Tapiando o Destino escrita por caroline_03


Capítulo 20
Liberte-se


Notas iniciais do capítulo

:*



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[Maggie]

Agradeci mentalmente por ainda termos uma semana de férias. Agradeci por Eric ter ido dormir muito tarde no dia anterior e não ficar assistindo TV no volume total na sala durante a manha. Me encolhi mais um pouco entre meus edredons e arrisquei um olhar para a janela. O quarto estava todo escuro por causa do blackout, mas ainda podia ver uma pequena fresta de luz do sol passando entre os pequenos furinhos.

Olhei no relógio no criado mudo, vendo que já passava das onze da manha. Ah, doce sejam as férias. Sorri sozinha e me virei na cama mais uma vez, encostando os braços na parede gelada ao meu lado. Rapidamente comecei a lembrar da noite anterior, em que eu “quase matei definitivamente” meu irmão. Como se eu já não tivesse feito isso milhares de vezes antes.

—Flashback—

Jantávamos enquanto assistíamos a novelas mexicanas na TV (Eric incomodava para que trocássemos de canal para que ele pudesse assistir Low And Order). Tínhamos pedido comida no novo (e único) restaurante japonês da cidade, quando meu adorável irmão faz o comentário do ano...

-eu tenho uma dúvida. –ele falou colocando um tanto de macarrão na boca. –agora que você e o Jack estão namorando, quando ele vir aqui nos sábados à tarde, vai ser para jogar vídeo-game comigo ou para ver você? –ele falou franzindo a testa e me olhando com os olhos semicerrados.

-hm, acho que um pouco dos dois, querido. –minha mãe respondeu rindo, espetando um pedaço de frango com o garfo.

-hm, sei... –ele bufou desconfiado.

-agora sou eu que tenho uma dúvida. –falei um segundo depois de refletir. –você está com ciúmes de mim ou do Jack Estripador? –ergui uma sobrancelha desconfiada.

-Megan, Megan, Megan... –ele disse sacudindo a cabeça. –o ciúmes é apenas um sentimento imaginário criado pelo ser humano quando sentimos que nosso território está sendo ameaçado, podendo provocar assim vários problemas, como, por exemplo, a imunidade baixa, acarretando em milhares de problemas de saúde, inclusive. Faz parte do cotidiano, é muito comum. Se você soubesse a quantidade de pessoas por aí que sofrem de doenças causadas por conflitos emocionais iria se assustar e pensar duas vezes antes de ter outro sentimento na vida. É por isso que médicos e especialistas nessas áreas estão cada vez mais sobrecarregados e salas de terapias em grupo cada vez mais cheias. Os seres humanos estão perdendo sua consciência de individualidade. –ele sorriu confiante e eu e minha mãe continuamos olhando para ele por um segundo a mais do que o necessário.

-mãe... –chamei piscando os olhos ainda focando meu irmão.

-o que? –ela perguntou também focada em Eric.

-você fez o download dele do Wikipédia? Ou o achou perdido no meio de um livro da barsa? –perguntei ainda horrorizada.

-estava pensando na mesma coisa. –ela riu.

-NÃO ME DIGA QUE VOCÊ REALMENTE ACREDITA QUE BEBÊS VÊM DE DOWNLOADS! –Eric berrou, me olhando com aqueles olhos azuis arregalados.

-pfff... Eu sei como bebês nascem Eric. –revirei os olhos.

-ótimo! –ele suspirou aliviado. –não entendo por que as pessoas não entendem que o embrião deriva da junção das células gaméticas feminina e masculina, juntando vinte e três cromossomos do pai, mais vinte e três cromossomos da mãe, sendo um par deles cromossomos sexuais que darão origem ao sexo da criança. XX feminino, ou XY masculino. Uma pequena falha nos pares cromossômicos e dará origem a uma série de... –peguei o controle da TV e acertei a cabeça dele. –MÃE, A MAGGIE ACERTOU O CONTROLE EM MIM!

-desculpa, é só que eu não achei o botão para te desligar. –dei de ombros desesperada. Céus, meu irmão é um mutante. Eric me encarou com o rosto vermelho, enquanto a gargalhada de minha mãe ecoava por todo o cômodo.

—Fim de Flashback—

Ri um pouco me lembrando do galo que tinha ficado na testa de Eric. Mas o que eu podia fazer? Ele estava fora de controle! Estiquei o corpo, ouvindo toda a coluna estralar e reclamar, mas não dei muita importância.

-Maggie? –Eric chamou, abrindo a porta do quarto o suficiente para que apenas um de seus olhos pudesse estar a mostra.

-diga tampinha. –falei me sentando na cama.

-Jack no telefone. –ele abriu mais a porta e me trouxe o sem-fio, com uma bolsa de gelo na testa.

-não vai funcionar, o galo já está aí. –ri um pouco antes de colocar o telefone na orelha. –alô?

-tem alguém que está de bom humor. – ele notou rindo, pelo barulho que podia ouvir, ele estava dentro do carro.

-é, parece que sim. –sorri um pouco, vendo que meu irmão ainda estava plantado ao lado de minha cama com a testa franzida. –está querendo ficar com outro galo na cabeça?

-não, estou esperando que você termine de usar, por que eu também preciso fazer uma ligação. –ele disse de mal humor.

-hm, tudo bem. –ergui uma sobrancelha para ele. –desculpa, Eric está me irritando.

-ele sempre está te irritando. –Jackson notou surpreso.

-é, mas acho que hoje ele está passando dos limites. –meu irmão fez careta para mim. –oras sua peste...

-tudo bem, depois você tortura o pobrezinho. –Jack Estripador riu do outro lado da linha. –lembra da promessa que eu te fiz?

-hm, é claro que sim... Falamos sobre isso ontem. –mordi o lábio inferior me lembrando da idéia insana que ele tinha tido.

-então, quer levar à diante? –ele parecia meio receoso, mas parecia sincero em sua tentativa.

-hm, é claro que sim... Acha que vai dar certo?-comecei a mexer a perna freneticamente e Eric sentou-se nela para fazê-la parar.

-só vamos descobrir se tentar. –ele disse confiante. Eu podia ouvir o sorriso em sua voz, mesmo não estando ao seu lado.

-nesse caso... Que horas nós vamos? –mordi a ponta do dedão e Eric bufou impaciente.

-passo te buscar em meia hora, pode ser? Daí, podemos almoçar juntos e levar Eric também... Ou sua mãe vem almoçar? –bufei mais por que Eric estaria junto do que por qualquer outro motivo, mas tinha que confessar que tinha dó de deixar o pestinha sozinho... Vai que ele colocasse fogo na casa?!

-não, ela vai ficar no escritório. –Eric ergueu uma sobrancelha para mim.

-o que vocês... –Eric começou sussurrando.

-SHIU! –fiz antes que ele pudesse terminar de falar.

-tudo bem, fique pronta. –e depois disso, Jackson desligou o telefone e eu entreguei o aparelho para meu irmão.

-vamos almoçar com Jackson, então fique pronto, que depois de fazermos o... Uma coisa, nós viremos te pegar. –falei pulando da cama e correndo para o guarda-roupa.

-eu preciso mesmo ir com vocês? –ele perguntou fingindo desanimo.

-eu não vou fazer comida para você. –avisei sorrindo torto ao abrir o blackout.

-como se o que você faz pudesse ser considerado comida. –ele revirou os olhos indo para a porta. –mas tudo bem, já que você insiste TANTO.

-Vai se catar Eric. –disse antes de correr para o banheiro do corredor. Que irmão mais folgado.

(...)

Jackson apareceu pontualmente meia hora depois. Seja lá o que Eric achou que iríamos fazer, mas ele simplesmente mudou de idéia depois de perceber que o carro de Jackson estava amarrotado de balões coloridos. Eu não tinha certeza de quantos tinham ali, mas, com toda a certeza, o Pernalonga poderia voar com eles tranquilamente.

-vocês vão trabalhar no circo ou alguma coisa assim? –meu irmão perguntou ainda olhando para o carro desconfiado.

-e ainda estouraram alguns pelo caminho. –Jackson respondeu rindo.

Olhei para caixinha em meus braços e pensei uma milésima primeira vez naquilo que eu iria fazer. “Algumas coisas não foram feitas para serem trancadas a sete chaves” Jack Estripador falou enquanto afagava meus cabelos na tarde anterior “algumas coisas merecem simplesmente... Ir” ele falou rindo um pouco. Mordi o lábio inferior e cheguei a conclusão que no fim, ele estava certo, mais uma vez.

-voltamos depois para te pegar, certo? –falei para Eric entrando no carro, tirando alguns balões do caminho.

-ah, não se preocupem comigo... Afinal, eu nem sinto fome. –ele choramingou no portão enquanto nos olhava com cara de cachorrinho que caiu do caminhão.

-não vai demorar muito. –Jackson falou rindo.

-vá comendo algumas bolachas de água e sal, não engordam e enchem a barriga. –sorri irônica para ele.

-HAHA, Maggie, HAHA. –ele bufou antes de Jackson dar partida.

(http://www.youtube.com/watch?v=TtGY4G7II6s POR FAVOR, ESCUTEM ESSA MÚSICA! ++)

Eu não tinha certeza para onde estávamos indo, mas a cada segundo a cidade ficava para trás, e avançávamos ainda mais para a pequena colina que cercava BeeVille. Tentei olhar para trás e ver o quanto longe estávamos da cidade, mas uma montanha de balões impediu totalmente minha visão.

-por que tantos balões? –perguntei curiosa, o olhando com o canto dos olhos.

-bem, tem que ser muitos para conseguir levantar uma cesta. –ele sorriu de canto, me olhando rapidamente, enquanto apontava para meus pés a cestinha, que até então eu me perguntava para que serviria.

-então a cestinha está nos planos. –perguntei mordendo os lábios.

-não caberia nada aqui dentro que não está nos planos. –Jackson riu, tirando uma bexiga de seu colo e a jogando por cima dos ombros.

Não demorou muito até que ele finalmente estacionasse o carro e sorrisse uma última vez para mim, abrindo a porta do carro e me chamando com apenas um dedo. Olhei para a direção que ele apontava e vi apenas o campo aberto, livre de arvores de construções (relativamente) modernas.

-vou pegar os balões. –ele falou sorrindo e correndo para o carro, enquanto eu me sentava sobre a grama, ainda olhando para aquela pequena baixada.

Jackson veio para meu lado, segurando todos aqueles balões por inúmeras cordinhas de barbante. Ele sorriu se sentando também, olhando para a cestinha ainda vazia enquanto eu abria minha caixinha e começava a colocar as coisas ali dentro.

-acha que podemos ser presos por alguma coisa? –Ele perguntou olhando para os balões.

-não tenho idéia, Eric provavelmente saberia. –ri um pouco dobrando algumas fotografias ao colocar no fundo da cesta.

-bem, acho que vamos descobrir daqui algum tempo. –ele riu começando a amarrar os barbantes na alça de madeira.

Levou alguns minutos até que todos os balões estivessem bem firmes, e ainda assim perdemos alguns deles, que foram levados pelo vento. Suspirei pesadamente, percebendo que estava tudo pronto.

-você tem certeza? Nós podemos simplesmente estourar todos os balões e ir almoçar. –Jackson deu de ombros olhando para o céu extremamente azul daquele dia.

Pensei por um segundo e então sorri um pouco, sacudindo a cabeça logo em seguida. Eu não tinha certeza do que me dominou naquele instante, só sabia que alguma coisa me dizia que aquilo era o certo a se fazer. Deixar que velhas lembranças e sofrimentos fossem embora, e deixar que um sorriso sincero acontecesse.

-está tudo bem. –sorri abraçando sua cintura.

-bem, então vou soltar. –ele falou agora segurando a cesta apenas pela alça.

-espera! –falei me lembrando de um pequeno detalhe.

-o que foi? –ele franziu a testa para mim.

-isso... –coloquei a mão no bolso do jeans e achei a correntinha que Bryan tinha me dado na ultima vez que nos vimos. Nunca tinha tido coragem de jogá-la fora. O lixo não me parecia um lugar apropriado para lembranças que eram minhas. –deve ir para o lugar dele.

Sorri um pouco, enrolando a corrente prateada envolta dos cordões e fechando o fecho com força para que ela não pudesse simplesmente escorregar durante a viagem para sei lá onde. Jackson sorriu abertamente para mim, passando o braço em minha cintura, e beijando o topo de minha cabeça carinhosamente.

-posso soltar? –ele perguntou com os olhos verdes brilhantes. Assenti calmamente.

-pode.

E então ele o fez... Os balões abaixaram um pouco com o peso da pequena cesta, mas depois começou a se afastar lentamente com o vento, sem nunca atingir o chão. Não tenho certeza se foi apenas o vento, ou talvez minha vontade de que tudo aquilo fosse embora, mas, com um pequeno impulso do que eu chamaria de destino, a cesta começou a tomar altitude, ficando cada vez mais alto e mais distante de nós. O brilho da correntinha me cegou uma última vez, até que finalmente saísse de vista.

Jackson me abraçou por trás enquanto continuávamos sentados na grama, ainda olhando para todos aqueles balões coloridos que voavam livremente agora. Repousou o queixo em meu ombro e eu repousei minhas costas em seu peito, deixando que todas as boas sensações que aquilo me causava, pudesse me controlar completamente.

-sabe que você é a pessoa mais corajosa que eu conheço? –ele sussurrou em meu ouvido, afastando alguns fios de cabelo que cobriam minha orelha.

-está só brincando. –falei sorrindo fraco.

-na verdade, não estou não. –ele abraçou minha cintura com mais seriedade, beijando meu ombro e meu pescoço logo em seguida.

Eu sempre fora aquela que fugira da realidade. Aquela que, se existisse apenas uma maneira de enrolar, eu daria mil desculpas e enfrentaria mil barreiras, menos aquela que eu mais precisava. Pensei que, se me escondesse atrás de uma mascara de bravura, estaria colocando tudo o que sou em segurança, mas é claro que eu estava errada outra vez.

Deixar que todas as lembranças de um tempo ruim fossem embora. Ouvira aquilo durante todos os dias de minha vida. Era exatamente aquilo que estava fazendo no momento, apesar de eu ter certeza de que minha mãe não falava tão literalmente assim, achei que era uma boa maneira de começar.

Não precisava de muito para me partir ao meio. Na realidade, bastava usar exatamente o mesmo material de que meus muros eram feitos, e rapidamente teria a frágil Megan de volta. Soltei um risinho fraco, sentindo a respiração de Jackson em minha nuca.

-o que está fazendo? –perguntei virando um pouco a cabeça para encontrar seu rosto.

-EU?! –ele fingiu inocência. –nada, nada.

Um beijo no queixo, um beijo no canto dos lábios, uma mordida na bochecha, uma mordida no lábio inferior, até que eu finalmente me cansasse desse joguinho e segurasse seu rosto com minhas duas mãos e franzisse a testa.

-já disse que você é terrivelmente insuportável? –comentei sorrindo de canto.

-todos os dias de sua vida. –ele revirou os olhos.

-é bom que esteja ciente. –ri um pouco e então selei nossos lábios, sem me importar muito com mais nada.

(...)

Quando voltamos para casa mais tarde, encontramos Eric em uma situação um tanto quanto, hm, embaraçosa... Lá estava ele, com a cabeleira loira embaixo da torneira enquanto ele fazia bolhas de ar com a boca na água. Eu e Jackson trocamos um olhar preocupado.

-Eric? –chamei apreensiva.

-ainda bem que vocês chegaram. –ele falou tirando a cabeça de debaixo da água e nos olhou apavorado, os cabelos molhavam toda sua roupa.

-o que ta acontecendo baixinho? –Jackson perguntou se encostando na parede e o olhando divertido.

-Mercie Grey me convidou para sua festa de aniversário. –ele falou apavorado.

-e... –eu e Jackson falamos juntos.

-e que ela é uma menina! –ele falou apavorado. Eu e Jack Estripador trocamos um olhar rápido antes de ambos caírem na gargalhada. –do que vocês estão rindo? –ele perguntou irritado.

-você fala como se fosse o fim do mundo. –comentei ainda rindo.

-mas é o fim do mundo... –ele fez bico. –e se eu pagar mico? E se eu fizer alguma coisa errada? E se ela tiver me convidado apenas para me fazer de idiota e fizer com que todos da escola riam de mim por que eu assistia As Meninas Super Poderosas quando era pequeno?!

-calma aí, calma aí... –Jackson estendeu as duas mãos para o alto. –você assistia as meninas super poderosas?

-ainda assiste escondido. –sussurrei disfarçadamente.

-VOCÊS NÃO ESTÃO ENTENDO A GRAVIDADE DA SITUAÇÃO! –ele chorou se sentando na tampa do vaso sanitário.

-é claro que não Eric. –revirei os olhos. –por que não tem gravidade da situação.

-mas...

-ela te chamou para ir à festa de aniversário dela, ponto. Você pode arriscar e ir, ou então ficar em casa e ficar se remoendo pelo resto da vida. É uma escolha bem simples se você pensar bem. –pisquei os olhos para ele.

-o que eu faço? –ele fez bico outra vez olhando para meu namorado.

-to com a Maggie. –Jackson deu de ombros sorrindo maliciosamente.

-vocês são dois inúteis! –meu irmão reclamou nos fazendo gargalhar. Crianças...

(...)

Resolvemos comer em casa mesmo, já que agora tínhamos uma missão muito mais importante do que nos alimentar. Agora tínhamos que deixar Eric no mínimo parecido com a lembrança de um humano comum e não a cópia de uma enciclopédia. Jackson tinha ido a algum restaurante buscar comida, enquanto eu buscava no armário de meu irmão alguma coisa que não gritasse “matemática”.

Confesso que era a coisa mais difícil que eu já tinha feito de uns tempos para cá. E isso inclui admitir meu suposto namoro com Jack Estripador e deixar as memórias de meu pai voar para além do horizonte, dramaticamente falando.

-Maggie isso é estúpido. –Eric reclamou sentado em sua cama.

-estúpido seria eu deixar você se arrumar sozinho! –revirei os olhos passando os cabides. –é capaz de você usar um jaleco de laboratório e colocar uma calculadora no bolso ainda.

-eu não usaria um jaleco. –ele falou como se fosse obvio até para uma criança de três anos. – mas não posso deixar Cal em casa se ela for ficar sozinha. –ele fez bico cruzando os braços.

-quem é Cal? –perguntei o olhando rapidamente.

-Cal... –ele sorriu abertamente. –Calculadora. –e riu.

-nem... Pense em uma coisa dessas. –ameacei o fuzilando com o olhar. Eric começou a rir descontroladamente.

Continuei passando os cabides começando a entrar em desespero. Desde quando meu irmão virou sócio da fabrica de roupas brancas e cinzas?! Xadrez? XADREZ COM GRAVATA VERDE MUSGO?! A coisa estava ficando mais feia do eu tinha imaginado em toda a minha vida.

Soltei um suspiro pesado e ouvi a porta lá de baixo bater, mas não dei muita atenção a principio. Em alguns minutos Jackson já estava no quarto, olhando em volta (provavelmente assustado com a pilha de roupas que mais tarde eu daria um jeito de queimar) e vindo para o meu lado.

-e aí? –ele perguntou olhando o mesmo que eu.

-nada. –suspirei pesadamente.

-vou ligar para John, ele tem um primo que tem mais ou menos o tamanho de Eric. –ele pegou o celular e sorriu para o tampinha, que bufava para tudo.

Com o problema da roupa mais ou menos resolvido, partimos para o segundo maior problema. Eric e atitude não são palavras que combinam na mesma frase, então teríamos que armar uma guerra com a Dona Gramática para chegarmos aonde desejávamos.

-isso está passando do limite de ridículo. –Eric bufou enquanto eu dava algumas dicas.

-Maggie, ele tem razão. –Jackson falou sorrindo de canto.

-como assim? –ergui uma sobrancelha desconfiada.

-você é menina, não pode dar dicas para seu irmão. –Jackson riu um pouco enquanto revirava os olhos.

-para a sua informação...

-CHEGA! –Eric berrou se colocando entre nós. –eu sei como isso vai terminar e eu não vou querer estar aqui para ver a troca de saliva entre vocês, então, POR FAVOR, vamos terminar com isso de uma vez?

-você faz isso parecer tão nojento. –comentei fazendo careta.

-tudo bem, tudo bem. Vamos lá, faça seu melhor. –Jackson se sentou ao meu lado, me passando um sanduíche de frango que ele tinha ido buscar.

-eu? Achei que você ia me ensinar. –Eric parecia desesperado.

-eu vou te corrigindo. –Jack sorriu encostando a lateral do corpo ao meu.

-tudo bem. –meu irmão coçou a cabeça. –e aí, pequena felina, está a fim de fazer uma circunferência comigo? –ele ergueu as sobrancelhas, sedutor.

Eu e Jackson ficamos em silêncio por um longo segundo antes de começar a gargalhar de verdade. O que dão para essas crianças comer hoje em dia?

-pequena felina? –eu disse engasgando com a gargalhada.

-circunferência? –Jackson tossiu ainda rindo. –Eric, baixinho, você deveria ser comediante.

-O QUE EU FIZ DE ERRADO? –ele berrou chateado. Paralisei no meu lugar.

-por favor, diga que você estava só brincando. –falei começando a ficar horrorizada. Eric fez apenas outro bico gigante. –epa... Grande problema a vista.

-você está sendo generosa quando diz “grande”. –Jackson suspirou ao meu lado.

Jackson se levantou da cama em um pulo e foi para o lado de Eric, o analisando da cabeça aos pés por um segundo ou dois, depois apontou para uma cadeira, indicando para que ele se sentasse lá.

-esqueça as palavras difíceis. –meu namorado falou.

-pensei que meninas gostassem de ser cortejadas com palavras difíceis. –meu irmão falou pensativo.

-acredite em mim, é melhor quando elas entendem o que você está falando. –falei rindo baixinho.

-então, eu posso levar um dicionário junto. –Meu irmão abriu um sorriso enorme, se sentindo esperto.

-EU VOU JOGAR UM DICIONÁRIO NA SUA CABEÇA! –ameacei sentindo minhas bochechas pegarem fogo.

-sempre tão controlada. –Jackson revirou os olhos rindo. Bufei. –preste atenção Eric. Chame-a para conversar, ofereça sua bebida, pergunte sobre a vida dela, e POR FAVOR, não pergunte sobre as notas anuais da coitada. Entendeu?

-ok, conversar, oferecer refrigerante, perguntar sobre a vida dela e não falar sobre as médias anuais... Entendi. –o loirinho assentiu contando cada item nos dedos.

-fale sobre coisas banais, como o tempo, os filmes que estão passando no cinema, como o cachorrinho é irritante, coisas assim, entendeu? –completei sorrindo minimamente.

-entendi. –ele assentiu nos olhando atentamente.

-e, se ela te der abertura, a beije. –Jackson falou sorridente e meu irmão congelou de vez. Ah não que vamos ter que ensinar isso também.

-beijar? –ele parecia apavorado.

-é, você sabe... –Jackson deu de ombros e eu me perguntei se começaria algum tipo de aula teórica.

-mas isso é TÃO nojento. –Eric parecia horrorizado de verdade e eu não tinha idéia do motivo. Achei que com doze anos os meninos começassem a ver meninas como... Meninas.

-hein? –eu e Jackson fizemos juntos.

-você tem noção que quando você beija uma pessoa as bactérias que ela tem na boca permanecem na sua durante TRÊS MESES? E se ela tiver beijado outra pessoa antes? Eu vou ficar com as bactérias de uma terceira pessoa durante três longos meses na minha boca. –ele falou pausadamente com os olhos arregalados. (N/A: Não gente, sinto informar, mas eu não estou inventando isso... É a triste realidade. Eu não sou neurótica, não tenho culpa dessas coisas! :( HAHAAHAHAHAHAHAHAHA)

-hm legal... Obrigada por acabar com meu namoro. –Jackson disse fazendo careta.

-e qualquer outro namoro que eu pudesse ter no futuro. –respondi desgostosa. Jackson me olhou com uma sobrancelha levantada. –não que eu estivesse pensando em namorar outra pessoa, é claro.

-VOCÊS ENTENDEM COMO ISSO É NOJENTO? –ele gritou mais aliviado.

-se você disser isso para ela, eu juro que jogo sal no Frog... E você sabe o que acontece com um sapo quando se joga sal nele, não é? –sorri vitoriosa, me lembrando dos outros sapos de meu irmão que eu matara dessa forma (é claro que alguns outros eu deixei que Lilly “brincasse” com eles).

-mas, mas, mas...

-é isso mesmo. –continuei o encarando da mesma forma.

(...)

Finalmente vestido como um menino normal, mais parecido com um clone de algum modelo infanto-juvenil (eu até me orgulhei dele), Eric finalmente estava pronto para a festa. Mais ou menos, já que tivemos que fazer uma lista de coisas banais que ele poderia falar com a tal da Mercie Grey.

-Isso não vai funcionar. –ele continuava dizendo enquanto tentava arrumar o cabelo outra vez.

-se você encostar nesse topete, eu juro que uso cera quente nele. –ameacei voltando a arrepiar as coisinhas loirinhas dele.

-precisa de carona? –Jackson ofereceu do sofá.

-não, o pai de Victor vai... –o som de buzina o interrompeu. –Tchau para vocês. –ele falou apavorado.

-liga mais tarde que eu vou te buscar. –falei abrindo a porta para que ele passasse.

-tudo bem.

Assim que ele saiu subi as escadas novamente, pulando alguns degraus apenas para diminuir o percurso, e me joguei no sofá ao lado de Jackson, que já mantinha os braços abertos para me receber. Ele riu alto enquanto eu beijava seu rosto todo.

-enfim sós? –ele perguntou abraçando minha cintura e me puxando para cima dele.

-enfim sós. –comentei beijando seus lábios com urgência enquanto lentamente ele ia deitando no sofá, como normalmente sempre fazíamos.

-eu aposto que Eric demora vinte minutos para ligar desesperado, e você? –ele falou fazendo o caminho de minha coluna com a ponta dos dedos.

-eu aposto quinze. –rimos um pouco.

Coloquei minhas duas mãos em seu rosto, afastando minimamente o cabelo de seus olhos, tento amplamente para mim toda a luz que aqueles faróis verdes poderiam ter. Era besteira pensar naquilo, mas eu tinha a impressão que, a cada dia que eu passava ao seu lado, era como se todas as minhas forças se esvaíssem e tudo o que me mantinha viva, era aquele par de olhos que gostava tanto.

-sua mãe chega em cinco minutos. –ele avisou tirando uma mecha de cabelo de meu rosto.

-então, vamos aproveitar. –sorri voltando a beijá-lo.

Ele riu um pouco também, virando o corpo e deixando que seu peso caísse em cima de mim, enquanto suas mãos prendiam as minhas no alto de minha cabeça. Como se ele não soubesse que eu odiava aquilo. Ah ta... Como se ele não se divertisse com minha irritação.

Minha mãe chegou algum tempo depois e esperou pacientemente que contássemos toda a história de Eric e sua primeira festa noturna. Ela até riu de nossas ameaças e dos comentários que fazíamos da falta de jeito de meu irmão. Depois de tudo isso, ela simplesmente parou e nos olhou por um segundo, sorrindo abertamente.

-estão com fome?

-hm... Sim. –respondemos juntos e voltamos a rir.

-vou pedir pizza. –ela saiu rindo para pegar o telefone, e, mais uma vez, eu e Jackson nos abraçamos, apenas curtindo o bem que um fazia ao outro.

 

 

"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."
Clarice Lispector.


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Notas finais do capítulo

Amores da Carol ++
Nem demorei dessa vez, né?! ++ DHSAIDSAHIASHIDSAHASISAHAIUHSAUIDSAHIU
espero que tenham gostado do capítulo, confesso que esse foi um dos primeiros capítulos que eu pensei quando tive a idéia da fic! HDSAUIHDASIUDASHIASDAHSIUDSAHUIHDASUI
espero que tenham gostado de verdade, e logo, logo tem mais!
beeeijos gigantes da Carol.



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