Em todo meu percurso, as pessoas olharam para mim. Eu estava me sentindo realmente muito incomodada. Desisti de ir até Christopher e fui até a mesa onde Lola e Nathaniel estavam sentados.

– O que foi aquilo? - perguntou Lola, assim que me sentei no lado contrário a eles.

– Apenas Whitney fazendo uma cena. - respondi.

– Ela é uma grande vaca. - Lola disse. Percebi que ela estava bêbada. Bem, impossível não estar, considerando sua companhia. Nathaniel estava com uma garrafa apenas para si, e essa não era a primeira.

Os dois voltaram a se agarrar - considerando que era isso que estavam fazendo antes de eu chegar - e eu apenas fiquei olhando o salão. Havia muitas pessoas que eu nunca vi, e outras que eu reconhecia vagamente dos corredores da Legacy. Todos dançavam na pista como se a última festa de suas vidas fosse essa.

Meus pensamentos foram interrompidos quando alguém sentou ao meu lado. Me virei, era Christopher. Sorri para ele, sorriso esse que foi correspondido - graças a Deus! -. Ficamos um tempo calados apenas olhando para Nathaniel e Lola.

– Eles não cansam? - perguntei - Quer dizer, faz mais ou menos uns 10 minutos que ele está fazendo uma respiração boca a boca nela.

Christopher riu e nesse momento Nathaniel se separou de Lola.

– Talvez se você estivesse beijando alguém, pararia de reparar no relógio enquanto os outros fazem algo bom. - disse Nathaniel. Revirei os olhos.

– Se beijando você irá ficar calado, por favor, continue. - falei em voz de falsa súplica.

– Deixa disso, Chloe. - disse Lola, beijando o pescoço dele.

Balancei a cabeça. Incrível o que um cara gato faz com você. Não que eu esteja julgando Lola, Deus sabe que todas nós passamos por isso, às vezes até recentemente, tipo há uma hora atrás... Enfim, é apenas engraçado.

– Fiquei sabendo que você se meteu em uma briga. - disse Christopher. Virei a cabeça para ele, assustada.

– Eu? - perguntei.

– Sim, ou não era você discutindo com a Whitney no centro do salão? - ele perguntou, com a sobrancelha arqueada.

– Era ela sim! - respondeu Lola, praticamente aos gritos.

– Gostaria de ter visto. Briga de garotas... - disse Nathaniel, com o seu meio sorriso cafajeste. Fiz cara de deboche para ele, e ele apenas deu de ombros.

– Não era uma briga. - respondi para Christopher - Ela apenas deu uma crise de ciúmes e decidiu falar sobre isso bem no meio da festa.

– Ciúmes de quem? - perguntou.

Apontei o dedo para os dois irmãos.

– Ela tem sérios problemas. Acha que eu fico com os dois. - respondi, balançando a cabeça.

Christopher e Lola decidiram rir histericamente disso.

– Você tem que ser muito incrível para dar conta. - comentou Nathaniel.

– Será se dá para calar a boca? - pedi.

– Tenho alguns modos de calar. Quer testar? - perguntou. Apenas fiz cara de nojo e o ignorei.

Infelizmente, Christopher não o ignorou. Parou de rir imediatamente.

– Eu tenho algumas formas de fazer você calar, Nate. Quer testar? - ele disse, ríspido, soltando um olhar ameaçador para o irmão. Opss...

– Acalmem os ânimos. - disse Lola, com a voz embargada. Ela apenas continuava bebendo, mal falava nada.

Nathaniel apenas olhou para o irmão e levantou as mãos em sinal de paz.

– E por que ela acha isso? - perguntou Christopher, tirando a atenção do irmão.

– Ela é maluca. Acha que apenas porque nós dois estávamos lá em cima, aconteceu algo. - respondi, corando assim que calei a boca. Porque de fato aconteceu algo. - Quer dizer...

– E quanto a Nate? - perguntou me interrompendo, para que eu não me enrolasse tentando explicar.

– Ah sim, algo em relação a nós verem entrando em uma limusine. - falei, meio baixo.

– Vocês dois andando juntos? Tá certo. - disse Lola, como se fosse a coisa mais inacreditável do Universo.

Entretanto, Nathaniel e eu apenas ficamos calados. Ele parecia estar achando o bar muito interessante, mantendo seu olhar fixo a ele, assim como eu estava gostando muito da barra do meu vestido.

– Realmente, é meio improvável que alguém tenha os visto andando juntos... Não é? - perguntou Christopher, com uma voz que eu arriscaria dizer que estava desconfiada.

Nathaniel e eu trocamos um olhar rápido, que Christopher pegou.

– Vocês estavam mesmo juntos? - perguntou ele, incrédulo.

– Sério? - perguntou também Lola.

Olhei desesperada. Não que houvesse algum problema de Nathaniel e eu andarmos juntos, é só que levando em consideração que não conseguimos ficar mais de 5 minutos perto um do outro sem se alfinetar, seria esquisito dizer que ele me ajudou a achar um vestido.

– Sim. - respondi. Infelizmente, ao mesmo tempo que Nathaniel disse não.

– Quer dizer, não. Definitivamente não. - eu disse, tentando me corrigir.

Bom, ser sincera não funcionou muito bem. Lola e Christopher apenas nos olhavam com expressões chocadas. Tenho certeza de que em suas mentes, estavam entendendo tudo errado.

– O que? - disse Nathaniel, respondendo ao olhar do irmão. - Não é como se tivéssemos ficado ou algo assim. Não é porque você está a fim dela, que todos tem que estar. Você me pediu para ficar longe, estou ficando. Talvez você devesse ser mais confiante.

– Como ser mais confiante se você não é confiável? Quem iria me garantir que você não iria se jogar em cima dela assim que tivesse a chance? Quer dizer, foi isso que aconteceu. - Disse Christopher, se levantando da cadeira e praticamente gritando com o irmão.

– Parem com isso, as pessoas estão olhando. - disse Lola assustada, olhando para os dois.

Eu fiquei calada. Eu não podia acreditar que estava passando por uma situação dessa. Estavam falando de mim como se eu não estivesse lá.

– Não, não foi isso que aconteceu Christopher. Mas se eu quisesse que isso tivesse acontecido, teria sim. Parece que você não teve sorte, hein? - disse Nathaniel, que ao contrário do irmão, estava calmo e com um sorriso no rosto.

Olhei para ele como se tivesse me dado um tapa, tenho certeza que qualquer cor ainda existente no meu rosto, sumiu.

O que se seguiu aconteceu tão rápido que nem processei. Christopher de repente se lançou para cima do irmão, pronto para lhe dar um soco. Lola gritou e eu me levantei para segurar Christopher.

– Parem! - gritávamos as duas. Minha visão estava embaçada graças as lágrimas que surgiram não sei de onde.

– Por favor, parem! - gritei, entrando entre os dois. Por fim, Christopher parou e eu o afastei.

Virei para trás para conferir Nathaniel e constatei que Christopher tinha conseguido dar-lhe pelo menos um murro, a julgar pelo canto da boca ferido. Lola estava abaixada ao seu lado chorando.

– Ela não vale isso. - disse Nathaniel para o irmão, lhe direcionando um olhar de ódio. Eu apenas o ignorei.

– Você é que não vale nada.- devolveu Christopher. Nesse momento, ele resolveu tocar meu braço para me levar embora.

– Não me toque. - falei rispidamente. Ele me olhou confuso.

– O quê?

– Não. Me. Toque. - respondi, levando o meu corpo o mais longe possível do toque dele. As lágrimas esquecidas brotaram novamente. - Você está olhando ao redor? Se deu conta do que aconteceu? Se deu conta de como vocês estavam falando de mim?

Esse havia sido um show maior que o de Whitney. As pessoas não tiravam o olho de nós. Christopher olhou ao redor e finalmente percebeu.

– Chloe... - começou a dizer, estendendo o braço e dando um passo em minha direção.

– Não. - o interrompi, dando um passo para trás. - Você não tinha o direito de fazer isso. De fazer nada disso.

Me virei para sair e dei alguns passos, mas olhei para ele novamente.

– E aliás, eu nem sequer sou nada sua para que você mande alguém se afastar de mim. - eu disse friamente. - Quem você acha que eu sou? Acha que se o seu irmão não estivesse proibido de chegar perto de mim, eu teria facilmente ficado com ele? Bom, deixe que eu te conte uma novidade, Christopher Lightwood. Eu não quero nem o seu irmão, nem você.

Eu estava encarando-o, e ao dizer as duas últimas palavras, algum coisa no olhar de Christopher passou para algo mais frio.

– Não era o que parecia lá em cima. - ele disse. Outro tapa. Apenas balancei a cabeça, com as lágrimas caindo.

– Isso foi antes de eu conhecer você, como você demonstrou ser há alguns minutos atrás. E agora que eu conheço, não quero nenhum contato. Você não é o tipo de pessoa que eu achei que valia a pena, assim como seu irmão- mas sobre ele eu já sabia. Você foi a surpresa ruim. - minha voz tremeu, mas não parei de falar. Christopher apenas me olhava. Dei as costas e sai, mas dessa vez não voltei.

Minhas mãos tremiam. Eu estava recheada de vergonha, decepção e tristeza. Se pudesse, me sentaria aqui mesmo e choraria até que tivesse colocado todos esses sentimentos ruins para fora. Mas não, por hoje chega de dar motivos para olharem para mim. Andei o mais confiante possível para longe de toda essa confusão, embora lágrimas escorressem pelo meu rosto.

Já na saída da festa, distante, dentre tantos olhares presos a mim, o que eu mais sentia era o de Christopher.