POV. Daphne

Ah quinta-feira... Doce quinta-feira. Seria um adorável dia de descanso, por ser minha folga. Seria se eu não tivesse de ir para faculdade. Deprimente. Mas hoje vou ao Brooklyn comprar roupas com Eliza. Não vou apenas para gastar meu dinheiro, mas também para ser o guia dela, porque pessoa mais perdida que ela não existe!

Folheio minhas partituras e tomo um gole do meu café. Pouso a caneca sobre o porta-copo em cima do piano.

– Vamos lá então. Última vez. – digo para mim mesma e preparo-me para tocar o piano. Faço isso todos os dias para treinar para o concurso.- Feel the rain on your skin, no one else can feel it for you, only you can let it in, no one else, no one else, can speak the words on your lips, drench yourself in words unspoken, live your life with arms wide open, today is when your book begins, the rest is still unwritten…

Essa música é a minha predileta. Lembro do sucesso que ela fazia quando eu era adolescente. Uma vez eu fui ao show da Natasha Bedingfield, por muita insistência do meu pai. Minha mãe queria me obrigar a ir a um concurso no mesmo fim de semana do show, depois de uma briga e um calmante, eu pude ir ao show. Tenho aquela sensação de que ela diz muito sobre minha vida.

Tomo meu banho e escolho minha roupa para sair. A campainha toca e visto um roupão para atender a porta. Apenas a destranco e volto para o quarto pois sei que é Eliza.

– Boa tarde! – disse Eliza.

– Olá! – digo voltando-me para meu closet e Eliza me acompanha.

– Estou em crise. Hoje à noite tenho um encontro depois da faculdade e não faço ideia de que roupa usar.

– Em alguma das vinte lojas com promoção no Brooklyn, você vai achar uma roupa. – digo e começo a passar os cabides.

– E eu tenho quase uma boutique na minha casa e não achei uma droga de roupa que servisse para hoje.

– Faz parte, eu também. Mas não perca as esperanças. – digo.

Depois de um tempo, finalmente decido o que vestir. Eliza e eu saímos de minha casa. Pegamos um metrô até o Brooklyn e logo chegamos. O melhor lugar para se fazer compras. Faz algum tempinho que eu não venho aqui. Começamos indo a Franklyn Street, 150. Dalaga. Enquanto Eliza experimentava as roupas que ela havia gostado eu tentava achar alguma que pudesse ficar de reserva em meu closet.

– Não gostei de nada. – disse Eliza saindo do provador insatisfeita.

– Bom. Eu gostei dessa blusa bem aberta dos lados.

– Isso ta na moda.

– Sim. Vou levá-la. – digo e entrego a peça de roupa para a atendente.

Pago e andamos para as outras lojas da rua. Uma, duas, três, sete lojas por qual passamos até Eliza encontrar um vestido perfeito.

– Não estou que nem vadia, nem que como virgem. – disse Eliza olhando satisfeitas para o espelho.

– É, e não dá nem pra gente ir pra casa, nem ir pra mais uma loja, temos que ir para a faculdade.

– Okay, apressada. Para sua informação não ta nem na hora ta aula.

– Mas foi você que marcou com a Sally para ver o vestido de noiva dela. – rebati.

– É verdade. Então temos que ir, deixe eu só pagar.

– Vai lá. - digo

Saímos da loja e andamos até o metrô. Em dez minutos já estávamos em Manhattan. Chegamos à faculdade e para nos encontrarmos com Sally. Sally é uma amiga nossa que vai se formar neste período, e após se formar irá se casar com seu noivo Ian. Eliza e eu fomos convidadas.

– Vai ser tudo bem clássico, dos tons mais claros. – disse Sally passando as fotos em seu IPad. – Aqui a foto do vestido. – O vestido era longo com mangas curtas. Um corpete todo cheio de perolas e uma saia bem armada que se iniciava nos quadris.

– Lindíssimo. – digo

– Você ta parecendo uma princesa. Ai, Daphne. To entrando em depressão quero alguém para casar.

– Eu não posso dizer o mesmo. – digo, lamentando.

– Ainda está nessa? – perguntou Sally.

– Infelizmente. - digo

– Que barra! Bom, eu comprei o vestido na Kleinfeld. Me senti no paraíso dos vestidos. – disse Sally

– Imagino! Sempre que eu vinha para Manhattan com minha mãe, eu a fazia ficar parada lá por cinco minutos para namorar aqueles vestidos lindos da vitrine.

– Eu já fui lá uma vez com minha prima escolher o vestido dela. Nos trataram super bem. – disse Eliza

– Sim, que atendimento. – concordou Sally

Enquanto as duas conversavam sobre o atendimento de muitas lojas de Nova York fiquei olhando ao redor a paisagem do Campus. Pude ver ele, sentado há alguns metros de costas para mim.

– Já volto. – digo para as garotas, que continuaram com o papo sem se importarem com a minha falta. Aproximo-me por trás de Josh que estava sentado em um banco de madeira. Mas desvio ao perceber que uma garota se aproxima dele e finjo estar fazendo outra coisa. Mexo em meu celular fingindo ter alguma mensagem importante para responder.

– Daphne? – disse ele com sua voz sedutora sem esforços.

– Olá, Josh Parker. Tudo bem? – cumprimento-o dando um beijo em sua bochecha e o mesmo e puxa para um abraço e me dar um beijo estalado em minha bochecha.

– Tudo. E com você?-

– Bem também.

– Você estava aqui faz tempo?

– Hã... Sim... – falei a primeira coisa que me veio à cabeça.

– Por que não veio falar comigo?

– Bom... porque você estava acompanhado e tal. Aí eu resolvi não atrapalhar. – expliquei-me.

– Ta de sacanagem, né?

– Não.

– Ela só era mais... – ele não sabia se explicar. – uma de minhas ficantes de uma noite só.

– Ah. Compreendo bem.

– Como aquele cara que veio falar com você no dia que tomamos café. Sabe estou esperando aquele encontro até hoje. – disse ele tentando fazer uma voz sedutora.

– Patética essa sua voz. E nem pensar. – digo rindo. – Bom eu ia falar com você pra saber se você não gostaria de correr comigo a maratona da cidade Nova York?

– Hum.... um encontro? – disse ele levantando as sobrancelhas de um jeito engraçado.

– Não. Uma corrida. Por que você tem que levar tudo para esse lado?

– Porque eu adoro esse lado. – disse Josh com um tom engraçado. – mas falando sério também porque adoro te zoar.

– Triste isso, mas e aí? Vai topar?

– Mas é claro. Vou provar para você que corro mais.

– Só que não. Chego na linha de chegada antes de você. – digo

– Vamos apostar?

– Claro. Se você perder, vai ter que aprender a tocar piano comigo.

– Ai, senhor! Isso é muito chato. Como é que você gosta? Ta, mas enfim. Se você perder, Campbell, vai ter que ir à minha próxima festa de dormitório.

– Fechado. – digo e apertamos as mãos.

– Josh! - disse Sally. – Que bom que eu lhe encontrei! Aqui o seu convite pro meu casamento.

– Mas já gente? Como o tempo passa rápido, cara.

– Pois é. – digo.

– E também aqui o seu, Daphne. – diz Sally, entregando-me o convite. – Vocês já se conhecem?- disse ela estranhando nossa proximidade.- Bom. não quero ninguém furando comigo. Todos no meu casamento. Agora eu tenho que ir fofos, porque o Ian ta me esperando. Beijocas. – ela se foi mandando beijos.

– Também é amiga de Sally?

– Sim.

– Como não nos conhecemos antes? – disse Josh e nessa hora olhei no fundo de seus olhos.

– Não faço ideia. – digo desviando o ar e sentindo meu rosto corar.

– Bom, tenho que ir. Me manda informações sobre a corrida.

– Claro, claro. – disse e dou um beijo em sua bochecha despedindo-me e recebo um outro em troca. Sinto novamente aquele perfume em seu moletom da faculdade.

– Até mais Daphne. – diz Josh indo embora.

– Até. – digo observando-o.

Aflição. Queria poder conversar um pouco mais, com Josh pois faz tempo que não o vejo, mas tenho a plena certeza de que irei vê-lo na Maratona de Nova York. Esse vai ser um evento legal. Não quero perder, mas até que não seria má ideia ir pelo menos uma vez nessa festa deles.

Termino a tarde analisando o convite de Sally com Eliza. Fomos para a aula e volto para casa para me preparar para mais um dia de trabalho.