Necronomicon escrita por Enki


Capítulo 3
Capítulo 03 - Ícaro




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Uma centena de insetos tinha aparecido ao nosso redor. Insultei-me pessoalmente por ir procurar Aron Löwen. Ele já tinha cavado a própria cova e agora me trouxera junto. O que posso dizer? Tive que ver meus país se atacarem e matar minha própria irmã quando eles se transformaram nos zumbis detestáveis. Minha irmã, que tinha apenas onze anos de idade. Jurei que encontraria o responsável por aquilo é o mataria com minhas próprias mãos. Quando encontrei o necromante afastado de suas terras, suspeitei imediatamente, mas ele dormia e resolvi vasculhar suas coisas. Infelizmente, quando ele atacou com apenas três esqueletos, tire de admitir que ele não era meu inimigo. Quem eu procurava era infinitamente mais poderoso, capaz de ressuscitar centenas e centenas de mortos. Por outro lado, assassinar o necromante seria bom para praticar para o meu grande momento. Eu poderia aprender como eles lutam e já saber como agir quando realmente precisasse. Mais importante ainda, eu poderia descobrir o causador de tudo aquilo. Afinal, Aron e o meu alvo eram da mesma laia, ele deveria saber quem eu estava procurando e como encontrá-lo. Assim, fui atrás do retardado e acabei encontrando um exército de insetos na minha frente.

Aron pegou a lâmina de sua faca com as duas mãos e apertou. Era sério que aquela era a única arma que ele tinha? Se saíssemos daquela situação, eu mataria aquele cara. Se não saíssemos... Bom, eu ainda mataria ele antes dos bichos, apenas pelo prazer de matar. Talvez isso até ajudasse, distraindo as criaturas com o corpo imóvel enquanto eu fugia.

Então o mago de preto abriu os braços e murmurou algumas palavras em elfico. Se entendi bem, significavam “Guerreiros que morreram para essas criaturas, respondam ao meu chamado. Eu, agora, os convoco para vingarem suas mortes. Matem esses seres e nos protejam. Essa é a Corrupção da Morte”

O sangue escorreu de sua mão e o primeiro pingo que caiu na água do pântano contaminou-a completamente. Toda a água ficou vermelha e uma dúzia de esqueletos emergiram delas é formaram um círculo a nossa volta.

Certo, talvez eu não devesse matar Aron tão cedo. Seu comando de magia era para nos proteger, a mim incluindo.

“Acho que doze mortos não vão nos ajudar contra a centena de insetos. Eles nos cercaram.”

“Não vou poder fazer mais que isso.” Ele respondeu apoiando-se na árvore. “Estou esgotado. É a terceira vez que firo minha mão nas últimas vinte e quatro horas. Daqui a pouco, se não morrer por não conseguir segurar uma arma e me defender, morro por infecção.”

“Eu não ia ligar se você morresse.” Declarei.

            Aron não se incomodou com meu comentário. Parecia estar atento a outra coisa.

            “Olhe. Eles não estão se aproximando. Por que não nos atacam?”

            De fato, os monstros do pântano não tinham investido contra nós ainda. As árvores e a água ao nosso redor estavam infestadas, mas eles pareciam esperar alguma coisa. Cedo demais. Um dos grilos gigantes pulou em cima de Aron. Depois disso, todos os outros vieram.  Os esqueletos ajudavam a manter as criaturas longe, mas os grios eram muito rápidos e passavam por eles. Quando percebi, havia cinco ou seis sobre mim e alguns incontáveis nos meus pés tentando subir sobre mim.  Tentei acerta-los com a espada, mas eles se moviam rápido demais. Senti uma mordida na minha coxa, um grilo fizera um buraco em minha perna. Outro mordeu meu pé e um terceiro atacou meu abdômen. Eu caí no chão gritando e me debatendo. Os bichos continuavam em cima de mim, cada vez mais e mais, levando embora pedaços de minha carne. Segurei a cabeça de um que estava prestes a levar meu olho embora. Ele forçou para frente, balançando as pernas desesperado para me devorar. Não sei dizer o que aconteceu em seguida. Eu gritei afastando a criatura. Sua cabeça em minha mão começou a rachar e uma luz radiante surgiu entre as fendas. A criatura estufou de repente e explodiu para todo lado. Mais uma vez, eu não sabia, não sei ainda como aconteceu. Só sei que diversos arcos de energia luminosa giraram a minha volta, como lâminas cortando todos os monstros em cima de mim.

Levantei-me confuso e olhei para Aron apenas para vê-lo atirar sua faca em minha direção. A faca passou ao lado de minha cabeça e derrubou uma aranha que estava atrás de mim.

“Não sei como você fez isso, mas faça de novo. Está mantendo eles afastados.” Aron comentou ofegante.

Ele tinha razão. As criaturas tinham parado de avançar ao nosso redor novamente.

Concentrei-me. Precisava fazer aquilo de novo, mesmo sem saber. Senti um calor surgir em meu peito e se espalhar para o meu corpo. A água do pântano começou a levitar para cima a nossa volta.  Então gritei outra vez.

Uma explosão de energia pura saiu de mim. Um brilho tão forte que incinerou os monstros a minha volta. E Aron... Ele deveria ter ficado cego com aquilo. Tentou proteger seus olhos, é claro, mas não houve sombra que resistisse àquele clarão. Todo aquele local do pântano, num raio de quinze metros talvez, ficou branco com aquela explosão, por poucos segundos antes de voltar ao normal.

Olhei ao redor. Sem sinal de monstros, todos morreram. Aron estava caído na água, gemendo de dor e com a pele queimada. Bom, tinha conseguido matar meu adversário, agora só precisava sair imediatamente daquele pântano antes que mais daquelas criaturas aparecessem. Vasculhei mochila de Aron novamente, nada muito útil para mim. Peguei a faca que ele tinha, ele não iria precisar mais dela, e observei mais uma vez o corpo dele no chão. Maldição. Eu queria deixar ele lá, deixa-lo morrer ali mesmo. Ele, porém, provavelmente salvara minha vida ao matar aquela aranha. Sem falar que eu ainda precisaria de ajuda para encontrar o real culpado daquele apocalipse e Aron era minha maior chance de acha-lo. Peguei o corpo do rapaz e o carreguei. Ele não era muito pesado até, mas era complicado levar uma pessoa sozinho. Demoramos por volta de uma hora até o pântano chegar ao seu fim.

Não preocupado em me afastar muito, deixei Aron no chão e resolvi armar acampamento ali mesmo. Reuni alguns galhos secos e fiz uma fogueira. Já escurecia e esfriava. Eu precisava descansar, mas não teríamos segurança naquele local. Se Aron acordasse enquanto eu dormia, poderia me matar ou fugir. Se não, poderia aparecer algum zumbi ou monstro para nos atacar novamente e não sei se eu acordaria a tempo de evitar o pior. Encarei minhas mãos lembrando do momento em que explodi o grilo. Como eu teria feio aquilo? Peguei um cantil e joguei um pouco de água para molhar o rosto. A água de repente começou a brilhar em minhas mãos e meus ferimentos passaram a se curar. Coloquei a água na perna também, onde tinham rasgado um pedaço da minha carne e o mesmo aconteceu. Estava lá a pele lisa, como se nenhum ferimento tivesse ocorrido. Olhei para Aron. Ele ainda dormia. Suas queimaduras precisavam de muito mais tratamento que eu. Aproximei-me e coloquei a água em seu braço. Como ele tinha usado o membro para proteger o rosto, acabou se queimando muito mais ali. Nada especial aconteceu.

O líquido brilhara apenas depois de entrar em contato com a minha mão, será que era eu quem estava fazendo aquilo? Não custava tentar. Segurei o braço de Aron, mas sua pele começou a queimar ainda mais. Mesmo inconsciente, ele gritou e tive que me afastar antes que piorasse muito a situação. Voltei para perto do fogo e esperei até as chamas se apagarem. Depois disso, não aguentei mais e dormi.

Acordei com o nascer do sol. Aparentemente, nada acontecera. Aron ainda dormia, mas curiosamente estava perfeitamente curado. Sem nenhuma sombra das queimaduras que sofrera no corpo, ele acordou algumas horas depois. Quando me viu, se arrastou pra longe.

“O que você quer de mim?” Foi a primeira coisa que falou.

“Quero sua ajuda.”

Ele gargalhou.

“E por que em sã consciência eu faria isso?”

“Não sei, talvez porque eu salvei sua vida?”

“E? Acha que te devo alguma coisa por isso? Foi você quem quase me matou com aquela explosão.”

“Eu? Você estava cercado por monstros em um pântano. Se não fosse por mim, você seria excremento de inseto agora.”

“E eu fui no pântano por que? De quem eu estava fugindo mesmo? Se você não tivesse tentado me roubar, eu estaria bem agora.”

“Essa eu duvido. Você teria ido para lá de qualquer jeito, já que saiu calmamente quando me deixou com os esqueletos. Foi muita sorte eu ter ido atrás de você. Agora me escute, preciso que você me ajude a encontrar o necromante que causou todo esse problema. O dos zumbis.”

“E o que eu ganho ajudando-o?”

“Bom, você está procurando um lugar seguro para ficar e não é daqui.” Sorri. “Não sabe quais foram as notícias locais que recebemos desde que essa confusão começou. Se houver algum lugar que ainda não foi atacado por essa região, ou mesmo um refúgio para se abrigar, eu sei onde é e você não.”

“Maldito.”

Continuei sorrindo.

“Só tem um problema, eu não sei quem causou tudo isso.” Ele declarou.

“Então você não tem serventia para mim. Passar bem.” Levantei e recolhi minhas coisas.

“Espere. Você ainda pode me dizer para onde devo ir.” Ele pediu.

“E o que eu ganho ajudando-o?” Respondi imitando o tom de voz dele.

“Está bem. Eu posso fazer um feitiço de reconhecimento para você. Isso vai me dizer a origem do encantamento e possivelmente seu autor. Só preciso arranjar algumas coisas antes e...”

“Por que eu devo acreditar que o que você me disser é verdade. Como sei que não vai inventar uma história e dizer um lugar e nome quaisquer?”

“Por que eu devo acreditar que a sua indicação será segura. Você pode me mandar simplesmente para onde ouviu falar da última horda.”

“Acho que teremos que confiar um no outro então. Do que você precisa?”

Ele me olhou no fundo dos olhos. Por um momento, tive a impressão de que ele observava minha alma.

“Vamos voltar para a sua cidade.”


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