Ainda naquela noite, eu havia voltado para o meu chalé e reunido tudo que precisava para minha sobrevivência, o que se resumia a uma muda de roupas, alguns dólares que estavam em meus bolsos e dois dracmas de ouro.

Annabeth, Grover, Quíron e quase todo o acampamento estavam reunidos na frente de meu chalé quando havia terminado minha pequena mochila de viagem.

– Você tem certeza disso, Percy? - perguntou Quíron, se aproximando.

– Não. – respondi. – Mas eu não tenho escolha mais.

– Você sempre tem escolha. – respondeu ele. – Basta apenas pensar direito.

– Quíron tem razão, Percy – disse Grover, se aproximando. – Você é um Meio-Sangue, seu lugar é aqui, no acampamento! Como vai viver fora dele?

– Acredito que, agora, monstros não serão meu maior problema – respondi. – Lamento, mas isso é um adeus.

Quando havia atingido o topo da colina, ouço alguém gritando em minhas costas. Annabeth subia o morro o mais rápido que conseguia.

– Oi. – disse ela, entre uma ofegada e outra.

– Oi... – respondi.

– Então, vamos? – perguntou ela, foi só nesse momento que percebi a mochila que carregava nas costas.

– Annabeth, você não vai junto. – falei pra ela.

– Claro que vou. – respondeu ela. – E não venha com esse papinho de “vocês não podem me acompanhar mais” e todo blá blá blá que deixou preparado. Eu simplesmente não vou ouvir.

– Annabeth...

Todos os momentos que passamos juntos acabaram voltando em minha mente, desde a primeira vez que a vi até o nosso reencontro após a batalha contra os Shines. Nesse momento eu havia percebido o quanto a amava e me importava com ela, as lágrimas que surgiram em meus olhos se derivaram disso, de não poder continuar ao seu lado, mesmo querendo tanto. Eu a abracei forte e sussurrei em seu ouvido:

– Eu te amo.

Foi quando dei um golpe forte em sua cabeça, fazendo-a perder a consciência.

Depois de ter tomado minha decisão, chamei por Silha e ela, então, me levou para uma casa abandonada a alguns quilômetros do acampamento.

Foi quando minha jornada de treinamento recomeçou.

– Olá de novo, Percy. – disse Urano.

– Oi. – respondi.

– Nós faremos algumas mudanças na nossa rotina. – disse Francis. – Poseidon deve conseguir alguns dias, talvez semanas para nós. Você deu sorte que ele parou de rastrear nosso poder, se não já estaria morto.

– Sim... Muita sorte. – falei com o pensamento a alguns quilômetros dali.

– Ei. – ele disse me abraçando. – Eu sei que foi duro, mas você precisa se focar agora.

– P-Por que está me abraçando? – perguntei. Pode parecer meio frio, mas ter o espírito da morte lhe abraçando é muito estranho.

– O-O que? – ele falou, já se afastando. – Eu fiz alguma coisa errada? Você interage assim com aquela garota.

– Mas ela é minha namorada! Ou era...

– E qual a diferença entre uma namorada e uma amiga? – ele questionou.

– Você tem certeza que quer uma explicação disso?

– Não, esqueça. – ele disse. – Não temos tempo pra isso agora. O que eu quis dizer é: Eu sei que você ama aquela garota, mas se estiver desatento assim no treinamento, acabará morto aqui mesmo, e não poderá nem mesmo tentar lutar contra o nosso inimigo.

– Nosso? – perguntei. – Ele é meu inimigo. Se eu perder e acabar morto, você só irá até outro corpo mortal, correto?

– Correto. Mas eu não quero isso. – ele disse. – Escute, eu gosto de você, Percy. Você entendeu o que nós, Shines, queríamos. Você acabou tornando-se nosso amigo. E assim como você não quer que a sua namorada se machuque, nós não queremos que você morra. Por isso eu e Urano chegamos a um acordo.

– Acordo? – questionei meio constrangido após essa demonstração de amizade.

– Sim. Sou eu quem fará o seu treinamento. – ele explicou. – Urano ficará de fora, tentando retardar o tempo dessa dimensão o máximo possível, de modo que possamos aproveitar mais.

– Quanto mais? - perguntei .

– Algo em torno de um mês por dia. – ele respondeu. – E... Tem outra coisa também.

– O que?

– A gravidade será duas vezes mais forte aqui.

– O que? A partir de quando? – questionei, assustado.

– Agora.

E foi nesse exato momento que senti meu corpo ficar mais pesado, quase ajoelhei-me no chão após a drástica mudança. Se eu treinasse um mês nessa gravidade... Realmente faria muita diferença!

– Tudo bem? – perguntou ele.

– Sim. Só tenho uma pergunta. – falei.

– Qual?

– Quando começamos?

Quando Francis posicionou-se na minha frente, já com sua espada em mãos, não parecia ser afetado pela gravidade ampliada que me fazia dobrar os joelhos a cada passo, de modo que, mesmo que nas mesmas condições nós tivéssemos quase o mesmo nível de força, ele conseguia me atingir tão facilmente quanto acertar um soco em um saco de areia.

Porém, após alguns dias, meu corpo foi se adaptando a força de atração do chão e, lentamente, fui começando a defender e esquivar de alguns golpes. Estava focado, não em ficar forte e derrotar o alien, mas focado em ficar forte e voltar pra ela. Voltar para Annabeth.

Então, com o passar dos dias, a gravidade ampliada mal incomodava meu corpo, foi quando venci Francis a primeira vez.

Sua espada veio rápida em direção ao meu pescoço, com sufoco, deixei a gravidade agir e me abaixei, apenas para tentar atingir suas pernas. Em um ágil movimento, Francis saltou para longe do alcance de minha lâmina, mas foi aí que eu o superei pela primeira vez, quando este atingiu o chão novamente, a ponta de minha espada já estava posicionada abaixo do seu queixo.

– Ganhei. – falei.

– Mais ou menos. – ele disse, mostrando sua espada posicionada com a ponta encostada no lado esquerdo do meu peito. – Mas vamos considerar que sim.

Então ele afastou-se de mim e guardou sua espada.

– Certo. A primeira parte do treinamento está feita. – ele falou. – Agora vamos para a segunda.

– Segunda? – perguntei.

– Sim. A primeira parte era conseguir sua mobilidade antiga em uma gravidade mais ampliada.

– E a segunda... – disse Urano, surgindo ao lado de Francis. – É acompanhar minha velocidade total em apenas um dia.