Favorite Worst Nightmare escrita por Lolitass


Capítulo 4
Teddy Picker




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Eu estava morrendo de sono, mas não podia deixar transparecer, era minha primeira semana no emprego novo e eu não poderia dar motivos para ser despedida. Eu ainda não havia terminado os estudos e por mais que eu quisesse não poderia viver da publicação de livros ou de aulas particulares. História sempre fora minha paixão, mas infelizmente não estava rendendo o suficiente para me manter.

— Elizabeth Jones – Cheryl, uma mulher na casa dos quarenta e tantos anos, com uma cabeleira loura e intensos olhos verdes, chamou-me. Ela era a dona do lugar, trabalhava metade do dia e a outra metade sua filha fingia trabalhar. – Tem alguma pergunta para me fazer? Estou saindo agora, em breve Lena deve chegar.

— Não, senhora Lockwood – Respondi, forçando um sorriso. – Está tudo bem.

— Não se esqueça de colocar o uniforme – Cheryl ralhou, jogando um saco plástico em cima da bancada. – Qualquer coisa meu telefone está colado no mural e os preços tabelados no computador.

Assim que ela pegou seu guarda-chuva e saiu, tranquei a porta por alguns instantes, precisava trocar de roupa caso contrário minha cabeça seria cortada. Quer dizer, eu amava trabalhar em uma livraria, era fácil como respirar, mas minha chefe não contribuía muito. Nada que não melhorasse com o tempo.

— Ótimo – Prendi o cabelo num rabo de cavalo alto, praguejando-me por ter uma testa tão grande e medonha. O uniforme não era um dos piores, era até bonitinho. Uma calça branca justa e bem alinhada, blusa polo azul marinho e um avental preto, com um bolso para guardar canetas e marca páginas. O nome da livraria estava estampado em vermelho.

Segundo as ordens de Cheryl eu deveria reagrupar as prateleiras da forma que achasse mais conveniente, seja por ano de publicação ou autor. Como não tinha muito o que fazer, além de cantarolar as músicas que eram expelidas pelas caixas de som, resolvi limpar as prateleiras antes de arrumá-las.

Quarenta minutos e seis prateleiras impecavelmente arrumadas depois, Lena, a filha da dona, finalmente chegou. Apesar de ser baixinha, usava saltos capazes de perfurar uma parede. Repreendi um suspiro ao vê-la tirar o casaco e exibir uma blusa com “Arctic Monkeys” estampado no peito.

— Tudo bem? – Perguntei, repassando o espanador por cima dos livros.

— Tudo – Ela respondeu de qualquer jeito, retirando um maço de cigarros do bolso de trás da calça jeans. – Se importa se eu sair um pouco para fumar? Se pegar fogo em algum desses livros minha mãe me mata.

— Não, tudo bem – Falei, já que não teria como falar “Claro que eu me importo! Você chega atrasada e ainda quer sair? Eu estou morrendo de fome”

— Eu não demoro – Foi a última coisa que Lena disse antes de sumir com seu cabelo oxigenado dentre as pessoas que andavam na calçada. Ótimo

Terminei meu trabalho, dando-me ao luxo de permanecer sentada por um tempo atrás do balcão. Era no mínimo triste a quantidade de pessoas que se interessava por leitura em dias tão tecnológicos. Não sabe o que estão perdendo.

Abri minha bolsa e puxei meu exemplar surrado de “Orgulho e Preconceito”, estava prestes a me apaixonar mais uma vez pelo Sr. Darcy, quando a sineta soou. Senti uma ponta de felicidade estourar em minha mente, ao pensar que Lena já tinha voltado conforme o prometido, mas a figura que estava diante de mim era bem diferente do que eu esperava.

— Alex? – Murmurei, vendo-o se esconder debaixo de um capuz preto e óculos mais negros ainda. Não consegui conter uma risada, parecia uma fantasia.

— Vai em frente, pode rir – Ele também estava sorrindo. Milagre! – O que está fazendo?

— Trabalhando? – Enfatizei a palavra esticando meus braços para mostrar ao redor e o meu uniforme. Alex retirou os óculos escuros e guardou no bolso do casaco. – Quer ver? Bom dia, Senhor, meu nome é Elizabeth. Em que posso ajudá-lo?

Alex deu um sorriso engraçado.

— Eu gostaria de tomar café com você, Elizabeth – Alex passou a mão pela lombada de um livro, fazendo uma careta memorável ao ver que se tratava de um romance entre um vampiro e uma garota. – Pode ser?

— Sinto muito, Senhor – Fiz uma cara de desapontamento – Estou em horário de trabalho, mas se vale de consolo temos livros muito bons sobre como administrar seu próprio dinheiro ou sobre como falar de sexo com os filhos.

Alex balançou a cabeça, mudando bruscamente de assunto.

— Se me falasse que estava precisando de dinheiro eu a ajudaria – Ele comentou, dando uma volta pela loja.

— Não quero seu dinheiro – Resmunguei, enquanto o acompanhava dentre as fileiras e mais fileiras de livros. Alex era inteligente, gostava de ler e gostava de poemas, sabia apreciar um bom livro quando o encontrava.

— É a primeira garota que me fala isso – Ele murmurou de qualquer jeito, quase como falasse consigo mesmo. – Você ganha comissão aqui?

— Ganho – Respondi, tentando imaginar o rumo que aquilo tomaria. Alex se manteve calado por alguns instantes, examinando os livros. Escolheu um sobre Cinema, um sobre a Arte e mais alguns sobre filosofia e política. – Você não precisa fazer isso, Alex.

— Você quer parar de tentar me impedir de absorver um pouco de cultura? – Ele fingiu estar irritando. – Vocês têm Anna Karenina?

Fiz que sim com a cabeça, era um dos livros mais caros da loja, estava dentre os que eu havia arrumado mais cedo na prateleira.

— Faz as contas pra mim – Alex despejou a pilha de livros sobre a bancada. Enquanto eu checava rapidamente seus preços na tabela a sineta soou anunciando a chegada de uma Lena mal humorada.

Fiz menção para que Alex colocasse os óculos novamente e fosse dar uma volta na loja, de início ele não percebeu, mas assim que viu a blusa de Lena deixou escapar um sorriso orgulhoso.

— Nossa! Quantos livros – Ela deu um grito, demonstrando estar surpresa, já que diante do saldo dos outros dias ela e sua mãe me consideravam totalmente sem jeito e incapacitada.

Dei um sorriso amarelo, vendo-a passar direto por Alex sem sequer olhá-lo, estava mais preocupava em ver o total da conta.

Coloquei as compras dentro da sacola o mais rápido que eu pude, Alex fingia estar interessado em algo no seu celular, os óculos recém colocados escapulindo pela ponta do nariz.

— Eu conheço você – Lena falou, fazendo meu coração parar. Se Alex abrisse a boca ela descobriria, iria começar a confusão de foto e autografo e não demoraria muito pra que fotógrafos aparecessem. Resumindo, Alex iria do céu ao inferno em dois tempos. – Merda! Merda! Merda! Conheço você sim, você é o Alex Turner!

Era como se uma pedra bem grande atingisse minha cabeça. Ótimo, maravilha.

— Eu preciso ligar para minhas amigas, ela não vão acreditar – Lena começou a despejar tudo rápido demais, estava nervosa, com as mãos tremendo. – Meu Deus! Eu te amo! Eu sempre vou a todos os shows.

Alex permanecia calado, enquanto ela pegava o celular na bolsa.

— Lena, você não pode ligar para ninguém – Falei, colocando as bolsas novamente na bancada. Aquilo iria dar uma baita merda. – Você não prefere ter uma foto exclusiva com ele? É melhor do que ter a mesma foto que as suas amigas, isso eu lhe garanto.

Ela parou por um minuto e uma ideia clareou sua mente. Eu sabia que tinha acertado na mosca.

— Você tem razão! – Lena estava em dúvida de como tratar Alex, mas assim que ele apoiou a mão em sua cintura para a foto, ela desandou a tremer. Não pude me sentir mais desconfortável. Era estranho o efeito que o Alex tinha sobre as meninas. Ele tirou os óculos e baixou o capuz, dando um sorriso simples, sem mostrar os dentes. Peguei seu celular e tirei umas cinco fotos seguidas. – Obrigada! Obrigada, Alex! Você pode autografar minha camisa?

— Claro – Ele parecia cansado de tudo aquilo, mas estava à vontade, sabia que a situação não iria sair do controle enquanto estivesse por ali. – Tem uma caneta?

— Caneta! Caneta! – Lena começou a gritar, procurando desesperadamente por uma caneta no balcão. Puxei a que havia em meu bolso e a entreguei, ela estava gelada quase como se estivesse a ponto de desmaiar. – Aqui!

A garota virou de costas, mas Alex a virou de frente escrevendo bem em cima de seus seios:

“Lena, você arrasa. Com amor, Alex Turner”

Sorri ao ver o choque de Lena, em nada ela se parecia com a garota mal humorada do resto dos dias. Era bom ver como ela realmente venerava Alex, compensava todo o escândalo que o dava nos nervos.

— Lena, você se importa se eu sair para tomar um café? – Perguntei, vendo-a sacudir a cabeça várias vezes enquanto murmurava “de maneira alguma”. Peguei meu guarda-chuva, deixando meu avental de lado e soltando meu cabelo. – Aonde vamos?

— Um lugar muito bom – Alex respondeu, recolocando o capuz e os óculos. – Você vai gostar.

Andamos alguns metros até Alex acenar, indicando que pararíamos. O lugar diante de nós era pequeno, mas parecia bem aconchegante. Não fosse pelas vidraças estaríamos livres de qualquer fotografo. Um quadro negro indicava os especiais do menu, todos riscados em giz cor de rosa. As mesas eram de madeira antiga e bem batida, o que combinava perfeitamente com os estofados em vermelho gasto.

— Você primeiro – Bati meu guarda-chuva, deixando-o do lado de fora. Alex estava com a mão apoiada em minha cintura, conduzindo-me dentro do pequeno estabelecimento. Alguns funcionários o cumprimentaram assim que entramos.

— Senhor Turner! – Um senhor na casa dos setenta e tantos anos esticou um sorriso flácido e delicado. Deu uma rápida olhadela em Alex, para voltar sua atenção para mim. – Que moça bonita, nunca a trouxe aqui. Qual sua graça?

— Lizzie – Sorri, tentando focar minha atenção no senhor e não nos doces que estavam dispostos. Pareciam bastante saborosos. – Faz doces muito bonitos, Senhor.

— Oh, obrigada – Ele colocou uma luva de pano, como as que minha mãe usava para tirar tabuleiros quentes do forno, para pegar um cupcake de chocolate e me oferecer. – E pode me chamar de Joel.

— Obrigada, Joel – Respondi, mordiscando o bolinho. Alex sorria.

— As mesas do andar de cima estão vazias? – Ele perguntou, pegando o bolo da minha mão para retirar uma lasquinha. Uma careta contemplou suas feições, aquilo estava realmente muito bom.

— Sempre a sua disposição – Joel sorriu. – Vão querer mais alguns?

Acenei, exatamente como uma criança faria.

— Quantos querem? – Ele perguntou, enchendo um pequeno pratinho descartável.

— Quantos você tem? – Perguntei, fazendo Alex sorrir ainda mais.  Ele me disse que fosse na frente, que logo ele subiria com o resto das coisas.

Enquanto subia cheguei a cogitar a ideia de aquilo ser um encontro, mas não podia ser. O andar de cima tinha poucas mesas, adornadas com toalhas xadrez e alguns porta guardanapo. A vista da rua era incrível. Sentei-me na mesma mais perto da janela. Dentro de poucos minutos Alex subiu, equilibrando um bule e algumas guloseimas.

— Joel gostou de você – Ele sorriu, enquanto colocava a bandeja em cima da mesa. Percebi com um sorriso bobo que havia uma rosa de chocolate. Eu simplesmente amava chocolate, aquilo só podia ser coisa de Alex.

— Ele é muito simpático – Falei, pegando um biscoito de aveia. – Como você está?

— Estou bem – Finalmente Alex relaxou um pouco, tirou o óculo e o casaco. – Estou morrendo de fome. Achei que aquela garota da loja fosse fazer alarde. Ela é sua amiga?

A careta que eu fiz deve ter sido muito engraçada, já que ele começou a rir.

— Ela me odeia – Tomei um gole do café, estava realmente muito bom. Café era mais uma das minhas paixões, meu dia só começava depois de uma boa caneca e nesse caso meu dia já começava mais que com o pé direito.

— Nem dá para saber o motivo – A ironia era notável em sua voz. – Aquele cabelo dela é muito feio, Lizzie.

Não pude deixar de segurar uma risada boba, era engraçado vê-lo falar assim.

— Como estão seus pais? – Perguntei, vendo-o largar a xícara e retesar o corpo. Tudo com Alex era assim, conversar com ele era como pisar em ovos. Nunca fui cuidadosa o suficiente, sempre acabava falando bobeira. – Se não quiser falar tudo bem.

— Minha mãe não está muito bem de saúde – Alex pegou um guardanapo entre os dedos, fazendo dobraduras com ele, tudo para não me olhar nos olhos.

— Você já foi visita-la? – Perguntei, vendo-o amuar mais uma vez. Alex sempre tivera um relacionamento difícil com os pais, não demonstrava amor, mas se preocupava muito. Seus pais apoiavam sua paixão pela música, mas também não sabiam como lidar com todo o sucesso.

— Não – A xícara foi retomada entre seus dedos. Seu cabelo ainda estava úmido, penteado para trás. O fazia parecer um ator da antiga Hollywood. Se eu tivesse uma câmera em mãos tiraria fotos, uma dezena delas. – A última vez que marquei um almoço com eles tive que sair com Nikki, sabe como é.

— Não, eu não sei, Alex – Agora eu estava perplexa, prestes a explodir. Eu não conhecia Nikki o suficiente e muito menos estava no direito de julgá-la, mas se tinha uma coisa que ela era é manipuladora. – Mas tudo bem, não precisamos falar disso, não precisamos começar a brigar agora.

— Minha mãe perguntou por você na última vez que liguei – Alex comentou, sabendo que me deixaria sem palavras. A mãe de Alex me adorava, costumava me tratar como a filha que nunca teve. – Perguntou quando voltaria a vê-la.

— Eu gostaria de visita-la – Comentei, deixando minha xícara de lado para comer a rosa de chocolate. Era chocolate ao leite, maravilhoso. Por um minuto de infantilidade deixei-me levar pelo instinto, sugando o dedo indicador para retirar o que havia grudado. Alex soltou um pigarro, dobrando as pernas. Espera. Alex Turner havia ficado excitado? Senti o rubor subir pelo meu pescoço.

— Podemos vê-la qualquer dia – Ele parecia mais desconfortável que eu. Muito mais, já que não olhava em meus olhos, mais uma vez. Seu celular tocou e nem eu nem ele precisávamos checar a tela para saber que se tratava de Nikki. – Um segundo.

Alex fez um sinal com a mão, de que eu poderia pegar algo no andar debaixo se quisesse. Ele andava de um lado para o outro, enquanto apenas concordava, obviamente não queria que eu soubesse o teor da conversa. Puxei minha bolsa, retirando algumas notas de seu interior, praticamente tudo que eu tinha em mãos. Coloquei em um guardanapo e deixei sobre a mesa.

— Alex – Sussurrei, fazendo-o arregalar os olhos. Não demorou muito para ele entender que eu estava indo embora. De onde eu estava podia ouvir a voz de Nikki do outro lado da linha. Ele fez que não com a cabeça, indicando para que eu me sentasse novamente. – Eu tenho que voltar para o trabalho. Nos falamos depois, obrigada pelo café.

Assim que desci correndo, Joel chamou por meu nome, acabava de tirar uma leva de biscoitos amanteigados do forno.

— Já vai? Mas tão rápido! – Ele parecia chateado. – Não gostou da minha comida?

— Pelo contrário, eu amei – Tentei sorrir, não queria deixa-lo constrangido. – É muito boa, mas tenho que voltar ao trabalho.

— Tudo bem – Ele enrolou dois biscoitos em um guardanapo e me entregou. – Para ter um dia mais doce.

— Obrigada – Sacudi o guardanapo, fazendo menção de comê-los. Estavam com um cheiro ótimo.

— Se lhe conforta, filha, você é a primeira menina que ele traz aqui – Não sei o motivo de Joel ter dito aquilo, mas me chacoalhou um pouco por dentro. Agradeci mais uma vez pelos biscoitos e peguei meu guarda-chuva.

Tudo que eu menos precisava naquele momento era mais uma pulga atrás da orelha.


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