Necronomicon escrita por Enki


Capítulo 2
Capítulo 02


Notas iniciais do capítulo

Esse foi complicado... Esses personagens são muito egocêntricos pra estabelecer diálogos construtivos Hahahah.



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Faca contra espada. Que ótimo. O homem a minha frente era maior e corpulento, eu não tinha chance em uma luta justa.

“Quem é você?” Ele perguntou.

“Você estava mexendo nas minhas coisas. Você responde primeiro.” Provoquei.

“Claro. Meu nome é Ícaro Blutblecher. Vim da cidade a margem da floresta. Estava dormindo quando o ataque aconteceu e só acordei quando os zumbis chegaram em minha casa. Eu fugi, mas não sei se mais alguém conseguiu sair vivo. E você? De onde vem e para onde vai?"

Serio que ele acabara de se apresentar para mim? E para que mesmo? Deveria estar tentando me distrair e fazer algum ataque surpresa...

“Desculpe, não vou dizer falar nada para você.” Respondi.

“Mas disse que se identificaria!”

Por favor, eu deveria estar lidando com um idiota... Talvez não fosse tão difícil assim derrota-lo afinal. Avancei com a faca tentando uma estocada. Antes que chegasse próximo o suficiente, Ícaro agitou a espada com um simples movimento do pulso e atingiu minha mão. Achei que perderia o membro na mesmo hora, porém ele era habilidoso e tinha objetivo apenas de me desarmar. A minha faca voou e caiu alguns metros longe. Desarmado contra espada. Perfeito. Talvez não fosse tão fácil assim derrota-lo.

“Pelas suas roupas, suponho que você vem das terras do sudeste. Você é um necromante e é lá que eles vivem. O que me pergunto é por que você estaria tão longe de lá uma época dessas, em que centenas de zumbis tem surgido por ai? Bastante conveniente, não? É claro que você pode me esclarecer tudo isso assim que disser seu nome.”

Certo. Talvez eu não estivesse lidando com alguém tão idiota assim também.

“Me chamo Aron Löwen. Os mortos vivos atacaram a Torre que eu estudava e eu fugi. Estava procurando um lugar seguro, uma cidade que ainda não foi atacada. Sou um necromante sim, mas não sou culpado por esses zumbis.”

“Eu não disse que era. Mas parece que há alguma culpa que você está querendo disfarçar.”

“Olha, não estou nem um pouco interessado no que você pensa de mim. Você estava mexendo nas minhas coisas. Queria me roubar? Não tem nada ne valor naquela mochila.”

“Não, não. Eu não roubo. Primeiro só me aproximei para saber se você era uma ameaça e, quando percebi que você é um necromante, resolvi verificar com...”

Eu não ia ficar ouvindo aquele homem falar, tinha mais o que fazer. Eu detestava usar meu sangue para os feitiços, preferia aproveitar os dos outros. Mas eu não conseguiria matar o Ícaro, nem me aproximar para feri-lo, então não tinha muitas opções. Coloquei minha mão entre os dentes e mordi. Rapidamente me abaixei e fiz uma marca de sangue no chão.

“O que está fazendo? Pare agora mesmo!” Ícaro avisou aproximando a espada de meu pescoço.

“Não... Pare você.” Levantei o olhar e respondi sorrindo.

Ícaro se afastou. Acho que eu deveria estar muito macabro com o sangue nos dentes. Ainda podia sentir o gosto de ferro na boca. De qualquer forma, ele decidiu que eu era uma ameaça e levantou a espada para me matar. Porem, quando tentou se aproximar novamente, uma mão esquelética saiu do chão e segurou seu pé.

“O quê?” Ele falou surpreso pela mão de ossos que o segurava.

Então outra garra saiu da terra e segurou seu pé. Logo um terceiro esqueleto erguia-se do chão e se dirigia para meu adversário.

“Com licença...” Peguei minha faca que ele tinha jogado para longe e as minhas coisas na mochila. “Acho que você está ocupado agora. Vou indo aqui. Foi um prazer conhece-lo, mas tenho mais o que fazer. Sinto não poder ficar para o seu enterro, acredite eu adoraria isso.”

“Volte aqui, maldito!” Ouvi o homem gritar enquanto corria para dentro da floresta.

Não era floresta de forma alguma. Era um pântano fétido e nojento. O próprio odor ácido impregnava a neblina local. Ao menos, a água não era corrosiva. Seria horrível ter que ficar escalando e saltando de uma árvore pra outra, fora que eu perderia totalmente meu senso e direção. O liquido lamacento batia em meu joelho e volta e meia movimentava-se sozinho. Coisas que eu não queria saber deveriam viver ali dentro, porém elas não estavam me atacando, então não tinha porque me incomodar. Eu precisava descobrir para onde ir. Estava com fome e não tinha descansado direito. A cidade mais próxima de acordo com meu adversário morto fora atacada também, mas talvez eu pudesse passar por lá. Era possível que, a essa altura, os monstros já tivessem ido embora. Sentei em uma raiz grossa de árvore e peguei a caveira na mochila. Apenas conversar com ela não seria possível, ela não me respondera na primeira vez e não faia isso agora. Agora, se eu estabelecesse uma ligação mais forte, eu poderia conseguir alguma coisa. Eu precisava entrar no estado entre vida e morte.

Se fosse uma situação comum, eu teria preparado um ritual. Uma banheira cheia de gelo, para me fazer adormecer e diminuir meu metabolismo. Meu corpo funcionaria tão lentamente, mais devagar que a quando dormimos, que eu entraria em uma espécie de semivida. Nessa ponte criogênica entre a vida e a morte seria mais fácil entrar em contato com o outro lado. Obviamente eu não tinha banheira ou gelo, então teria que ser da forma mais arriscada. A forma que eu teria menos chances de voltar. Coloquei a caveira a minha frente e a encarei. Os buracos das órbitas oculares estava fundo e sombrio, quase como tuneis interminavelmente vazios. O sorriso que ela apresentava debochava de minha vulgar tentativa de comunicação. Acalmei minha respiração e tentei forçar meus batimentos cardíacos a diminuírem. Fechei os olhos. Quando os abri novamente, o mundo estava diferente.

As árvores eram sombras vivas e até mesmo conscientes. A água estava impossivelmente limpa e o mau odor havia desaparecido. A luz difusa do céu era forte de modo que não se podia observá-lo diretamente. A caveira a minha frente exibia um brilho esfumaçado. A aura de luz subiu acima do crânio e sibilou no ar. Um fogo fátuo. Eu levantei. Na verdade, minha alma levantou pois percebi que meu corpo continuava sentado atrás de mim. Eu havia assumido uma forma etérea de consciência, tornando-me uma projeção astral, ou, mais especificamente, fantasma. Segui o globo de luz que avançava pelo pântano. Nessa forma, eu caminhava sobre a água quando corria pelas árvores de sombras. Mas as árvores logo não eram mais árvores. Eram colunas de sombra maciça. O chão era um piso de pedra polida. O céu desaparecera, dando lugar a uma terrível escuridão. Nada como a noite, estava mais para um salão de teto tão alto que a luz não conseguia alcançar. O Salão Negro não tinha outra iluminação além do Fogo Fátuo, por isso, não se via seu fim. Em verdade eu digo, duvido que aquele salão tivesse algum fim. Paredes ou teto, jamais. Era um Salão Negro de Sombras. Caminhando mais, cheguei a uma abertura nas colunas intermináveis. Deparei-me com um círculo de pilares ciclópicos. Um Stonehenge, cujo centro exibia um altar esculpido sobre uma base de três degraus. Aproximei-me e subi no altar, sabendo que aquilo era o motivo de todo aquele lugar e a razão para eu estar ali. Lá estava um poço tampado, quase como um bueiro. E sobre a tampa, minha caveira do sorriso debochado.

“Acorda-te!” Ela sussurrou com uma voz em nada humana.

Sentia uma coceira em meu joelho, como centenas de agulhas minúsculas cutucando minha carne.

“Acorda-te!” A caveira repetiu.

Eu abri os olhos. Havia um enorme tentáculo cheio de dentes tentando engolir minha perna. Carnictis Sordicus, uma minhoca ou verme que vive no lodo. Não tem olhos, são pouco mais que um estomago vivo que se desdobra para fora do corpo e engole suas vítimas inteiras. Tinha engolido já metade de minha perna quando peguei a faca e enfiei no bicho. Tratei imediatamente de retirar ele de mim e afastar-me daquela criatura. Não tinha acabado. Vi insetos bizarros, aranhas e grilos de quase um metro. Com pinças na boca e pernas alongadas, frenéticas para correr atrás da carniça que se alimentariam. Eu não tinha como enfrentar aqueles bichos. Mesmo se convocasse esqueletos para me ajudar, eram criaturas demais para vencer. Eu precisava correr.

Peguei a minha mochila e disparei pelo pântano. Sentia mais das minhocas carnívoras se arrastando entre minhas pernas, mas não podia parar. Olhei para trás, os insetos espalhavam-se por toda parte. Subindo nas árvores, nas raízes, saltando de galho em galho, ou mesmo voando, eles me perseguiam implacavelmente. Maldita hora que olhei para trás. Além de me desesperar, ainda tropecei e caí no chão. Uma boca cheia de dentes surgiu das águas, aproveitando a oportunidade para me atacar. Enfiei a faca na garganta do crocodilo que me atacava e tentei jogá-lo para o lado. Levantei. Oms insetos estavam quase em cima de mim quando voltei a correr. Por sorte, os grilos mais próximos atacaram o crocodilo ferido rasgando-o em pedaços. Ele tinha mais carne que eu e era uma presa mais fácil por já estar machucada, mas não era suficiente para alimentar todos. Voltei a correr, porém mais insetos pululavam a frente. Virei e continuei correndo. Uma aranha saltou em minhas costas. Tentei segura-la, mas ela caminhava rapidamente pelo meu corpo de cima a baixo. Nessa hora, eu não via mais para onde corria, apenas corria desvairadamente. Retirei minha mochila e, no instante, em que percebi que a maldita estava sobre o objeto, acertei a mochila contra a arvore e esmaguei o aracnídeo.

Foi a última coisa que eu fiz antes de alguém me segurar por trás e jogar-me contra o tronco com gosma de aranha gigante escorrendo.

“Eu vou matar você, seu vermezinho arrogante!” Ícaro ameaçou furioso colocando a espada em minha garganta.

“Entra na fila, idiota!” Respondi indicando as árvores.

Só então Ícaro percebeu que estávamos cercados de criaturas famintas pela nossa carniça.


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Notas finais do capítulo

E agora? Será que eles vão sobreviver às criaturas do pântano? Quem é Ícaro afinal e qual o papel dele nessa história? E cadê os zumbis? Eu quero zumbis! Continua nos próximos capítulos...
Huahauhauaha, parei. Sem previsão ainda para a sequencia. Comecei essa história pouco tempo atrás e não tenho coisaadiantada pra fazer postagens regulares. Mas não vai demorar também. Aguardem!



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