Passei mais um tempo olhando-me no espelho. A visão que eu via chocava-me e fazia com que eu sorrisse bobamente.

– Uau. - falei finalmente ao processar a imagem.

– Você está linda! - disse Carla alegremente .

O cabelereiro e a maquiadora sorriam orgulhosamente.

De fato, eu realmente sentia-me linda. O vestido longo preenchido quase totalmente de detalhes dourados caia-me como uma segunda pele. Apliques foram colocados em meu cabelo para que cachos caíssem em uma longa cascata. Havia também duas pequenas tranças rodeando um pequeno adereço dourado, que de acordo com Laurence deveria ser uma coroa, mas achei que seria bastante presunção. Meus olhos brilhavam adornados por uma maquiagem quase imperceptível, exceto pelo fino traço de delineador e o pequeno brilho dourado que havia abaixo de meus cílios inferiores. Estava usando brincos de diamantes minúsculos, assim como uma pulseira delicada e um colar com uma corrente quase invisível, que possui na frente apenas um pequeno diamante que brilhava a medida que me movia. Eu estava simples, para ser sincera. E isso deixava-me bastante feliz.

Agradeci Laurence e Dora por toda a ajuda, e eles foram embora. Pouco tempo depois, avisaram que Christopher estava subindo.

– Tudo bem, tudo bem, Acalme-se! - falei olhando-me no espelho. Carla riu de mim.

– Qual a necessidade de tanto nervosismo? - ela perguntou.

– É a minha primeira festa, Carla. Se tudo der errado... - falei.

– Mas não irá. - ela disse. Nesse momento, Christopher chegou.

– Vamos abra a porta. Enquanto isso vou na cozinha, isso tudo me deu sede. - E sai para a cozinha, mas não para beber água. Queria apenas adiar o momento de ver Christopher.

Carla estava conversando com ele na sala, mas pouco tempo depois apareceu para chamar-me.

Respirei e sai.

Christopher estava sentado com um pequeno buquê de orquídeas amarelas na mão. Quando me viu, levantou-se desajeitadamente do sofá. Ele demorou um tempo para falar, com a boca aberta enquanto me olhava de cima a baixo. Olhei para o lado envergonhada, e tenho certeza que ficando vermelha, como sempre.

Saindo da paralisia, ele veio até mim sorrindo.

– Você está linda. - ele disse. Sorri com isso.

– Obrigada. Você também. - falei. Ele entregou-me o buquê e depois beijou minha mão. Uau, esses meninos sabiam o que fazer.

Nós encaramos sem qualquer motivo aparente, até Carla pigarrear. Pisquei saindo do transe e me virei para ela.

– Sim? - perguntei.

– As flores. - ela disse, estendendo a mão.

– É verdade. - entreguei-lhes. - Coloque-as em um jarro no meu quarto, tudo bem?

– Claro. - ela disse - Boa festa. Sorri agradecida para ela. Christopher acenou despedindo-se dela, deu-me o braço e saímos.

– Nathaniel e Lola estão lá em baixo. Vão conosco. - ele disse, sem me olhar nos olhos. O que ele tinha?

– Agradável. - murmurei ironicamente.

Ao chegarmos lá em baixo, Nathaniel e Lola estavam encostados na limusine, com taças de champanhe na mão.

Quando Lola saiu andando até mim.

– Ai meu Deus, você está tão linda! - ela gritou, me abraçando. Por sobre seu ombro, vi Nathaniel olhando-me de um jeito esquisito. Ao ver que eu olhava, virou o rosto.

Lola estava bonita. Usava um vestido tomara que caia rosa claro, colado na parte de cima e em baixo armado e de tecido fino, que emitia um leve brilho. Também usava tranças no cabelo, mas estas estavam presas em um coque. Ao contrário de mim, não poupou brilho em suas joias, embora tenhamos escolhido a mesma pedra. Seus diamantes davam forma a um colar grosso, altamente trabalhado, assim como seus brincos. Sua maquiagem era marcada, mas sem exagerar nas cores fortes.

Demos os braços enquanto caminhávamos sorrindo até a limusine. Nathaniel abriu a porta e entrou após nós duas, com Christopher logo atrás. Cada um ficou ao lado de seu respectivo acompanhante, entretanto, gostaria de ficar com Lola para conversarmos. Nathaniel não serviria para conversar porque é detestável, e Christopher também não por estar esquisito.

– Como se sentem antes da estreia? - perguntou Nathaniel, com seu meio sorriso irritante.

– Ansiosa. - respondeu Lola, tomando mais champanhe.

– E você? - perguntou Nathaniel, virando-se para mim. Sorri.

– Para mim isso não existe. - respondi.

– Interessante... - falou ele, enchendo uma taça de champanhe e inclinando-a em minha direção. - Por que acha isso?

– Se você é incrível, não é necessário que vá a uma festa de estreia para que saibam disso. Irão perceber naturalmente, sem que precise mostrar isso a eles. - respondi, tomando para mim a taça e bebendo-a. Quase chego a sentir Christopher sorrir ao meu lado, fixando seus olhos em mim.

Conversamos e rimos até chegarmos ao grande salão onde haveria a festa. Graças aos deuses, Christopher estava voltando ao normal, olhando-me naturalmente nos olhos, e não para os cantos.

Assustei-me ao ver tantos fotógrafos no lugar. Não sabia em que essa festa poderia interessar aos jornais e revistas, já que não conseguia ver nenhuma relevância na mesma.

– Por que tantos? - perguntei a Christopher depois que saímos da limusine e ele colocava a mão em minha cintura. Alguns flashes disparavam em nossa direção.

– Os filhos dos grandes empresários estão aqui. - ele respondeu. - Querem captar qualquer coisa boa, ou o contrário.

Subimos os degraus para chegarmos ao tapete vermelho. Sério? Realmente há um tapete vermelho? Ri um pouco nesse momento. Christopher me olhou com as sobrancelhas arqueadas. Apenas balancei a cabeça para que esquecesse.

Nossa trajetória até a entrada durou quase uma eternidade, pois parávamos a cada metro para que tirassem fotos nossas. No inicio eu estava sorrindo um pouco falsamente, mas logo depois o sorriso era real, porque estava me divertindo.

Lola e Nathaniel vinham logo atrás, e um fotógrafo pediu para que se juntassem a nós. Fiquei entre os dois irmãos e Lola na ponta. Sorrimos como grandes amigos e tiraram a foto.

Lola saiu por um segundo porque alguém a chamou. Com isso, sobraram apenas eu e os irmãos. Mais fotógrafos pediram fotos de nós três. Fiquei momentaneamente cega com os flashes e completamente atordoada por ter na minha cintura a mão dos dois. Vamos lá, eu não sou de ferro!

*

A decoração no salão estava impecável, algumas pessoas já dançavam na pista de dança enquanto o dj colocava Blame para tocar. Olhei sorrindo para Lola. Nathaniel a pegou pela cintura e eles saíram.

Meu olhar passou pelo salão. Evidentemente, muitas pessoas não eram da Legacy Academy.

– Então... - falei para Christopher.

– Então é hora de aproveitar. - ele disse. Nessa hora, trocaram a música por uma mais lenta. - Me concede a honra?

– Com certeza. - respondi. Fomos para o meio da pista de dança. Ele colocou as duas mãos na minha cintura, e eu no seu pescoço.

– Eu estava ficando maluco. - ele disse, falando em meu ouvido. Um arrepio subiu pelo meu corpo.

– Por que? - perguntei, controlando minha voz para que não saísse tremula.

– Achei que não viria. Teria que acabar com a amizade por você ter me deixado na mão. - falou.

– Ah. - respondi. - É claro que não deixaria um amigo na mão.

Ficamos calados e dançamos por mais algum tempo, até que alguém nos interrompeu.

– Christopher? - chamou a pessoa. Nós separamos para olhá-la.

Eu não a reconheci. Era uma menina de cabelos negros e olhos claros.

– Olá Kristen. - ele respondeu, se separando totalmente de mim. A menina sorriu e olhou para mim.

– Se importa se eu rouba-lo por um minuto, Chloe? - ela perguntou, embora eu não soubesse como ela sabia meu nome. Arqueei a sobrancelhas para Christopher, mas ele estava olhando para a menina fixamente.

– Claro. - respondi - Fique a vontade.

Olhei para trás enquanto ia até o garçom mais próximo, e eles ainda estavam parados na pista de dança, um olhando para o outro.

– Estranho. - murmurei comigo mesma. Peguei uma taça de champanhe e olhei ao redor. Lola e Nathaniel não estavam em lugar algum, então fui para uma mesa vazia.

– Com licença. - disse alguém pigarreando ao meu lado. Eu olhei.

– Sim? - perguntei.

– Gostaria de saber se posso fazer companhia. - ele disse. Olhei direito para o rapaz. Mesmo por baixo da roupa, ele aparentava ser forte. Cabelos loiros arrumados e olhos claros.

– É claro. - respondi, sorrindo. Ele puxou a cadeira ao meu lado e sentou-se.

– Sou Cameron. - ele disse.

– Chloe. - me apresentei.

– Eu sei. - ele respondeu, sorrindo.

– Incrível como pessoas que não conheço parecem saber meu nome. - falei um pouco arrogante, automaticamente virando meu rosto para onde Christopher e a tal Kristen ainda estavam dançando.

Cameron seguiu meu olhar.

– Eles são bonitos juntos, não é? - perguntou.

– Como assim? - perguntei, finalmente tirando meus olhos deles.

– Já foram um casal. Mas Kristen viajou e eles terminaram, ambos ficaram arrasados, mas acho que superaram. Ou quase. - ele disse. Olhei de novo para os dois.

– E como você sabe de tudo isso? - perguntei, tentando disfarçar meu choque. Ele sorriu para mim.

– Aqui todos sabem de tudo. - ele respondeu. - Além do fato de ela ser minha irmã.

Olhei para Cameron pasma. Eles não pareciam em nada.

– Vocês não se parecem. - falei.

– É o que dizem. Mas as pessoas na escola nos veem tanto juntos que depois acabam vendo semelhanças. - ele disse, dando de ombros.

– Nunca vi você na Legacy. - falei. Se eu tivesse visto, com certeza teria lembrado...

– Não somos da Legacy. Somos da St. Jude. - Cameron disse.

– Verdade, havia me esquecido do detalhe de que aqui não há apenas alunos da Legacy. - falei, envergonhada.

Olhei para a pista novamente e vi Christopher vindo até nós, com Kristen andando atrás. Ela não parecia muito feliz.

– Desculpe pela demora. - ele disse. Kristen parou ao seu lado, sem falar nada.

– Sem problemas. Tive companhia. - respondi. Ele pareceu notar Cameron, e fez uma cara esquisita quando o viu.

– Olá Cameron. - ele disse, meio rígido.

– Olá. - respondeu Cameron, com um sorriso irônico. O que eu estava perdendo aqui?

– Vamos indo, Chloe? - perguntou Christopher.

– Ah não! Agora eu irei roubar a Chloe de você. - falou Cameron, se inclinando ao meu lado e colocando a mão em minha cintura. Fiquei momentaneamente atônica com o contato. Olhei para Christopher e ele me falava alguma coisa com o olhar.

O dj colocou uma música agitada e essa foi minha deixa.

– Sinto muito, Cameron. - falei, tirando sua mão de minha cintura. - Christopher prometeu me ensinar a dançar uma música agitada usando esse vestido. Não tenho ideia de como essas meninas conseguem!

Pedi licença, Christopher me estendeu a mão com uma cara aliviada e saímos.

– O que foi isso? - perguntei, enquanto ele passava direto da pista de dança e abria a porta que dava para escadaria.

– Preciso de ar. - ele disse, subindo as escadas enquanto ainda me puxava pela mão.

Finalmente chegamos ao fim da escada e saímos.

– Christopher, o que foi tudo isso? - perguntei. Ele se sentou no chão, respirando pesadamente e olhando para as luzes da cidade.

– Tudo o que? - ele perguntou, depois de alguns minutos.

– Antes de chegarmos você estava totalmente estranho comigo. Depois você dança com sua ex por um bom tempo, não que eu me importe, mas volta totalmente esquisito e sai correndo da festa. - respondi um pouco rápido demais, sem respirar.

Ele ficou calado, até se levantar e se virar para mim.

– Você não se importa? - ele disse, dando um passo em minha direção e olhando no fundo dos meus olhos.

– Por que me importaria? - perguntei com a voz tremula. Meu coração parecia bater mais forte, minhas mãos suavam e tremiam.

Ele pegou minha mão e a acariciou, olhando para baixo. Depois voltou seu olhar para mim.

– Sabe por que quis dançar com a Kristen? - ele perguntou.

– Como eu saberia? - perguntei, deixando minha voz mais rígida. Ele ia falar dela. Ele riu docemente.

– Pare de responder minhas perguntas com outras perguntas, por favor. Você está me deixando louco. - ele disse, frustrado. Mas pelo que percebi, não por esse motivo.

– Hoje foi a primeira vez que vi ela em muito tempo. Quando ele viajou... Bom, eu já não gostava tanto dela, não como antes. Embora eu tenha sofrido. - ele disse, ficando calado por um tempo. - Quando eu a vi, tive medo de ainda sentir algo por ela.

– E então... - falei. Ele continuou, olhando para qualquer lugar, menos para o meu rosto.

– E então que ao dançar com ela, percebi que não sentia mais nada. Ela veio com uma história de voltarmos, deixarmos tudo como era antes... Mas simplesmente não dá.

– Entendo. - falei - Só não sei onde entra a parte de você ter ficado tão nervoso.

– Ela me mostrou que Cameron estava com você. - ele disse. - Imaginei que ele estivesse me envenenando a pedido dela ou...

– Ou? - instiguei. Ele voltou a olhar nos meu olhos.

– Ou dando em cima de você. - completou. Meu coração pareceu bater ainda mais forte.

– E qual o problema disso? - perguntei, rindo nervosamente.

Ele soltou minha mão e passou as mãos pelo cabelo, virando de costas para mim e andando nervosamente.

– Chris? - perguntei. Eu estava começando a ficar preocupada. Ele parou, mas ainda de costas para mim. Andei até ele e coloquei a mão no seu ombro. Ele pareceu relaxar. Peguei na sua mão para virá-lo para mim.

– Desde o Central Park, mesmo antes de te ver novamente, eu não te tirei da cabeça. Imaginei todos os dias como seria te ver novamente. E depois que te vi, depois que te conheci... Eu tive certeza de que nunca conheci e nunca vou conhecer alguém como você. Passei todo esse tempo desesperado porque não sabia como lidar com o que estou nutrindo por você, aliás, ainda não sei. - ele disse, sem uma mínima pausa, como se tudo aquilo só pudesse sair ao mesmo tempo. - E é por sua causa. É pelo que eu sinto por você Chloe, que eu não posso nem mesmo pensar na Kristhen.

Eu estava chocada. Meu coração estava prestes a explodir, minhas mãos suavam horrores e eu não sabia o que dizer. Abri e fechei minha boca várias vezes para falar, mas o som não saia. Apenas continuei encarando-o.

– Eu sinto muito, não devia ter dito nada disso. - ele disse, soltando minha mão e indo em direção a saída. Processei o que estava acontecendo. Ele estava indo embora.

– Chirstopher! - falei após encontrar minha voz, que saiu quase como um sussurro.

Ele parou na porta me encarando. Eu dei um passo em sua direção.

Ele veio até mim em questão de milésimos de segundos e sem que eu percebesse, pouco tempo depois estávamos nos beijando. Um beijo forte, recheado de urgência. Ele me levou até a parede, beijando meu pescoço enquanto eu ofegava. A cada vez que sua boca se encontrava com a minha, parecia que meu coração queimava em chamas e meu corpo derretia.

Depois de muito tempo nos separamos, mas nossos beijos pareciam terem durado apenas alguns segundos e eu ainda queria mais.

Christopher estava com um sorriso bobo nos lábios, e acredito que eu também. Ficamos abraçados por um tempo até ele falar.

– Acho que está na hora de descermos. - ele disse. Balancei a cabeça em concordância, sorrindo.

– Ficarei feliz em mostrar para todos que estou com a mais linda, extraordinária e ruiva garota da festa.. - brincou. Eu estava prestes a rir, mas meu sorriso se apagou do rosto.

– Não podemos. - falei. Ele me olhou confuso.

– Por que não? - perguntou.

– Que droga! - falei. - Eu não podia, eu não podia...

– O que aconteceu? - ele perguntou, preocupação preenchendo seus olhos.

Olhei para ele.

– Eu meio que tenho alguém em Londres. - respondi. Christopher me soltou como se tivesse levado um choque.

– Você não me disse. - ele falou.

– Eu sei. - eu disse - Não é nada sério, mas...

– Você gosta dele. - ele afirmou.

– Eu... Eu não sei, Chris. - falei, abaixando a cabeça. Ficamos calados pelo que pareceu a eternidade.

– Vou descer na frente. Demoramos demais e se descermos juntos irão desconfiar. Você não quer que seu namorado inglês descubra. - ele disse, virando as costas para mim.

Enquanto ele virava para fechar a porta, achei ter visto magoa em seus olhos.

– Parabéns Chloe, você é maravilhosa estragando coisas. - reclamei comigo mesma.