. O forasteiro se limitou à agradecer pela informação e se retirar,deixando para trás os três velhos a observar a água escorrer pela rua novamente, agradecendo internamente que daquela vez era apenas água,e não sangue.

Encontrar Lower Drive não fora uma tarefa fácil, a estrada era muito velha e uma nova havia sido construída e ninguém mais usava aquela, apenas em caso de necessidade,de modo que quase ninguém a conhecia. Mas afinal, valeria o esforço justamente por aquela razão. Quando Gideon ouvira o homem velho, Church era como se chamava, dizer que o local estava abandonado, a oportunidade lhe parecera perfeita. O hotel estava abandonado e ficava longe do bairro principal, ao fim de uma estrada que passava rente à um bosque. Ele não seria incomodado ali e ninguém suspeitaria que o estranho forasteiro estava se alojando no hotel abandonado, teria sossego. Espessas nuvens de chuva cobriam o céu, impedindo a visão do céu alaranjado do crepúsculo, mas Gideon sabia que o sol estava se pondo e dando lugar à lua; afinal, a noite fazia parte de seus instintos.

Conseguia ver o hotel agora, mesmo ao longe, no final de uma trilha de pedra cercada pela grama alta que se alastrara pelo terreno. Era um prédio grande construído em arquitetura gótica,mais parecia uma mansão vitoriana do que um hotel.O homem se aproximou pela trilha, que estava coberta por algo escuro e pegajoso. De perto era possível ver o estrago no prédio; sacadas com os para-peitos arrancados, janelas penduradas, os vidros da porta e das janelas tão sujos que não era possível ver o lado de dentro,trepadeiras subiam pela fachada.

As portas rangeram quando o homem entrou no prédio, e Gideon se encontrou na recepção do velho hotel. Os móveis que um dia fizeram parte da decoração estavam cobertos com panos brancos e as escadas que levavam para o segundo andar arruinadas. Destruídas, alguns degraus faltando e inúmeros quebrados, um silêncio mórbido pairava sobre o local. Tudo parecia abandonado na mais plena quietude, mas os olhos experientes de Gideon não poderiam ser enganados tão facialmente; não havia poeira sobre os móveis da recepção, as portas não estavam emperradas a ponto de não se abrir. Havia alguém naquele hotel.

O silêncio que pairava sobre o lugar se quebrou com um tilintar e Gideon olhou para cima; um enorme lustre de cristais pendia do teto, e ele estava balançando. Em meio à semi-escuridão, Gideon ouviu alguém estalar a língua.

—Eu te disse para não se pendurar no lustre, Gabriel.—Uma voz firme e irritadiça se impôs sobre o silêncio profundo. Um vulto passou perto de si, e então de repente, como se estivesse ali o tempo inteiro, a silhueta de um homem apareceu, deitado num dos sofás que decoravam a recepção.

—Você não manda em mim, Dwayne.—Uma segunda voz, repleta de sarcasmo e provocação se fez presente, seguida do que parecia o som de um isqueiro sendo acionado. Como insetos, os olhos de Gideon foram atraídos pela fraca luz da pequena chama, que iluminava parcialmente o rosto de um adolescente com os cabelos escuros caindo sobre o rosto. O garoto acendeu um cigarro e deu uma tragada.

—Além disso, ele nem é humano.—disse, e então levantou um pouco a voz para que todos os presentes pudessem ouvir, apesar de não ser necessário

—Levantem as cortinas, o teatro acabou.—E então as luzes se ascenderam, revelando um inusitado grupo o observando, debruçados sobre o parapeito do segundo andar.Gideon olhou para o sofá novamente, onde o adolescente fumava, tranquilo.

—Bem—A primeira voz à se manifestar naquele hotel chamou sua atenção novamente. Desta vez parecia mais cansada do que irritadiça, e ele logo viu que pertencia à um homem de cabelos castanhos e olhos perturbadoramente azuis, quase cor de gelo.—Acho que o senhor nos deve um esclarecimento então—Ele disse, seguido de um sorriso que revelava presas afiadas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Hotel Shell (Hiatus)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.