– Por que um dia? – perguntei.

– Por que agora eu não estou mais atrasando o tempo dessa dimensão. – respondeu Urano. – Portanto, um segundo aqui é igual a um segundo lá fora. Tenho certeza que você não quer deixar seus amigos esperando.

– O que quer dizer? – questionei.

– Acontece que seu pai perdeu o controle da situação há dois dias. – respondeu Urano. – E, nesse exato momento, todo acampamento Meio Sangue e os deuses do Olimpo estão segurando nosso oponente.

– Como... Assim... – disse incrédulo, deixando a gravidade ampliada colar meus joelhos ao chão. – Há quanto tempo estou aqui?

– Cinco meses. – respondeu Francis. – O equivalente a cinco dias no tempo da terra.

– Agora se levante. – disse Urano. – Não temos tempo a perder.

– Não! Eu preciso ajuda-los!

– Não seja tão convencido. – respondeu Francis. – Você acha que ficou grande coisa nesses cinco meses? Só pelo fato de ter treinado em três meses e ter passado os deuses, não quer dizer que tenha evoluído muito treinando por mais tempo agora.

– Como não? – perguntei, ficando em pé. – De que serviu isso tudo então?

– Serviu para isso. – Urano veio até mim e tentou me atingir um soco no rosto, que eu consegui bloquear facilmente. – Cinco meses atrás, você teria voado longe. Essa foi a velocidade que o alienígena usou para lhe atingir antes.

Lembrei-me do soco que me jogou diretamente no mar, eu não havia conseguido se quer ver o movimento dele, e agora o consegui bloquear facilmente!

– Então agora eu estou mais rápido que ele, correto? – perguntei. – Então devo ter alguma chance!

– Não. – responderam Francis e Urano em uníssono.

– Ele não estava sério quando lhe atingiu. – disse Urano. – O soco dele foi algo parecido com o movimento que você faz para atingir uma pequena formiga. Não para desferir um golpe mortal em um oponente.

– Escute, Percy. Eu sei que está preocupado com seus amigos. – disse Francis. – Mas tente confiar um pouco neles. Os deuses do Olimpo são fortes, seus amigos semideuses também são. Se juntar todos eles, um exército formidável é formado.

– De que adianta um exército de trezentos semideuses e deuses. – disse. – Se o oponente vale como mil deles?

– Eu cheguei há pouco tempo aqui, mas já vi um exército de trezentos derrotar um de mil sem uma baixa se quer. – respondeu Francis. – Por isso, confie neles.

Após isso, o treinamento continuou. Acontece que Urano era muito mais rápido do que achei que fosse. Seus golpes vinham de uma forma tão ágil, que eu só conseguia vê-los se utilizasse de toda minha concentração. Porém, quando ele percorria grandes distâncias era fácil de acompanha-lo.

Depois de algumas horas, houve um impasse entre nós dois, onde trocávamos socos e chutes sem um atingir o outro, até que acertei um soco em seu rosto, que o fez perder o equilíbrio do corpo e, também, da nossa luta.

Após atingi-lo uma primeira vez, eu comecei a acertar mais e mais golpes em uma velocidade assustadora, Urano se quer parecia capaz de vê-los, de modo que, ao acertar o trigésimo, ele se afastou e declarou o fim da parte dois do nosso treino.

– Terminei o treinamento? – perguntei. – Eu não entendo, esse foi muito mais rápido.

– Eu retirei a gravidade ampliada. – disse Urano. – De modo que todo treino desses cinco meses mostrou seu resultado. Agora você é capaz de igualar a velocidade e agilidade daquele ser.

– Mesmo? – perguntei. – Agora posso ir para a batalha!

– Ainda não. – respondeu Francis. – Agora nós vamos para a fase três.

– Do que está falando? – perguntei. – Assim eles irão morrer!

– Eu já disse. – disse Francis. – Confie neles. Essa é a parte mais rápida.

– Tá... Mas o que é dessa vez? – perguntei. – Vou lutar com os dois juntos?

– Não. – respondeu Francis. – Atualmente, seria fácil demais pra se considerar um treinamento. Sua força física está certa, não há necessidade de a ampliarmos mais.

– Seu último treinamento é um golpe finalizador. – respondeu Urano. – Durante o treinamento dos seres daquele planeta, eles utilizam uma técnica que da mais resistência a pele, algo que envolve deixa-la exposta a certa quantidade de radiação...

– ... E depois a fogo. – completou Francis. – Depois ácido, depois ouro derretido e, por fim, mas não menos importante, lava.

–... Ou seja. – continuou Urano. – Você precisa de um golpe que destrua aquela pele.

– Mas... Eu não posso usar aquele golpe em que nos fundimos, Urano?

– Infelizmente, não, Percy. – respondeu Urano. – Mais tarde você vai entender o por que.

– E, de qualquer modo, aquele golpe não seria capaz de mata-lo. – concluiu Francis- Você agora tem o poder da morte. Eu vou ensiná-lo a canaliza-lo, e o disparar em uma espécie de raio, um golpe com todo poder da morte canalizado será capaz de destruir a pele resistente dele.

– E se você conseguir utilizar minha espada com cem por cento do poder, mesmo seus golpes físicos serão capazes de machuca-lo.

– Pegue sua espada, Percy. – disse Francis. – Está na hora do seu último treino.

Quando acordei novamente, ainda estava no mar congelado. O silêncio predominava no local, então me levantei, sem saber muito do que aconteceu.

Quando olhei para o chão ao meu lado, havia dois corpos deitados, também pareciam adormecidos, estes eram Urano e Francis.

– Ei, acordem. – falei. – Vocês tem que me ensinar àquela técnica.

Não houve movimento, foi quando me agachei para tentar acordá-los. Porém, quando encostei em Urano, percebi o enorme ferimento que havia na altura de seu peito.

– Urano! O que houve? – perguntei desesperado, então vi que havia o mesmo ferimento em Francis. – FRANCIS!

Puxei então a espada de sua bainha e me preparei para atacar quem quer que tenha feito aquilo. Mas logo ficou claro quem foi.

– Não... Não... NÃO! FRANCIS, URANO! – gritei para o vazio. – POR QUÊ!?

Foi quando desabei em lágrimas, que escorreram por meu rosto e pingaram na lâmina negra, manchada com licor dourado, passando por sobre o pequeno e último recado escrito na lâmina. “Treinamento completo.”.