Favorite Worst Nightmare escrita por Lolitass


Capítulo 2
Why'd You Only Call Me When You're High?




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Atrasada. Estou atrasada.

Eu estava tão cansada e embalada pelo barulho da chuva que acabei dormindo de bruços na cama do hotel. Só me dou conta disso quando escuto meu celular tocando. São cinco ligações perdidas ao todo. Não paro para checá-las.

Tenho exatamente dez minutos para estar completamente arrumada, descansada e alimentada a duas quadras de onde estou instalada. O telefone toca mais uma vez.

– Alô? – Resmungo, tentando esconder a voz de sono, mas sou descoberta exatamente por ela. Alex me conhece bem demais.

– Você não vem. – Não é uma pergunta. Ele parece desapontado e dessa vez não é de uma forma teatral ou parar brincar comigo.

– Eu já estou chegando – Minto. – Prometo que vou estar ai.

Antes que uma briga se desenrole, o celular já foi jogado novamente dentro de uma bolsa de couro. Tomo um banho rápido, puxando sem cuidado algum uma calça preta sobre as pernas enquanto tento dar um jeito no meu cabelo rebelde, que milagrosamente esta apresentável. Não bonito, apenas apresentável.

Enquanto espero o elevador chegar ao inferno que são os oito andares, penso em descer a escada correndo, mas não posso chegar molambenta e suada ao show, seria humilhação demais. Quando o elevador finalmente chega ponho em prática todos meus dotes de maquiadora, que se vale ressaltar são bem fracos.

Para a minha surpresa e minha sorte, a chuva cessou, deixando para trás apenas o frio. As ruas são iluminadas pelas luzes amanteigadas, pessoas dão gargalhadas e derramam suas cervejas nas calçadas dos pubs. Sei que vou levar no mínimo quinze minutos para chegar ao show, mas antes tarde que nunca.

Deixo alguns palavrões escaparem ao ver que os quinze minutos que eu havia imaginado já haviam se transformado em meia hora. Alguns escorregões e paradas para pedir informação depois finalmente consigo encontrar o The Lexington. É um lugar realmente muito bonito, meio vintage, a cara de Alex.

O interior é ainda mais impressionante que o exterior creme e bem cuidado. Cortinas pesadas de veludo, lustres de cristal e madeira maciça são o resumo crucial da cena que toma forma diante de mim. O cheiro de nicotina e perfume caro me atingem como um tapa bem no rosto.

Consigo ver da entrada um pedaço do palco, Alex parece cansado. Uma blusa social branca adorna seu corpo pálido, tendo dois ou três botões estrategicamente abertos. Solto um resmungo de indignação ao ver que mesmo sendo noite, o egocêntrico e narcisista está usando um par de óculos escuros.

– Os ingressos estão esgotados – Uma garota de cabelos louros e uma saia de lantejoulas surge com dois celulares escorregando entre os dedos e uma prancheta. Seu olhar de poucos amigos não é comedido ao demonstrar que não foi muito com a minha cara. Não me importo, ela não me conhece, estou ali para ver Alex.

– Não vim comprar ingressos – Apoio as mãos sobre o balcão de entrada, lá dentro as pessoas aplaudem, o show está quase no fim. Merda. – Meu nome está na lista. Alex Turner colocou meu nome na lista.

Vejo seu corpo se retesar e depois retomar a compostura, erguendo seu queixo num sinal de despeito. Quem precisa de ingressos agora?

– Não existe uma lista – Ela resmunga, apertando a prancheta contra o peito. – Volte outro dia.

– O que? – Escuto minha voz esganiçar. Não posso perder o show de Alex, eu prometi que estaria ali. A garota dá um sorriso ensaiado e some lugar adentro. Sei que iria me arrepender de fazer aquilo, mas iria me arrepender mais ainda se não fizesse. Jogo minha bolsa sobre a bancada quando ouço alguém gritar. Passo uma perna e depois outra, começando a correr.

– Segurança! – A loura grita, mas eu continuo me esquivar dentre as mesas para cada vez mais perto do palco. Solto um palavrão, Alex está de óculos escuros, ainda não me viu, faz um discurso improvisado sobre o antigo rock e como ele nunca irá morrer.

Sinto duas mãos pressionarem meus braços, na altura dos cotovelos.

– Ela é convidada da banda – Uma voz desconhecida acalma os seguranças. Todos tentam ignorar a ceninha, mas é impossível. Alex Turner tirou os óculos e está nos encarando, me encarando, com um sorriso debochado no rosto. – Podem deixa-la aqui, o show está quase acabando.

Faço um sinal de agradecimento ao cara que está ao meu lado. Ele é alguns centímetros mais alto que eu, com mechas de cabelos escuro e cacheado caindo por todo o rosto, usa uma blusa polo preta. É muito bonito, se vale ressaltar.

– Sei que não costumamos a sair do roteiro, como vocês sabem – Alex desenrola o fio do microfone, apoiando-se no suporte para fazer charme. Arctic Monkeys são conhecidos por raramente mudar set list e coisas do gênero, são bem neuróticos, bem perfeccionistas, nada que me incomode. – Mas como hoje é uma noite especial eu gostaria de cantar uma música especial.

Todos aplaudem, ele aguarda silêncio para prosseguir.

– Valerie – Ele fala ao microfone e o alvoroço é ainda maior. Valerie é uma das minhas músicas favoritas, ele sabe! Sinto meu estomago revirar ao vê-lo sorrindo enquanto começa a cantar, balando a cabeça de forma negativa.

Well sometimes I go out by myself

(Bem, as vezes eu saio sozinho)


And I look across the water

(E olho para através da água)


And I think of all the things, what you're doing

(E penso em todas essas coisas, no que está fazendo)


And in my head I paint a Picture

(E na minha cabeça desenho uma imagem)

Pela primeira vez na noite consigo relaxar. Desligo minha mente de todos ao meu redor, inclusive de Alex e me deixo levar pela música. Fecho os olhos e canto juntamente com ele. É uma sensação maravilhosa, indescritível.

– Ouvi muito sobre você – O cara do cabelo cacheado murmura quase ao pé do meu ouvido. Ele tem um leve sotaque irlandês. Charmoso. – A propósito, meu nome é Dean.

– Eu sou Lizzie – Falo sem jeito, vendo-o sorrir. Lembro-me que ele foi mencionado na conversa ao telefone mais cedo, o cara do som. Alex está nos últimos versos da música, ele é realmente bom. – Obrigada por me ajudar.

– Não por isso – Ele responde sem jeito, colocando as mãos nos bolsos. – Você vai pra festa?

Sinto o alarme de rejeição tocar estridentemente em minha cabeça.

– Ninguém me avisou nada de festa – Dou de ombros, tentando não demonstrar que fiquei chateada. Alex começa a se despedir da plateia, que aplaude e assobia.

– Vai ter uma festa depois do show, se quiser ir está convidada – Ele faz um sinal qualquer. Começo a cogitar se Dean está flertando comigo. – Quer beber algo?

– Você está me chamando para sair? – Deixo escapar, sabendo que pareço uma completa idiota.

– Você parece com sede – Ele faz uma careta séria, tentando segurar um sorriso. – Gosta de cerveja? Se eu fosse você eu beberia uma, o Alex costuma a demorar.

Enquanto as pessoas começam a esvaziar o local, comentando como o show havia sido bom e memorável, outras me encarando, algumas resmungando por não conseguir uma foto com Alex. Dean apenas me encara.

– Você gosta dessa? – Ele ergue uma garrafa verde, suada. Concordo, não sei muito sobre bebidas, nunca soube. Ele as estala rapidamente contra o balcão, retirando as tampas. – Toma.

– Obrigada – Falo ao bater minha garrafa contra o gargalo da sua, para posteriormente dar um gole curto. Não é tão ruim como eu pensava. – Então o que ouviu falar sobre mim?

Um sorriso envergonhado estica notavelmente suas bochechas, sei que não deveria ter feito aquela conversa. Papo de homem.

– O que você faz, quero dizer na banda? – Tento mudar de assunto, mas fico sem graça novamente, sem saber reagir quando Dean diz que não faz muita coisa importante, afinal não passa de um “faz tudo”.

– Lizzie? – Uma voz séria interrompe nossa conversa, Alex nos olha com uma expressão desconhecida, quase como se estranhasse a cena que se desenrolava diante de si. – Pensei que não viria.

– Aqui estou eu – Ergo a cerveja de forma teatral. Alex não sorri.

– Pode nos dar um minuto, Dean? – Alex pergunta, acenando para que o garçom lhe traga uma cerveja, para que possa me acompanhar.

– Ah, hum, sim – Dean coça a nuca, sem jeito. – Vou arrumar o resto das coisas com o pessoal. Devemos ir embora em vinte minutos.

Alex não se move, apenas espera a cerveja pacientemente. Assim que Dean some ele desanda a falar.

– Quando foi que se interessou por bebida? – Ele pergunta, indicando minha garrafa.

– Há uns cinco minutos atrás – Faço piada, mas ele não sorri. Novamente. – O que foi, Alexander? Caramba! Eu venho pra Londres, procuro você, venho correndo para esse show, pulo uma bancada e você nem sequer se dá ao trabalho de sorrir.

Alex balança a cabeça, coçando os olhos.

– Estou cansado – É a desculpa esfarrapada que ele encontra. Concordo, dando um gole na minha cerveja. Eu sabia que seria assim.

Fico em silêncio, desejando nunca ter feito aquela maldita ligação

– Ei, não fica chateada – Ele esboça um sorriso forçado, fazendo-me rir de verdade. – Está bom assim?

– Melhor que nada – Coloco a cerveja sobre a mesa, vendo Dean nos vigiar do palco enquanto enrola uma extensão. – Vocês são bons.

– Você não viu nada – Alex termina a sua bebida em três goles, pegando o que resta da minha. Não me importo. – Dean gostou de você, aposto que ele falou da festa e a fez pensar que eu não convidaria.

Dou de ombros.

– Se quiser ir podemos conversar – Ele deixa uma nota de alto valor sobre o balcão e faz menção com o ombro para que eu o acompanhe. - Só quero que conheça alguém antes.

Alex me leva até o camarim e a primeira coisa que vejo é um par de salto altos. Uma mulher de cabelos loiros me encara, ela é bonita o suficiente para estampar um outdoor da Calvin Klein. Tenho medo do que pode vir a seguir.

– Lizzie, essa é a Nikki minha namorada – Alex diz seriamente, enquanto a garota se levanta do sofá e enrosca os braços ao redor do seu pescoço. – Nikki, essa é a Lizzie.

Ótimo.


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