Tapiando o Destino escrita por caroline_03


Capítulo 23
Always


Notas iniciais do capítulo

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[Maggie]

Eu estava plenamente consciente de tudo o que acontecia em volta. Eu sabia que Jackson já havia pulado a janela e voltado para sua casa, já que seus braços não estavam mais envolta de minha cintura e nem sua respiração pesada batendo em minha nuca. E, com toda a certeza do mundo, eu sabia que tinha um invasor em meu quarto.

Invasor que poderia ser caracterizado por apenas uma palavra: Eric. Qual é? Hoje eu finalmente estou fazendo dezoito anos, será que nem assim eu tenho uma folginha? A cortina do quarto foi abruptamente aberta e eu franzi a testa para a claridade que machucava meus olhos, mesmo por trás das pálpebras.

-BOM DIA FLOR DO DIA! –HEIN?! –Vamos Maggiezinha, está na hora de abrir os olhinhos e ver como o dia está lindo. O sol brilha, está calor, é sábado e, tãnam, É SEU ANIVERSÁRIO! –Clara continuava falando enquanto ia puxando meu edredom, me colocava sentada e colocava uma bandeja em mim frente com comida.

De onde ela tinha saído? De algum filme de terror que ataca pobres meninas indefesas enquanto elas estão quase dormindo?

-Clara... O que diabos está fazendo aqui? –Resmunguei coçando os olhos.

-assim você me ofende. –ela falou franzindo a testa. –para a sua informação eu estou acordada desde a sete da manha preparando seu café da manha. –ela sorriu. –e hoje é sábado... Pelas Leis dos Adolescentes eu deveria dormir até as onze, no mínimo.

-hein? –ergui uma sobrancelha enquanto ela se sentava ao meu lado e começava a passar manteiga em uma fatia de pão.

-você está devagar. –ela bufou. –vai comendo esse pãozinho enquanto eu acho uma roupa para você. –ela enfiou o pão na minha boca antes que eu pudesse reclamar.

-mas... –eu falei tentando engolir o pedaço de pão.

-tem leite morno naquela caneca. –Clara disse sem olhar para trás, enquanto jogava peças de roupas para todos os lados. Tomei um gole de leite para ajudar a comida a descer.

-Clara, por que você está aqui? –ergui uma sobrancelha olhando para o criado mudo. Caramba! Nove horas!

-bem, como hoje é seu aniversário, eu queria passar o dia com minha adorável amiguinha. –ela riu me olhando por cima dos ombros. –já que eu tenho um jantar em família hoje à noite e não vou poder ficar com você assistindo reprise de Friends/The O.C e comendo pizza.

-ah... Entendo. –droga! E era esse mesmo meu plano!

-terminou de comer? –ela perguntou piscando os imensos olhos castanhos em minha direção. Olhei para a bandeja quase cheia e neguei com a cabeça. –droga! Vamos logo Maggie, não temos o dia todo.

-mas o que nós vamos fazer exatamente? –perguntei passando geléia em outra fatia de pão.

-estava pensando em ir até Austin e, você sabe... Fazer compras. –Ela deu de ombros sorrindo. –talvez ir ao cinema. John e Jackson têm um jogo em alguma cidade aqui perto.

-jogo? Jackson não me disse nada. –Franzi a testa. –tem certeza que é hoje?

-ele não deve ter querido te entediar. Sabe como é. –Clara deu de ombros pela milésima vez, tirando uma saia e uma blusinha do guarda-roupa. –parece que é só um jogo com meninos mais novos.

-ahn, ta. –disse erguendo as sobrancelhas para o nada.

-vai logo! –Clara disse batendo palmas para eu continuar comendo.

-to indo, to indo... –mordi o pão, a olhando com uma sobrancelha levantada. Que gente mais apressada!

(...)

-AND HE WAS WITH ME, YEAH WITH ME*! –Clara cantava em plenos pulmões enquanto dirigia pela rodovia. Céus! Como ela podia ser tão desafinada?

*(trecho da Música “I Love Rock ‘n’ Roll”)

-tudo bem Clarinha, já entendi que você está feliz, não precisa cantar. –falei colocando as mãos nos ouvidos, enquanto sorria para ela.

-hunf! Às vezes você é tão sem graça. –ela bufou, mas acabou rindo. –vamos a um shopping, por favor! Eu preciso comprar maquiagem e, preferencialmente, que isso leve um bom tempo.

-por que quer tanto perder tempo? –revirei os olhos. –podemos ficar na praça de alimentação algum tempo.

-e nós vamos. –ela sorriu. –nós temos o dia todo.

-mas...

-foco Megan... Primeiro: Loja de maquiagens, depois eu estou louca por uma daquelas saias pretas, e então vamos almoçar, para depois ir ao cinema e, talvez, assistir a mais um filme, e então fazer um lanche. Daí voltamos para casa! –ela sorriu. –adorei nossa programação.

-por que você não compra o shopping de uma vez? –ri um pouco. –e aposto que não deve ter dois filmes legais seguidos para nós assistirmos.

-é claro que tem. –Clara riu. –quer apostar?

-tem certeza que o jogo dos meninos vai demorar tanto assim? –perguntei fazendo careta.

-credo! –Clara disse. –agora que está definitivamente namorando não consegue passar nem sequer um diazinho com sua melhor amiga? Estou ofendida!

-der! –revirei os olhos. –brincadeira!

-bom que seja! –ela exclamou sorrindo de canto.

CÉUS!

[Jackson]

Bocejei alto, tocando a campainha da casa de Maggie. Olhei no relógio e fiz careta. Nove e meia. Clara e Maggie haviam acabado de deixar a casa (eu estava escondido atrás de uma arvorezinha), com Maggie ainda com um pedaço de pão na mão e uma caneca na outra, enquanto Clara a empurrava para o carro. Eric apareceu um segundo depois, com o telefone preso entre o rosto e o ombro.

-...aham... –ele sorriu para mim. –não, ela não tem alergia a frutas. Isso... Muito bom! Vamos buscar pontualmente quatro horas! Muito obrigado. –ele desligou o telefone, colocando o aparelho no bolso (não, não era o celular, era o telefone sem fio da casa). –HEY Jack, chegou cedo.

-pois é... Pulei da cama. –sorri de canto e Eric revirou os olhos.

-por favor, não estou a fim de saber sobre o que você faz durante a noite. –ele bufou dando espaço que eu passasse pela porta.

-Mas eu não faço na...

-SHIU! Não quero saber! –ele ergueu o indicador. –mas que história é essa de... –o telefone começou a tocar. –deve ser a mulher dos docinhos. Olá! Sim, ele mesmo... Aham... Ótimo! Vou buscar quatro e meia. Obrigado. –desligou o telefone e colocou no bolso outra vez. –céus! Essa coisa de organizar aniversário de irmã mais velha dá trabalho.

-você acha? –sorri olhando para a sala. –e então? Por que estou aqui tão cedo?

-vamos começar a organizar lá atrás. –ele disse como se fosse obvio, apontando com a cabeça para a cozinha, onde tinha a porta para os fundos.

O fundo da casa dos Fuller não era muito grande, mas o suficiente para que poucas pessoas ficassem confortáveis. Uma mesa de madeira ficava bem no centro, ao lado de algumas floreiras da mãe de Maggie. Sorri para o lugar. Não poderia dar muito trabalho.

-estava pensando em encher alguns balões rosa e colocar naquele lado, enquanto outros verdes daquele e...

-Eric... Relaxa, temos o dia todo para pensar nas cores dos balões. –falei puxando a mesa mais para o lado, onde esperava que ficasse longe da floreira.

-preciso começar a ligar para as pessoas. –ele murmurou pegando o telefone.

-espera aí... Que pessoas? –ergui uma sobrancelha. Eric ficou vermelho no mesmo instante. EEEPA!

-eu... Eu convidei a Mercie para o aniversário da Maggie, sabe... Como pedido de desculpas. –ele falou dando de ombros, como se fosse apenas uma coisa banal do dia-a-dia. Deixei meu queixo cair.

-está falando sério? –perguntei. Eric assentiu timidamente. –CARA! VOCÊ CHAMOU UMA MENINA PARA SAIR! –pulei em cima dele, bagunçando os cabeços com a mão.

-AI! JACK! NÃO É NADA DE MAIS! JACK! JACK! EU PRECISO DE AR! –ele se debatia embaixo de mim, enquanto eu ria alto de seu desespero.

-olha que lindinho! Nosso pirralho está crescendo. –falei apertando suas bochechas.

-AAAAAAH! Agora entendo por que Maggie te odiava tanto. –ele disse tentando desviar o rosto de minhas mãos. Eu continuava rindo enquanto o segurava.

-você sabe o que tanto ódio significa não é? –brinquei, sentando em suas costas.

-mais ódio? –ele chutou, desistindo de me derrubar.

-não! Amor! –pisquei um olho para ele. Eric bufou caindo na gargalhada. –agora chega de matar tempo baixinho, vamos trabalhar.

-EU MATANDO TEMPO?! JACKSON! –ele falou se levantando em um pulo quando finalmente o soltei. Ele deu um soco em meu ombro, me fazendo rir. –você é tão injusto. –mandei um beijinho para ele, que ficou vermelho e semicerrou os olhos em minha direção. –você é desprezível!

[Maggie]

-o que vai querer comer? –Clara perguntou já com um cardápio do restaurante na mão. Suspirei pesadamente e corri os olhos pelos nomes dos pratos.

-não tenho idéia. –dei de ombros. –talvez uma salada...

-AH, POR FAVOR NÉ! –Clara reclamou. –hoje é seu aniversário, vai... Extravasa.

-libera e joga tudo para o ar! –revirei os olhos. Ficamos em silêncio por um curto segundo, antes de começarmos a gargalhar.

-o que acha que os meninos estão fazendo agora? –Clara perguntou suspirando.

Eu não entendia muito bem qual era a dela e de John. Eles ficavam juntos o dia inteiro, e, quando se largavam por algumas horas que fosse, Clara ficava com aquele arzinho de criança que está sem brinquedo. Me perguntei se, por acaso, eu ficava dessa forma também quando Jackson estava longe. Não gostei de ter automaticamente soltado um suspiro ao perceber que eu só o veria a noite. Mas que coisa!

-se alongando para o jogo? –chutei dando de ombros. Clara me observou com um sorriso fraquinho no rosto.

-tem razão!

-tenho? –ergui uma sobrancelha.

-sim! –ela riu, voltando a atenção para o cardápio. Eu hein! Que gente mais estranha.

 

[Jackson]

Soltei um suspiro pesado olhando para o prédio antigo. Eric ao meu lado engoliu em seco e John, pelo o que eu pude ver pelo retrovisor, tremia dos pés até a ponta dos cabelos. Engoli em seco e abri a porta do carro, com uma coragem que eu realmente não tenho certeza de onde tirei.

-por que você deixou o Bartolomeu aqui? –Eric engoliu em seco.

-por que minha mãe é alérgica a gatos. –dei de ombros, desconfortável. –e depois... Maggie iria desconfiar se eu aparecesse aranhado todos os dias.

-e daí você resolveu deixar o presente da sua namorada na casa da sua tia-avó? –John perguntou correndo para meu lado. –isso não parece uma coisa muito legal para se fazer.

-vocês são tão medrosos. –revirei os olhos. –o que de tão ruim pode acontecer?

-você sabe a fama que esse prédio tem! –John disse me olhando com o canto dos olhos.

Eu sabia muito bem sobre o que John estava falando. Aquele era o prédio mais velho que BeeVille tinha (e um dos únicos também, mas isso não vem ao caso), e muitas histórias surgiram com o passar dos anos. Algumas nem eram de verdade, mas outras, como por exemplo, a garota que se matou após ter visto o namorado com outra era a triste realidade do prédio. Até hoje o dono do apartamento onde a menina morava com os pais não conseguiu vender o imóvel.

É claro que o simples fato de morar no apartamento onde uma menina se matou não assustou todos os compradores. O que assustou de verdade é o fato de que supostamente poderia ouvir “vozes” durante a noite. Eu sinceramente não acreditava, mas era aquela coisa: Também não queria pagar para ver.

-eu sei. –disse revirando os olhos. –mas vai ser rápido, olha só: nós pegamos o elevador, vamos até o quinto andar, pegamos o Bartolomeu e então voltamos para o carro. Fácil, não?

-esse é o problema! –John engoliu em seco passando pelo portãozinho marrom. –fácil de mais!

Fomos para a portaria e o porteiro estava dormindo. O que era uma boa coisa, assim simplesmente evitava perguntas. Não queria ter que dizer que minha mãe tinha uma chave do apartamento da minha tia-avó para o caso de emergências. É claro que a titia Lu (Luzia) sabia que o Bartolomeu estava “hospedado” na casa dela. Qual é?! Ninguém consegue ficar dois dias sobre o mesmo teto que aquele animal sem perceber a presença dele! E ela tinha ficado bem feliz por ter “companhia” por algum tempo. Mesmo que fosse apenas de um gato neurótico.

-para que lado? –Eric sussurrou, olhando em volta e tentando achar o elevador.

-ali baixinho. –apontei para as duas portas marrons. Eric fez menção de abrir uma porta, mas eu o puxei de volta. –esse está estragado, pega o outro.

-onde está a placa para avisar? –Eric ergueu uma sobrancelha.

-sem placas. –dei de ombros.

-então como sabe...

-alguns cabos soltos. –sorri de canto, vendo John arregalar os olhos e Eric engolir em seco. ADORO! HAHA!

Apertei para subir até o quinto andar e a porta de metal se fechou, preguiçosa e demoradamente. Eric se encostou a parede e olhou em volta. Eu não tinha certeza se ele estava com medo de verdade, ou apenas desconfiado. Para todas as ocasiões mantive a fachada tranqüila.

-meu deus... –John falou olhando para o ponteiro do elevador. –parece que vamos chegar ao inferno, e não ao quinto andar. –reclamou passando as mãos pelos braços.

-SHIU! –Eric fez colocando o indicador na frente dos lábios. –não fala isso que atrai! –ergui uma sobrancelha para o loirinho ao meu lado.

-você realmente acredita nisso? –não que eu fosse completamente cético, mas, sabe como é, Eric sempre foi o “Acredito na ciência e nada a mais” então achei realmente estranho.

-não estou em condições de brincar com essas coisas. –ele disse e mordeu o lábio inferior. –vamos elevador, chega logo...

E então, como o maldito elevador ouvisse as pressas de Eric, o apito sinalizando que estava parando finalmente soou e, com um pequeno soco, senti que paramos de subir. Troquei um olhar nervoso com John, pensando se tínhamos parado no andar certo ou aquela coisa havia parado por que tinha quebrado. Sabe como é... Nem em meus piores pesadelos eu tinha pensado em morrer dentro de um elevador.

-ah meu deus! –Eric choramingou batendo na porta.

-calma Eric, é só... –e, com um estrondo de coisa quebrando, as portas se abriram. Imaginei se não tínhamos realmente ido para o inferno, como John tinha sugerido.

-AH! TERRA FIRME! –Eric se jogou para fora, deitando de barriga para baixo no chão escuro. –na volta, nós vamos pelas escadas!

-pode apostar! –sorri o ajudando a levantar.

-podemos, tipo assim... IR LOGO! –John falou olhando em volta, ainda passando as mãos nos braços como se tentasse se aquecer.

Começamos a vagar pelos corredores tentando achar o apartamento de número 508. Eu não tinha certeza quantos apartamentos tinham por andar, mas se fossem oito com toda a certeza eram muito apertados. Dei uma olhadinha para meu lado, apenas para constatar o obvio... Eric estava com medo.

Revirei os olhos tentando não dar risada. Grande corajoso que ele era! 504, 505, 506, 509... 509?!

Dei um pulo, voltando a olhar as plaquinhas dos outros apartamentos. O que aconteceu com o 507 e 508?! John viu o mesmo que eu e piscou os olhos freneticamente. Duas opções: Ou estávamos loucos, ou Alguém estava tentando brincar com a nossa cara.

-o que aconteceu com... –John começou, parado no meio do corredor ainda olhando para as portas, com os ombros caídos.

Tudo bem, agora a coisa estava começando a ficar meio sinistra. Engoli em seco e olhei em volta, vendo o longo corredor acabar em parede, e não em outro corredor como era de se esperar.

-talvez tenha ficado para trás e não percebemos. –falei voltando alguns passos. Mas os números acabavam em 504 e sem sinal de 507 e 508. Engoli em seco e peguei o celular no bolso. Sem sinal! DRO-GA!

-AH MEU DEUS! –John falou colocando as duas mãos na cabeça. –nós estamos presos em uma daquelas dimensões paralelas que tentamos sair de todo o jeito e nunca conseguimos! AH MEU DEUS! –ele sentou no chão, com os olhos ainda esbugalhados.

-John, o que você assistiu antes de dormir? A caverna do dragão? –ergui uma sobrancelha. –tem que haver uma explicação lógica.

John ainda estava sentado no chão olhando para os lados como se a qualquer momento fosse sair monstros por aquelas portas e então teríamos que lutar contra eles. Qual é? Nem Eric parecia... Cadê o Eric? Quando comecei a olhar em volta, atrás de meu cunhado recém-desaparecido, ouvi um assovio.

-EI! Machões! –Eric falou apontando para um lado. –aqui tem um corredor com o 507 e 508. –ele disse com um sorriso ligeiro. Eu e John trocamos um olhar e corremos até lá.

-tudo bem, agora eu concordo... Vamos pegar o Bartolomeu e então vazamos daqui, beleza? –disse tocando a campainha do apartamento de minha tia.

-concordo completamente. –John gemeu.

Demorou pouco mais de meio minuto para que eu ouvisse o barulho dos pés arrastando de tia Lu. John trocou o peso do corpo de pé, impaciente, e cruzou os braços sobre o peito. Eric ensaiou um sorriso, no mesmo segundo em que a porta foi aberta abruptamente, fazendo com que déssemos um pulo.

-AAAH! JACKSON! –Tia Lu sorriu. –que bom que vocês vieram! Olha que amiguinhos mais lindos que você trouxe para eu conhecer. –John me olhou desconfiado e Eric já sorria abertamente.

-Olá. –o baixinho falou com as bochechas coradas.

-olá, qual o seu nome? –Tia Lu sorriu, por trás de uma grande mecha de cabelo branco que parecia com uma nuvem.

-Eric. –ele respondeu ainda sorrindo.

-prazer Eric, eu sou a Tia Lu do Jackson. –ela continuou sorrindo e então olhou para John. –e você, quem é?

-hm, John. –meu amigo disse com a voz tremulante.

-que nome bonito. –ela continuou sorrindo. –vocês têm tempo para tomar um chá, ou precisam terminar de organizar as coisas para o aniversário de sua namorada, Jackson?

-hm, na verdade estamos um pouco sem tempo. –mordi o lábio inferior me sentindo meio culpado.

-tudo bem, eu entendo. –ela ainda mantinha o sorriso. –mas me prometam que viram me visitar novamente.

-claro que sim Tia Lu! –sorri abertamente, olhando em volta para ver se achava Bartolomeu.

Normalmente eu não gostava muito de parentes e coisas do gênero. Eu sempre fora aquele que preferia ficar na dele a se misturar. Nunca fui do tipo “social” e para ser sincero não entendia como a maioria das pessoas podia ser dessa forma. Acho que no fim das contas eu era o estranho da casa. Mas Tia Lu era diferente. Ela tinha um jeito que fazia com que eu me sentisse bem, apesar do lugar pavoroso no qual ela morava.

-ah, o Napoleão está dormindo no sofá. Vou lá pegar ele. –ela deu as costas indo para o sofá, onde um montinho de pelo preto e branco ressonava. Achei que poderia ser um pouco indelicado corrigi-la, dizendo que o nome do gato era Bartolomeu e não Napoleão. Achei que talvez Tia Lu e Maggie se dessem bem por causa de toda aquela coisa de “Tifanny e Britany”

-obrigada. –falei pegando o gato neurótico no colo. –de verdade Tia Lu.

-ah. Está tudo bem. –ela deu de ombros. –é bom ter companhia de vez em quando. –ela sorriu. –ah, deixa eu te dar uma coisa para você levar para sua mãe...

E com isso ela voltou para dentro de casa. John fez careta para o gato que fazia um som parecido com um miado baixo, que provavelmente queria dizer que ele iria tentar me matar em poucos segundos.

-aqui está. –Tia Lu deu uma sacola de loja para John segurar. –são umas panelas de sua avó, acho que sua mãe vai querer ficar com elas. –ela sorriu dando de ombros. Panelas da minha avó?! Tudo bem, deixa para lá. Certas coisas eu nunca vou entender. –ah! Deixe eu pegar uma gaiolinha para você colocar o Napoleão, se não ele vai acabar te machucando.

John e Eric ergueram uma sobrancelha para mim do tipo “o que diabos...?”, mas não pude responder, por que um segundo depois Tia Lu estava de volta, com uma gaiola de passarinho e enfiando Bartolomeu lá dentro. A princípio parece que o gato odiou. EU ADOREI!

-então, nos vemos outro dia. –minha tia disse ainda sorridente. –vocês também meninos, venham me visitar.

-claro Tia Lu! –Eric continuou sorrindo. –nós voltamos.

-ah! Que lindo que você é, Eric. –minha tia acenou uma última vez e nós voltamos a vagar pelos corredores, esperando que achar a escada não fosse tão difícil quanto foi achar o apartamento.

-credo. –John falou. –que sensação estranha!

-louco! –disse rindo baixinho.

Ficamos em silêncio ouvindo apenas o som de nossos passos e a respiração pesada de John, que parecia que iria enfartar a qualquer segundo. Revirei os olhos e comei a prestar atenção em qualquer outra coisa.

Os passos de John eram mais largados, como se ele não se importasse com o que estava fazendo. Os de Eric eram leves e bem coordenados, enquanto os meus... Parei por um segundo, sentindo o coração vir à boca e voltar. Senti minhas costas gelarem e minhas pernas ficaram moles de repente. Os passos de John, os de Eric, os meus... E mais um.

Olhei para frente, vendo a porta das escadas lá no fim do corredor. Eu parecia ser o único ali ciente de que tinha um quarto barulho de passos. Eric olhava em volta, para a pintura descascada do corredor, enquanto John voltava a passar as mãos pelos ombros. Os passos pareciam estar mais perto e mais pesados.

Parei no meio do corredor, o que fez com que Eric e John parassem também. O quarto barulho parou no mesmo instante. Dei um passo para frente e John e Eric me acompanharam com uma sobrancelha levantada. A quarta pessoa/sei-deus-o-que também deu um passo.  Engoli em seco e olhei para trás, encontrando o corredor vazio.

“Coisa da minha cabeça”, tentei me convencer. É claro que não funcionou muito bem, já que eu tinha certeza que eu ainda não tinha ficado louco, mas não havia nenhuma outra explicação lógica para aquilo. E eu me recusava a sequer pensar que poderia ser o espírito da menina nos perseguindo. Mas o fato é que os passos sem dono estavam lá novamente, perto de mais.

-Jackson, pelo amor de deus, o que foi? –John ergueu uma sobrancelha.

-shiu! –fiz baixinho. –não estão ouvindo isso? –fez-se silêncio por mais alguns segundos, até que John e Eric arregalassem os olhos juntos.

-ah-meu-deus. –John sussurrou/choramingou. –nós vamos morrer!

-deve ser no andar de cima. –Eric falou alargando os passos.

-nós estamos no último andar. –falei olhando para o corredor vazio em minhas costas.

E então os barulhos cessaram. Eu suspirei aliviado por um segundo, já que estávamos praticamente em frente à porta das escadas. Eric mordeu o lábio inferior e ergueu a mão direita para tocar a porta.

Bem, duas coisas aconteceram a seguir, que fez com que tomássemos a decisão mais vergonhosa de toda a nossa vida: Um grito agudo e torturado cortou nossos ouvidos, fazendo com que os cabelos de minha nuca se arrepiassem. E a sacola que John segurava arrebentou, fazendo com que as panelas caíssem estrondosamente no chão.

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! –berramos juntos nos jogando para dentro da porta das escadas.

Bartolomeu berrou de dentro da gaiola, mas não dei atenção. Estava preocupado de mais em rolar escadas a baixo para pensar que talvez ele não chegasse vivo até o térreo. John, que ainda não tinha parado de gritar estava logo atrás de Eric, que corria com os olhos arregalados. Quando finalmente o fim das escadas chegou, nos jogamos sobre a porta, que cedeu com nosso peso, fazendo com que caíssemos de barriga no chão duro e frio.

O porteiro finalmente acordou com o barulho que fizemos. John estava com uma panela na cabeça, como se fosse um chapéu, enquanto Eric estava em cima de mim. O porteiro nos olhou como se fossemos loucos.

-está tudo bem rapazes? –ele perguntou erguendo uma sobrancelha.

-ahn... Sim. É claro que sim. –murmurei tentando voltar a respirar.

-VAMOS EMBORA! –John berrou correndo para o portãozinho. Eu e Eric nos olhamos uma vez antes de segui-lo.

(...)

Já em casa, cada um com um copo de suco de maracujá puro, tratamos de dar um jeito em Bartolomeu, que insistia em devorar o pé de minha cômoda. Qual é? Isso é uma coisa que se espera de um cachorro e não de um gato! Fala sério!

-sem nenhum pio sobre o que aconteceu hoje, certo? –John falou quando finalmente conseguiu falar.

-apoiado. –eu e Eric concordamos.

Eric segurou as patas de Bartolomeu enquanto eu tentava colocá-lo embaixo da torneira para dar um banho nele. É claro que não estava funcionando porque eu tinha me esquecido que o animal tinha boca. CÉUS! De onde esse gato tinha saído?

-sem querer desanimar, mas Maggie e Clara estarão de volta em uma hora. –John disse olhando no relógio de pulso.

-droga! –bufei. –como eu vou fazer para esse gato ficar quieto?

-já pensou em dar um sossega leão? –John falou dando de ombros. O fuzilei com o olhar. –o que foi? Gatos são parentes de leão, não são?

-hm... Por que não água morna? –Eric falou mordendo o lábio inferior. –sabe, eu odeio água fria... E lembro da Maggie reclamar que Lily também odeia.

-não custa tentar. –murmurei ligando o chuveiro e pegando a magueirinha que normalmente usava para dar banho em criança.

O gato miou mais uma vez, mas conseguimos finalmente colocá-lo embaixo da água.

[Maggie]

Estava começando a escurecer quando finalmente chegamos em casa. Estranhei o fato de Eric estar com todas as luzes apagadas, afinal ele ainda tinha medo de escuro, mesmo dizendo o contrário. Estranhei também que minha mãe estivesse em casa, mas a luz de seu quarto não estivesse acesa.

Clara desligou o carro e saiu do carro me acompanhando. Franzi a testa para ela, já que ela tinha dito que não poderia passar a noite comigo já que tinha um jantar de família. Tinha ligado para o Jack Estripador alguns minutos antes, mas o celular estava fora de área. Repuxei um canto dos lábios. Talvez a cidade que eles foram não tivesse rede. Dei de ombros.

-vou entrar com você. –Clara falou franzindo a testa. –está estranho tudo apagado.

-Eric deve ter dormido e minha mãe deve ter chegado mais cedo. –falei tentando parecer confiante.

-não me convence. –ela disse dando um sorriso ligeiro.

Coloquei a chave na fechadura e a virei, encontrando o escuro total. Engoli em seco, pensando que havia sido uma boa coisa Clara ter vindo comigo. Clara soltou um gemido baixo.

-talvez seja melhor darmos uma olhada aqui em baixo antes de subir... Sabe, só por precaução. –ela engoliu em seco novamente.

-é... –engasguei. –tem razão.

Apertei uma tecla qualquer do celular e comecei a andar pela sala, depois pela cozinha. Quase enfartei quando vi que a portinha dos fundos da casa estava apenas encostada. Iluminei o rosto de Clara e percebi que ela fazia uma careta.

-e então...? –perguntei na duvida se queria ou não saber se tinha alguém lá fora.

-coragem mulher. –Clara insistiu se escondendo atrás de mim. Ah ta... Muito corajosa Clara!

Toquei com a ponta dos dedos a porta fria de metal. O esmalte vermelho de minhas unhas refletiu a luz amarelada que vinha lá de fora, franzi a testa respirando fundo e forcei para que a porta abrisse completamente.

-SURPRESA!

-AAAAAAH! –berrei no mesmo instante que as pessoas começavam a aparecer. Mantive uma mão sobre o peito, ouvindo a gargalhada de meu namorado e de Clara ao meu lado.

Pouco a pouco meus olhos foram começando a se acostumar com a claridade, já que agora minha mãe ligara as luzes do exterior da casa. Puxei o ar com força, ao perceber que todos meus amigos estavam ali. Até mesmo Simon, com o maldito game-boy.

-ahn... –resmunguei olhando em volta.

-parabéns. –Jackson sussurrou em meu ouvido, envolvendo minha cintura com seus braços. Sorri abertamente e agarrei seu pescoço, colocando minha cabeça no vão de seu ombro.

-obrigada. –disse sorrindo feito uma retardada.

-e, a propósito, eu não tinha jogo hoje. –ele falou rindo.

-eu imaginei. –semicerrei os olhos erguendo a cabeça.

-Maggiezinha, está me devendo uma. –John falou me abraçando rapidamente. Clara deu um cutucão em suas costelas. –mas... Vou deixar para cobrar amanha.

Sorri para todas as pessoas que estavam ali, até mesmo o Seu Madruga apareceu, com um pacotinho de presente que continha duas entradas para o show da Britney que aconteceria em Dallas. Eu nem sabia como agradecer... Na verdade, Jackson fez isso por mim, dando um beijo melado de brigadeiro na bochecha do homem. Preciso dizer que ele ficou roxo?!

Lá longe vi meu irmão conversando com uma menina loirinha de sardas. Sorri sozinha, percebendo que talvez aquela fosse a tal da Mercie. Jackson me abraçou outra vez, enquanto minha mãe começava a contar alguma trapalhada de meu namorado, John e Eric naquela tarde. Sorri abertamente, sentindo alguma coisa diferente. Como se, aquele ali, fosse o lugar que eu sempre pertenci.

(...)

(http://www.youtube.com/watch?v=WgR9v7O5lVQ&feature=related escutem, por favor...)

O Seu madruga foi o último a sair de casa, levando Mercie com ele. Parece que o homem conhecia os pais da garota. Jackson me deu um último beijo antes de correr para o carro sussurrando em meu ouvido que estaria de volta em alguns minutos. Aproveitei o tempo para tomar um banho e colocar um pijama.

Bocejei e terminei de escovar os dentes, vendo sobre a pia do banheiro o kit de maquiagem que Clara havia me dado. Era engraçado pensar naquelas coisas. Jackson havia comprado um gatinho, que, segundo ele, era neurótico. Lily adorou o novo amigo e eu estava feliz. Os dois pareciam estar destruindo o quarto de Eric no momento (já que ele berrava que tinha que salvar o Frog).

Ri baixinho, ouvindo os passos de meu irmão que corria pelo quarto. Entrei no meu quarto e Jackson já estava deitado na cama, folhando uma revista que eu tinha comprado no shopping com Clara.

-ei, você demorou. –ele fez bico abrindo os braços. Desliguei a luz, deixando que apenas a luz do abajur iluminasse o cômodo.

-precisava de um banho, escovar os dentes, pentear o cabelo... –comecei a enumerar nos dedos. –e sem falar que eu nem sequer sequei, olha só. –mostrei o cabelo molhado para ele, me ajeitando ao seu lado.

-tudo bem, eu entendo. –ele riu me abraçando.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas olhando um para o rosto do outro enquanto sorriamos fraquinho. Jackson tirou uma mecha de cabelo do meu rosto, se abaixando para me dar um beijo. Abracei seu pescoço e suspirei.

-obrigada. –murmurei ainda sorrindo para ele.

-por...

-por tudo. –dei de ombros. –mas, por que exatamente fez isso?

-bem. –ele mordeu o lábio inferior. –achei que fosse obvio.

Ele se ajeitou na cama, me puxando para seu peito enquanto uma de suas mãos fazia desenhos em minhas costas. Passei uma mão sobre seu ombro, me sentindo mais confortável do que nunca.

-and I Will Love you, baby, always. And I’ll be there forever and a Day. I’ll be there till the stars don’t shine, Till the heavens burst and the words don't rhyme. And I know when I die, you’ll be on my mind. And I Will Love you always. –ele cantou baixinho em meu ouvido, fazendo carinho em meu cabelo. Ri baixinho.

(E eu vou te amar, querida, sempre. E eu estarei lá para sempre e mais um dia. I vou estar lá até que as estrelas parem de brilhar, até os céus explodirem e as palavras não rimarem. E eu sei que quando eu morrer, você vai estar em meus pensamentos. E eu vou te amar sempre.Always – Bom Jovi)

-você realmente gosta de Bom Jovi. –observei o olhando rápido.

-culpa de meu pai. –nós rimos. –mas é verdade...

Sorri para ele, me apoiando sobre o cotovelo e tocando seus lábios com os meus.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu me empolguei escrevendo esse capítulo! HSUAASUIDASHIUAHDIAUDHASUI espero que tenham gostado! ++
beeeijos e comentem!



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