My Little Runner escrita por Angie


Capítulo 10
O enigma quase resolvido.


Notas iniciais do capítulo

Oieeeee o/ Não vou falar muito, só espero que gostem e qualquer coisa só me falarem, ok? ;) Leitores fantasminhas podem comentar, eu não mordo. ~hehe~



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Todos ficaram ali, boquiabertos, apenas olhando por um tempo indeterminado para a letra que se formara. As emoções se misturavam na sala, não sabiam se ficavam felizes, maravilhados ou entusiasmados. Digamos que foi um misto dos três.

—Pode ser coincidência.- Teresa disse por fim - Vamos, continuem!

Os próximos minutos foram dedicados a descobrir qual letra pertencia a cada dia do mês, de acordo com os mapas que desenharam no papel-manteiga.

—Aqui tem um "T" - Camille anunciou.

—Aqui um "L" - Newt arqueou as sobrancelhas, ainda surpreso com as recentes descobertas.

—"U" - Minho disse - E no outro... - terminou de formar - um "A".

E assim foi, cada um se dedicando a descobrir o código.

—Ta legal - Teresa limpou a garganta- Vamos ver qual é o veredicto. Coloquem na ordem certa de acordo com cada dia.

—Por que estamos seguindo as ordens dela mesmo? - Minho resmungou mas mesmo assim fez o que a garota instruiu.

Depois de tudo devidamente colocado em seu lugar perceberam que duas palavras se formavam. Observaram, sem dizer nada, por alguns segundos antes de Newt quebrar o silêncio.

—Flutua Peg?- Ele cruzou os braços- Não me parece nada com a mértila de um código de salvação.

—Temos que continuar a desenhar.

—Estou com o Thomas. -Teresa apoiou.

Camille tentou prender um riso.

—O que foi?- Teresa perguntou, a testa franzida.

—Nada não, piadinha interna. -Deu um risinho- Continuem.

Mais uma combinação os fez chegar a uma nova letra. Em vez de "peg" era na verdade "pega".

—Esse é o código que vai nos salvar?- Camille perguntou, uma sobrancelha arqueada.- Caramba.

—Depois eu sou o irônico.- Minho disse, passando um braço pela cintura dela e a atraindo para si.

—Mas é claro.- Ela deu de ombros, os cantos dos lábios erguidos em um sorriso e se aconchegou, a cabeça encostada na curva do pescoço dele.

—E então Tommy, o que quer fazer agora?- Newt perguntou, o novo entusiasmo já dando sinais.

—Bem, sabemos que não é coincidência.- Teresa comentou.

—Absolutamente não. -Thomas disse. - Temos que continuar fazendo isso com todas as caixas.

Minho pigarreou.

—Corrigindo: Eles precisam fazer. Nós não podemos ajudar.

Thomas o olhou, a confusão explícita. Camille bateu os dois dedos no relógio de pulso e o garoto logo compreendeu.

—Nós vamos correr? Sério?

—É claro trolho. -Minho bufou.

—Fala sério Minho, isso é muito mais importante!

—Pode ser. -O asiático parecia mais calmo que o habitual- Mas não podemos perder nem um dia. Ainda mais agora.

—Não vai fazer diferença nenhuma. O padrão vem se repetindo há meses, você mesmo disse!

Minho bateu a mão com violência na mesa fazendo Camiille se retrair.

Lá se vai a calmaria. Ela pensou.

—De todos os dias esse pode ser o mais importante! Alguma coisa pode ter mudado, ainda mais com as portas não se fechando. Estou pensando em testar uma coisa.

Camille o cutucou.

—Que coisa?- Murmurou.

—Passar a noite lá e explorar mais a fundo.

Ela assentiu devagar.

Thomas ainda tentou protestar, mas Newt lhe tranquilizou dizendo que chamaria alguns garotos para ajudar a terminarem o código.

—Concorda com tudo isso? -Ele, ainda indeciso, perguntou para Camille.

Ela deu de ombros.

—Sou a namorada do encarregado. O que quer que eu faça? E também... -Suspirou- Não iria adiantar nada eu tentar contestar, esse cabeça dura iria do mesmo jeito. -Apontou para Minho.

—Não se preocupe. -Teresa o tranquilizou.- Ficarei aqui, eles precisam de um cérebro feminino para comandar essa situação. -Sorriu irônica e Camille revirou os olhos- Vá.

Em alguns minutos todos os corredores estavam reunidos. Nenhum deles contestou sobre passar a noite no labirinto. Estava na hora de agir.

Enchiam as mochilas com mais suprimentos que o habitual, não sabiam quanto tempo ficariam lá.

—Aqui. -Camille entregou a Minho garrafas de água e ele lhe retribuiu com um sorriso.

—Thomas tentou correr por uma área sozinho hoje.

—Mesmo?- Camille voltou seu olhar para ele- E o que você disse?

—Que não, é claro.-Minho suspirou.- No fundo eu sei que o trolho ficou aliviado.

—Você virou um bom amigo para ele. -Camille sorriu.

Minho deu de ombros, mas também sorriu.

—Venha comigo hoje.

—Minho... Eu já disse que posso ir sozinha.

—Vai ser diferente dessa vez. Vamos passar a noite inteira lá.

—Eu sei que está preocupado, mas já passei uma noite no labirinto.

—É, e depois ficou o dia todo desmaiada.

Camille revirou os olhos.

—Não se esqueça que eu salvei sua vida.

—Temos oito corredores experientes para cada área, você pode vir comigo.

A garota arqueou as sobrancelhas e colocou as mãos na cintura.

—Se esquece que eu era a líder dos corredores na outra clareira? Sou tão experiente quanto você. -O empurrou de leve.

—Ah. -Ele riu- As vezes esqueço que minha baixinha era e encarregada.

Camille colocou os braços em volta do pescoço dele.

—Não sou baixinha. -Fez um beicinho teimoso.

Minho arqueou as sobrancelhas, segurou-a pela cintura e a puxou para mais perto ainda, colando seus corpos.

—Baixinha sim, e teimosa.

Sem precisar dizer mais nada eles se uniram em um beijo. Um arrepio percorrendo o corpo de ambos. O beijo foi se intensificando e, como sempre, imaginaram que não havia mais ninguém ao redor. Camille já se acostumara com o lado possessivo de Minho, até quando se beijavam, era como se ele quisesse fazê-la sua e ela aprendera a retribuir com a mesma voracidade. Ele amava o gosto dela e ela o dele.

Se separaram por conta da falta de ar.

—Queria poder ficar o dia inteiro aqui. -Ele murmurou enquanto fazia uma trilha de beijos até a orelha dela, onde mordeu fazendo-a arfar.

—Minho...

—Vem comigo, por favor. -Sussurrou de modo que fez com que um arrepio lhe precorresse a nuca- Me deixa cuidar de você trolha. -O garoto beijou atrás da orelha dela.

Aquilo era tortura para Camille. Ela ficou vermelha e ele deu um risinho ao se afastar.

—Isso é chantagem, sabia? -Ela balbuciou e ele deu de ombros.

—Mas funciona.- O sorriso irônico, a marca do garoto, apareceu.

Camille mordeu o lábio inferior e se aproximou da boca dele de modo provocador.

—Por que a gente não se atrasa mais um pouco, hã?- Ela beijou o canto dos lábio do garoto. Ele não pensou em mais nada, apenas naqueles olhos azuis e nos lábios rosados que o chamavam.

Antes que pudesse beijá-la Camille se afastou rapidamente, um sorrisinho sapeca no rosto.

—É, me parece que com você também funciona.

Ele ficou surpreso e sem fala por cair naquilo. Desviou o olhar.

—Vamos logo. -Murmurou, ainda envergonhado.

—Bom... Dessa vez eu posso ir com você.

—Ótimo. - Sorriu triunfante.

Enquanto esticavam as pernas para a corrida, Chuck apareceu para desejar boa sorte. O garoto tentava parecer forte e esconder o medo que vinha sentindo nos últimos dias. Aquilo deu uma pontada de compaixão em Camille.

Colocaram as mochilas e entraram no labirinto. Estavam a meio caminho do último beco sem saída da Área oito quando resolveram parar. Depois de um bom tempo correndo mereciam uma pausa. Sentaram-se no chão, as costas apoiadas nos grandes muros.

—Também percebeu, não é?- Camille perguntou a Minho, um ar de decepção na voz.

—É... percebi.

—O céu fica cinza; os suprimentos não chegam mais e agora os muros não se movem. O que mais falta acontecer?

Ninguém respondeu. Não era preciso. Tanto Camille quanto Minho e Thomas compartilhavam do mesmo sentimento. Ela ficou "desfiando" os cipós da hera e fazendo nozinhos nos dedos.

Beberam água, comeram e descansaram por uns 20 minutos antes de voltarem a correr.

Umas três horas se passaram quando Thomas tropeçou e esborrachou-se no chão.

—Ai. -Camille fechou um olho.- Essa deve ter doído.

O garoto se levantou e sorriu envergonhado para ela e Minho que, mesmo sem diminuir o ritmo, se viraram. Logo os alcançou.

Na opinião da garota, Thomas estava um tanto quanto distraído. Como se estivesse a mil com seus pensamentos. Mas não se importou, afinal ela própria estava absorta nos seus.

Refletia profundamente sobre o que o código poderia significar estava mais do que curiosa para saber. Se pudesse teria ficado na clareira, os muros não se moveram um centímetro. Nem na noite passada nem nessa que já chegava. O que era, basicamente, desanimador.

—É isso ai. -Falou Minho depois de alguma horas, enquanto mordia o sanduíche.- Já corremos por toda a área. Surpresa, surpresa... Sem saída.

Passaram mais quatro horas procurando sabe-se lá o quê; apalpando as paredes, examinando o chão, explorando a área; e o ânimo não estava lá dos melhores.

Quanto aos verdugos? Viram uns dois desaparecerem ao longe no labirinto e um outro que passou correndo, como se eles nem existissem e claro, quase tiveram um surto de terror.

—Será que é divertido brincar com a vida de outras pessoas como os criadores fazem?- Camille perguntou, arrastando os pés de modo deprimente enquanto voltavam para a Clareira.

Minho e Thomas ainda falaram mais algumas coisas porém a garota mal prestou atenção. Atravessaram as portas do labirinto, dessa vez em direção a fazenda, de acordo com os relógios era o meio da manhã.

—Vocês foram os primeiros a chegar. -Newt, que se aproximava, disse.

—Bom, não tínhamos muita coisa a fazer lá mesmo. -Camille suspirou- Preciso de uma cama urgentemente.

—Encontraram alguma coisa?- A curiosidade parecia quase infantil em Newt e Camille quase quase que inventava uma mentira para não ver o coitado se desapontar.

—O labirinto é uma grande maldita piada.- Minho soltou- Não aguento mais isso!- Ele estapeava a hera, as veias quase saltando do pescoço.- Não existe saída, nunca existiu! Estamos todos ferrados!- Largou a mochila no chão e saiu marchando em direção à Sede.

Thomas e Newt ficaram ali, sem reação. Camille olhou para os próprios pés como se de repente eles fossem mais importantes que tudo.

***

Minho precisava extravasar sua raiva em alguma coisa. Chegando na Sede foi atacado por um batalhão de perguntas. Saiu de lá rapidamente, arranjar uma briga não seria melhor coisa a fazer no momento, por mais que estivesse louco por uma.

Andou até a "floresta" do lugar, já era um pouco escura normalmente, quem dirá agora com o céu cinzento, mas não se importou. Cruzou os braços e ficou observando as lápides improvisadas. Sim, foi até o local que todos chamavam de cemitério da clareira. Os nomes nas pedras o faziam recordar de todos os amigos perdidos. Alguns um pouco apagados, devido ao tempo, mas se lembrava claramente dos rostos.

"Será que é divertido brincar com a vida de outras pessoas como os criadores fazem?" Se lembrou das palavras de Camille e um acesso de raiva tomou conta dele.

Em um movimento brusco ele socou a árvore mais próxima. Uma, duas, três vezes. As veias saltando nos músculos e pescoço, a respiração desenfreada. Continuou socando sem parar.

—Labirinto estúpido. Lugar estúpido. Mortes estúpidas! -Dizia, a voz cheia de amargura- Trolhos inúteis, como se houvesse alguma saída dessa mértila! -O próximo soco arrancou uma lasca do tronco fazendo-o voar longe.

Os dedos dele começaram a arder, tamanha era a força que usava.

—Sabe que isso não vai resolver nada, certo?- Uma voz feminina soou atrás dele.

Minho ficou surpreso por alguns segundos com a repentina aparição da garota. Mas logo retomou ao que estava fazendo.

—Eu estou bem, apenas me deixe sozinho.

Ela suspirou e andou até o lado da árvore que era socada.

—Coitadinha. Ele não sabe como você também sofre com isso.- Camille disse calmamente, como se conversasse com a planta.- Você, árvore, também foi mandada para cá como nós. Confinada nesse lugar pelo resto de sua vida. Ao menos nós teremos uma mínima chance de sair.

—Bela chance nós temos. -O garoto resmungou e Camille teve que se desviar de mais uma lasca.

—Hum.- Ela colocou um dedo no queixo, como se pensasse- Será que essa arvorezinha um dia vai ver a luz do Sol? Bem, provavelmente não. Tadinha, e ainda tem que aguentar esse garoto a machucando.

—Você fala como se essa coisa estivesse viva. -Minho bufou- E o que ela tem de arvorezinha? Já viu o tamanho dessa coisa? Ela da umas duas e meio de você.

O garoto ainda se concentrava no que fazia, como se aquilo pudesse ajudá-lo a esvaziar toda a raiva que sentia.

—Pode ser. -Camille respondeu suavemente, ainda calma- Mas até os mais fortes sentem dor, mesmo que não admitam.

Minho parou, um braço ainda estendido, o punho cerrado no tronco da árvore. Ele imediatamente soube que a garota não falava de uma árvore.

Inspirou e expirou profundamente.

—Acha que estou sentindo dor?

Ela ficou de frente a ele e colocou uma mão em seu peito, no local do coração.

—Todos sentem. Você só tem uma maneira diferente de demonstrar.

—Talvez. -Ele murmurou antes de se sentar em um tronco caído.

Ficaram em silêncio por alguns segundos antes do garoto estender uma mão para ela e a puxar para se sentar em seu colo.

Assim o fez e Camille beijou o topo da cabeça dele.

—Sabe que pode me contar qualquer coisa, não é?

Ele assentiu com um movimento de cabeça, colocou um braço atrás das costas dela e depositou a outra mão sobre sua coxa.

—Vê? De que adianta ficar socando as coisas se vai ficar com os dedos machucados?- Camille balançou negativamente a cabeça ao observar a mão dele.

—Isso não é nada.- Disse, os olhos ainda cravados nas lápides.

—Então esse é o cemitério dos clareanos.- Camille comentou- Eram muito próximos a você?

—Alguns. -Minho murmurou, um quê de tristeza nos olhos.

Ela começou a fazer um carinho nele, afagando-lhe os cabelos com a ponta dos dedos. E cantarolou baixinho uma musica que acabara de inventar.

Ele suspirou.

—Isso é bom.

Ela riu de leve.

—Os verdugos levaram alguém hoje?- Minho perguntou.

—Newt disse que sim. Adam, era o nome do garoto. Me sinto mal por não saber que é.

—Você tem um coração mole, sabia? -Ele sorriu- Mas eu gosto.- Beijou o pescoço dela.

—E você não é tão insensível quanto demonstra. -Ela rebateu sorrindo.

—Parece que o Gally estava certo. Vão pegar apenas um por noite. -Minho disse e ela assentiu.

—Acho que os criadores querem nos dar uma espécie de empurrãozinho. Para ver se saímos desse lugar.

—Quando eu os encontrar, vou quebrar a cara daqueles desgraçados.

—Bom, dessa vez eu não vou tentar impedir. Por mim você pode fazer o que bem quiser com eles. Eu mesma tenho vontade de socá-los.- Ela deu de ombros.

Ficaram ali por mais algum tempo, Camille voltou a cantarolar.

—E então, a raiva passou?- Ela perguntou depois de uns minutos, uma sobrancelha arqueada. -Quero muito ver aquele código.

—É... Acho que a gente pode ir lá.

—Oba!- Ela levantou num salto.- Então vamos, porque a curiosidade está me matando!

—Tomara que essa coisa nos tire daqui. Acho meio difícil mas... -Resmungava enquanto andavam.

—Ah, pare de ser tão reclamão. -Ela riu e o empurrou de leve.

***

Chegando no porão da sala de armas deram de cara com Newt. Os mapas estavam espalhados por todo o cômodo, como se um furação tivesse passado por ali.

—E então, resolveram o código?- Minho perguntou.

Newt ergueu o olhar para os dois, fez que sim com a cabeça e apontou para Teresa em um canto, observando sem parar para um papel onde escreveram as palavras formadas.

Minho foi para junto dela saber o resultado.

Newt olhou para Camille com uma sobrancelha arqueada.

—Como conseguiu trazê-lo de volta? Quando esse cara coloca algo na cabeça ou fica emburrado por algum motivo é um Deus nos acuda para ele voltar ao normal.

—As vezes ele é meio esquentadinho, mas...- Deu de ombros e sorriu triunfante- Nunca duvide dos poderes de uma garota.

Ele riu, de uma maneira cansada. Os olhos estavam fundos. Deveriam ter desenhado aqueles mapas por muito tempo.

—Venha ver isso aqui. -Newt disse- Quero ver se consegue dizer o que essa coisa significa.

Camille assentiu e Minho lhe entregou o papel.

Viam-se círculos numerados de cima a baixo do lado esquerdo, de um a seis. Ao lado de cada um via-se uma palavra escrita em grandes letras maiúsculas. FLUTUA
PEGA
SANGRA
MORTE
RÍGIDO
APERTA

—Isso é... an... -Camille coçou a cabeça tentando achar as palavras certas.

—O nosso lindo código de salvação.- Minho completou por ela.- E adivinhe? Ainda estamos na mesma.

—As quatro últimas palavras não me parecem nada com salvação...- Camille riu nervosa.- Na verdade, nem um pouquinho.

—Mas se está escrito então deve ter algum sentido, certo?- Teresa cruzou os braços, pensativa.

—Essa é a ordem certa? -Minho perguntou.

—Com certeza.- Newt respondeu calmamente. -Fizemos todo tipo de teste e ainda dava nisso. Sem contar que era a única coisa que fazia sentido.

—Aham, acho que eu perdi uma parte. O sentido nisso aqui. -Camillle comentou.

—Thomas pensou que talvez o Minho pudesse saber de alguma coisa, já que conhece o labirinto como a palma da mão.- Newt disse.

Todos se viraram para o asiático, a expectativa nos olhares. Ele passou a mão pelos cabelos.

—Acham que se eu soubesse de algo já não teria falado? Essa mértila parece uma piada para mim. O Thomas não disse mais nada?

—Não, ele também ficou confuso. Mas depois estranho de repente.

—Estranho?- Camille franziu o cenho- Como assim Teresa, explique melhor.

—Ele de repente disse que estava cansado e saiu sem querer falar com ninguém. Parecia atordoado.

—O trolho estava com cara de que viu um fantasma. -Newt completou.

—Quem sabe. Talvez apenas tenha ficado cansado mesmo. -Minho suspirou sem animação.- Preciso de um cochilo.

—Leu meus pensamentos. -Camille e Teresa falaram ao mesmo tempo.

Se viraram uma para a outra.

—Ei, não fale ao mesmo tempo que eu!- Novamente disseram juntas.

Minho e Newt se olharam e prenderam o riso.

—Era só o que me faltava. -Teresa resmungou.

Camille bufou.

—Ah que maravilha... Adorei alguém lendo minha mente.

—Deus! Como você é irritante.

Eu sou irritante?- Camille arqueou uma sobrancelha. -Já se olhou?

Teresa ia responder mas Newt se meteu.

—Caramba, ta todo mundo cansado aqui. Vamos ficar calmos.

—Mais calma do que isso só dormindo.-Teresa resmungou.

—Você era muito mais legal quando estava de "bela adormecida" mesmo. -Camille sorriu irônica.

—Eu concordo.. -Minho murmurou.

—Não incentiva Minho!- Newt bateu a mão na própria testa. -Vocês duas, da para ficarem quietas?

—Eu não fiz nada, ora. -Camille fez uma carinha inocente.

—Não entendo vocês, uma hora estão conversando normalmente outra estão discutindo.

—Newt... São garotas. Não da para entender mesmo.- Minho deu de ombros. -De qualquer forma, vamos logo.

—Ótimo. -Teresa disse.

—Perfeito. -Camille deu um risinho.

***

Tiravam alguns cochilos hora ou outra. O dia passou tranquilo. Ao menos, o mais tranquilo que se poderia com todos os recentes acontecimentos.

Logo a noite chegava. Os relógios mostrando a mudança da hora. Todos entraram e se acomodaram na Sede. Dessa vez Camille e Minho foram para o andar de baixo; Newt, Thomas e Teresa- que agora pôde dormir na Sede- estavam lá também. Um enorme silêncio instalado. Não dava para saber se era por que todos estavam dormindo ou por que estavam aterrorizados demais para falar qualquer coisa.

A noite se arrastou lenta, porém dessa vez Camille conseguiu dormir. Claro, não por muito tempo.

Então, como todos esperavam, ouviram-se os barulhos mecânicos e assombrosos dos verdugos lá fora. O momento chegara.

Ela praguejou baixinho e, assim como os outros clareanos, foi para um canto na parede afastado das janelas.

A tensão no cômodo só fazia aumentar e cada segundo era uma tortura. Os Clareanos estavam quietos, nem uma alma se movia. Um ruído distante de metal raspando contra a madeira ecoou por toda a casa. Mais ruídos seguiram-se alguns segundos depois, vindos de todas as direções, o mais próximo bem do lado de fora da janela deles. O ar no salão parecia imobilizado, feito gelo sólido.

Uma explosão repentina ribombou em algum lugar no andar de cima, como madeira e vidro se estilhaçando. Vários gritos irromperam de lá, seguidos pelo barulho de passos apressados em fuga . Rangidos e gemidos altos anunciaram que todo o grupo do quarto atacado corria para o piso inferior.

— Pegaram Dave! - alguém gritou, a voz esganiçada de terror.

Ninguém nem mesmo se moveu. Sabiam que não adiantaria nada. E por outro lado, mesmo que não admitissem, sentiram uma pontada de alívio. Sabiam que os verdugos só pegariam um por noite.

Oh, Camille! Ela repreendeu a si mesma em pensamento. O que você está pensando? Nenhuma vida é mais importante que outra.

Se sentiu triste por não poder fazer nada e um acesso de medo tomou conta de si quando um estrondo quebrou a porta da frente. O verdugo atravessou correndo por toda a casa e agora estava indo embora.

Então a coisa louca aconteceu.

—Thomas, não!- Camille gritou.

Foi tudo muito rápido, mas todos puderam ver Thomas correr para fora da casa em direção aos verdugos. Quando estavam quase adentrando no labirinto o garoto se jogou no meio deles.

Newt gritou para que parasse mas o mesmo não lhe deu atenção.

O que ele quer fazer. Se suicidar!? Camille pensou. Um quê de desespero.

Três dos Verdugos atiraram-se sobre ele ao mesmo tempo, as pinças e garras compridas e as agulhas voando em todas as direções.

Ninguém entendeu o que ele estava fazendo. Gritando, ele chutava, empurrava e se debatia, rolando o corpo para fora, tentando se afastar deles. Finalmente encontrou um espaço aberto para firmar-se nos pés e correr com todas as forças.

—Mas o que... -Camille estava mais confusa que tudo.- Primeiro ele vai e depois foge?

Thomas desmoronou no chão, gemendo de dor e os Verdugos bateram em retirada. Já tinham o que queriam, um clareano por vez. Essa era a regra.

Todos correram para perto do garoto o mais rápido que puderam. Newt começou a dar ordens para que o levantassem. O rosto de Thomas se contorcia em um misto de dor e tontura. Rasgaram as roupas do garoto a procura de ferimentos e lesões.

—Ah, droga!- Camille arregalou os olhos.

—Ele foi picado umas dezenas de vezes! -Um socorrista anunciou.

Teresa estava aos pés de Thomas, massageando seu tornozelo. A expressão preocupada no rosto. Chuck também se aproximou correndo.

—Thomas, o que deu em você? Por que fez isso, por quê?- Perguntava repetidas vezes.

O soro da dor foi aplicado no garoto e parecia que a qualquer momento ele iria desmaiar.

—Não se preocupem. -Ele ainda murmurou- Fiz de propósito...

E então, como esperado, apagou.

—Levem ele para um quarto na Sede. Agora, agora!- Minho gritou.

Não foi preciso falar duas vezes, logo Thomas foi levado.

—Ah, Tommie. -Camille murmurou- O que você fez?

Os olhos dela encheram-se de tristeza. Sendo uma corredora há dois anos presenciara muitas vezes momentos como aquele. Conhecia muito bem aquele procedimento. E o odiava com todas as forças.

E novamente aquela vozinha, que ela pensara a ter abandonado, disse dentro de si. Como uma lembrança. Apenas uma voz. Alguém falava para ela.

Nada é por acaso. Tudo tem um propósito.


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Notas finais do capítulo

E então, mereço chocolate? *o*
Beijo!