O Chefe Da Minha Mãe escrita por Giolopes


Capítulo 7
Nos teus olhos...




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As coisas estão me cansando. Estão me deixando com tédio. É essa mesma rotina, os mesmos choros. Os mesmos medos, as mesmas incertezas. A mesma mágoa, mesma tristeza. A mesma distância. Os mesmos passos e os mesmos tombos. As mesmas coisas, sempre. Tudo tão pacato, tão sem cor. Uma bagunça, que mesmo eu arrumando hoje, amanhã estará como antes. As mesmas pessoas, e assim, as mesmas mentiras.

Talvez, ela só precise de um abraço aconchegante, e bem quente. Um bem demorado, com direito a repetições. Só precise de uma voz no ouvido, dizendo que vai ficar tudo bem, e que nada vai te fazer mal. Só precise de um colo onde consiga chorar sem medo de ser julgada. Talvez, ela só precise de alguém que tenha capacidade de cuidar, de amar, e de acima de tudo lembrar. De uma pessoa que fique ao seu lado quando for necessário, mas que não saia quando for desnecessário.

Talvez, ela precise ouvir a batida do coração de alguém, de um sorriso de canto de boca. De uma mão leve em seus cabelos, e de um perfume em seu nariz. De uma companhia pela noite sem sono, e alguém que esteja ao dispor de mandar mensagens pela manhã, e um pedido de boa noite na madrugada. Alguém que não desista dela, alguém.

Conviver com o casalzinho feliz por quase exatamente 18 horas no dia era insuportável ao ponto de me fazer pensar como eu gostaria que as coisas fossem diferentes para mim. Eu não me dava bem com minha irmã, nem com minha mãe, muito menos minha madrasta e a única pessoa que ainda se importava comigo um pouco era meu pai, que sempre andava ocupado.

Minhas roupas se bocas tivessem gritariam pela minha calma, eu as jogava e amassava-as dentro da mochila. Fui até o banheiro e tomei um banho gelado, voltei para o quarto e vesti uma roupa que eu havia separado. Ajeitei os cabelos e fiz uma maquiagem básica. Andei pelo quarto juntando minhas coisas como meus fones e joias:

_ Posso oferecer uma carona? – a voz masculina do Max soou em meus ouvidos. Encarei-o na minha porta encostado ao batente da mesma.

_ Não... – respondi ríspida e desviei o olhar jogando o resto das minhas coisas na bolsa e fechando a mesma.

_ Seu pai não está em casa, taxi no domingo demora horas, você não sabe dirigir... – ele disse me fazendo pensar na ideia de ir de bicicleta, mais me lembrei de que nessa casa não existe nada antiquado e que tenham duas rodas. Então suspirei e assenti jogando a mochila nas costas.

***

_ Se preferir deixa-la em algum beco ou hospício, não há problema. – Carrie disse agarrando o pescoço do rapaz enquanto eu revirava os olhos e sorria irônica.

_ Para de implicância! – resmungou o rapaz. Detalhe: Eu estava com os fones e eles achavam que eu não estava ouvindo nada, mas os fones estavam desligados.

_ Não entendo. Dias atrás vocês se odiavam mais que cão e gato. – ela disse meio desconfiada e irritada. Suspirei levando às mãos nas alças da mochila e ajeitando-as.

_ Nos conhecemos de maneira idiota. E muitos cão e gato viram amigos e aprendem a conviverem juntos. Pensei que quisesse isso! – respondeu o rapaz se afastando da garota e colocando as mãos nos bolsos.

_ É que a loucura da Maggie mexe muito com o psicológico da pessoa. Não deixe ela te fazer mal! – falou a que é terrivelmente certinha e embaralha os pensamentos das pessoas só em abrir a boca.

_ Francamente... – disse ele rindo debochado e fazendo sinal para mim com a cabeça, que defini como um ”-vamos-”.

***

Deixava meus olhos fixados nas paisagens que refletiam na janela do carro, elas passavam voando que meus olhos mal podiam distinguir os detalhes. Meus fones continuavam desligados, eu estava fazendo um papel idiota de estar com os fones no ouvido, sendo que nada tocava neles. Ajeitei-me ao banco e observei de relance o rapaz ao meu lado concentrado no volante. Uma mão guiava o veiculo e a outra estava posicionada em sua boca onde ele mordiscava uma unha. Detesto admitir, mais ele ficava ainda mais lindo quando estava concentrado em algo:

_ Carrie te deixa irritado? – perguntei depois de um longo suspiro e depois de retirar os fones do ouvido. Ele pareceu despertar de um transe e me olhou rapidamente.

_ Ela tem um modo de ser muito diferente do meu e do que mostra ser. – respondeu tirando a mão da boca e colocando junto á outra no volante.

_ Diferente do meu também. Acho que por isso que me julga tanto! – disse suspirando e me deixando levar por lembranças do passado. Eu sei que devemos olhar para frente, mas é diferente quando seu presente não chega nem aos pés do seu passado.

_ No entanto, você tem motivos de sobra para julga-la. – falou me encarando sorrindo meigo e assenti enquanto mordia os lábios, já virara mania isso.

_ Quando morávamos todos juntos, nós costumávamos defender uma a outra, hoje se pudesse nos matávamos. – falei enquanto viajava em meus pensamentos e vidrando na paisagem á frente: minha casa.

Ele parou o veiculo e desligou o mesmo. Retirei o cinto e o encarei meiga, coisa bem difícil:

_ Valeu pela carona! – falei sorrindo fraco.

_ Você não é tão chata assim... – ele disse rindo debochado.

_ E você não chega a ser os idiotas dos idiotas. – rebati rindo junto.

***

(Segunda-06h35min)

Acordo e fico deitada na cama olhando para o teto. Desligo o despertador com força, como se ele fosse o culpado de tamanho cansaço. Voltei para sensações passadas, os pequenos prazeres, os detalhes tão gostosos da infância. E lembrei-me de quando sentava na sala com uma sacola enorme de tampas de garrafa, meu avô pegava todas as tampas das garrafas do seu bar e juntava para me dar no fim do dia, eu amava fazer castelos com elas, o dia passava e eu nem via, tamanha era minha concentração. Era muito relaxante.

Lembrei-me do dia em que eu e todos os meus primos nos reunimos para montar um quebra-cabeça de 3 mil peças. Foi um dia memorável, sorrio, parece que consigo ver agora meu primo achando a última peça que faltava e os gritos de todos ao terminar, aquela reunião informal que começou cedo e terminou quase a noite foi tão divertida e aconchegante que eu viveria mil anos só naquele momento.

Também me lembrei do dia que eu queimei o vestido da minha irmã soltando um festejo de São João sem querer em cima dela, fiquei muito mal, ela chorava muito. Fui pedir desculpa, acho que foi a primeira vez que eu pedi a alguém, e ela me falou que estava tudo bem, que chorava por causa do vestido que foi presente do nosso pai que, mas que sabia que eu não tive culpa e que ainda gostava de mim “muito, muito”, palavras dela. Adorei aquela sensação de alívio e mal sabe a minha prima que ela me ensinou muito naquele dia.

Gargalhei deitada quando me lembrei de quando eu e minha irmã saiamos escondidas para brincar de queimada com nossos amigos, minha mãe ia nos buscar gritando e nós corríamos quando ouvíamos, voltando para casa. Quando construíamos casinhas com nossas primas e sempre destruíamos depois, porque o legal era construir, quando as bonecas eram colocadas para começar a brincadeira eu sempre dizia que ficou chato e brincar de pular corda seria bem mais divertido. Parece que desde pequena eu sabia que na vida o caminho é melhor que a chegada, na chegada não tem mais nada a procurar.

Lembrei quando meus primos me defendiam nas “brincadeiras de menino” e sempre me colocavam para brincar e ai de quem me tirasse, lembrei-me da primeira salada mista, e da expectativa de ser com o garoto que você queria, e por pouquinho não foi, hoje eu sei que essa foi à primeira decepção no ciclo infinito de decepções do amor, mas a expectativa foi boa. O pega bandeira depois da escola, o vizinho reclamando, PRIIIIIIIIIIIM o despertador toca de novo me tirando das lembranças, das sensações, dos prazeres.

Quase uma metáfora vagabunda mostrando que por mais que você sonhe, fuja e vá para lugares inimagináveis, a vida sempre vai apitar para te trazer de volta, ela nunca vai parar enquanto você resolve se levanta ou fica deitada, se vai com uma roupa ou com outra, se pega um atalho ou anda mais um pouco, se escolhe a alternativa A ou B na prova, se bebe mais ou para enquanto é tempo, se manda aquela mensagem que você já apagou milhares de vezes ou esquece de vez, se fala aquilo entalado ou engole e engasga, se vive ou se morre.

A vida não te espera, nem te deixa ficar, ela te carrega mesmo que você não queira, ela é aquele ônibus lotado que é preciso pegar todo santo dia por mais que você odeie, e que não pegar nunca é uma opção, porque outro ônibus vai vir e ele é da mesma empresa da vida. Então é melhor sentar, e colocar o fone de ouvido, porque olhar pela janela enquanto ouve música é seu pequeno prazer, no meio de tanta necessidade.

_ Seu pai já está ai em baixo, garota! – disse minha mãe invadindo meu quarto e bufando a me ver ainda deitada. Só que ela logo expressou pena a me ver com lagrimas nos olhos.

_ O que houve? – perguntou se aproximando e se sentando em minha cama. Sentei-me na cama e engoli o nó que havia em minha garganta.

_ Por que as coisas não podem ser como antes?! Por que as coisas tem que ser tão difícil para as pessoas que não tentam ser perfeitas?! Por que eu não consigo ver carinho em ninguém por mim?! O que fiz de tão ruim para perder tudo que eu mais amava?! – desabei nas palavras e uma lagrima desceu pelo meu rosto. Os olhos de minha mãe eram como se, se perguntasse o porquê de tanto drama.

_ Porque nada dura para sempre. Porque nada é fácil para ninguém, não existe perfeição. Porque você se prive de ver os reais sentimentos das pessoas. Porque nada é como queremos. – disse minha mãe com um olhar penoso. Mordi os lábios e fechei os olhos assentindo para mim mesma.

_ Então me explica por que de todos os sentimentos você escolheu não me suportar e vangloriar a Carrie? – perguntei. Seus olhos se arregalaram como se não esperasse nada daquilo.

_ Você é mais confusa do que eu em minha adolescência. Sabe que você é exatamente o meu clone?! Não diga que não te suporto você saiu de mim e desde esse momento foi à pessoa mais importante da minha vida. – ela disse se levantando e se sentando mais próxima de mim.

As palavras dela despertaram um tanto de felicidade em mim:

_ Você e Carrie são tudo para mim... – eu precisava realmente ouvir isso. Não imaginava o quanto.

***

Ajeitei minha jaqueta assim que desci do carro de meu pai, odiava como ela ficava amarrotada depois de minutos sentada. Adentrei a universidade notando que eu já estava atrasada. Passei pelos corredores vazios, esperava não encontrar a coordenadora. Bati na porta de minha sala e escutei um ”-entre-“. O professor muito generoso me deixou participar da aula e me sentei ao lado do Jamie, como sempre.

Ele não notara minha presença, estava dormindo com a cabeça deitada sobre a mesma, seus cabelos caiam sobre os olhos o deixando ainda mais lindo e fofo.

Deitei com minha cabeça junto a sua e pude sentir sua respiração e até acho que por causa da minha ele acordou. Abriu os olhos azuis e sorriu meigo. Eu amo os milhares de sorrisos que você tem, e toda paz que eles transmitem ao meu coração. Eu amo tuas risadas, tuas piadas sem graça e tuas tentativas de me tirar do sério.

Ele é o meu porto seguro. Porque eu sei que vai estar aqui por mim. Sempre me espera. Sempre me acalma. Não leva tudo o que eu digo a sério e me perdoa se eu erro. Você está aqui, até quando eu não mereço ou não espero.

_ Que feio. Dormindo em plena aula! – sussurrei próximo ao seu rosto.

_ Que feio. Chegando atrasada! – rebateu e rimos.

_ Sentiu minha falta? – perguntei irônica.

_ O final de semana inteiro... – respondeu passando o dedo indicador em minha bochecha.

_ Que lindo! – brinquei.

_ É oque dizem quando passo! – disse convencido e revirei os olhos.

_ Agora diga, não dormiu de noite? – perguntei num tom debochado, mais desmanchei assim que vi seu olhar pesado.

_ Pior que não... – respondeu.

_ Por quê? – perguntei.

_ Isabelle foi á minha casa ontem e passamos a noite discutindo. Ela disse que não se senti mais a mesma com relação á mim e que eu não sou mais o mesmo com relação a ela. – disse um tanto que aliviado?! Ou me enganei?!

_ Mais já está tudo bem? – perguntei preocupada, no fundo eu tinha minha parcela de culpa.

_ Já. Cada um para seu canto... – respondeu como se fosse à coisa mais simples do mundo. Meus olhos se arregalaram de modo subjetivo.

_ Vocês terminaram? – perguntei assustada e bem culpada.

_ Sim. E admito que, foi o melhor para os dois. Apaixonei-me por outra garota! – ele disse me assustando ainda mais e me causando raiva e culpa.

Era impossível... Outra garota?!


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