Conspiracy escrita por J N Taylor


Capítulo 6
Chapter 6 - The Sins Of My Father


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, antes de lerem esse capítulo, gostaria de me desculpar pelo atraso. Semana passada eu tive que viajar e essa semana tem sido um pouco agitada, acabei demorando mais a terminar o capítulo para que ele ficasse bom (melhor um capítulo bom e demorado do que um capítulo ruim e rápido, certo?). Tentarei manter o padrão de um capítulo por semana quando possível. Já falei demais, divirtam-se.



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Já atendido, James voltou para a sala de Desmond. Ele encarou o garoto por alguns instantes. O silêncio era desconfortável, para os dois. O jovem o fitou com uma expressão que era algo entre carinho e curiosidade. Deu um leve sorriso e respirou fundo, retornando a expressão neutra e profissional para a qual fora acostumado a manter na empresa.

–Melhor? - tentou disfarçar a preocupação.

–Muito. Como eu disse, superficial. Colocaram algumas ataduras e pronto. A bala sequer ficou alojada. Já passei por coisas piores.

–Não tente ser durão.

–Conheci seu pai no exército, garoto. Servi mais tempo que ele. Ele foi meu subordinado e, contrariando as regras, me apeguei emocionalmente. Quando ele acabou de prestar o serviço militar, mantivemos contato e logo depois saí, pra trabalhar com ele.

–Você trabalhou com meu pai?

–Essa empresa era mais minha do que dele, na verdade. Se não me engano, 60% das ações eram minhas. Vendi quase todas para ele. Ainda tenho 5%, se não sabe. Posso participar das reuniões se eu quiser, mas não quero.

–E virou o empregado?

–Não é exatamente assim. Eu fiquei por vocês dois.

Desmond parou por um segundo, esperando ele continuar. James manteve-se em silêncio. O garoto juntou as mãos e entrelaçou os dedos em frente ao rosto. Apoiou a testa no nó dos dedos e colocou os polegares abaixo do queixo. Levantou a cabeça novamente. Levantou com um salto da cadeira e se aproximou do homem, que se mantinha em pé a meio caminho, entre a porta e a mesa.

–Como assim?

–Eu fiquei por vocês dois. - repetiu. Um silêncio constrangedor se manteve. O mais velho ruboreceu, então cortou o silêncio após um minuto ou dois: - Fiquei preocupado.

–Preocupado? Com o que?

–Preocupado? - gaguejou, percebendo que dissera algo que não deveria.

–Sim, preocupado. Foi a palavra que usou.

–Ah sim. Preocupado com vocês. O pai de vocês poderia perder o controle do equilíbrio entre família e negócios. Eu fiquei preocupado que ele se afastasse demais de um por causa do outro. Me sentia responsável por manter tudo no eixo.

–E depois que ele se foi?

–Sinceramente, senhor. Isso é necessário?

–Não, não é. Mas eu ficaria feliz se me respondesse. - ele rodava em torno do subordinado lentamente – Mas se não quiser, fique à vontade.

–O senhor me chamou aqui para falar sobre os inimigos do seu pai. Não estou entendendo como um assunto levaria ao outro.

–Verdade. - e sorriu, voltando para sua cadeira – Sente-se.

–Obrigado. - e sentou-se – O que quer saber?

–Quem era aquele homem no estacionamento. Você sabe?

–Provavelmente contratado para desestruturar a empresa, matando o senhor.

–Eu posso ser novo, James, mas sei que assassinos não se suicidam porque erraram o alvo. E eles provavelmente acertariam, ainda mais aquela distância. E não apareceriam mascarados. Pareceu terrorismo, mas por que diabos tentariam um ataque terrorista a essa empresa?

–Igor Ignatiev e Tobias Daecher.

–Um russo e um alemão.

–Tobias Daecher é membro da Sociedade Thule. Seu pai se envolveu em problemas com eles antes de… Você sabe. O assassinato.

–Assassinato. Eles que você diz é a Sociedade Thule?

–Oh, não. Isso é uma… Fachada para o Daecher. Ele era… Ele é um nazista convicto. Seu pai e ele se odiaram desde a primeira vez que se viram.

–Como eles se conheceram? E onde o Igor sei-lá-o-que entra nisso?

–Ignatiev era amigo do seu pai, mas da Sociedade. Um dia, Daecher e ele estavam conversando. Seu pai chegou pra falar com o amigo. Eu estava com ele. Ele e o Daecher discutiram por causa da interrupção da conversa. Quando o seu pai viu a braçadeira nazista no braço dele… Nunca vi o seu pai tão descontrolado como aquele dia. Tive que bater nele para tirá-lo de cima do homem.

–E assim nasceu uma linda amizade. - ironizou.

–Daecher o ameaçou diversas vezes. A fidelidade de Ignatiev era para com a Sociedade, logo, com Daecher. Seu pai não o considerou uma grande perda, na realidade. Mas saber que perdera um bom companheiro para um nazista era, no mínimo, indigesto para seu pai.

–E onde eu entro nisso?

–No momento que você nasceu. Suspeito que o incêndio que matou seus pais foi criminoso.

–E deixa eu adivinhar. Suspeita do Daeter?

–Daecher. - corrigiu – Mas sim, suspeito dele.

–Por que não me disse?

–Achei que depois que ele matou e roubou os seus pais, ele sumiria.

–Roubou?

–Sim. - ele tamborilou os dedos na mesa – Sim, o incêndio era um motivo pra invadir a empresa e roubar uma coisa que tínhamos. Seus pais morreram protegendo isso.

–O que era? - silêncio. Desmond levantou, dando um tapa na mesa – Fala, James! Não mente pra mim! Você está escondendo o que?

–Eu não posso falar!

–Por que?

–O seu pai jamais me perdoaria. Nem sua mãe. Eles não te querem envolvido nisso.

–Eu já estou envolvido! Não viu hoje?

–Pode piorar. Mas seu pai era um bom homem.

–Eu estou pagando os pecados do meu pai. E eu vou pagar, James. Não ache que sou fraco ou não estou pronto. Eu estou. Eu mereço saber.

–Chega, Desmond!

–James, não. E meu irmão? Ele merece mais do que eu?

–Chega! Desmond, eu prometi aos seus pais.

–Você prometeu cuidar de mim!

–E o que eu estou fazendo?

–Mentindo pra mim.

–Mentindo, não. Tem coisas que eu não posso dizer.

–Por que meus pais não queriam? Então devo continuar cego, sem saber o que vai me atingir, como ou onde? Isso é me proteger? Cuidar de mim?

–Eles sabem o que é melhor pra você. - manteve o tom neutro na voz.

–E eles sabiam o que era melhor para eles. E estão mortos!

A frase veio como um soco no estômago de James. Ele parou, encarando o garoto.

–Você não era aquele garoto que eu conheci.

–Não, não sou. É o que acontece quando uma grande responsabilidade é jogada pra você quando não se está preparado. - James ergueu uma sobrancelha, com um olhar de dúvida.

–Está insinuando alguma coisa?

–Interprete como quiser.

–Chega, Desmond! Você está assustado com o que aconteceu hoje. Se dê ao menos um dia de folga.

–Eu não posso abandonar a minha empresa.

–Viva a sua vida, garoto. Você é novo demais. Deixe-me cuidar dela, por hoje. Descanse.

Desmond deu de ombros.

–É um conselho de amigo, senhor Cahill. Pense nele.

–Retornou a formalidade?

–Como?

–Voltou a me chamar de “senhor Cahill”. Me chame de Desmond.

–Me escute, e eu posso pensar nisso. - Desmond deu um leve sorriso.

***

Luther guardou o telefone no bolso.

–Enviei a mensagem para o Harrison. É bom que você esteja certo.

–Eu estou. Alguém sente sede? - disse Edward, com um sorriso.

–Eu estou com um pouc… - disse Mikal. Percebendo o olhar de Luther e Frederick, se calou.

–Se me permitem, enquanto esperam a mensagem, posso ir até minha sala pegar algo para bebermos? - falou, se levantando.

–Sabe que é proibido manter bebidas aqui, não?

–Claro, chefe. - ironizou – Brandy?

–Você trouxe conhaque para cá?

–Brincadeira, senhor. Mas estou com vontade de beber algo.

–Sente-se, Lowery. Isso é uma ordem. Saia por aquela porta e pode se despedir do seu emprego.

–Merda. - disse, se jogando na cadeira novamente.

–O vocabulário, Lowery. - repreendeu Luther – Isso é uma empresa. Profissionalismo.

–Desculpe, senhor. - e cruzou os braços, bufando.

Stokes sentiu o telefone vibrar.

–Harrison confirmou. - disse após ler o e-mail – Amanhã de tarde, vamos nos encontrar.

–E eu? - perguntou Edward.

–Você? Bom, podemos te dispensar, por hoje. - disse Frederick.

–Pra casa? - os olhos dele brilharam.

–Não, pra voltar pra sua sala. Vamos trabalhar. Vamos, circulando. Você, Mikal. Volte aqui amanhã.

–Bom, Luther, eu quero conversar contigo.

–Podem ir. Peçam para que não entrem até que eu permita. - quando todos saíram, ele fechou a porta, ficando sozinho com o traficante – Fale.

–A minha proposta. De trabalharmos juntos.

–O que tem ela?

–Queria que você pensasse, Luther. - disse, se aproximando dele.

–Me fale mais. - o empresário se sentou sobre a mesa.

–Eu melhorei sua droga. Eu a levo para um mercado que lucre.

–Essa droga foi criada para salvar pessoas.

–Salvar pessoas? Olhe para mim. - Luther encarou os olhos dele, um de cor. Era agradável.

–Estou olhando.

–Nos meus olhos. Sabe o que essa droga me deu?

–O que?

–Poder. Primeiro, dói. Existem consequências, variações hormonais e emocionais, mas a maldita droga me dá poder. Por que não?

–Porque é errado.

–Poder não é errado, Luther. Poder é poder.

–Obtido de forma errada.

–Você mataria alguém para proteger quem ama? - o outro permaneceu em silêncio – Você errou matando, mas acertou por proteger. Erro é algo relativo.

–São situações diferentes, Mikal.

–Não são. O poder de salvar quem você ama foi obtido de forma errada.

–Mas… - estava sem argumentos.

–Pense, Luther. - e se aproximou, segurando a mão dele e alisando levemente com o polegar – E o poder influencia pessoas. Ou ganhei o poder para isso. - ele subiu a mão pelo braço dele, alisando o terno, até chegar ao queixo. Luther não esboçou reação. Mikal puxou o queixo dele para a frente e se aproximou. Quando o lábio dos dois estava a menos de um centímetro do outro, o traficante se afastou, dando um tapa afetuoso no peito do empresário – Pense nisso.

–Espera! - ele disse, enquanto o outro se afastava.

–O que?

–Eu… - não sabia o que dizer – Mantemos contato?

–Claro. - e deu uma piscadela.

Ele provou alguns instantes de letargia após a saída do outro. Pensou na noiva, Sophie Morgan. Aquilo estava errado. Ele sentira algo estranho, uma fixação bizarra e incontrolável por Mikal, mas ele nunca se interessara por um homem na vida. Ficou ali, sentado na mesa, encarando a porta, tentando encontrar uma explicação racional para aquilo.

Ele sabia que não tinha.

***

–Não, não! Saiam! Preciso falar com o Carver! - Samuel rosnou quando os homens o seguraram.

–Ele precisa. Soltem ele! - Elizabeth tentou ajudar, mas um dos seguranças deu um tapa nela e ela recuou, assustada. Harvey sentiu o corpo esquentar e partiu para cima deles com toda a força que conseguiu. O que atacou a garota foi seu primeiro alvo. O primeiro soco o acertou no olho, deixando-o tonto. O segundo acertou o ouvido, deixando-o mais atordoado ainda, e sem equilíbrio. O terceiro foi na barriga, os seguintes foram no estômago, no peito e novamente no rosto, fazendo-o cair. Sam, ato contínuo, saltou sobre o amigo, puxando-o. Ela se levantou e atingiu o homem com um tapa e Harv acertou um chute nas costelas dele, enquanto tentava se soltar.

–Parem! Para! Chega, Harvey! - ele pediu.

–Ele bateu na El! - ele tentou chutar e bater, mas o casal já o afastava.

–Chega, Harv. - ela pediu, acariciando o rosto dele, carinhosamente – Eu estou bem.

Ela olhou para o homem, que agora se levantava.

–Só preciso fazer mais uma coisa. - e ela se aproximou dele, dando um chute com toda a força que conseguiu na virilha dele. Ele soltou um ganido e caiu de quatro no chão – Fraco.

–Mas o que diabos está acontecendo aqui? - disse Edward, entrando.

–Ligue a televisão! - ele apontou para o enorme monitor na parede oposta.

–Não até me dizer o que está acontecendo.

–A sua organização. Vai fazer um pronunciamento em menos de dois minutos. Disseram que seria em todos os canais. Apenas ligue! - berrou Samuel.

–Certo. - Carver tirou o telefone e apontou para a televisão, ligando-a. A programação estava normal. Uma reportagem. Cortou para um homem, negro, com o rosto quadrado, aparentemente na Câmara do Senado, iniciando um discurso. Os cabelos eram ondulados e pintados de preto, com vários fios cinzentos brilhando. Os olhos eram do mesmo tom, talvez mais escuros ainda. Ao seu lado, sua secretária sussurrava algo em seu ouvido. Ela era uma mulher de meia idade, com os cabelos pintados num tom loiro exageradamente amarelos, usava óculos e, devido sua posição, era difícil ver algum detalhe de seu rosto. Mantinha uma prancheta preta colada ao corpo. Se virou e saiu de cabeça baixa. Diante dele estava uma mesa de madeira, semelhante a um púlpito, com uma pequena sustentação para o microfone, deixando-o na altura dele, e um copo com água.

–Lamentamos a interrupção da sua programação local. - disse a voz do repórter, fora do alcance da câmera – Temos um pronunciamento urgente do senador John Carlson, de Missouri, e ele começara a qualquer momento.

O senador pigarreou e ajeitou o microfone.

–Boa tarde, senhoras e senhores do Senado, e para os que estão acompanhando as transmissões. Vim a público fazer uma declaração que julgo ser de extrema importância. Duas, na verdade. A primeira é que estou me afastando de minhas atribuições no Senado, sem aviso prévio. - ele olhou para um lugar no nível superior. Engoliu em seco – Minhas justificativas, senhores, é que esse país se encaminha para um abismo. Sim, um abismo – bebeu um gole da água – Pode parecer confuso, complexo, mas é simples. Cresci acreditando que poderia tornar esse país um lugar melhor, mas minhas crenças não se mostraram nada além de devaneios infantis.

–O que deveríamos estar vendo? - perguntou Samuel a Edward.

–Eu não sei. Achei que pudesse me dizer.

–Quando assumi o meu lugar aqui, no Senado, eu acreditava que a corrupção não alcançava todos, que ainda alguns homens permaneciam honestos. - continuou – Mas o que aprendi no meio de todos os senhores nessa sala, sem exceção, é que a corrupção é um câncer que se espalha entre nós.

–Algo está errado. Ele parece nervoso. - sussurrou Harvey.

–Esse câncer, não importa o quanto nos esforcemos, nunca entrara em metástase. Ele cresce, e corrompe todos nós. E, envergonhado, confesso que até eu sucedi ao pecado. - outro gole – Mas devo, com alegria no coração, dizer que consegui suprimir isso. Porém, isso não vem ao caso. O que eu acreditava que podia fazer aqui, mudar o nosso país, o coração do mundo, foi um fracasso. Então, com pesar, me despeço de vocês e encerro meu mandato com o pouco de dignidade que ainda tenho. - tossiu – Quero aproveitar meus últimos dias em paz. - olhou nervoso para o mesmo lugar. As mãos estavam inquietas – E em segundo, vim falar sobre as suspeitas que eu ouvi pelas ruas. Os boatos de que o nosso presidente tem dado ordens para que nós iniciássemos testes militares em nossas bases. Para encerrar, devo confirmar tudo, mesmo sem permissão. Por mais que tentem esconder, sim, estamos conduzindo experiências. - enfatizou as quatro últimas palavras. Murmúrios, de repórteres e de senadores, se espalharam – Obviamente, nem todos os componentes da Câmara sabiam disso. Isso, além de colocar minha extinta carreira em risco, me expõem ao risco de morte. Era apenas isso, senhores. - olhou para cima novamente.

Os lábios secaram.

Empalideceu.

–Na saída, responderei todas as perguntas sobre este assunto. - se virou para sair. Todos olharam espantados para o que aconteceu em seguida. No exato momento que se virou, uma bala, vinda de alguma fonte desconhecida, o atingiu.

Exatamente no coração.

Ele tombou sobre a mesa, que caiu junto com ele, levando o copo até a metade de água e o microfone. A agitação foi geral. Sua secretária, de pé no canto, não conteve o grito. Todos começaram a se empurrar em direção a saída. Senadores, repórteres, a meia dúzia de convidados, todos se amontoando na direção da porta, desesperados. Com medo de serem os próximos mortos. No momento, ninguém se importou em procurar o assassino. Com a vida em segurança, poderiam ordenar investigações, que pegassem as imagens das câmeras, procurassem um culpado, mas a prioridade, como instinto básico de todos, era salvar a própria vida. O cinegrafista que filmava a cena correu, sem se preocupar em desligar a filmadora. O mesmo com o repórter.

–O que foi isso? - perguntou Edward, boquiaberto.

–Eu não sei. - repetiu Samuel, nas mesmas palavras – Achei que pudesse me dizer.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Chapter 7 - Karma



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