The Untouchable Family escrita por Isadora Nardes


Capítulo 4
Delilah Barques


Notas iniciais do capítulo

Lamento muito a demora pra atualizar. É que eu estava pondo fé em outras fics -- ficção científica, romance, ficção... Até fic de Doctor Who, e um crossover! Esse é meu primeiro romance policial que realmente está dando certo.



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Eu saí, para tomar um copo da água, e Murilo, por obra e graça do destino, me achou.

–- Que porra é essa, Martha? – ele perguntou, indignado. Não senti pressa alguma em terminar meu copo d’água para responder.

–- Hum, nada – eu disse, deixando o copo cair na lixeira. – Só achei que poderia abalá-lo um pouquinho.

–- Parece que foi o contrário!

Eu fitei Murilo. Aqueles olhos, de um marrom profundo, sempre me intimidaram de uma maneira que eu não compreendia. Era uma pressão no peito, como se alguém tentasse me ressuscitar comigo viva. Mas também havia outra coisa – uma atração estranha, algo que me impulsionava para perto dele. A pele dele, de um marrom da mesma cor dos olhos, deixava muito claro a herança haitiana. Era ótimo ter alguém negro numa delegacia cheia de brancos, mas ele era frequentemente alvo de hostilidades das secretárias mal-amadas, e eu sentia pena tanto dele quanto delas.

Eu o observei de cima a baixo, não com arrogância, mas com medo de que ele pudesse resolver ralhar mais comigo ou me despedir. Tudo o que vi foi sua camisa azul e seu terno cinza escuro, me intimidando. Apesar daquilo, não quis sair de perto dele. Mas eu me obrigei.

–- Vou voltar para o interrogatório – eu murmurei, desviando o olhar e fugindo da sala. Ele me seguiu até a antessala, onde ele sentou numa cadeira e ficou me observando sair pela porta.

O ar condicionado era a melhor coisa naquela sala. Estendi a foto da quarta vítima.

Delilah Barques – 38 anos – casada – uma filha – morta por traumatismo craniano.

Eu desfrutei de longos e maravilhosos momentos de silêncio antes de continuar a falar.

–- Sr.Krastburn... – eu comecei. Ele me interrompeu.

–- Acho que a essa altura do campeonato, Martha, você já pode me chamar de Aurélio – ele disse, com um sorriso cínico. Eu sorri falsamente de volta, dizendo:

–- Delilah Barques foi muito difícil de matar, Sr.Krastburn?

Aquilo pareceu irritá-lo profundamente, e eu senti uma ponta de satisfação.

–- Ela corria pra caramba – ele murmurou, massageando o próprio joelho. – Eu não corro mais como antigamente.

–- Antigamente era mais fácil pra matar pessoas? – eu o provoquei. Ele riu.

–- Sim, era – ele disse. – Eram bem mais fraquinhos e muito menos protegidos do que agora.

Eu me segurei pra não rir.

–- Por que matou a Srta. Barques? – eu perguntei.

Ele deu de ombros.

–- Hum, me diga você. É o seu trabalho.

Eu observei a foto de Delilah. Tinha cabelos negros cacheados, e a pele, em tom achocolatado, era lisa e brilhante. Morta, ela parecia uma boneca de porcelana negra.

Ela lembrava vagamente um rosto que eu havia visto há pouco…

Eu olhei para sua ficha. 38 anos. Não era a idade da…? Ah, não. Não podia ser. Eu levei esse pensamento pra fora, ao mesmo tempo em que outro se formava. Uma filha. Uma única filha. Apenas uma.

–- Ela representa... – eu comecei a murmurar, estupefaça. Levantei os olhos para o Sr.Krastburn. --... Sua esposa?

Ele deu um risinho.

–- Martha, e eu pensei que você era burra!

***

Aurélio via o suor escorrer na pele brilhante límpida da esposa.

Em seus 38 anos, ela parecia ter 26. Seus lábios carnudos e vermelhos soltavam palavras que Aurélio pensou que nunca ia ouvir dela.

–- Você é um imbecil, Aurélio! Um fracassado!

Aurélio estava estupefaço. Ouvira as coisas mais humilhantes das pessoas mais inusitadas, mas dela? Ele pensou que ela jamais iria dizer aquilo…

–- Você acabou com tudo, Aurélio! Tudo! – a mulher agora berrava, e chorava.

Ela pegou, com as mãos trêmulas, uma escultura de alumínio, e jogou na direção de Aurélio, que se esquivou e tremeu.

–- Argh! – ela reclamou. – Quer merda, bem que podia acertar essa sua cabeça, e você ia morrer de traumatismo craniano!

Ela se jogou numa poltrona, e Aurélio viu lágrimas de raiva escorrendo pelos olhos cor de âmbar dela. Ela abanou o rosto, deixando bem à vista as unhas perfeitamente pintadas de perolado, e respirou fundo duas vezes. Aurélio concluiu que era seguro se mexer.

Ele deu alguns passos para trás, e catou a escultura do chão. Fora um presente de dois anos de casados.

***

–- Você fantasiou sobre matar sua esposa porque ela jogou uma escultura em você? --- eu perguntei, espantada. O nível de insanidade era tanto?

–- Havia um longo histórico de brigas entre Shirley e eu – ele se defendeu. – Isso só serviu de decisão.

–- Decisão – eu murmurei. Recompus-me. – Relate sobre a morte de Delilah.

***

Delilah estava absolutamente confiante de si mesma após sair do SPA, no meio da tarde. Porém, quando alguém a puxou pra trás e colocou uma venda preta em sua boca, ela não estava tão confiante assim.

Tentou se desvencilhar, se debater ou gritar, mas a pessoa conseguiu mantê-la parada. Jogou-a na parede. Realista como era, pensou que iria ser estuprada, em plena quarta feira, às três da tarde.

Porém, o cara ficou apenas pressionando algo duro e metálico contra a sua cabeça.

–- Eu sou fracassado agora, sua piranha? – o homem perguntou. Delilah jamais havia ouvido um tom tão intenso de ódio na voz de alguém. Não sabia como alguém não a via ali, mas não conseguia pensar em outra coisa a fazer a não ser correr.

Ela conseguiu se desvencilhar, e correu para o outro lado do beco. Apenas sentia seu salto 15 batendo no chão. Ela desequilibrou, caiu, e ele a pegou novamente.

Ela grunhiu. Que porra que ela havia feito?

–- Sua imbecil – o homem murmurou. – Quem vai morrer de traumatismo craniano é você!

Delilah sentiu o homem virando seu corpo estabanado pra frente. A única coisa que ela viu foram olhos: dois olhos azuis, com fios prateados. A encaravam, decididos, agressivos e com ódio.

Ela sabia que jamais havia visto aqueles olhos antes.

O homem a puxou pra frente, deixando-me bem no meio do que parecia ser um beco. Ela soube que ia morrer antes de poder formular as palavras. Simplesmente sabia. Não podia gritar, nem correr, a morte estava ali, na sua frente, de qualquer maneira. Nada o que ela fizesse ia mudar isso.

Ela achou que, fechando os olhos, sentiria menos dor.

Simplesmente caiu na calçada, e não sentiu absolutamente nada.

***

Eu fitei Aurélio, imaginando a cena. Delilah, perplexa, caindo no chão. O sol rachando na calçada. Todos ocupados demais consigo mesmos para perceber que ela estava sendo morta no meio da tarde.

Eu limpei a garganta. Tentei não deixá-lo perceber que havia conseguido me atingir. Eu respirei fundo, pensando em mais alguma pergunta pra fazer. Uma ideia me veio a mente. Talvez eu recebesse uma advertência de Murilo por perguntar algo que não estava no relatório, mas as palavras me escaparam:

–- Por que não matar sua própria esposa?

Ele deu de ombros, novamente com aquela indiferença profundamente irritante.

–- Dava muito trabalho. Quer dizer, eu podia ter matado ela ali mesmo. E me livrado do corpo de uma forma que ninguém nunca iria achar. Mas... Minha filha ia fazer perguntas demais! Ah, aquela guria é muito apegada à mãe. Também, ela passa a mão na cabeça da menina...

–- E por que não matar sua filha também?

Ele me fitou, com os olhos azuis revelando algo que eu não sei o que é.

–- Quem disse que eu não matei?

Eu fiquei perplexa, sem entender. Eu havia visto a filha dele, junto da esposa, na sala de espera. Eu apenas fiquei parada, vendo se havia algum tipo de humor em seu olhar. Ele parecia estar falando sério. Sério demais.

Limpei a garganta.

–- Como assim? – minha voz soou mais estridente do que eu imaginava que soaria.

–- Descubra você. Não é tão burra. Ou é?


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Notas finais do capítulo

Murilo! Ah, eu adoro escrever sobre ele. Só que... Bem, no que eu estou programando, ele não aparece muito. Não muito. Mas, no que ele aparece, bem... A leve atração física que a Martha tem por ele parece bem promissora, não acham?



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