Apenas por uma Noite - Tomione escrita por Beatrice Black Riddle


Capítulo 3
Capítulo 3 - Consolo improvável


Notas iniciais do capítulo

Oii gente!!
Muito obrigada pelos comentários! Me motiva muito saber que vocês estão gostando!
Está aí o próximo capítulo!



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Sentia-me fraca. Minha cabeça não parava de girar, mesmo enquanto meus olhos ainda estavam fechados. Devagar as lembranças do dia foram voltando, mas eram apenas fleches. Incêndio, brigas, lágrimas e Tom Riddle. Foi quando esse último passou pela minha cabeça, que eu pude voltar para a consciência. Voltei tão rápido e assustada que minha cabeça girou ainda mais quando sentei, fazendo com que eu me curvasse para tentar fazer com que o mundo se tornasse sólido.

– Ei. Calma. Você está segura. – Era a mesma voz profunda de antes, estava doce, e estranhamente dessa vez não parecia tão falsa. Olhei para cima, apenas para encontrar com os olhos verdes. Ele parecia preocupado, e a preocupação chegava aos seus olhos.

Era isso que eu havia estranhado nele antes, seus olhos não transpareciam as emoções que ele fingia que transmitia. Mesmo eu não sabendo de quem se tratava antes, havia percebido algo estranho nele. Mas agora eu sabia, ele é Voldemort, ele não tem emoções, ele fingia que as tinha e matava pessoas inocentes.

Olhei para baixo e me encolhi, para mais longe dele, que havia sentado na ponta da cama. Olhei ao redor e notei que estava em um quarto que a julgar pelas cores, era no salão comunal da Sonserina. Ele havia me trazido até aqui?

– Você desmaiou nos meus braços, então sim eu te trouxe até aqui. – Olhei para ele assustada, ele poderia ler minha mente? – Suas emoções. Sempre estão a mostra no seu rosto e nos seus olhos. Consigo deduzir o que você está pensando. – Novamente parecia que ele havia lido minha mente, mas ao olhar para ele, o garoto apenas deu de ombros como se desculpasse.

Eu tinha que admitir que minhas emoções realmente sempre estiveram estampadas na minha cara, e realmente tinha que ser muito idiota para não reparar que elas estavam ali. Tipo meu amor pelo Ronald. Balancei minha cabeça, tentando parar de pensar nele. Eu estava na frente do futuro Lorde das Trevas, não era hora para pensar naquele idiota.

– Obrigada. - Ele seria Voldemort daqui a alguns anos, mas olhando em seus olhos agora a pouco, tinha emoções ali, ele ainda era apenas um garoto, e a Murta ainda estava viva. – Por ter me trazido. E também por ter me segurado. – Estava me sentindo estranhamente tímida com ele, era como se o fato de ele ser bonito e jovem me intimidasse muito mais do que as histórias que eu ouvia sobre seu futuro.

– Sem problemas. Eu tenho o quarto só para mim, já que meu colega deve estar por aí com alguma garota, e achei que você estava fraca demais para te deixar sozinha. – Ele fez uma careta enquanto falava do colega, como se não aprovasse suas atitudes, não pude deixar de rir um momento pelo seu jeito. Ele estava com os braços para trás na cama e as pernas para fora dela, olhando para o nada enquanto falava, mas olhou para mim quando me ouviu rir.

– Costuma não aprovar tudo que seu colega de quarto faz? – Lembrei involuntariamente das minhas colegas de quarto, Lilá e Parvati. Eu já me sentia mais descontraída.

– Normalmente ele só faz bobagem. – Tom bufou. Achei adorável, no fundo parecia que ele gostava do colega. - Acho que como você, deixo minhas emoções escritas na minha cara. – Ele sorriu com um pouco de humor, um sorriso de lado que chegava um pouco aos seus olhos, me mostrando que um verdadeiro sorriso dele, provavelmente era muito bonito. Ele é Voldemort.

Ainda não. Me assustei com meu próprio pensamento, talvez porque no fundo eu sabia que era verdade, ele realmente ainda é um garoto de talvez 16 anos. Olhando para ele vejo alguém que busca esconder suas emoções para não ter de senti-las e para não se decepcionar com elas.

– Não, normalmente você as prende muito bem. – Inclinei minha cabeça para lateral como se quisesse observá-lo por outro ângulo. – Poderia ser pior. – Sorri levemente me lembrando do Ronald que mal tinha emoções.

– Como? – Ele sorriu um pouco virando a cabeça para o lado e me encarando também, um sorriso estava brincando em seus lábios.

– Tenho um amigo que tem o emocional tão profundo quanto uma colher de chá. – Sorri com a lembrança de quando o acusei disso, foi a maior verdade que eu já disse na vida.

Tom caiu na risada, o que me abismou, já que seu riso era cativante e bonito, provavelmente ele não ria muitas vezes dessa forma, parecia tão verdadeiro e jovem. Devo ter ficado olhando para ele com cara de abismada porque ele olhou para mim quando parou de rir, e seus olhos ainda brilhavam com o humor.

– Ele deve ser feliz. – Sua cabeça estava inclinada para trás e para o lado, olhando para mim.

– Realmente não sei. – Dei de ombros e olhei para o teto. – Mas ele machuca bastante. – Falei baixinho, quase sem pensar, apenas completando meu pensamento.

Tom olhou atentamente para mim por um momento, estudando minhas emoções provavelmente. Seus ombros estavam relaxados e seu corpo também, mas seus olhos estavam abertos para mim, eu podia ver sua curiosidade, ele não devia estar muito acostumado a lidar com suas próprias emoções, quem dirá com as dos outros.

– O que quer dizer com isso? – Sua cabeça continuava tombada na mesma posição, provavelmente teria dor no pescoço logo. Olhei para seus olhos por um momento, tentando ver se ele não estava me perguntando apenas por perguntar, mas parecia ser real a sua curiosidade.

– Gostei dele durante anos, e isso estava escrito na minha testa, mas ele nunca conseguiria notar. – Suspirei e olhei para minhas mãos, eu estava agora sentada com as pernas cruzadas, apertando minhas mãos no meu colo. – E hoje eu descobri que meus pais estiveram em um incêndio e estão no hospital, mas nem pude contar a ele, porque ele estava usando suas emoções para sentir raiva do melhor amigo, que eu tive que defender. – Suspirei de novo, olhando para o teto e segurando a respiração, eu não iria chorar, não de novo. – Ele o chamou de órfão como se fosse xingamento, como se ele tivesse escolhido isso. – Engoli em seco, lembrando-me da briga. – E então ele me chamou de sangue ruim. – Me sentia ainda mais humilhada admitindo isso em voz alta.

Quando o Malfoy me chamou de sangue ruim, doeu na hora e eu me senti mal, mas passou porque ele não era um amigo, e o xingamento se tornou vazio com o passar do tempo. Mas nenhum soco bem dado me faria esquecer um pouco da raiva, e principalmente da dor, que eu senti quando o Rony me chamou disso. Foi como uma traição.

Não ousei olhar para cima, me sentia humilhada por admitir o que eu era na frente do futuro Lorde das Trevas. Sempre tive orgulho de ser nascida trouxa e me dar tão bem no mundo bruxo, mas ali era diferente, porque até aqui o garoto havia me tratado bem, mesmo que eu soubesse que ele tinha essa suspeita de que eu fosse mestiça ou nascida trouxa.

Mas depois de um tempo, percebi que ele não começou a berrar comigo ou me mandou sair de seu quarto. Levantando um pouco o olhar percebi que os nós dos seus dedos estavam brancos e que ele segurava com força o lençol. Olhando um pouco mais para cima, vi que sua cabeça estava tombada para frente, seus olhos estavam bem fechados, e sua respiração era lenta e alta. Raiva. Ele provavelmente estava queimando de raiva por dentro.

Baixei a cabeça e me encolhi, esperando pelo ataque, que ele provavelmente teria quando lembrasse que uma sangue ruim estava sentada em sua cama. Queria voltar para o meu tempo, lá eu não teria que olhar para ele nunca mais, e minha vergonha passaria assim que eu chegasse ao meu quarto. Poderia tomar banho e dormir. Esquecer esse dia maluco. Mas parecia que isso não iria acontecer, já que eu continuava ali.

– Ele é sangue puro, não é? – Não precisei olhar para cima para perceber que ele falava com os dentes trincados. Apenas assenti com a cabeça. A família Weasley era tecnicamente traidora de sangue, mas sim, são todos sangue puros. Ele soltou o ar bem devagar, como se tentasse se acalmar.

Devagar, talvez para não me assustar, senti Tom se aproximando na cama. Não movi nenhum músculo, tendo certeza de que poderia acabar morta se me movesse, então nem respirei. Quando ele estava exatamente na minha frente, vi sua mão, que estava em sua perna, subir hesitante até o meu rosto. Achei que ele iria me machucar, mas mesmo assim não me movi. Porém seu toque foi doce, firme, mas delicado.

Tom queria que eu levantasse meu rosto para ele, e devagar achando coragem onde não mais existia, eu fiz o que ele, gentilmente e silenciosamente, estava me pedindo. Em seus olhos ainda havia fúria, mas eu podia ver que ela não era direcionada a mim, já que ele estava me tocando com cuidado. Ali também havia determinação e genialidade, eu podia ver porque os professores o adoravam.

– Escute bem o que vou lhe dizer, sim? – Assenti rapidamente com a cabeça, ele parecia ainda mais intimidante agora. – Nunca deixe que um sangue puro te rebaixe por você não ter nascido em um berço mágico. Nunca gostei de ser mestiço, acreditava que era uma fraqueza, mas percebi depois de alguns anos, que consigo ser melhor do que vários alunos que nasceram em famílias tradicionais. Ninguém é melhor que você, a mesma magia corre em suas veias. – Tom me olhava nos olhos. Eu podia ver. Ele acreditava em suas próprias palavras. Eu não conseguia desviar meu olhar, seu contato visual era muito intenso.

Onde estava o discurso de que sangues ruins mereciam morrer? O que havia acontecido ao Tom nos próximos anos? O que o havia levado a matar pessoas como eu, torturá-las e enlouquecê-las sem nenhuma pena. O que quer que tenha acontecido estava no seu futuro. Quero protegê-lo disso. O pensamento foi tão intenso que senti meus olhos arregalarem, eu queria que ele continuasse sendo assim.

– Ele não é melhor do que eu em nada, exceto em quadribol que eu simplesmente não me interesso. Mas eu sou a rata de biblioteca. A menina que, agora eu sei, ele nunca considerará boa o suficiente. Se é que ele percebe que eu sou uma menina. – Suspirei olhando para baixo, tentando mais uma vez reprimir as lágrimas que queriam voltar à tona. Mais uma vez senti a mão do Tom em meu queixo, o puxando delicadamente para cima.

– Esse garoto tem que ser muito cego para não perceber que você é uma menina. – Tom estava com uma sobrancelha levantada, me olhando seriamente como se não pudesse acreditar que havia um rapaz assim. – Tudo bem que você está de calça de moletom, camiseta e tênis. – Ele torceu o nariz ao dizer isso, desaprovando minhas roupas nada femininas, em qualquer que seja a época. – Mas até eu posso notar que você é uma garota. E olha que eu sou bem distraído quando se trata disso. – Mesmo que ele não tenha percebido, notei que suas bochechas ficaram um pouco rosadas quando ele disse isso. Ou ele não tinha noção do quanto era bonito ou realmente não se interessava pelas garotas, porque provavelmente ele tinha um fã clube. Me repreendi mentalmente, por gostar do fato dele ter notado que eu sou uma garota.

– E quanto à rata de biblioteca, acho o apelido meio clássico demais, fora que no fim, os ratos de biblioteca vão ser os que mais saberão feitiços. – Ele sorriu me encorajando depois que fiquei em silêncio o tempo todo em que ele falava, na verdade eu estava tentando não me perder em seus olhos, o que roubava metade da minha concentração. A outra metade estava sendo usada para tentar não corar e não falar nenhuma besteira sem sentido.

Sorri de volta para Tom quando ele parou de falar novamente. Estávamos em silêncio, mas não era algo desconfortável, porque ele estava olhando em meus olhos e eu estava olhando nos dele. Por um momento ele não era aquele que se tornaria Voldemort. Era apenas Tom Riddle, um garoto muito bonito, que do seu jeito, havia me consolado em uma noite que eu achei que tudo só iria piorar. Então me lembrei dos meus pais e não pude evitar ficar tensa novamente.

– O que foi? – Tom não havia sentido meu corpo enrijecer, mas ele havia visto meu olhar de pânico. – Eu disse alguma coisa errada? – Pela primeira vez ele parecia frágil. Suas palavras eram carregadas de um pouco de receio, e rapidamente ele baixou seus olhos para que eu não pudesse ver mais da vulnerabilidade que havia ali. Tomei coragem e levantei minha mão para tocar seu rosto.

Primeiro brinquei um pouco com seu cabelo que, apesar de estar cheio de gel, era macio e gostoso de mexer. Então baixei minha mão lentamente para seu rosto, ele ainda não tinha barba então era quase totalmente isento de pelos, provavelmente tinha apenas que tirar o bigode e o final das costeletas. Sua pele era fria, só não tanto quanto suas mãos, e por um momento me permiti pensar se seus lábios também eram gelados. Felizmente Tom estava de olhos fechados e não viu o quanto fiquei vermelha com a ideia de sentir seus lábios nos meus.

– Não foi nada que você disse, ou fez. Na verdade essa foi a primeira vez que me senti totalmente bem hoje. – Eu havia conseguido erguer seu queixo e ele havia aberto os olhos, sorri levemente enquanto explicava que a culpa não era dele. – Obrigada. – Sorri ainda mais.

– Não tem de que. – Seu sorriso moço da propaganda da pasta de dente era simplesmente magnífico. Era impossível não sorrir de volta para ele. Não sei se era ele, ou o fato de eu estar a algumas horas sem comer, mas de repente eu estava sentindo o mundo girar novamente.

Instintivamente baixei a cabeça um pouco e segurei firme em seus dois braços, já que ele estava virado para mim, tentando me firmar novamente. Tão rápido quanto eu fui ao segurá-lo, pude sentir suas mãos em minha cintura, firmes, esperando para ver o que estava acontecendo.

– O que houve? – Sua voz era baixa, como se ao falar alto fosse me machucar.

– Estou sem comer. A algumas. Horas. E foi muita. Emoção. Para um dia só. – Tudo estava girando, segurei com mais força em seu braço, talvez força até demais.

– Por que não me disse? – Tom parecia alarmado, mas ainda estava me segurando. – Há quantas horas está sem comer? – Ele tentava manter a calma, mas podia ver seu tom de bravo. Parecia que eu já o conhecia há bastante tempo.

– Desde a hora do almoço. – Falei rápido sem respirar, porque se não eu ia levar horas para dizer esse pouco tanto de palavras. Senti suas mãos apertarem levemente minha cintura.

– Não pode ficar tanto tempo sem comer. – Seu tom era de descrença, como se eu tivesse dito que pulei em cima de um hipogrifo antes de fazer a reverência. – Vou buscar algo na cozinha. Se conseguir, pode tomar um banho, provavelmente vai dormir aqui mesmo. Amanhã damos um jeito nisso. – Ele sorriu levemente e soltou minha cintura devagar, uma mão de cada vez, como se eu pudesse cair assim que ele me soltasse.

– Ok. – Consegui dizer.


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Notas finais do capítulo

Geente, não tenho nada contra o Rony, só sempre achei que ele não merecia ficar com a Mione!
Até o próximo!