Tempted escrita por Camille Rose


Capítulo 2
À primeira vista




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— Chegamos! – disse Elliot bem-humorado.

Dentre as três pessoas à nossa frente, a mulher mais velha que tomou a iniciativa. Caminhou até mim e me estendeu a mão.

— Então você é a famosa Anastasia Steele! – ela disse. — Prazer. Eu sou Grace, mãe de Elliot e Mia. Mia venha cá!

Ela fez um gesto para a moça bonita que se aproximou. Atrás dela veio também o homem mais velho. Eu já poderia imaginar quem seria.

— Oi. – disse Mia com um sorriso muito simpático. — Elliot falou muito bem de você ontem à noite. Estávamos ansiosos!

— Seja bem-vinda senhorita Steele. – cumprimentou o homem. — Sou Carrick Grey.

— O prazer é meu. – eu disse, sentindo cada parte do meu corpo começar a ficar instável. — Ah... A casa de vocês é muito, muito bonita. Estou impressionada! – admiti.

Fiquei feliz em ver que meu comentário agradou e deu corda para um conversa natural. Sra. Grey começou a contar como gostava do lugar e como o compraram. Sr. Grey complementava falando de seus espaços favoritos, como o salão de sinuca, com vistas para área onde jogava golfe e para o lago que havia aos fundos da propriedade.

Nossa... Golfe, lago, jardins, mansão... Estava começando a me sentir um pouco intimidada, não fosse eles serem realmente boas pessoas no trato.

— Mas me diga Ana, posso lhe chamar assim, não posso? – perguntou Grace. Assenti de imediato. — Você já tomou café?

Fiquei surpresa pela pergunta tão simples, e também por eu não ter pensado nisso até agora.

— Na verdade não.

— Mas que coisa! Elliot! Como você permitiu uma coisa dessas? – Sra. Grey parecia realmente repreensiva. — Já são onze! Vamos, vamos para a mesa na varanda comer alguma coisa enquanto o almoço fica pronto!

— Desculpe-nos Grace, querida, mas eu preciso me ausentar por um momento com Elliot. Nada demais. Negócios! – disse Carrick. — A senhora e senhoritas podem ir. Divirtam-se.

Grace pareceu não se importar tanto. Fomos até uma varanda aos fundos e fiquei sem ar ao me deparar com um jardim tão bonito e extenso. Mia reparou e começamos a conversar sobre a beleza do lugar.

— Se caminharmos mais para ali – disse apontando para além de um grupo de árvores floridas, — vamos encontrar o lago e a casa de barcos. Ah, Ana, você vai gostar muito daqui!

— Eu já gostei! – disse.

Foi uma conversa animada enquanto comíamos bolo e tomávamos café. Sra. Grey me fez perguntas sobre mim, e foi mais fácil do que achei que seria respondê-las. Ela e Mia gostaram de saber que eu trabalho numa editora. Na verdade não foi uma novidade porque Elliot já havia comentado antes, mas não em profundidade. Perguntaram também sobre meus pais. Eu contei que minha mãe morava na Flórida com um namorado e que meu padrasto vivia em Portland. Meu pai há muito tempo havia falecido.

— Oh, sinto muito, querida, - disse Grace.

— Não, tudo bem. – dei de ombros para ficar tudo bem entre nós.

Depois de um tempo voltamos para a sala de estar e Sr. Grey e Elliot apareceram. Mia se retirou para falar ao celular.

— Grace, Ana, precisamos ir até a cidade. Elliot ficou quinze dias afastado da empresa e agora precisa colocar algumas coisas em ordem. Espero que vocês possam entender. Voltaremos para o jantar logo, logo.

Vi a Sra. Grey fazer um biquinho de desaprovação.

— Gostaríamos de ficar, mas há coisas que precisamos resolver pessoalmente. – explicou Elliot. — Eu me desliguei do laptop durante a viagem. – disse com um sorriso nada culpado.

Eu fiquei vermelha, mas acho que ninguém percebeu.

— Ana, você se importa de ficar com minha mãe e Mia até eu voltar? – Elliot me perguntou segurando minhas mãos.

— Claro que não! – garanti. Como poderia dizer o contrário?

— Certo. Então vamos, - chamou Carrick.

Elliot me deu um beijo singelo nos lábios e se despediu da mãe. Fiquei vermelha da cabeça aos pés, eu acho. Depois eles se foram.

— É sempre assim! É a maldição das mulheres casadas com homens de negócios! – Exclamou Sra. Gray, mas depois riu. — Vamos, Ana. Parece que só sobramos mesmo nós duas... Mas... Ah... Você está cansada? Gostaria de tomar um banho e descansar um pouco mais da viagem? Posso providenciar isso.

Eu pensei na proposta. Eu estava bem, mas a noite mal dormida estava fazendo meu corpo querer relaxar. Achei que se aceitasse não seria má educação.

— Na verdade, Sra. Grey, eu gostaria muito.

Grace falou com uns empregados, os quais tratava muito dignamente, notei, e eles arrumaram tudo. Depois, ela me disse para seguir uma moça, Martha, que me levaria até meus aposentos. Subi por uma escada lustrosa e alcancei um corredor. Martha abriu a última porta para mim e me deixou à vontade. À vontade para me apoiar na porta assim que ela saiu de tão impressionada que fiquei com o ambiente.

O quarto era amplo e tinha uma cama grande e branca no centro. Do outro lado, uma mesa com computador e cadeira. Havia também um guarda-roupa moderno na parede adjacente e uma porta discreta que deveria dar para um banheiro. Mas o incrível mesmo era que a parede a oeste era completamente de vidro, como a sala de baixo, emoldurada com cortinas black-out, caso se quisesse evitar a luz. A vista lá fora era estonteante. Dava para ver um pedaço do jardim, o grupo de árvores para além do qual Mia havia apontado anteriormente e, atrás dele, via-se uma superfície lisa e reluzente: o lago.

Por um momento fiquei com medo de me mover e causar dando a qualquer coisa no ambiente. Era riqueza demais. Demais!

Suspirei e tirei os sapatos. Não me atreveria a riscar o chão com eles. Diferente do que achei, o piso não era frio. Aproximei-me da parede de vidro e notei maçanetas de vidro. Era uma sacada. Abri e deixei que uma brisa gostosa invadisse o ambiente. Voltei para dentro e me deparei com a bolsa de mão que eu trouxera. Estava sobre a cama. Abri e comecei a olhar seu conteúdo. Havia uma bolsinha com roupas íntimas e três combinações extras de roupas. Achei que estava na hora de tomar banho e me preparar para o jantar. Sra. Grey havia desistido do almoço suntuoso depois que viu que não estaríamos todos reunidos. Disse que eu poderia descansar o quanto quisesse até o jantar, eu não seria perturbada. Martha provavelmente traria alguma coisa para eu comer na hora do almoço. Isso me deixou um pouco desconfortável, pois era estranho, para mim, ser servida por alguém dentro de casa.

Contudo, senti de novo os reflexos da viagem e da noite mal dormida. Decidi que tomaria um banho para descansar. Vasculhei pelo guarda-roupa e pela cômoda, mas estavam vazios. Entrei no banheiro e encontrei toalhas no armário sobre a bancada. O ambiente não deixou nada a desejar em comparação com todo o resto. Era decorado de branco e dourado e havia uma banheira satisfatoriamente grande no centro. Fiquei animada com aquilo. Liguei a água morna e a deixei enchendo enquanto tirava a roupa e a colocava sobre a bancada.

Depois de cheia, entrei na banheira sentindo meu corpo agradecer! Havia uns botões na larga borda dourada. Eu olhei e meus olhos quase se encheram de lágrimas. Hidromassagem. Programei um tempo e deixei o borbulho me embalar. Não senti quando a hidromassagem acabou, pois peguei no sono e fiquei de molho na água.

Algum tempo depois, acordei com o som de uma voz estranha perguntando:

— Quem é você?

Abri os olhos, meio desorientada, e me deparei com um homem nu na porta do banheiro. Demorou alguns segundos até articular meus pensamentos e abrir a boca para gritar, mas minha voz não saiu!

Vi os olhos do tal homem se arregalarem. Ele rápido pegou a toalha que estava no cabide e lançou para mim. Seu gesto me desconcertou. Ele não estava querendo me atacar?

Peguei o tecido macio e me cobri rapidamente ficando de pé na banheira. A água quente escorrendo por mim e molhando tudo.

— Quem é você? – perguntamos os dois ao mesmo tempo. Meu deus! Ele continuava nu. Ele continuava nu!

— Sou Ana. Anastasia. – disse desconcertada. Não queria olhar para seu corpo, mas estava em choque demais. Ele estava completamente nu.

— Anastá... – ele repetiu e depois arregalou os olhos de novo. Tinha olhos azuis muito claros. — A namoradinha do Elliot?

— Sim. – respondi um pouco incomodada pelo seu tom. — Pode, por favor, se cobrir?

O homem sorriu. Não gostei do seu sorriso. Quer dizer, ele tinha um sorriso bonito, mas não gostei do jeito sem vergonha como reagiu ao meu pedido.

— Tudo bem. – respondeu abrindo o armário e puxando um roupão de dentro.— A propósito, sou Christian Grey. – acrescentou.

Christian... Irmão de Elliot. Oh...

— O que... O que está fazendo aqui? – balbuciei. Não conseguia sair da banheira. Estava petrificada de vergonha.

— Este é o meu quarto. – ele respondeu de forma simplória. — Mas pelo visto, se esqueceram disso. E você?

— Eu? Sou convidada aqui. Não sabia que era seu quarto.

— Eu imagino. – ele pareceu pensar em algo desagradável. O que ele quis dizer com “pelo visto se esqueceram disso”?

Ficamos quietos por um tempo. Quando Christian voltou de seus pensamentos, me encarou com mais interesse. Não pude deixar de reparar na rápida olhada que dispersou sobre a minha toalha.

— Você pode, por favor, sair enquanto eu me arrumo? – falei deixando irritação transparecer na minha voz. — E vamos resolver este mal entendido.

Christian me avaliou novamente com o olhar, as desta vez preso em meu rosto. Senti cada parte do meu corpo estremecer. Vi seus lábios repuxarem um pouco como se tentassem conter um sorriso.

— Muito bem Srta. Steele. – disse virando de costas em direção à saída. — Mas não vá deixar pegadas no meu banheiro! – gritou lá de fora.

Bufei irritada, chocada, impressionada. Quando pisei fora da banheira, quase escorreguei de tanto que minhas pernas tremiam. Andei até a porta e percebi que não havia tranca. Então, tratei de me enxugar e me vestir o mais rápido que pude. Coloquei uma bermuda jeans branca e uma camisa bem comportada azul. Meu deus... Será que Christian me viu?

Uma voz na minha cabeça riu e respondeu: e daí? Você viu tudo que pôde dele, danadinha!

Rolei os olhos dizendo para mim mesma que não havia visto nada. Foi recitando este mantra que tomei coragem para sair do banheiro. De pé, perto da porta da sacada, vi a silhueta de Christian recortada contra a luz. Felizmente não estava mais despido. Usava uma calça jeans, mas também era só.

Ao ouvir meus passos, ele se virou. Eu não sabia como reagir, então caminhei até a cama e comecei a enfiar a roupa usada na parte reservada para ela da minha bolsa. Queria terminar isso e sair dali.

Sair dali. Isso.

Reparei numa mala grande e preta ao pé da cama que não estava lá antes.

— Eu estranhei essas coisas aí! – a voz de Christian quebrou o silêncio. — Mas como estava cansado, não parei para investigar do que se tratava.

Inclinei a cabeça para o lado, como que para olhá-lo, mas meus olhos não conseguiam sair de cima da bolsa. O zíper prendeu no tecido quando tentei fechar de uma vez por todas, nervosa.

— Acabei de chegar de viagem. — Christian continuou falando. — Não sabia que dentre todos os quartos dessa casa escolheriam justamente o meu para lhe acomodar.

— Hum... Deve ter sido um engano.

— Talvez quisessem mostrar a vista para você. – ele disse. Percebi que ele havia voltado a olhar para a sacada. — Eu mandei abrir esta varanda. Nenhum outro quarto é assim.

— Hum...

Tive que tirar algumas peças de roupa da bolsa para poder desengatar o zíper e depois, com as mãos trêmulas, precisei dobrá-las com mais cuidado, um cuidado que eu não estava em condições de ter. Sentia meu coração pulsando nos ouvidos.

— Quer ajuda aí?

— Não.

Quando terminei, ergui-me e tentei parecer o mais digna e inabalável possível. Christian estava encostado na porta, os braços cruzados sobre o peito, apoiado sobre a perna esquerda. Parecia relaxado, o total oposto de mim.

— Eu vou falar com Sra. Grey e esclarecer o mal entendido. – eu disse tentando soar estável.

— Não. Venha. Eu vou lhe mostrar outro quarto. Mais tarde explicamos a situação. Não quero que ela pense que eu expulsei você.

E não era o que estava fazendo?

Como eu não conseguia articular nada melhor para contrapor, aceitei. Christian me direcionou até fora do quarto e abriu a porta em frente à sua para mim. Enquanto ele caminhava à minha frente, notei que em suas costas havia pequenas cicatrizes, espalhadas dos dois lados. Marcas cor-de-pele, como finos arranhões em relevo.

Assim que ele abriu a porta do outro quarto para mim, entrei segurando a maçaneta do lado de dentro. Senti que havia uma chave ali e suspirei, aliviada. Eu poderia me trancar e tudo ficaria bem.

— Pode ficar neste. Se estiver faltando alguma coisa, pegue aquele telefone – apontou para um aparelho moderno e prateado em cima do criado-mudo — e digite o ramal da cozinha. Alguém lá poderá atender você.

Ramal da cozinha?

— O número está gravado no aparelho. – ele acrescentou. Será que meu rosto estava transparecendo tão facilmente minhas emoções?

— Obrigada. – Minha educação me impeliu a dizer, mas na verdade não queria agradecer.

— Estamos aqui para agradar, Srta. Steele. – ele disse de um jeito... Estranho. Parecia divertir-se.

Christian fechou a porta na minha cara e se foi. Fiquei um tempo paralisada, olhando a madeira branca à minha frente, até deixar cair a bolsa do ombro, distraída.

Que diabos havia acontecido?


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Deixe sua opinião.



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