Under The Starlight escrita por Luiza Holdford, sweetie


Capítulo 1
Capítulo 1




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Aquele era para ser um bom dia, certo? Era seu casamento, oras! Era sim um bom dia! Mas não importava o quão bonita a festa parecia, naquele luxuoso salão caro do centro, com comidas caras e champagne, com todos aqueles convidados tão risonhos a suas custas, e também não importava como sua nova esposa parecia deslumbrante naquele vestido, John Watson não se sentia bem.

Feliz? Oh, sim, com certeza. Mas alguma coisa o incomodava. Era como se tivesse algo errado com toda aquela história. Será que ele estava sonhando e aquilo era uma forma de avisá-lo que era um sonho? Podia ser o nervosismo antes da cerimônia, e logo ele acordaria em sua cama com uma ligação de Mary cantarolando ansiedade e animação para o dia que vinha. Ele se lembrava disso acontecer naquela manhã mesmo.

Mas ele não podia se beliscar para ver se era um sonho, porque suas mãos estavam ocupadas segurando Mary enquanto dançavam a valsa habitual dos casamentos. Ela sorria feliz, e ele se obrigou a sorrir também. “Está tudo bem” ele pensou, se tranquilizando, “Você está aqui com a mais nova sra. Watson, e está tudo bem.”

Com a única diferença que, ah, não estava.

John não sentiu, ou se sentiu, ignorou, quando algo o cutucou no abdômen.

- Agora, querido – Mary sussurrou no pé de seu ouvido, abraçando-o mais perto – Colabore.

E então aquilo na sua barriga dolorosamente o cutucando era uma arma pequena. Ele podia sentir o cano gelado através do tecido da camisa, a aba do terno cobrindo a mão dela e o objeto, e uma fina camada de suor frio começou a cobrir sua testa.

- Mary? O que é isso? – ele perguntou em voz baixa, mas o desespero era palpável. Ainda assim, eles não pararam de dançar.

- Vamos lá John, você esteve no exército! Não sabe mais reconhecer uma arma? – o sorriso dela era doentio e doce.

- Certo, vou reformular a pergunta... – ele sussurrou, porque de fato lembrou que esteve no exército e deveria saber lidar com essa situação – O que infernos isso significa?

- Ordens do patrão. – Mary deu de ombros, como se fosse apenas uma ordem habitual do tal patrão – Conquistar você, casar com você, matar você. Foi realmente fácil, sabe. – a voz dela se tornou mais baixa e brincalhona – Pobre John Watson, tão sozinho porque o amiguinho nunca o olhou da forma certa. Era meio patético, sabe. Mas você é um cara legal. Eu não sei por que ele o quer morto.

Ele tinha que manter a cabeça fria. Primeiro, aquela mulher estava falando muitas bobagens. “O amiguinho nunca o olhou da forma certa”? Bobagens. E quem era o patrão? E por que ninguém via a maldita arma apontada para ele? Esse era o primeiro passo, e por um estúpido trocadinho, o primeiro passo era mesmo dar um passo. (Anotado para o futuro: nunca mais fazer piadas assim.)

- Certo, vamos tornar as coisas públicas! – ela exclamou quando John se afastou dela, deixando a arma visível para todos os convidados, que rapidamente se afastaram da arma, mas congelaram quando ela gritou. – Ninguém se mova, por favor. É só uma briguinha de marido e mulher.

- Eu não entendi ainda porque você teve que casar comigo – John perguntou, tentando ganhar tempo para alguém, qualquer um, chamar a polícia.

- Meu empregador gosta de joguinhos... – ela sorriu – Eu também gosto. Você foi divertido.

A parte mais estranha naquilo tudo não era Mary apontando uma arma para a cabeça dele, mas sim o fato dele não estar nem um pouco abalado com isso. Surpreso sim, com certeza, mas abalado? Talvez fosse a adrenalina correndo em seu sangue, e mais tarde ele lidaria com o sentimento de perda e decepção.

- E o que ele ganha com a minha morte?

- Eu não estou autorizada a te contar isso, querido. Desculpe-me. Por muitas coisas, na verdade, me desculpe. Como eu disse, é apenas uma brincadeirinha. – o brilho de pena nos olhos dela fez o estômago de John revirar.

Era praticamente claro quem era esse tal “patrão”. Ele não podia pensar em outra pessoa além de Moriarty, mas não era para ele estar morto?

- E ele não estava morto? – ele perguntou, e Mary provavelmente não ficou surpresa dele saber porque era bem óbvio.

- Sherlock também não estava? – ela espertamente retrucou – Seu querido Sherlock também enganou a morte, por que Moriarty não poderia? Eles são iguais, não é mesmo?

- Alguém chame a maldita polícia, céus! – John explodiu, porque aquela conversinha mole estava o cansando.

- Não ousem! – Mary gritou em resposta – Ou podem chamar, como se fosse demorar matar um pessoa. Eu só queria te dar uns momentos de despedida John. Em nome dos bons momentos que tivemos. Não seja ingrato.

John estava começando a ficar nervoso. Ninguém havia chamado a polícia ainda? Ele só tinha convidado idiotas para o seu casamento? E cadê o Lestrade? Talvez quieto porque estava sem a arma, ninguém imaginava que precisaria da arma em um casamento. Todos assistiam boquiabertos, mas sério que ninguém teve atitude de chamar a polícia? Nem mesmo Sherlock? (que, inclusive, não estava em lugar nenhum que John pudesse ver)

Ele tinha maldito os convidados cedo demais. Poucos segundos depois, um policial se esgueirou atrás de Mary, e ela estava tão concentrada em parecer inteligente, que se esqueceu de ser de fato inteligente e prestar atenção ao redor. Ele conseguiu tirar derrubá-la, e apesar de no susto a arma ter disparado, felizmente ela acertou só um espelho no fundo vazio do salão, fazendo-o estilhaçar no chão em uma enorme explosão.

John caiu de joelhos no chão, a ficha caindo do que havia acabado de acontecer. “Minha mulher acabou de apontar uma arma para mim na valsa do meu casamento!”. Ele sentiu as lágrimas desesperadas, e suspirou longamente.

No fim daquilo tudo, ele havia recebido um daqueles “cobertores de choque” da polícia, um rápido exame médico, uns tapinhas no ombro de “meus pêsames”, uns abraços e tudo mais. Uma xícara de café também. Como se tudo aquilo fosse resolver seus problemas.

Ele só queria um táxi para casa. Era pedir demais? Parecia que sim, porque foi só depois de intermináveis relatórios que ele conseguiu sair dali. John se sentia exausto e, finalmente, alguma tristeza abatia-o. Mary, a doce Mary que o ajudou a superar a morte do melhor amigo, que levava dois almoços para o consultório porque sabia que ele sempre esquecia o dele, havia se transformado num monstro que tentou matá-lo na noite que se casaram. E na frente de todos os convidados!

Seria mesmo que sua vida seria um eterno pesadelo? A teoria de mais cedo, da sensação estranha ser só um sonho, pareceu agora a melhor saída. Ele não podia simplesmente acordar na manhã de seu casamento, suado e desarrumado do terrível pesadelo, e então viver aquele dia apropriadamente? Ele e Mary casariam, ela não tentaria o matar, e eles poderiam ser felizes.

E Sherlock... Ele de fato não estava ali, em lugar nenhum. Ele tinha ido embora mais cedo, e sem avisá-lo. Mas por quê?

A festa tinha sido agradável, Sherlock como best man não havia sido uma tragédia (na verdade, foi um grande sucesso), e até mesmo a tragédia da noite, o quase-assassinato do Major Sholto, não foi uma tragédia tão grande assim.

Depois, ele tocou aquela linda valsa que compôs para os dois, um ato que deixou John emocionado. O frio e distante Sherlock Holmes podia sim ser capaz de gentilezas. Essa foi a última vez que tinha o visto, quando ele deduziu... A gravidez de Mary.

Oh Deus! Mary estava grávida! Ele... John só esperava que aquilo fosse mentira, um erro de Sherlock, oh, ele rezava para que isso fosse assim.

Ou ele pegaria a criança. Sim. Querendo ou não, o teórico bebezinho que se desenvolvia no ventre de Mary era seu filho também, e a pequena coisinha não tinha culpa de nada. Ele seria amado, profundamente amado, apesar de tudo. “Talvez eu possa chamá-lo de Hamish” ele riu amargamente.

Mas... Ele não estava com cabeça para pensar nisso agora. Ele só queria voltar para casa e ficar sozinho com sua xícara de chá e... Seu melhor amigo. Sherlock provavelmente era o único que entenderia pelo o que ele estava passando, e John só desejava encontrá-lo.


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Notas finais do capítulo

Muitíssimo em breve, o final dessa perigosa aventura *música de ação*
Eu quero usar esse espaço para algumas palavras bobas, então pulem se quiserem: obrigada, Luana, pela oportunidade de escrever essa loucura com você. Primeira fanfic que conseguimos terminar juntas, estou emocionada.
O próximo capítulo é lindo porque não fui eu que escrevi.