Os Corvos de Bridget Hill escrita por Lianel


Capítulo 2
O início começa aqui


Notas iniciais do capítulo

Ele ficou curto e um pouco sem graça, mas prometo tentar recompensa-los no proximo ;)



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Os corvos de Bridget Hill

Acordei com o barulho do sino da igreja ao lado, indicando que já passava das 8hrs, e isso só poderia significar uma coisa: Não ouvi o despertador e, portanto, estava atrasada para o Tabelamento. Assim, levantei da cadeira e corri para pegar um casaco, sem me importar em tirar meu macacão de trabalho cinza ou com as marcas vermelhas de engrenagem em meu rosto. Despedi-me da mamãe e de Jimmy, e corri para a estação de trens-bala, na esperança de chegar à prefeitura antes das 9 horas. Consegui chegar a estação 10 minutos depois, e, apesar do centro ficar a quase 200km da estação, sabia que chegaria em menos de 20 minutos. O trem parou e, me espremendo entre os outros passageiros, consegui passar para a estação. Peguei o elevador que tinha o tamanho de um salão com laterais de vidro, que deixava a grandiosidade casa vez mais a vista.

Os longos prédios, com suas centenas de andares, eram cortados por viadutos, que ficavam uns acima dos outros, se confundindo com trilhos de trens-bala, que corriam tanto normalmente, quanto de cabeça para baixo, mais parecendo montanhas-russas. Enquanto alguns prédios rasgavam o céu em sua forma padrão, alta e reta, outros faziam parecer que o horizonte e o céu eram o chão, e se arrastavam por ele como cobras, ziguezagueando. Havia também os prédios circulares, cujos viadutos passavam no meio dos mesmos como se fossem túneis. Na larga rua principal, localizada no chão, e nos múltiplos viadutos, carros com rodas para os que temiam os céus eram dirigidos. Os mais apressados pareciam enfrentar seus medos, inserindo as rodas novamente para dentro dos carros, e se arriscando ao fluxo de carros flutuantes que se alastravam pelo céu, acima da rua, ou desviando de prédios. Fios cortavam a cidade, para que bondes velozes levassem seus passageiros, e pontos de teletransporte eram encontrados a cada três esquinas. A cidade era predominantemente acinzentada, espelhada, e prateada até o início da noite, onde as telões começavam a exibir suas propagandas, os letreiros dos prédios se iluminavam, e os refletores de boates era ligados, emanando suas luzes abundantemente em direção ao céu quase invisivelmente estrelado.

Uma buzina, acarretada pelo começo de um congestionamento, tirou-me de meus devaneios, me lembrando se seguir caminho até o portal de teletransporte da próxima esquina. Durante todo o caminho, pessoas olhavam pra mim, provavelmente estupefatas sobre como alguém poderia ser tão desleixado com a própria aparência. Meu meu macacão cinza, próprio de um mecânico, velho e cheio de graxa, contrastava com os vestidos bem-elaborados das mulheres que passavam. As mulheres mais jovens gostavam de usar corselets com saias bufantes, ou calças de couro sintético, enquanto as mais velhas apostavam no clássico casacão prateado ou preto. As cores fortes já não eram muito apreciadas aqui, e só eram encontradas em letre, em alguns cabelos, e, mais raramente, nas roupas de alguma adolescente. Ignorei todos os olhares de desaprovação e segui até a máquina de teletransporte, depositei uma moeda de 1 monê, e falei o meu destino. Depois de sentir uma pontada na cabeça e uma leve tontura, abri os olhos. Eu já me encontrava no teletransportador mais próximo da prefeitura, e só tive que andar mais um quarteirão para chegar em meu destino.

Eu já me encontrava na longa escadaria da Prefeitura, que, assim como a Academia de preparação de Futuros líderes, tentava copiar, também sem êxito, a estrutura de um castelo vitoriano, quando o nervosismo chegou. Lembrei-me, então, do meu pai, acalentando-me e me convencendo a soltá-lo depois de assistir um filme antigo onde o personagem principal, um garoto de 12 anos, morria de fome nos arredores do centro da cidade, usando o argumento de que ele era um membro do conselho, e, portanto, era ele que impedia mais garotinhos de morrerem de fome assim, então eu precisava soltá-lo. Foi a partir desse dia, que eu, aos 4 anos de idade, adotei meu pai como herói. Nesse dia, ele deixou-me acompanha-lo até as escadarias de seu local de trabalho. Até aqui. Imagens dos mendigos que agarravam a nossas roupas em busca de dinheiro, de crianças batendo em nossa porta em busca de comida, e dos camelôs que, no fim do dia, gritavam mais alto e mais desesperadamente para terem seus produtos comprados, temendo que não tenham vendido o suficiente para alimentar seus filhos passaram pela minha cabeça. Eu estava tranquila com a certeza de que seria, ao menos, uma intermediária, e que, assim, se não cometesse o mesmo erro da minha mãe de ficar sem ter um emprego na segurança ou em gerenciamento por anos, poderia sustentar mamãe e Jimmy sem tantas dificuldades, mas, no fim, não se tratava só de nós, certo? Continuando a subir lentamente as escadas, encontrei-me em uma ânsia de ser mais do que uma intermediária. De poder fazer mais por pessoas além da minha família. Uma ânsia de ser como meu pai.

Finalmente, eu me encontrava dizendo meu nome para a recepcionista andróide, que tentava localizar-me nos dados de seu sistema, que passavam rapidamente em seu globo ocular.

"Achei. Astrid Herondale. Filha de Margot e Simon Herondale. Irmã mais velha de Jimmitri Herondale. Sangue O negativo. 1, 67 de altura. Confere?" balancei a cabeça positivamente, apesar de não fazer idéia de algumas informações sobre mim mesma citadas pela andróide "Siga-me."

Segui-a até uma porta de ferro, alta e amedrontadora, que se abriu devagar, deixando visível o seu interior que consistia apenas em uma poltrona no meio de uma sala rodeada por paredes de vidro.

–Srta. Astrid? Por aqui por favor.- Disse um homem alto, em torno de seus 40 anos, com pigmentos brancos em sua longa barba. Quando me sentei, ele apresentou-se como Manuel, e seu assistente, um andróide, como ZT046-67, mas disse que eu poderia chamá-lo apenas de Zê. Como todos os outros andróides, Zê tinha a pele branca, mas não um branco humano, um branco de verdade. Ele não tinha peruca e nenhum pêlo, o que não era incomum, já que os procedimentos estéticos em andróides para que parecessem mais humanos só eram feitos nos que atendiam grande quantidade de pessoas, como a recepcionista, por exemplo.

Depois de pedir para que eu trocasse meu macacão por uma roupa hospitalar e de confirmar se eu estava pronta, o enfermeiro grudou adesivos em meu corpo, que se ligavam através de um fio à mão do andróide, que a estendia para mim, como se esperasse um High-five. O enfermeiro posicionou a agulha ao lado da minha cabeça, e mandou eu não me mexer durante o procedimento. De repente, senti uma dor aguda no meu cérebro. Cenas da minha infância e da minha pré-adolescência passavam em um flashback rápido, fazendo minha cabeça latejar. Imagens da minha infância feliz, do nascimento de Jimmy, do desaparecimento do meu pai, da pobreza, das noites sem dormir em busca de um estoque considerável de próteses para a venda passavam mais rapidamente do que eu me achava capaz de acompanhar. Tudo passava acelerado, até que tudo desacelerou, e me deparei com uma cena em velocidade normal. Era o filme que vi no dia em que meu pai me trouxe até as escadarias, mas não era o garoto do filme que estava ali, estendido no chão, inerte, morto. Era Jimmy.

Enquanto ele depositava o conteúdo da seringa na outra mão do andróide para fazer a análise, eu continuava perdida naquela cena.

"Srta. Astrid? Está me ouvindo?"O filme se refazia em minha cabeça, várias vezes, com personagens diferentes, e tudo parecia girar. Cada vez que o filme voltava a passar, a criança anterior era alguma outra criança para qual eu já dei pão ou trocados "Srta. Astrid, você é um Gênio. Ouviu? Um Gênio. A Senhorita gostaria de se candidatar aos testes eliminatórios da Academia de Formação de Futuros Líderes?" A voz dele ecoava.

Eu não olhava pra ele. Eu continuava a olhar para o teto. Continuava a assistir aquele filme. "Esse é um filme antigo", pensei, "Um filme de uma época em que as pessoas se importavam". Eu queria ser como meu pai. Eu queria ajudar aquelas pessoas. Eu queria ser a Governadora.

–Sim- respondi automaticamente, com a voz mais segura do que nunca, apesar da dor.


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Notas finais do capítulo

Obrigaaaada por chegar ao fim de mais um capítulo 8D



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