Ponto de Vista – Bella

Foi na terça-feira que eu percebi que estava em problemas maiores do que eu imaginava antes.

Naquele dia eu percebi o quão urgente era eu começar meu trabalho de conclusão de curso, apesar de eu não ter a menor ideia do que fazer.

Foi naquele dia também que percebi a intensidade dos comentários sobre a formatura, me fazendo perceber que, sendo aquele meu último ano, o dia em que eu me formava estava cada vez mais perto, apesar de eu não ter ideia de que carreira seguir.

Minha única certeza no momento era que eu não queria voltar a viver o ensino médio.

Terça-feira foi o dia em que eu não consegui desgrudar do celular, esperando por uma mensagem do senhor Masen.

Idiota.

– Ei, Bella! – ouvi a voz de alguém me chamar enquanto eu saída do prédio da faculdade, já vestida para o estágio.

Claro, coroe meu dia com mais esta.

– Oi, Mike! – respondi tentando fingir alguma animação em vê-lo.

– Você anda sumida. – ele comentou como quem não queria nada.

Toda vez que Mike, um colega que estava terminando a faculdade de cinema, jogava conversa para cima de mim eu sentia vontade de matar Alice. Se não fosse ela me encher de álcool meses atrás eu não teria ficado com Mike e eu não o teria correndo atrás de mim como um cachorrinho toda vez que ele me via.

– Sim, está tudo uma confusão. – comentei esperando que ele entendesse que eu não queria muito assunto – Você sabe... Último ano e tudo mais...

– Claro! O tempo voa, não é? – ele perguntou me encarando e eu esperava que aquela fosse minha deixa para terminar aquela conversa, mas eu estava errada – O pessoal está planejando se reunir na sexta para relembrar os velhos tempos. Você vai, não vai?

A última coisa que eu queria era relembrar os velhos tempos, mas eu ainda era educada demais para responder isso.

– Eu não sei, Mike... – tentei desconversar, mas logo fui interrompida.

– É claro que ela vai! – Alice entrou no meio da nossa conversa e eu estava pronta para matá-la, quando ela apertou meu braço com força – Todas nós vamos! Tenho certeza que Jessica ficará muito feliz em saber que você vai estar lá, Mike! Até a próxima!

Com isso, fui puxada, podendo deixar Mike Newton para trás.

– O que foi isso? – perguntei irritada quando estávamos longe o suficiente.

– Isso fui eu salvando a sua pele, apesar de você não merecer! – Alice respondeu parecendo estar tão irritada quanto eu – Jessica e Mike estão começando alguma coisa. Enquanto ela estiver por perto ele não vai ser uma preocupação para você.

– Oh... – deixei escapar, aliviada – Obrigada.

– Sério, Bella, você precisa relaxar! – ela reclamou.

– Você é a segunda pessoa que me diz isso em um intervalo de tempo de dois dias. – admiti, lembrando que Angela dissera praticamente a mesma coisa no dia anterior.

– Vamos sair sexta, por favor! – Alice pediu com seu olhar de cachorrinho sem dono – Você precisa quebrar sua rotina!

– Tudo bem! – concordei apesar de não acreditar que aquele tipo de quebra de rotina era o que me faria bem.

– AAAAAAAH! Não acredito! – Alice gritou pulando em cima de mim, como se eu tivesse acabo de lhe dizer que lhe daria um carro de presente ou algo assim.

– Estou com ciúmes! – ouvi Angela dizendo ao se aproximar de nós com Ben ao seu lado.

– Bella vai fazer comprar comigo hoje porque todos nós vamos sair na sexta! Isso é uma convocação! – Alice bradou, como se uma coisa automaticamente levasse à outra.

– Quem sou eu para negar? – Angela perguntou brincando.

O casal se despediu e segui com Angela para mais uma tarde no estágio. Não sem antes checar novamente meu celular.

Idiota.

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Eu precisava confessar que se meu humor não estivesse tão azedo pela ausência de resposta do senhor Masen, meu dia teria sido bastante tranquilo.

Eu tive sorte de só pegar turmas entre dez e doze anos e nessa fase eles costumavam se comportar melhor e fazer menos brincadeirinhas desnecessárias do que os adolescentes, apesar do vício em aparelhos eletrônicos que tanto me assustava já estar presente.

Durante o breve intervalo fiz questão de tomar todo o cuidado possível para não me sujar e escolhi me esconder na sala dos professores para tomar meu café em paz.

Eu tinha um tempo vago naquele dia e resolvi que poderia muito bem aproveitá-lo relaxando em uma confortável poltrona ao invés de ficar vagando pelos corredores, correndo risco de ser alvo de alguma cantada desagradável de algum dos alunos.

Ou mesmo de alguma cantada agradável de alguém que não valia a pena nomear.

Eu estava confortavelmente estabelecida, agradando meu paladar com um delicioso café, mas é claro que o destino não permitiria que eu continuasse assim.

É claro que a porta se abriu. E é claro que o senhor Masen entrou por ela.

Ao vê-lo, senti todo meu corpo travar e pude perceber que o mesmo aconteceu com ele.

– Qual é o seu problema? – ele perguntou parecendo estar com raiva.

– Meu problema? – perguntei indo de relaxada à explosiva em segundos – Qual é o seu problema?

– Meu problema é te ver nos lugares errados sempre que você deveria estar fazendo algo de útil! – ele falou irritado, só favorecendo minha raiva.

– Para sua informação, eu estou no meio de um tempo livre agora, o que significa que o que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta! – esbravejei colocando para fora toda raiva que eu sentia dele desde que começara a estagiar ali e ser perseguida por ele.

– Passa a ser da minha conta quando você está em um espaço onde não deveria estar. – ele afirmou seriamente, como se estivesse tentando se controlar.

– Eu estou na sala dos professores! – praticamente gritei – Me dê um motivo para não poder estar aqui!

– Você não é professora, senhorita Swan! – ele rebateu como se estivesse dizendo algo óbvio para alguém muito idiota.

– Nem você, senhor Masen! – contrapus – Aliás, o que diabos você é?

– Isso definitivamente não é da sua conta, senhorita Swan. – ele respondeu rangendo os dentes como se estivesse se segurando para não me atacar.

– Fique tranquilo, senhor Masen, eu sei bem o que o senhor é. – falei com um riso sem emoção – Um idiota!

Sem conseguir me segurar, parti para cima do homem com a pretensão de descontar nele todas as minhas frustrações.

Acontece que ele me segurou no meio do caminho e me dei conta do que eu estava fazendo.

Eu estava literalmente em um bate-boca com um superior, prestes a atacá-lo fisicamente. E não de uma boa maneira.

Nesses milésimos de segundo que utilizei para refletir sobre o que eu estava fazendo, o senhor Masen me atacou. De uma maneira muito boa.

Fui prensada contra a parede, sentindo seu hálito contra meu rosto, seu corpo contra o meu e suas mãos segurando minha cintura.

– Por que você é tão estressada? – ele perguntou e seu rosto estava tão próximo do meu que achei que seu olhar fosse capaz de me engolir.

– Você não se importa! – rebati ainda hipnotizada pelo seu olhar.

– Não. – ele teve a cara de pau de falar – Não realmente.

– Foda-se! – respondi e, sem conseguir me segurar, juntei nossos lábios.

Acontece que eu definitivamente não estava preparada para o que aconteceu a seguir.

Foi como se eu levasse um choque. Na verdade, foi como se eu levasse centenas de milhares de choques, por todo o meu corpo.

Senti cada pedaço da minha pele se arrepiar, isso só de encostar meus lábios nos dele.

Quando o senhor Masen tocou meus lábios com sua língua pedindo passagem foi como se o mundo inteiro se resumisse apenas àquele momento.

E eu não pude deixar de pensar que se o homem era bom daquele jeito beijando, quem sabe o que mais ele não seria capaz de fazer?

Voltando ao momento, percebi que apesar da iniciativa ter sido minha, estava deixando-o fazer todo trabalho sozinho, o que era inaceitável.

Permiti que nossas línguas passassem a trabalhar juntas, tornando aquele o melhor beijo da minha vida.

As mãos dele passeavam pelas minhas costas, subindo e descendo, criando uma trilha de calor irresistível.

Consegui levantar meus braços, envolvendo-os em seu pescoço, agarrando seu cabelo macio, apesar de arrepiado, como se minha vida dependesse daquilo.

No meio daquele misto de calor, abandono e animação, senti uma certa parte da anatomia do senhor Masen começar a se manifestar contra minha barriga.

Foi quando a mágica quebrou e ele se afastou, virando-se de costas para mim.

Ficamos durante alguns instantes naquela mesma posição. Eu ainda apoiada contra a parede, tendo certeza de que minhas pernas não me sustentariam sozinhas e ele afastado, como se precisasse daquele espaço.

A única coisa que eu conseguia ouvir eram as batidas do meu coração e nossas respirações pesadas.

– Isso não deveria ter acontecido. – ele falou parecendo ter finalmente reestabelecido seu fôlego.

– Conte-me sobre isso, idiota. – respondi tomando coragem para largar meu ponto de apoio e saindo daquela sala, precisando ficar longe dele.

Eu precisava buscar a sanidade no fundo da minha mente.

Para piorar, eu tinha esquecido meu café lá.

Respirei fundo voltando para a cafeteria enquanto refletia sobre os últimos acontecimentos.

De três coisas eu estava convicta.

Primeira: Edward Masen era um idiota.

Segunda: Havia uma parte dele, e eu não sabia que poder essa parte tinha, que era atraída por mim.

Terceira: Eu estava incondicionalmente e irrevogavelmente derretida por ele.