Favorite Worst Nightmare escrita por Lolitass


Capítulo 3
Fireside




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Nada é pior do que ser deixada sozinha com alguém que você não tem a mínima ideia do que falar. Nikki parecia uma supermodelo, movia-se como uma fada, sustentando mais de um metro e oitenta sobre saltos afiados como duas agulhas.

Para completar meu acesso de ciúme e inferioridade, ela sequer olhou para minha cara durante espaço de tempo que fomos praticamente obrigadas a ficar juntas. O camarim era relativamente grande, alguns sofás de veludo vermelho, bandejas e mais bandejas com as mais diversas bebidas e alguns espelhos, iluminados pelas clichês e redondas lâmpadas. Tirei o celular de dentro da bolsa, fingindo me entreter em algo, quando na verdade apenas encarava a tela de bloqueio.

— Prontas? – Alex perguntou, já havia trocado de roupa e estava visivelmente alterado. Varri para longe todos os pensamentos que correram minha mente naquele instante. Eu sabia que ele usava drogas, mas não gostaria de lhe dar com o que eu sentia a respeito daquilo. Não agora.

— Você comprou as coisas que eu te pedi? – Nikki perguntou, lançando um casaco Chanel de última linha por cima das costas. Alex lançou-me um olhar preocupado, sabia que eu estava deslocada, por mais que eu sempre soubesse o que dizer.

— Já está tudo no carro, vamos para casa do Dean -  Ele respondeu, com certa relutância ao dizer o nome do amigo. Estaria Alexander Turner com ciúme de mim? Era bom demais para ser verdade. – Lizzie, você ainda gosta de bala de goma? Eu comprei algumas.

Concordei com a cabeça, fazendo- a dança da vitória mentalmente ao ver Nikki revirar os olhos. O que ela tinha a ver com Alex? Nada!

Já passava da meia noite quando deixamos o lugar, os outros garotos da banda faziam piadinhas sujas e pornográficas, Alex somente balançava a cabeça e soltava uma risadinha vez ou outra, de mãos dadas com Nikki. Dean andava ao meu lado, no mesmo passo, com ambas as mãos nos bolsos.

— Você gosta de vídeo game? – Ele perguntou, transformando suas palavras num rastro frio de vapor, devido a temperatura que começava a cair ainda mais.

— Gostar eu até gosto – Respondi, vendo aos poucos a conversa cessar. – Mas eu não sei jogar muito bem.

— Acho que hoje é seu dia de sorte – Matt, o baterista, brincou. – Já que além de ser bom na batera, eu também sou fera nos videogames.

Soltei um sorriso ao ver que ele estava vontade comigo. Matt, Jamie e Nick eram os outros componentes, se assim pode se dizer, os conhecia de vista da escola já que eram amigos de Alex, mas nunca fomos muito próximos.

Depois de mais alguns passos e brincadeiras pelas calçadas estreitas e bem iluminadas, Alex deixou soltar um palavrão. Um paparazzo se aproximava, com uma câmera do tamanho de uma caixa pendurada no pescoço.

— Como vão? – Ele acenou, mascava chiclete como se seu maxilar fosse ligado à um motor. As feições de Alex mudaram de insatisfeito pra mal-humorado em questão de segundos e só Deus sabia como ele podia ser rude quando queria. – Mais uma namorada nova, Turner? Que beleza! Qual seu nome?

Senti as mãos de Dean me empurrarem para acompanhar o grupo, já que todos aceleravam o passo. Nikki parecia gostar da exposição, dava sorrisos e jogava o cabelo em todas as direções.

— Finja que não é com você – Dean falou, quase como se comentasse do tempo. Ele e Alex eram os lados opostos da moeda, um muito calmo e caloroso o outro muito frio e grosseiro. Alex se achava o dono da verdade.

— O que acha de me dar uma foto? Só uma – O fotografo corria, tentando acompanhar o nosso passo, enquanto alternava paradas bruscas com clics, que faziam o flash nos cegar. Eu não estava acostumada com aquilo.

— Vá se foder – Alex murmurou, erguendo um dedo mediano trêmulo. Estava alterado, e como estava. Odiei vê-lo daquela forma, tão baixo, tão guiado pela fama. Lembrei-me de uma entrevista que ele havia concedido, uma das mil que eu já havia lido, na qual ele fala que amava a fama e todos seus benefícios, mas que ódio era muito pouco para descrever o que ele sentia pela falta de privacidade.

— Alex, para – Falei, vendo-o me olhar com cara feia, a testa enrugada, cheia de sulcos. – E não me xingue senão eu vazarei fotos suas que ai sim o farão xingar. Deixe-o tirar uma foto, apenas vamos embora.

Todos do grupo riram, exceto Nikki. Alex nada disse, apenas continuou de cara feia, vermelho como um tomate. Sabia que eu estava certa e odiava aquilo.

O apartamento de Dean era num bairro um pouco longe do centro e de toda a agitação. Na verdade, era um sobrado que se dividia harmoniosamente em poucos cômodos. Para a minha surpresa não havia sujeira ou pornografia pelas paredes, era tudo branco e simples.

— Apartamento legal – Falei, enquanto tirava as botas para sentar no sofá.

— Não confie nela, ela mente – Alex brincou, enquanto sentava ao meu lado, desta vez era Nikki que parecia deslocada. Num piscar de olhos uma tigela de balas de goma e salgadinhos surgiu diante de nós. Dean era rápido.

— Quem diria que essa seria a festa de astros do rock – Zombei, mergulhando a mão na tigela de salgadinho. Todos riram, a maioria de boca cheia para fazer graça. Nikki não se movia, apenas se entretinha com seu celular, o rosto iluminado pela tela. – O que vamos fazer agora?

— Cadê aqueles teus videogames, Dean? – Nick perguntou, enquanto jogava os sapatos do outro lado da sala para pular no sofá. Dean murmurou alguma coisa sobre procurar. Matt falava com uma garota chamada Shae ao telefone, enquanto Jamie zapeava a televisão de tela plana, deixando no canal dos esportes.

— Chelsea ou PSG? – Ele perguntou, bufando ao ver que o placar do jogo ainda era de zero a zero.

— PSG, óbvio – Resmunguei, fazendo-o arregalar os olhos de surpresa. É, eu gostava de futebol. – Aliás, aposto em um gol do Ibra e um do Cavani.

— Turner, aonde você escondeu essa garota durante todo esse tempo? – Jamie brincou, mas Alex não respondeu. Pousou rapidamente a mão sobre a coxa de Nikki, fazendo menção de levantar.

— Já volto – Sua voz estava baixa, ele não pedia a permissão dela. – Lizzie, você me acompanha?

— Claro – Bati as mãos uma na outra para retirar o que havia grudado de migalha entre meus dedos, pondo-me de pé num pulo.

— Jamie, aumenta esse som – Mais uma ordem de Alex, que já abria caminho até o terraço. Uma escada de concreto dava ao andar mais alto do sobrado, algumas cadeiras eram todo o ornamento. Um cinzeiro já estava cheio até o topo, algo me dizia que era obra de Alex. – O que achou da Nikki?

Sentei em uma das cadeiras, apertando os braços contra o peito, o vento era cortante ali. Alex não sentou, estava encostado na parede diante de mim, observando a rua, com uma das pernas apoiadas.

— Alex... – Soltei um suspiro longo, tentando prender uma risada nervosa que começava a escapar. De onde estávamos pude ouvir que um gol foi feito pelo PSG, Jamie deu um grito, praguejando. – Ela é legal, quero dizer, você não precisa da minha aprovação.

— Eu não quero a sua aprovação, Elizabeth – Alex cortou-me rapidamente, acendendo um cigarro. Eu odiava aquele cheiro.

— Você poderia, por favor, apagar essa merda? – Reclamei, prendendo meu cabelo num coque. Cachos rebeldes começavam a soltar pela lateral antes mesmo que eu acabasse meu trabalho. – Você sabe que eu odeio o cheiro.

Alex deu uma tragada profunda e num movimento de dedos se desfez do cigarro.

— Como foi na Rússia? – Ele perguntou, parecia verdadeiramente interessado.

— Lá é maravilhoso – Comentei, sentindo todas imagens dos últimos quatro anos virem à tona. Eu sempre fui apaixonada pela Rússia, pela cultura, pelo lugar, pelas pessoas e assim que terminei a escola tentei uma bolsa para uma de suas universidades. Jamais esqueço o dia em que a carta de aprovação chegou.

— Imaginei – Alex puxou uma das cadeiras e sentou ao meu lado. Felizmente o cheiro de nicotina não havia ficado entranhado em suas roupas. – Senti falta das suas loucuras. Minha vida tem sido um saco, não posso fazer nada sem ser alvo de críticas. Você sabe como eu odeio críticas.

— Você supera – Coloquei minha mão sobre a de Alex. Um anel pesado e grosseiro girava em seu dedo indicador. Era brega, algo parecido como as joias que um gangster usaria, em nada combinava com ele, mas não me atrevi a soltar minha opinião.

Suas sobrancelhas estavam arqueadas e ele estava tão perto de mim que eu conseguia sentir o odor do álcool sendo expelido de seus lábios. Senti vontade de gritar, de sacudi-lo, de lhe dizer que largasse aquela garota e ficasse comigo. Eu sempre fui a amiga, sempre o esperei e agora estava aqui.

— Eu adoro seu cabelo assim – Alex ergueu a mão, girando o cacho solto entre os dedos. Seus olhos demoraram em meu rosto, descendo até a boca. Nada foi dito, era como se ele captasse meus detalhes, como se fosse a última vez que nos veríamos. Não soube se foi pelo frio, mas um arrepio subiu pela minha coluna. – Por que você foi embora, Lizzie? Você me deixou nesse mar de monstros.

Pensei em fazer piadinha com mar de monstros, mas eu estava nervosa demais para falar algo, qualquer besteira que seja. Era surreal demais a possibilidade de ser correspondida por quem você ama.

— Eu não deixei você – Sussurrei, sentindo meus olhos arderem por causa do vento. Alex me encarava, sem nada dizer. Passei a mão por seu rosto, sentindo meu coração pulsar alto o suficiente para dominar meus ouvidos. Era tudo o que eu ouvia, os batimentos cardíacos e a respiração de Alex. – Eu nunca deixei você, nenhum segundo.

Um sorriso bobo esticou seus lábios, finos como duas linhas.

— Vamos descer – Resmunguei, nervosa. Era a coisa mais idiota que eu podia dizer naquele momento. Alex fez alguns estalos com os lábios, sem sorrir, ele queria estar ali comigo. Foi a minha vez de sorrir.

— Vem cá – Alex puxou-me para perto dele, apertando-me contra si. Seu peito era aconchegante e estava quente devido a jaqueta de couro. Tinha um cheiro forte de Jean Paul Gaultier. Inspirei fundo, tentando guardar seu perfume. – Não some mais, Lizzie.

Concordei, sentindo as palavras se embolarem em minha garganta. Alex não estava sóbrio, caso contrário jamais me trataria de tal forma, agora se ele me amava já eram outros quinhentos e isso nem a bebida poderia me garantir.

— Alex – A voz de Nikki surgiu ao pé da escada, seus saltos eclodindo contra o concreto. Nos soltamos com um pulo, indo para lados opostos, como imãs de mesmo polo. Sentei-me na cadeira, fingindo examinar minhas unhas. – Por que está demorando tanto? Estão todos esperando para jogar aquele maldito jogo.

— Você vem? – Alex ignorou o mau jeito da namorada, virando-se para mim. Ainda parecia meio atordoado, como se nossa conversa ainda não tivesse sido dada por encerrada.

— Daqui a pouco – Apertei os braços contra o peito, lutando contra a vontade de abraça-lo. – Tenho que fazer algumas ligações.

Depois de alguns minutos enrolando eu resolvi descer, já estava mais calma. Todos estavam sentados no chão, rindo e xingando. Alex estava sentado em um canto do sofá, encarando o vazio, enquanto Nikki reclamava sobre algo.

— Tudo bem? – Dean perguntou, vindo me receber com um sorriso. – Quer beber algo?

— Água seria bom – Gaguejei, estava sem sede, estava nervosa. Pela primeira vez reparei uma garota sentada ao lado de Matt. Ela era bonita, morena e magra. Tinha o cabelo escuro cortado na altura dos ombros. – Quem é ela?

— Ela? – Dean apontou na direção da garota com a garrafa d’água. Ela ria juntamente com os garotos, parecia ser legal. – É a Shae, namorada do Matt. Hey, Shae!

A garota virou os olhos escuros para nossa direção.

— Essa é a Lizzie! – Com a mão vazia ele me cutucou, fazendo-me acenar. Para minha surpresa Shae veio até nós, ficando ao meu lado pelo resto da noite. Ela era realmente legal. Fiquei feliz por conhece-la, fiquei feliz por ela fazer parte do grupo de amigos de Alex. Ele estava precisando.


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