Bem-vinda à América! escrita por Gabi Torquato


Capítulo 2
Nem o Central Park salva.


Notas iniciais do capítulo

Como sempre, espero que tenha alguém lendo isso. Se tiver , espero que goste!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/594993/chapter/2

– Senhorita McLaggen, está animada com a ideia de morar em Nova York? - perguntou Carla, a moça de 20 e poucos anos que meu pai contratou para trabalhar para mim. Ela aparenta ter descendência oriental. Ela é baixinha e tem longos cabelos pretos. Deve ser engraçado nos ver juntas, já que eu sou mais ou menos um pé maior que ela e meus cabelos ruivos dão cor a nós duas.

Escutei os meus passos no chão do aeroporto enquanto pensava em uma resposta. Eu estava? Nunca tive interesse em vir para cá, nem mesmo para férias.

–Sim, é claro. - Menti

A ida até o apartamento pareceu durar uma eternidade, e Carla só sabia falar sobre como Nova York é uma cidade maravilhosa e que eu vou adorar cada segundo passado aqui. Eu limitava minhas respostas em "Legal", "Interessante" ou qualquer outro sinônimo.

Quando chegamos na minha nova casa, percebi que pelo menos em algo meu pai havia acertado: O Central Park é na minha calçada.

*

Eu nunca encontrei a mim mesma tão desesperada, como quando fechei a porta do meu novo apartamento. É isso, é real. Eu realmente vim, e vim para ficar. Qualquer pessoa pode achar que está tudo bem em se mudar para Nova York e vir parar em um apartamento no Upper East Side. Mas veja bem, eu não ligo. Deixar Londres nunca foi tão doloroso. Fiz amizades, e até esperava algo mais entre Charlie e eu...

Tão certo quanto o ar que eu respiro, pensar em Charlie fez meu coração palpitar. É sempre assim, ele tem uma reação imediata do meu corpo. Conheci Charlie por meio de Erin, minha única amiga de longa data. E eu posso lhe dizer que foi maravilhoso ter o prazer de conhecê-lo. Somos só amigos, mas ultimamente as coisas vinham mudando entre nós, se tornando mais intensas.

– Tudo bem, pensar nisso não vai me trazer bem nenhum. - Disse

Olhei ao redor, o apartamento é excepcionalmente grande para uma adolescente de 16 anos. Ele parece dar dois do meu apartamento em Cambridge, que eu mesma aluguei, então não era algo exorbitante.

Fui até o quarto e ver a cama foi como ter um café duplo e meu livro preferido na mão. Toda essa história de vir para Nova York me deixou tão cansada, que acho que irei dormir até o primeiro dia de aula, que será daqui a três dias. Me joguei na cama e só foi preciso um milésimo de segundo antes que eu caísse num sono.

Mãos me balançando. Talvez se eu ignorar...

– Senhorita, senhorita.

Ou não.

– Hum

– Senhorita, por favor.

– Chloe.

– O quê?

– Me chame de Chloe, Carla. - disse, abrindo meus olhos como se fosse a coisa mais difícil de se fazer na vida.O que no momento, era.

– Me desculpe! É que é manhã, e a senho... e você dorme desde a tarde de ontem. - ela disse, aparentemente constrangida por ter atrapalhado meu sono

– Tudo bem. Dormi tudo isso?

A resposta para minha pergunta foi um barulho vindo do meu estômago. Estou sem comer desde Londres.

– Está com fome? Quer que eu faça algo? - perguntou Carla desesperada - Ai meu Deus, claro que quer!

– Me viro em um Starbucks, mas obrigada.- respondi, rindo de sua situação.

– Ok, qualquer coisa é só gritar.

Eu a observei saindo, batendo o ombro na porta. Ela parece ser meio estabanada, mas boa gente.

Sorri.

Me levantei com muito sacrifico e tomei um banho. A água foi suficiente para tirar o medo que eu estava sentindo e nem havia percebido.

"Isso não é uma novidade, Chloe. Você já passou por isso." pensei enquanto penteava meu cabelo.

–É, eu vou ter o primeiro contado com Nova York parecendo um cachorro molhado. - reclamei

Peguei a primeira roupa que entrou no meu campo de visão quando abri minha mala, e se tratava de um jeans surrado e uma camiseta qualquer.

Não é nenhum segredo, para quem me conhece, que eu nunca tomei para mim a "pompa da fama" dos meus pais. Veja só, meu pai é dono das Empresas McLaggen (que criatividade, pai) e minha mãe, uma ex-atriz filha de também donos de empresas. Falar que eu nasci em berço de ouro, é eufemismo. Felizmente, nunca deixei essa condição me subir a cabeça. Se eu renego tudo e sou revoltada? Não, claro que não. Às vezes tiro meus proveitos, mas também não sou cercada por uma nuvem de futilidade.

Enquanto eu entrava no elevador, percebi que esse lugar deve ser cercado por essa tal nuvem de futilidade. Não esteja jogada no Upper East Side achando que seus vizinhos são pessoas normais.

*

Há algo que eu tenho que admitir: O Central Park é maravilhoso. Eu já vim aqui algumas vezes, mas saber que agora estou a poucos passos e posso vir sempre que quiser, meio que me tira o fôlego. Estou suspeitando que meu pai escolheu o apartamento mais próximo justamente para me comprar.

Tive que dar algumas voltas para achar um banco vazio, e quase pulo de felicidade quando achei um vago. Tranquilidade, café e um livro era tudo que eu precisava para pelo menos ver as coisas por uma perspectiva melhor.

Estava tudo ótimo, até o momento em que uma bola veio na minha direção. E te garanto, doeu.

– Ai meu Deus! - gritei

O café derrabou na minha blusa e no meu livro (que era Uma Breve História do Tempo! Graças ao Universo Stephen Hawking não está morto, caso contrário ele se remexeria no caixão)

– Desculpa, foi sem querer. - disse o assassino de livros

Depois de conferir o estrago do meu livro, que foi grande, eu finalmente olhei para o mau jogador. Perdi o fôlego.

O mau jogador é bem gato. Que clichê!

Cabelos castanhos, alto, não muito forte, mas também não muito magro. Com aqueles olhos pretos que você nunca consegue enxergar a pupila.

– Hm - eu disse, muito inteligente - Quer dizer, acontece.

Ele sorriu. Uooou, tenho certeza de que os aliens viram esse sorriso de longe.

– Eu posso te pagar outro café? - perguntou, mas eu percebi que apenas por educação

Olhei para os meus pés e vi o meu livro caído no chão.

– Você pode me pagar outro livro. - deixei escapar, um pouco arrogante demais - Ou não, na verdade, acho que isso foi um aviso para eu ir embora.

Apanhei meu livro e a embalagem do café, e só nesse momento consegui visualizar o estrago do café derramado na blusa. Ela ficou transparente.

– Merda. - xinguei

– Não sabia que ingleses xingavam. - o menino disse

– Como assim? - perguntei espantada

Ele me conhece de algum lugar ou...

– O sotaque. - ele respondeu rindo do meu espanto

Risada bonita.

Um outro cara chegou ao lado dele, tão bonito quanto. Irmãos, aparentemente. Só que com uma cara um pouco menos simpática.

– Ok Christopher, nós queremos jogar. A mocinha ai não vai chorar por causa de um café derramado, vai? - Perguntou o outro cara olhando para mim de cima a baixo. - Ou talvez vá.

Ele falou isso por causa das minhas roupas, é claro. Fiquei tão pasma que apenas abri a boca para falar, e o som não saiu. Quanta grosseria!

– Cala a boca, cara. - O tal Christopher disse, mas havia uma ponta de sorriso. Ele achou engraçado. Ridículo. - Você quer que eu te dê o dinheiro para comprar outro livro? Foi culpa minha, devo te dar outro.

O rubor subiu por todo o meu corpo, tenho certeza de que fiquei da cor do meu cabelo. Isso e o sorrisinho depois da piada do outro idiota quebraram qualquer encanto. Meu rosto endureceu.

– Não, obrigada.- disse dando o meu sorriso de mais desprezo para ele - Aliás, você deve ficar com o meu. Talvez isso lhes lembre que precisam aprender a jogar melhor. - sorri para os dois e sai, mas não antes de escutar um dos dois dizendo "Bela blusa". Idiotas.

No caminho para minha nova casa, fui pensando na minha situação. Eu sei que não tenho como voltar para Londres, e que repetir a certeza de que essa nova experiência será ruim não ajuda em nada, apenas pode fazer as coisas piorarem. Uma coisa é certa, eu não deixarei essa cidade transformar minha vida em um pesadelo. Mas eu me pergunto o que virá pela frente, já que nem o Central Park salvou...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, se houver alguém ai, comente. Se você gostou, quero continuar escrevendo para você. Se você não gostou, quero melhorar para você. Beijos! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bem-vinda à América!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.