Favorite Worst Nightmare escrita por Lolitass


Capítulo 1
Old Yellow Bricks




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Eram três e quinze da tarde.

Enquanto observava os ponteiros se desdobrarem pensei em como sentia falta dele. Puxei o notebook que estava em cima da mesa para o meu colo, abrindo-o para iniciar a busca por um documento que eu insistia em deixar ali, sem nunca ter coragem de apagar. Na verdade uma gravação, assim que a encontrei dei o play.

–Elizabeth, olhe pra câmera – Era a voz suave e maternal da minha mãe, quente como uma manta. Depois de uma breve chacoalhada, a imagem tomou foco. Se não fosse tão engraçado, seria triste. Era o primeiro aniversário depois da morte do meu pai, eu me lembrava bem. – Como se sente?

– Bem! – Fiz um sinal em positivo com o polegar. Usava um vestido xadrez em verde e azul, para combinar com o resto da decoração. Bolas solitárias estavam penduradas pelo teto ao fundo – Vem cá, Alex!

Depois de algumas reclamações e puxões desajeitados minha mãe solta uma gargalhada e Alex aparece, usando um chapéu de aniversário, também verde.

– Esse é meu melhor amigo - Digo, sacudindo seus ombros. Sigo o exemplo de minha mãe e também solto uma risada, vendo que Alex sequer se esforça para dar um sorriso. É engraçado. - O nome dele é Alex, diz oi.

–Oi -É a única coisa que Alex diz antes de se esquivar e sumir. Minha mãe grava apenas alguns segundos a mais, focalizando em meus dentes desiguais e mal formados pela idade, logo depois a tela fica preta.

Um clarão seguido de estrondo invade o quarto de hotel, e só então me dou conta de como minha vida tem sido solitária. Encarei meu celular por alguns segundos, discando aquela combinação estranha de números.

– Alô? – Ele atendeu no segundo toque, não esperei muito. Sua voz tinha o mesmo timbre, o que diferenciava era um ligeiro tom de irritação.

Não soube o que falar.

– Olha, eu realmente admiro pessoas que tem tempo livre para encontrar meus contatos na internet – Senti-me mal por um minuto, sabia que não deveria ter ligado. Sabia que não deveria sentir saudade daquele Alex, alguém totalmente desconhecido.

– Não desliga – Murmurei, soltando um pigarro na tentativa de ampliar minha voz. – Sou eu.

O silêncio era meu único companheiro do outro lado da linha.

– Lizzie? – Alex perguntou, incrédulo – Merda! Se isso for algum tipo de brincadeira... Lizzie é você?

– Por que eu brincaria, Alex? – Perguntei, fazendo questão de frisar o apelido, o qual praticamente fora imposto como um nome artístico.

– Só um minuto – Ele tampou o bocal com a mão e pediu para alguém chamado Dean abaixasse o som. – Pronto.

Eu sabia que ele não iria falar nada a partir dali, já que era quase um milagre arrancar qualquer resquício emocional de Alexander.

– Como vão as coisas com a banda? – Perguntei, fazendo-me de idiota. Era claro que estava tudo bem com a banda. Eles eram os caras do momento, ganhavam prêmios, emplacavam hits e encabeçavam listas. As menininhas faziam burburinhos acerca de seus nomes a cada esquina.

– Estamos reunidos agora mesmo – Foi a única coisa que ele disse, fazendo uma pausa dramática. Não soube ao certo se ele havia parado para fumar ou se eu estava atrapalhando seus planos. Por mais que eu odiasse o fato de Alex fumar, eu esperava que a primeira opção fosse a correta. – Como estão os estudos?

– Tudo bem, na verdade estão ótimos – Despejei rápido demais. Alguém falou algo do outro lado da linha, fazendo todos rirem, inclusive Alex.

– Que bom, Lizzie, que bom – Mais uma pausa dramática. – Tenho que ir agora, tudo bem? Nos falamos depois.

Larguei o celular em cima da mesa. Eu não estava surpresa, Alex sempre fora o “senhor reservado” e apesar de todos os escândalos, toda a fama e dinheiro, uma parte de mim suplicava para que ele não estivesse tão mudado.

A foto em preto e branco de Arctic Monkeys me encarava, saltando das folhas úmidas do jornal local. Nela quatro antigos colegas de escola estavam estampados, sendo Alex o de destaque, com um cigarro pendendo entre os lábios e um irritante olhar soberbo.

“Banda formada nos subúrbios da Inglaterra estoura nas paradas de sucesso. Arctic Monkeys alcança mais um record com seu novo single, garantindo a primeira posição na UK Single Chart.”

Na página seguinte uma entrevista dava continuidade a matéria.

Quando eu liguei esta manhã para minha sobrinha e contei que iria entrevistar Alex Turner, ela explodiu em elogios. “Diga à ele que eu amo seu cabelo” gritava. “Tente conseguir um autografo para mim”. Vendo-o cantarolar algumas partes de seu novo single não é nada difícil entender tamanho fanatismo.

Com seus vinte e nove e bem distribuídos anos, Alex Turner é um dos músicos mais famosos do mundo, não tendo jeito só com música como também com as mulheres.

“O que eu espero do novo CD?”, pergunta Alex imerso em pensamentos. “Espero que não receba tantas críticas como os anteriores.” Pergunto se teria alguma chance como sua cantora.

“Bom, você é bonita, também deve aprender rápido” Ele responde sorrindo.

Decido que é hora de parar de ler, já que definitivamente esse não é o Alex que eu conheço. Demoro a perceber que o telefone do quarto tocava.

– Oi? – Falei de qualquer jeito, jogando-me em cima da cama para atender aquele maldito aparelho a tempo.

– Quarto 801 temos uma ligação na espera – Uma mulher de voz robótica falou, comedidamente. Murmurei qualquer coisa, fazendo-a liberar a ligação de qualquer jeito. A educação no país ia de mal a pior, não me surpreendia que ganhássemos a fama de sermos “frios”.

Meu coração estava ribombando contra as minhas costelas. “Não seja tola” Gritei mentalmente comigo mesma.

– Lizzie, me desculpa – A voz de Alex surgiu do outro lado da linha, ele parecia aliviado. – Nós estávamos durante o último ensaio para o show de hoje à noite, sabe como é.

– Sei – Resmunguei, enquanto checava as unhas do pé, que já começavam a descascar o esmalte cor de cereja. – Você é famoso agora, eu tenho que entender, Alex.

– Você não muda nada, Elizabeth – Senti um sorriso em sua voz. – Eu já tinha me esquecido de como isso é bom. Senti sua falta.

Reprimi uma risada.

– Eu também – Desabafei, voltando a deitar de bruços. A chuva começava a dar uma trégua, mas o frio fazia meus pelos se eriçarem.

– Por que não me avisou que estava em Londres? – Ele fingiu um falso desapontamento.

– Eu liguei pra você, mas acho que estava ensaiando – Respondi no mesmo tom. Alex apenas deu uma risada baixa. – Aonde vai ser esse show de vocês? Não posso perder a chance de ver a bandinha do momento tocando ao vivo.

– Não sei porque ainda fico surpreso com a sua ironia – Seu tom ficou ainda mais baixo. Uma voz feminina chamou seu nome, não me surpreendeu, mas me acertou em cheio. – Olha o show vai ser no The Lexington, se quiser ir posso pôr seu na lista.

– Tudo bem – Tentei não demonstrar minha felicidade excessiva. – Vou ver se consigo ir. Até mais tarde.

Estava quase colocando o telefone no gancho quando ouvi a voz de Alex me chamando.

– Oi? – Perguntei atordoada.

– Acho bom você ir – Foi a única coisa que ele disse, antes da linha ficar em silêncio novamente.

Dessa vez não consegui segurar um sorriso.


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