Tempted escrita por Camille Rose


Capítulo 3
A proposta




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/596311/chapter/3

Depois de alguns minutos comecei a esquadrinhar o novo quarto. Era comparável ao de Christian em conforto, mas não era tão branco e tão... Estéril. Este outro tinha cores de madeira e marfim. A cama estava forrada com cor-de-vinho e não havia varanda. Apenas uma janela satisfatoriamente grande com quase a mesma vista que a de Christian. Só não com a mesma abrangência. Comecei a considerar que me colocaram no quarto dele realmente para me impressionar com a paisagem. Mas será que não sabiam que ele viria? Não, eles deveriam não estar cientes. “Devem ter se esquecido disso”, como falou Christian.

Cheguei a pegar no telefone prateado (havia ramais anotados numa etiqueta no corpo do aparelho) e liguei para a cozinha.

— Martha falando. — disseram do outro lado.

— Martha, sou eu, Anastasia. – tentei soar amigável, não como uma patroa. — Você pode vir aqui em cima, por favor?

— A senhora quer seu almoço?

Senhora? Meu deus! Ela era quase tão jovem quanto eu!

Olhei para um relógio sobre o criado-mudo. Já era quatro da tarde.

— Não. Mas tem sanduíche?

— Tem sim, senhora.

— Você pode, por favor, trazer para mim? É que eu estou com fome. Dormi demais.

— Não há problema nenhum, senhora. Eu levo já, já.

— Obrigada Martha. E, ah! Só pra você saber, eu estou no quarto em frente àquele.

— Trocou de quarto, senhora?

— Sim.

— Algo no anterior estava ruim?

— Não. Suba que eu lhe explico. Certo?

— Sim senhora.

— Muito obrigada, Martha.

Em poucos minutos, bateram na porta. Martha entrou trazendo uma bandeja com suco, água, quatro mini sanduíches e um pequeno bule com chá e uma xícara.

— Como sabia do chá? – era meu preferido.

— Sr. Elliot comentou uma vez enquanto a Sra. Grey nos orientava sobre o que servir hoje.

Sorri, agradecida. Martha continuou de pé depois de me servir numa mesinha de canto, perto da janela.

— Você quer um? – perguntei lhe oferecendo um sanduíche.

— Não senhora! – Martha arregalou os olhos, mas depois sorriu como se eu tivesse feito algo engraçado e inusitado. — A senhora disse que me contaria o que houve com o outro quarto. — continuou com educação. — Havia algum vazamento, alguma coisa no banheiro?

Oh, sim, houve alguma coisa no banheiro.

— Não. É que... O Sr. Grey, o Christian... – especifiquei. — Chegou de viagem. – Martha pareceu ficar rapidamente espantada. — Ele entrou e nós resolvemos a situação.

— Oh, desculpe-nos, senhorita Steele! – Martha se apressou em dizer. — Sra. Grey achou que a senhorita ia gostar do outro quarto, que é maior. Não julgávamos que o Sr. Grey fosse chegar hoje.

— Não precisa se preocupar, Martha. Está tudo resolvido.

— Oh... Preciso perguntar se o senhor Grey precisa de alguma coisa. Preciso contar para a Senhora que seu filho chegou.

— Certo, Martha. Está tudo bem. – afirmei seguramente. — Pode garantir à Sra. Grey que estou perfeitamente acomodada. Que não houve mal algum.

— Tudo bem senhorita Steele. E, ah! A senhora pode descer às seis. Às sete e meia serviremos o jantar.

Agradeci. Martha assentiu e se retirou. Terminei de comer os sanduíches com suco e depois tomei um pouco de chá. O tempo passou rápido. E logo eu já estava vestida para descer. Kate havia me indicado um vestido rosa solto para o jantar. Eu estava completamente confortável com ele até descer e me deparar com Christian sentado no sofá da sala de estar, quando, de repente, me senti exposta demais naquela roupa.

Tentei passar pelo espaço atrás do conjunto de sofás para discretamente escapar para a varanda, mas Christian deve ter me enxergado pela visão periférica.

— Srta. Steele! – saudou-me erguendo uma taça de vinho rosa na mão.

Permaneci parada a poucos metros da saída. Que droga, por que não conseguia reagir normalmente, cumprimentá-lo e simplesmente ir embora?

— Junte-se a mim! – ele chamou.

Meus pés obedeceram antes mesmo de eu refletir sobre seu chamado, e quando vi, estava no centro da sala de estar.

— Quer uma taça também? Vamos, sente-se.

Obedeci. Por quê? Eu não queria sentar. Mas aproveitei a oportunidade para colocar uma almofada sobre as pernas e me sentir mais coberta.

Christian se levantou, foi até um balcão do outro lado do conjunto de sofás e tirou da adega uma garrafa de vinho. Serviu a segunda taça e entregou a mim.

— Christian Grey, prazer em conhecê-la, - ele disse. Devo ter expressado minha confusão de algum modo, porque ele acrescentou. — É bom começarmos novamente, não acha? Já que estamos tão elegantes, devidamente vestidos?

Sua insinuação me deixou embaraçada.

Droga, Ana, reaja!

— Pode ser, Sr. Grey. – assenti e provei a bebida. — Como imaginamos, sua família não tinha certeza de que viria hoje.

— Sim. Martha comentou. – ele disse olhando fixamente para mim.

Estava vestido de preto, calça e camisa, o que fazia sua pele e seus olhos ressaltarem. O cabelo estava um pouco desarrumado, o que lhe empregava um ar de conforto caseiro.

— Será que ela contou para sua mãe? – perguntei. O que será que ele havia contado para Martha?

— Não. Pedi para Martha não contar nada. Como eu disse, gosto de me explicar eu mesmo. – falou com segurança e bebeu o vinho, depois, pousou a taça na mesa de centro. Cruzou as pernas e apoiou um braço no encosto do sofá. — Diga-me, Anastasia... De onde você é?

— De Portland. Mas moro em Seattle desde que me formei.

— Ah! Foi lá que conheceu Elliot?

— Foi.

O nome de Elliot me trouxe uma sensação agradável de familiaridade, o que me lembrou de toda a circunstância na qual estava. Jantar. Conhecer a família do meu noivo. Noivo. Elliot.

— E onde está meu irmão?

— Foi cuidar de negócios com o pai de vocês. – respondi tentando soar mais segura e fria.

A verdade era que estava me sentindo um pouco entorpecida. Havia uma coisa estranha no jeito como Christian fazia as perguntas, parecia espreitar algo através de mim.

— Devem estar chegando para o jantar. – acrescentei tomando mais um gole do vinho. Distraí-me por um instante quando olhei por cima da taça e reparei no modo como Christian passou o polegar direito sobre o lábio inferior. Minha bebida quase desceu para o lugar errado e eu precisei tossir.

— Cuidado Anastasia. – ele me alertou com uma voz rasteira e grave, mal pareceu estar falando da bebida.

Senti um alívio enorme quando a figura de Mia entrou na sala, usando um vestido vermelho e recatado. Foi como se eu estivesse numa bolha de pressão e, quando ela pareceu, a bolha se desfez e o ar voltou a circular.

Quando nos percebeu, Mia deu um gritinho e correu até onde estávamos.

— Christian! – exclamou sentando-se ao lado dele num pulo, o abraçando pelo pescoço.

— Como vai baixinha? – apesar de parecer carinhoso, ele saiu rápido demais do abraço dela.

— Bem. Muito bem. – ela respondeu alegre. — Você nem me disse que estava voltando! – fez beicinho.

— Eu poderia vir ou não. Não tinha como saber.

— AH! Homens de negócios! – ela rolou os olhos e depois me viu. — Ana! Você... Nossa, está bonita, heim!

— Obrigada. – respondi sentindo cada parte do meu rosto esquenta. Christian me olhou sem dizer nada.

— Desculpa ter lhe deixado sozinha, todo esse tempo – tornou Mia. — Fiquei com umas amigas no telefone e não vi a hora passar. Depois, soube que você tinha ido descansar. E vejo que já conheceu Christian!

— Sim. Nós nos vimos mais cedo. – ele comentou. Senti um tom estranho quando disse “nos vimos”.

— Ah é? – Mia perguntou com cara de quem queria saber mais.

— Nós topamos no corredor. – eu falei. Christian me olhou, inquisidor. Nem eu mesma tinha me preparado para contar alguma mentira, sabia apenas que não queria que ninguém suspeitasse do modo como Christian e eu nos conhecemos.

Mia parecia ter se dado por satisfeita. Segundos depois ouvimos som de carros se aproximando e ela se esticou para ver pela janela de quem se tratava.

— São eles! Eles voltaram! – ela disse, e saiu correndo até a porta.

Christian e eu nos botamos de pé.

— No corredor? – ele perguntou num tom de voz baixo e grave, não estava olhando para mim.

— É melhor... Ficar só entre nós. – Respondi estremecendo por dentro.

Vislumbrei, pela visão periférica, o rosto de Christian, parecia haver um sorriso torto em sua boca. Não tive tempo para avaliar nada, pois logo Elliot e Sr. Carrick entraram no cômodo.

Elliot veio até mim rapidamente e me abraçou, tirando-me do chão. Beijou minha boca como se não houvesse ninguém bem do nosso lado. Quando afastou seus lábios do meu, continuou me abraçando. Vi, por cima de seu ombro, que Christian tinha recuperado a taça de vinho e tomava um gole.

— Voltei, querida! – Falou Elliot.

— Estou vendo! – Sorri.

Elliot ficou olhando para mim por um tempo, depois se deu ao trabalho de olhar para o lado.

— Christian Grey! – Comentou lentamente. — Decidiu aparecer em casa?

— Elliot... – Disse Christian, estranhamente fechado.

Os dois apertaram as mãos. O cumprimento entre Christian e o pai não foi muito diferente. Por um momento me lembrei de quando eu fui cumprimentada hoje cedo. Pareceu mais amistoso. Havia algo de errado entre ele e o filho? Também não me lembro de a Sra. Grace ter mencionado Christian quando falou que era mãe de Elliot e Mia.

Olhei para Christian pelo canto do olho e ele sustentava uma expressão séria, insondável.

Mia alegremente conduziu a nós todos até a sala de jantar. Havia uma mesa retangular e longa, abarrotada de travessas e pratos, exalando aromas que abriram meu apetite. Sra. Grey entrou no cômodo por uma porta do outro lado da sala, que penso ser a cozinha.

­― Carrick, Elliot! Bem na hora... Ah! Christian! – ela se surpreendeu.

― Como vai Sra. Grey! – Christian cumprimentou. Sra. Grey?

Olhei para ele e, apesar de não tê-la chamado de mãe, tratou Grace de forma muito mais amistosa do que tratou o pai. Grace o abraçou e todos nós começamos a tomar nossos lugares à mesa. Sr. Gray assumiu a cabeceira, ao lado dele, Grace. Frente a ela, Mia. Eu ao lado de Mia, Elliot ao meu lado e Chistian à minha frente.

― Não sabíamos que você voltaria hoje, Christian! – disse Sra. Grey.

― Na verdade eu também não sabia.

― Vai ficar conosco por um tempo? – ela pareceu um pouco ansiosa.

― Talvez. Ainda não defini.

Sra. Grey pensou por um tempo, depois voltou arregalando um pouco os olhos.

― Minha nossa, Anastasia! Christian! O quarto! – ela exclamou.

A mesa toda olhou para nós e de nós para a Sra. Grey. Ela voltou a falar para esclarecer:

― Eu havia cedido o quarto de Christian para Ana descansar essa tarde. É tão arejado que achei que fosse agradá-la mais. Mas então você chegou...

Christian e eu nos entreolhamos rapidamente. As pessoas continuaram esperando algum pronunciamento nosso. Eu fiquei envergonhada quando as lembranças do nosso encontro vieram à minha mente. “Ele estava nu!”, gritou meu inconsciente. Christian foi quem falou:

― Encontrei Anastasia no corredor assim que cheguei. Nós nos cumprimentamos e percebi o que a senhora acabou de dizer. Anastasia preferiu, muito educadamente, ficar em outro quarto e fizemos a troca.

Por um momento até eu acreditei na história. Não havia nada em Christian que denunciasse nervosismo ou mentira.

― Ah, menos mal! E você está bem acomodada no outro quarto, criança? – Sra. Grey me perguntou.

― Com certeza! Martha foi muito gentil comigo.

Passado algum tempo, começamos a comer. Eu estava começando a estranhar o silêncio do Sr. Grey e de Elliot. Pareciam um pouco preocupados. Foi Mia quem verbalizou meus pensamentos:

― O que há com vocês dois? – perguntou. ― Tem algum problema?

― Problemas com a empresa, filha – disse Carrick.

― Que problema?

Elliot e o pai se entreolharam.

― Alguém sabotou uma peça publicitária na empresa de Elliot enquanto ele esteve fora, e agora estamos sendo processados por plágio.

— E danos morais! – acrescentou Elliot.

Todos nós ficamos boquiabertos, menos Christian, que apenas franziu as sobrancelhas. Demorei um longo segundo a mais olhando para ele, e me repreendi por isso.

― E agora? – Grace quis saber.

― Agora que estamos fazendo um rastreamento para saber quem foi e por que permitiram que peças plagiadas fossem emitidas com nosso selo. – disse Elliot. — Também precisamos responder na justiça.

― Acha que foi de propósito? Alguém lá de dentro da empresa? – perguntei a Elliot.

― É o que estamos tentando descobrir.

― Tomara que resolvam logo... – eu disse, de repente sentindo um leve formigamento na orelha esquerda. Virei-me e Christian estava me olhando.

Falou-se um pouco mais sobre o problema até que Mia resolveu mudar de assunto:

― Tá bom. Mas e quanto aos pombinhos? – ela falou apontando para Elliot e eu.

― Ah sim! – falou Sra. Grey. ― Soube que vocês pretendem se casar!

― Com certeza! Amanhã mesmo! – disse Elliot com o humor renovado.

― Por que tanta pressa? – perguntou Christian. Christian?

― E por que não casarmos logo? – Elliot deu de ombros. ― Ana e eu somos perfeitos um para o outro. Tenho certeza de que nada me faria mais feliz.

E me beijou. Fiquei comovida por ele e envergonhada com a reação de todo mundo, surpresos e admirados. Mia foi quem se entusiasmou primeiro. Ela e a Sra. Grace se entreolharam.

― Mamãe e eu conversamos enquanto você estava descansando, Ana, - falou Mia. ― Tivemos uma ideia.

Sra. Grey se endireitou na cadeira para poder contar e matar a curiosidade de todos.

― Já estávamos cientes de que Elliot pretendia pedir você em casamento. Mas as coisas não podem ser feitas assim, de qualquer jeito, não na família Grey.

Um calafrio percorreu minha barriga.

― Então nós imaginamos que, se é isso mesmo que vocês querem, poderíamos pensar em como fazer acontecer direitinho! – disse Mia, os olhos brilhando.

― Diga logo, mãe! – pediu Elliot.

― Ainda não falamos com Carrick, mas ele pode dizer o que acha agora...

― Então, vamos lá! Conte-nos! – insistiu Carrick.

Sra. Grey pigarreou antes de explicar:

― Propomos que vocês se casem daqui a um mês.

― O noivado oficial daqui a quinze dias! – intrometeu-se Mia.

― Aqui, na nossa casa, - completou Grace.

Elliot segurou minha mão por debaixo da mesa e se virou para mim.

― Um mês? – perguntou.

― Uma festa de noivado oficial? – eu repeti meio tonta.

― Isso! – Mia continuava ansiosa. ― O que acham?

Dei uma rápida olhada por todos em volta. Sr. Grey parecia ter aprovado. Christian havia recostado na cadeira, como se se retirasse da conversa e bebia vinho.

― Um mês... – Elliot ponderou.

― Parece um bom prazo para... Deixarmos tudo em ordem. – eu respondi pensando bem. Eu estava empolgada com a ideia de me casar com Elliot, mas pensar em noivado e na forma como a família dele parecia ser me fez perceber que não tínhamos nada pronto.

Elliot me encarou por um tempo. Sorri para ele o mais confiante possível e ele finalmente concordou.

― Mas tem outra coisa! – acrescentou Grace.

― A melhor parte! – cochichou Mia.

― Gostaríamos de convidar Anastasia para ficar conosco até o dia do casamento.

Eu engasguei.

― Convidar? Pra morar aqui?

― Fantástico! – exclamou Elliot.

― Parece ser uma boa ideia. – comentou Sr. Carrick. ― Assim podemos conhecer a bela Ana melhor.

― E ela conhecer a nós todos! – disse Mia. ― Vamos Ana, diga sim!

Eu estava aturdida. Por um momento pareceu que havia entrado água nos meus ouvidos. Sacudi a cabeça para processar a ideia, mas não conseguia nem imaginar como poderia ser. Tentei responder algo, mas só consegui balbuciar interjeições de surpresa e indecisão.

— Eu acho que a senhorita Ana poderia pensar melhor esta noite e nos responder amanhã, - disse Carrick muito sensato.

— Mas saiba – falou Grace, — que gostaríamos muito de conhecê-la melhor, a final, quando se casarem, não vão mais morar aqui.

Eu limpei a garganta antes de continuar.

— Agradeço muito a todos vocês, mas eu preciso realmente pensar. Tenho meu trabalho. Preciso ver como isso poderia dar certo.

Feliz por ter conseguido dizer algo consistente, vi que os Grey aceitaram bem a espera e então todos voltamos dar continuidade no jantar. Serviram a sobremesa e depois tomamos café.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
Deixe um comentário. Sua opinião é muito importante!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tempted" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.