Juntos pelo acaso escrita por MsNise


Capítulo 17
Tentando


Notas iniciais do capítulo

Mais uma sexta-feira, mais um capítulo de JPA!
Esse dedicado à Nalu, que fez uma recomendação gigante e linda. Fiquei tão surpresa e feliz quando recebi a notificação e enquanto lia fiquei com aquele sorriso enorme no rosto, sabe? Sério, obrigada mesmo por essa recomendação e por todos os comentários lindos ♥
E agora vamos para o capítulo recheado de emoções e com direito a mais trilha sonora!
Espero que gostem, amores ♥



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— Acordei na sua cama e, de acordo com minhas lembranças, não fui dormir lá — comentou Sali com um sorriso irônico no rosto, sentando-se em uma das cadeiras mais próximas de si.

Meu pai tinha saído comprar pão fresco em uma padaria que abria no domingo, portanto estávamos somente eu, Rafa e Sali sentados em torno da mesa e tentando jogar conversa fora.

— Tenho certeza de que você foi dormir na minha cama — dei de ombros. — Ou, talvez, você seja sonâmbula e tenha caminhado até lá.

Ela ficou me encarando.

— Mesmo que eu fosse sonâmbula, não conheço a casa o suficiente para caminhar até a sua cama — ela revirou os olhos. — E, além do mais, eu tive um sonho muito estranho com um garoto me carregando no colo pela casa — ela franziu o cenho e se fez de confusa.

Rafa riu de seu teatrinho.

— Ah, sim — sorri. — E como ele era?

— Bem, ele não tinha rosto — ela começou. — E o balanço de seu corpo era bem brusco. Era desconfortável — ela provocou, fazendo uma careta.

Desconfortável? Lembrei-me do que ela tinha dito nos limites do sono sobre querer dormir para sempre no abrigo de meus braços. Cogitei questioná-la, mas optei por continuar na brincadeira, mesmo que ela não parecesse mais tão leve para mim.

— Então algum garoto sem rosto deve ser invadido essa casa de noite, porque tenho certeza que os meus movimentos não seriam bruscos — acrescentei rapidamente: — E, é claro, eu tenho rosto.

— Mas… e se você tiver dupla identidade e, durante a noite, o seu rosto é dissolvido e você pega garotinhas indefesas no colo e as carrega pela casa? — ela estreitou seus olhos e se inclinou sobre a mesa.

— Se eu tiver essa dupla identidade de fato, não posso revelá-la — sorri com astúcia. — Então continue com suas teorias e suposições. Você está indo bem.

Ela se encostou no assento.

— Ainda acho que foi um sonho — insistiu, cruzando seus braços teimosamente. — Mas, se não foi, esse garoto sem rosto veio me salvar das garras do sofá, que na verdade era um mutante e planejava me devorar enquanto eu dormisse profundamente.

Arregalei meus olhos.

— Que mente mais criativa — comentei, retraindo-me. — Mas, supondo que esse garoto sem rosto era eu, então eu fui um super-herói!

Ela fez uma pausa para analisar a questão e, em seguida, olhou pra Rafa.

— O que você acha, Rafa? Que foi um sonho e que eu sempre estive na cama do Guto ou que foi um garoto sem rosto que me carregou até lá para me salvar das garras do sofá mutante ou, ainda, que foi simplesmente Guto que me carregou de modo brusco pela casa…?

— Espera aí — interrompi-a. — Você disse que o garoto sem rosto tinha os movimentos bruscos, não eu.

Ela respirou fundo fingindo irritação e consertou a frase:

— Ou que foi simplesmente Guto que me carregou… pela casa?

— Tentando ser gentil — completei por ela com um sorriso presunçoso. — Na parte que você hesitou se encaixaria perfeitamente.

— Gustavo! — ela reclamou. — Pare de atrapalhar a mim e ao Rafa. Rafa, agora responda.

Ele encolheu seus ombros e murmurou algo como “caramba” antes de expressar sua opinião perfeitamente formada.

— Eu acho que o Guto era o garoto sem rosto que te salvou das garras do sofá mutante dentro do seu sonho.

Logo depois que disse aquelas palavras, ajeitou sua postura e ergueu seu rosto em um gesto orgulhoso.

— Mandou bem, pirralho — comentei, fechando minha mão em punho e batendo na dele.

Sali abandonou a postura presunçosa e desafiadora e relaxou em sua cadeira, sorrindo gentilmente para o Rafa.

— Fez um bom trabalho.

— Valeu.

Sorri diante de uma manhã tão agradável. Manhã que eu não experimentava todos os dias.

.

— Você vai me assustar — ela me empurrou, contrariada. — Meninos sempre fazer isso com meninas.

— Mas, Sali — joguei a cabeça para trás. — Eu quero… eu preciso ver esse filme. E que graça tem se eu for sozinho?

— Eu detesto filme de terror.

— Você vai estar acompanhada! Não vai nem sentir medo.

— Claro que vou!

Respirei fundo e fechei meus olhos.

— Tá. Meu pai e Rafa já entraram na sessão de filme infantil, então provavelmente não vai ser tão fácil você achar eles…

— Você está falando como se o cinema fosse um labirinto.

— E no escuro realmente é! Mas, mesmo que você os veja, e se houver alguém sentado perto deles?

— Guto…

— Por favor — pedi, juntando suas mãos entre as minhas. — Eu não vou te deixar sentir medo.

— Aposto que vai me assustar.

Engoli em seco e com a mão trêmula segurei a lateral de seu rosto. Ela me encarava com os olhos estreitos.

— Você sabe que não — sussurrei, sustentando seu olhar firmemente. — Você sabe que eu não faria nada que pudesse te deixar mal.

— Só me arrastar para assistir a um filme de terror no cinema, talvez.

— Eu estarei lá, com você.

Ela suspirou e apoiou a cabeça em meu ombro, fazendo um choque elétrico percorrer meu corpo.

— Não sei não, Guto.

— Sabe sim — sussurrei, encostando minha cabeça na sua. — É claro que sabe.

Ela se afastou de mim derrotada e soltou um gemido baixinho de lamento quando a fila da bilheteria andou.

— Se você me assustar…

— Tem morte garantida hoje, eu sei — olhei-a e sorri. — Pare de se preocupar, Sali.

— Eu não consigo. Noventa por cento de mim é preocupação inútil.

Ri e comecei andar em direção à sessão. Repassei mentalmente quais poderiam ser os problemas que enfrentaríamos naquele dia e quais deles Sali poderia temer. Queria deixá-la segura.

— Você não vai ter pesadelos — comentei.

— Quem garante?

— Eu, é claro — exclamei, fingindo-me de ofendido por ela ter me subestimado.

A moça que estava na frente da sessão destacou os ingressos e desejou um bom filme. Sali interrompeu a conversa para agradecê-la antes de entrarmos na sala.

— Como você pode me garantir que eu não terei pesadelos? — prosseguiu com a conversa.

— Ué, porque eu vou entrar nos teus sonhos e te privar de qualquer coisa ruim — sorri, apontando para uma fileira. — O que acha de sentarmos aqui?

— É claro, porque eu sou bem alta pra sentar nas primeiras fileiras e não vou ficar com dor na nuca — ela sorriu ironicamente.

Sem querer sair perdendo, retruquei:

— Ah é, tinha me esquecido que você era um toquinho de amarrar bode — espelhei o sorriso dela e segurei em seu ombro, empurrando-a adiante delicadamente. — Então vamos achar uma fileira que não te deixe “desconfortável”.

— E não podemos nos esquecer, também, de que não pode ter ninguém sentado atrás de nós.

— Por quê?

— Pra sua cabeça não atrapalhar a visão da pessoa. Isso não é óbvio?

Balancei a cabeça negativamente quando achamos um lugar confortável para ambos. Ela encostou a cabeça no banco e se virou para mim, sorrindo.

Clica.

— O medo te deixou inspirada para essas piadas?

— Todos os sentimentos negativos me inspiram — ela confirmou, suspirando e olhando ao seu redor de forma séria e desanimada. — Ah, Guto, nem acredito que vou ver um filme de terror nessa tela gigante.

A sobriedade caiu sobre ela como um manto. Mesmo que o cinema estivesse se enchendo de pessoas, eu somente era capaz de vê-la. Sua expressão estava intensa e, ao mesmo tempo, gentil. Ela estava encolhida em seu lugar.

— Escuta — sussurrei, puxando sua mão que estava escondida no assento. — Quando você sentir muito medo, aperte bem forte a minha mão — então entrelacei nossos dedos deliberadamente, encaixando-os.

Ela fitou as nossas mãos unidas por um tempo antes de sorrir serenamente.

— Você vai me proteger dos fantasmas, Guto? — ela balbuciou, erguendo seu olhar para mim.

Sustentei seu olhar com a respiração pesada.

— Eu não posso te proteger dos fantasmas, Sali — murmurei. — Mas, com certeza, posso te proteger dos teus medos.

Ela abaixou o rosto e brincou com os nossos dedos.

— Eles são dominadores — seu cenho se franziu.

— Mas não são capazes de me intimidar — sorri. — E eu não me importo de sair ferido nessa luta.

Ela sorriu um pouquinho também, voltando a sustentar meu olhar.

— Um soldado ferido e valente. Que honra ter você como meu protetor.

— A honra é minha em poder te proteger.

Ela fechou seus olhos e apertou nossas mãos unidas. Como na noite anterior, pude olhá-la atentamente com o rosto relaxado e desprovido de emoções. Quis contorná-lo com a ponta dos dedos, sentindo a textura da pele, dos lábios, das pálpebras, das bochechas. Quis fazer carinho nele naquele momento; e talvez o dia todo, e a noite toda. Ou talvez para sempre.

Mas então o encanto se desfez.

Os trailers que antecediam ao filme começaram subitamente e Sali abriu os olhos em um gesto rápido, parecendo nervosa. Respirou fundo e se ajeitou na poltrona, deixando nossas mãos entrelaçadas na divisão entre nossas cadeiras. Fitei-a, tentando desvendar seus pensamentos.

— Se eu esmagar sua mão ou ela ficar dormente, a culpa é toda sua.

Ri um pouquinho, desviando o olhar e me virando em direção à tela.

— Eu não me importo, Sali — e era verdade. — E ainda assumo toda a culpa.

— Ótimo, porque eu odiaria ter que me responsabilizar por algo que realmente vai acontecer.

Sali apertava constantemente minha mão; e eu não conseguia me concentrar no filme. Tinha que me esforçar ao extremo para não olhá-la o tempo todo e não causar suspeitas. Depois de algum tempo, percebi que ela não apertava minha mão somente quando se assustava, mas também quando achava que se assustaria. E, mais tarde ainda, percebi que ela simplesmente o fazia sem motivo algum. Estava prestes a perguntar a ela por que estava apertando tanto a minha mão quando uma cena do filme pular em sua poltrona e ofegar.

— Sali? — sussurrei, tentando ignorar os risos daqueles que zombavam das outras pessoas que tinham se assustado. — Tudo bem?

Ela balançou a cabeça em um gesto rápido, fazendo-me ficar preocupado. Respirei fundo e soltei nossas mãos, passando meu braço ao seu redor. O apoio de braço entre nossas poltronas não foi de grade ajuda, mas conseguimos encontrar uma maneira confortável de permanecer abraçados. Sali fechou seus dedos ao redor de minha camiseta e tentou controlar sua respiração.

Estávamos perto. Perigosamente próximos. Sem entender meus próprios movimentos, segurei no seu queixo sem hesitar e ergui seu rosto para mim. Ela sustentou meu olhar.

— Eu vou ter pesadelos — ela sussurrou.

Com o coração acelerado, não pude controlar minhas palavras.

— Eu não vou deixar — murmurei, contornando seu lábio inferior com o meu polegar.

Naquele momento, eu tive certeza que não a deixaria ter pesadelos.

Com a respiração ofegante, abaixei mais meu rosto até que nossas testas se encostassem. Nossas respirações se confundiram e eu senti meu nariz encostar no seu, que estava gelado. Deixei que minhas pálpebras caíssem pesadamente; eu já não precisava enxergar mais nada.

Meus dedos se entrelaçaram nas suas madeixas; ela tinha deixado o cabelo solto naquele dia. Eu estava ansioso e empolgado, não conseguindo acreditar que conseguiria aquilo tão rapidamente. Seus dedos puxaram o tecido da minha camiseta. Estávamos próximos, tão próximos…

— O filme, Guto — Sali murmurou; sua voz parecia agoniada.

— Eu não me importo com o filme — respondi, ainda embriagado com nossa proximidade, com a possibilidade do beijo acontecer.

Ela respirou fundo e abaixou a cabeça, acabando com qualquer possibilidade de beijo.

— Temos que terminar de assisti-lo — ela murmurou; e pela sua voz pude perceber que ela estava derrotada. — Viemos aqui para isso, não?

Em meio à minha confusão, não pude nem respondê-la. Sali não pareceu se importar. Desvencilhou-se de meu abraço e sentou no outro canto de sua poltrona, erguendo seus joelhos ao nível do rosto e rodeando-os com os braços. Parecia chateada, porque boa parte do resto do filme permaneceu com os olhos fechados. Quis saber o que se passava em sua cabeça.

Quase estiquei minha mão e acariciei seus cabelos, contudo não era tolo o suficiente para não entender seu recado. Ela não queria nada comigo. E tinha deixado aquilo ridiculamente claro.

Não consegui prestar atenção no filme e, assim que as luzes se acenderam, nos levantamos e saímos em silêncio da sala. Cruzei meus braços e mantive uma distância segura, não querendo que Sali pensasse que eu estava tentando ultrapassar algum limite. Ela não parecia bem; e, sinceramente, eu deveria parecer ainda pior.

Meu pai estava sorridente quando nos encontrou no meio do caminho.

— E então, o filme foi bom?

Quando percebi que Sali não responderia, me obriguei a balbuciar um “claro” e me assustei com o tom abatido de minha voz. O sorriso de meu pai se desmanchou imediatamente; Rafa me olhou curioso.

— Já está na hora de ir pra rodoviária, infelizmente — meu pai murmurou, empurrando Rafa de modo delicado. — Temos que nos apressar.

Assenti e o segui em silêncio, com Sali ao meu lado o tempo todo. O clima estava pesado e eu precisava desesperadamente encontrar um jeito de aliviá-lo, mas não sabia como. Tinha passado do melhor momento do meu final de semana para o pior em questão de segundos. Precisa-se de meses para construir algo e apenas segundos para destruí-lo. Eu sentia que meu coração estava estraçalhado com a rejeição.

Logo que chegamos à rodoviária, Rafa se empolgou ao ver um amigo que ele tinha feito no final de semana. Imediatamente, informou a Sali:

— Desculpa, mas eu prometi que sentaria com ele.

Ela suspirou e sorriu sem convicção.

— Tudo bem, Rafa.

Ele sorriu e se virou para o nosso pai, abraçando forte a sua cintura.

— Até semana que vem, pai.

— Até — meu pai deu batidinhas suaves em sua cabeça, empurrando-o para o lado em seguida e avançando para me abraçar. — Vocês vão se resolver — cochichou no meu ouvido de modo que só eu pudesse escutar. — Não se preocupe.

Espero que sim, pensei, mas fui incapaz de obrigar a minha boca a falar aquelas palavras. Fechei meus olhos e retribuí o abraço de meu pai, apertando-o bem forte, usando-o como um rápido consolo.

Consolo que acabou demasiadamente cedo.

— Foi um prazer te conhecer, Sabrina — meu pai sorriu gentilmente para Sali e envolveu seus ombros. — Espero que venha mais vezes. As portas da minha casa estarão sempre abertas para você.

— Obrigada, Pedro — ela murmurou com um meio sorriso em sua face. — E desculpa por qualquer coisa.

— Não há pelo quê se desculpar, exceto… — ele conferiu a hora em seu relógio de pulso. — Exceto pelo fato de vocês estarem atrasados — ele respirou fundo. — Vão crianças. Tenham uma boa viagem.

— Valeu, pai — agradeceu Rafa, abraçando-o mais uma vez antes de correr para o lado de seu amigo. A mãe do garoto os ajudou a subir no ônibus e acenou gentilmente para meu pai, prometendo que cuidaria das crianças.

Hesitantemente, fiz uma reverência simples e tímida para Sali entrar antes de mim. Ela evitou o meu olhar e nem mesmo assentiu, sentando-se em um dos poucos bancos livres. Cogitei sentar-me em outro banco e deixá-la sozinha para pensar, mas percebi que seria demasiadamente rude. Sentei-me ao seu lado, portanto, apesar dela não ter esboçado nenhuma reação. Sua cabeça estava encostada na janela.

Derrotado, apoiei minha cabeça no banco e fechei meus olhos, imaginando o que poderia ter dado errado. A única resposta óbvia para mim era que Sali não queria me beijar e que eu não tinha o direito de tentar. Mas e aquilo que ela tinha dito no limite do sono? E todas as suas atitudes, deixando eu me aproximar dela, aproximando-se de mim? Não eram indícios de uma possível reciprocidade de sentimentos? Sem querer e aos poucos fui me deixando envolver por todos os nossos toques e frases e cheguei até mesmo a cogitar que Sali sentisse o mesmo que eu; mas todas as minhas suposições foram destruídas naquela tarde dentro do cinema.

Meu coração, antes acelerado pelo amor, agora estava tão encolhido que chegava a machucar meu peito. O que eu tinha feito? E se nunca mais voltássemos a nos falar? Minhas mãos começaram a tremer; e, daquela vez, foi por puro medo. Estava angustiado.

E permaneci angustiado a viagem toda.

Somente quando estávamos quase chegando na cidade que me virei para Sali. Ela continuava na mesma posição e parecia bem abatida.

— Sabrina? — sussurrei.

Pelo pouco que podia ver de seu rosto, percebi que ela fechou seus olhos e se curvou como se sentisse dor.

— Você nunca me chama de Sabrina — murmurou com a voz rouca.

— Desculpa — sussurrei; e ambos sabíamos que aquele pedido de desculpa não era apenas pelo fato de eu ter me referido a ela como Sabrina.

Ela virou sua cabeça para mim e me olhou cansada.

— Não me peça desculpa — ela disse, passando a mão pelos seus cabelos em um gesto nervoso. — Eu é quem deveria…

— Não — balancei. — Fui eu que ultrapassei os limites.

— Que limites? — ela fechou seus olhos novamente. — Eu não estabeleci nenhum. Por isso fui uma idiota hoje.

— Sali… não. A minha atitude que foi estúpida. Eu não deveria ter tentado te…

Ela suspirou e abriu seus olhos. Sua testa estava vincada de sofrimento.

— Eu que errei — ela murmurou. — Não você, Guto. Não pense nisso. Nem ouse cogitar a hipótese de que quem cometeu o erro foi você.

Bufei indignado.

— E agora você vai me dizer: “o problema não é você, sou eu”?

— É exatamente isso que estou tentando te dizer — ela colocou as pernas no banco e se encolheu no canto oposto a mim. — Eu sei que é clichê, mas…

— É clichê e não faz sentido — interrompi-a. — Não faz… o mínimo sentido. Quer fazer o favor de me explicar?

Ela mordeu o lábio e desviou o olhar; percebi que estava tentando não chorar.

— Eu não consigo, Guto — ela sussurrou, por fim. — Não dá.

E enfim as lágrimas escorreram pelo seu rosto.

E meu coração se partiu mais uma vez.

Tentei alcançar seu rosto para enxugá-lo, mas ela me afastou delicadamente e se encostou na janela. Em poucos minutos já estávamos na rodoviária e eu não tinha conseguido resolver ou entender o que tinha acontecido. Suspirei e me levantei, dando espaço a Sali.

Ela tentou sair rapidamente do ônibus, mas segurei em seu braço antes que ela conseguisse.

— Nós ainda vamos manter contato, não é? Ainda somos amigos? — minha voz estava angustiada; e senti lágrimas estúpidas pinicarem meus olhos quando ela hesitou.

— Eu não sei — ela encolheu seus ombros e não sustentou meu olhar. — Eu realmente não sei.

E então se desvencilhou de mim, descendo do ônibus rapidamente. Não consegui segui-la; estava destruído. Ela tinha levado uma parte minha consigo — como eu poderia suportar perdê-la àquela altura do campeonato só por causa de uma tentativa estúpida e mal sucedida de beijo? Ela tinha me deixado para trás com o coração na mão e lágrimas nos olhos.

— Vamos, Guto — Rafa murmurou, empurrando-me para que eu saísse do caminho e deixasse o resto das pessoas saírem do ônibus. Logo que conseguimos descer do veículo, ele abraçou minha cintura. — Vai ficar tudo bem — prometeu.

Vi Sali seguindo em direção ao carro de sua mãe. Ela ainda não tinha ido embora. E uma parte minha queria desesperadamente sair correndo atrás dela, mas outra me manteve paralisado no lugar, vendo-a escorrer por entre meus dedos. Talvez eu estivesse perdendo-a para sempre — e onde estavam as minhas forças para correr atrás dela e impedir isso?

Fiquei parado, ainda abraçando Rafa.

E talvez eu realmente a tivesse perdido naquele dia, se um papel não tivesse caído de sua mochila. Rafa correu para pegá-lo, mas quando conseguiu fazê-lo ela já estava se afastando de carro com sua mãe. Com um dar de ombros, ele voltou para mim e me entregou o papel.

Papel que me devolveu todas as esperanças perdidas. Minhas mãos começaram a tremer antes mesmo de eu ler todo o seu conteúdo.

Era rosa e estava dobrado ao meio. Em um dos lados estava escrito:

Para o Guto (talvez eu entregue algum dia. Ou talvez eu nunca consiga reunir coragem o suficiente. Mesmo assim, é para o Guto. E sempre — sempre — vai ser)”.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que vocês devem ter tido um conflito de emoções enquanto liam esse capítulo por motivos de: passar de uma parte leve pra uma intensa, então pra outra triste e - finalmente - pra uma que tem uma pequena pretensão de ser feliz. E ainda, pra ajudar, coloquei essa música PERFEITA (desculpa, é que faz tipo uma semana de escutar ela porque ela é linda demais e toca na melhor cena no filme What If ♥) e meio tristinha de fundo. Então, eu sei, vocês devem ter tido vontade de me matar algumas partes, mas o mais importante é: vocês acham que, se eu realmente tivesse feito os dois se beijarem (♥), teria sido no tempo certo e na cena certa, ou seria precipitado? É porque gente... eu amei TANTO escrever aquela cena do "vai, não vai" e eu achei ela tão cute *o*
Mas, opa, a opinião que importa aqui é a de vocês.
Então me digam o que acharam!
Amo vocês ♥
PS: Aaaaah, reforçando, tem um grupo no facebook para os leitores de JPA :3 Já tem algumas fotos do dreamcast que eu ainda não terminei de montar e talvez eu mostre algumas citaçõezinhas dos capítulos durante a semana :3 Então, mesmo os fantasminhas, não se acanhem! Podem entrar que estou de braços apertos pra receber todos vocês ♥
Aqui está o link: https://www.facebook.com/groups/585072071633629/?ref=bookmarks
Até semana que vem :3



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