Povoando Suas Páginas escrita por Daniela Mota


Capítulo 3
Capítulo 2 - Noite das GAYrotas


Notas iniciais do capítulo

Oi, piupou. Como vão as coisas? Acredite, eu quero saber. Bem, não sei se vão ler a nota final, então avisarei logo aqui: Os capítulos serão postados todas semanas, e, dependendo de vocês, (e da minha vida), pode acontecer de ter mais de um capítulo por semana.
Boa leitura!



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Melanie PDV

Eu pensara muito no que o Laurete disse... Durante quase todo o resto do dia a definição de insanidade percorreu o meu cérebro. Eu era insana. Este era o problema, eu fazia coisas iguais, enquanto esperava coisas diferentes. Eu repetia meus dias, mas queria um dia diferencial. Eu estava escrevendo tudo errado, e ainda ousava dizer que eu estava tentando. Eu não rasurava o meu papel porque era lerda, mas sim porque escrevia tudo igual sempre.

Um sorriso brotou dos meus lábios, enquanto eu observava a foto do Arthur, mais uma vez. Seu sorriso era o mesmo do sonho que eu outrora tivera. E eu veria aquele sorriso algum dia, nem que fosse a última coisa que eu fizesse. Porque eu queria fazer algo diferente, e era igual demais ter essa paixão teórica.

Peguei o meu notebook, e entrei rapidamente no meu e-mail, que eu criara quando tinha apenas 8 anos. Já tinha um novo há tempos, já que aquele endereço – melzinhagatinha@hotmail.com – e a senha – melgatinhamanhosa – me envergonhavam quando pediam meu e-mail pra algo importante. Mas, o que eu ia fazer agora é importante, e ele é o melhor a ser usado. Eu devo admitir que, no colégio, eu era uma péssima aluna, mas de computador, eu sabia bastante coisa.

Nenhum e-mail importante se encontrava na minha caixa de entrada, mas não era isso que me interessava. Eu não ia checar e-mails, eu ia mandar um. Pra quem? Bem... Depois de meses de pesquisa, tentando descobrir tudo que eu podia sobre o meu ídolo, eu notei que já sabia tudo o que tinha disponível sobre ele na internet. Não me contentei, e procurei mais. De madrugada, consegui invadir a sua página oficial, através do hackeamento da conta do seu empresário, Martin. Não mexi em nada que deixasse evidência, o que tornou aquilo quase uma experiência fantasma, e também não mudei nenhuma senha. Foi assim que achei um endereço de e-mail, mandado em mensagem para uma página famosa, suposta patrocinadora. Desde então, guardara este e-mail à sete chaves porque nunca tive coragem de lhe mandar nada. O que eu diria? Oi, eu sou apaixonada por você, venha me engravidar, beijos. Respirei fundo, cliquei em novo, e comecei a digitar.

“Olá... Bem, te escrevo isso mais como uma admiradora do que como uma fã. Relato por meio dessas palavras, (que não são nada diante das 95.387 palavras do seu último livro), o meu desejo em te conhecer pessoalmente e brevemente. Sei que não me conhece, então dê-me uma chance. Os seus livros têm histórias tão incríveis, que são dignas de serem vividas. Sonhos que são dignos de virar realidade. Não acredita que as suas páginas precisam de uma personagem mais original?” – parei, e suspirei, achando meio brega.

Meu celular apitou, tirando-me do meu devaneio, em que eu imaginava uma carta que o conquistaria pelas palavras. Então, estiquei a mão e peguei-o na minha cabeceira de madeira. Observei que no visor tinha uma mensagem de Laurete, me convidando para uma suposta noite das garotas hoje à noite, com direito a spa, chocolate e sorvete, e filminhos. Era como um clube das mal amadas, só que divertido. Eu provavelmente recusaria aquilo para fazer alguma maratona de livros que o Laurete achava entediante, mas digitei rapidamente um “Ok, em breve estarei aí, não comam tudo.”. Ele respondeu alguns segundos depois: “Não se preocupe, não tem boy aqui.”. Ri, balançando a cabeça. Então voltei a minha atenção para a tela do notebook, e antes que desistisse daquilo, cliquei rapidamente em enviar.

Lá estava eu, na porta da casa da Cece, esperando que abrissem. Tinha tomado um banho às pressas, e trajava uma calça de moletom e uma regata, com o cabelo preso num coque mal feito, pronta para dormir e ao mesmo tempo aceitável para ficar esperando em frente à porta sem parecer uma louca. Avistei com empolgação que em todo aquele tempo havia uma campainha do lado da porta. A apertei seis vezes seguidas, fazendo a mesma buzina do meu carro, que acabara de lembrar que facilitaria minha entrada na casa.

Laurete abriu a porta, com as mãos no ouvido.

Kirida... Não judia dos meus tímpanos aveludados. – ele disse, enquanto fazíamos nosso rotineiro cumprimento. Depois ele me abraçou, e, num movimento rápido, soltou o meu coque. Percebi que uma música ecoava o local, provavelmente vinda do quarto de Cece.

[Música: Man I Feel Like A Woman]

Ele segurou minha mão, e me rodou no ar. Laurete balançava o corpo todo, e fazia um movimento com os braços. Desmunhecava, fingia que andava no mesmo lugar, e colocava a mão no rosto, fazendo cada de divo. Pegou novamente a minha mão, e me rodou. Fechei os olhos, enquanto rodopiava e os meus cabelos dançavam juntos. Tentei imitar os seus movimentos, e falhei miseravelmente, fazendo com que ele se divertisse. Ergui as mãos pra cima, as balançando ao som da música, enquanto rebolava desastrosamente até o chão, coloquei o dedo na boca, e levantei suavemente. Eu era um desastre, mas aquilo era tão divertido. Apontei para frente, e segurei o meu cabelo enquanto meio que marchava. Rodopiei e acabei com vários fios do meu cabelo na boca. Tentei cuspir enquanto rodopiava mais uma vez.

–Gente, vocês fazem com que eu me sinta uma mala. – Cece comentou, nos assistindo do pé da escada, enquanto ria da nossa peculiar cena.

–Que seja pelo menos uma mala da Louis Vutton, kirida.

Laurete continuava, enquanto mexia a boca, como se cantasse a música. Levantou a mão, e enquanto a balançava, descia até o chão. O talento e rebolado que tinha, deixava muitas mulheres pra trás. Tentei repetir o movimento, mas acabei caindo. Comecei a ri, e Laurete me acompanhou, numa risada espalhafatosa. A música não havia terminado ainda, mas tendo em vista que eu já estava tonta de tanto girar, o Laurete me pegou pela mão, me levantando, e subimos as escadas correndo.

Observei o quarto da Cece, provavelmente decorado pelo Laurete, que agora a puxava para dançar. Para a minha humilhação, ela dançava melhor do que eu, inventando os seus próprios passos, ou sincronizando com o Laurete. Resolvi observar mais, e vi que sua cama estava enfim arrumada, com uma colcha roxa florida e várias almofadas prateadas. Havia umas luzes pequeninas, tipo piscas-piscas que não piscavam, dando a volta na cabeceira de madeira. Sua cômoda de madeira estava cheia de maquiagens, instrumentos de trabalho do Laurete. E, na frente da TV, DVD’s empilhados. Olhei-os mais uma vez, e não resisti, voltando a dançar.

A noite seguiu às mil maravilhas. Devoramos vasilhas de sorvete de morango, com pedaços de barra de chocolate. Eu estava quase tendo o meu primeiro orgasmo, e alimentício. Laurete nos contou da cura gay pelo o qual o pai o submeteu. Antes ele dizia que o pai pensava que aquilo tudo era uma fase, mesmo ele assistindo todos os episódios de Glee que tinham temáticas gays, não reagindo ao bullying porque o agressor era gato, brincando de esconde-esconde e sendo encontrado sempre no armário, sendo dispensado da educação física por afirmar teimosamente que estava naqueles dias e que não era daquelas bolas que ele gostava, ter empurrado uma garota na escola que tentou beijá-lo, e considerar a trilha sonora da sua vida a música I Will Survive. Quando caiu a ficha, o pai não aceitou, queria uma solução. Contara que, certa vez, o pai o forçou assistir um filme erótico lésbico, afirmando que depois desse, ele entenderia que “órgão excretor não reproduz”. Mas se o filme era lésbico, por que isso seria um exemplo? Tive que rir nessa hora. Laurete começou assistindo o filme, tranquilamente, e o pai foi logo se animando por ele não ter tido nenhuma reação histérica. Quando seu olho focou na atriz, ele comentou naturalmente com seu pai: “Nossa, quanta celulite e estria. Nem adiantou ela esconder com laquê. Essa indústria cresce tanto, e ela não tem nem uma esteticista? E esse cabelo, meu Deus... Parece peruca de tão falso. Deve gastar o dinheiro todo em alisante e água oxigenada. Ai, credo, que maquiagem mal feita, maquiou até a perseguida. E tem mais... Você sabe que isso é silicone, né? E passado da validade. Caído, meio flácido e separados. Como vocês sentem tesão por isso? Se eu fosse hetero, desistiria de ser agora. Mas como sou gay, e pra você isso é uma doença, agora estou em estado terminal. Deveria se afastar de mim, isso pode ser contagioso, daddy.”. Pensam que o pai se compadeceu e se desculpou? Ele tacou-lhe um soco na cara. O Laurete afirmou que foi fraco para um símbolo da virilidade, e que no outro dia, a lição o fizera acordar ainda mais gay, e escondeu tudinho com maquiagem. Pegou o notebook do pai, mexeu em seus arquivos de trabalho tranquilamente, e alterou o seu vídeo publicitário, encaixando uma cena de pornô gay. O seu pai, homem temido, foi zuado por todos da empresa, perdeu o contrato mais importante e lucrativo, e foi posteriormente demitido. Ver ele contar isso, era como ver o filme V de Vingança, só que com uma bicha sem máscaras.

XxXxXx

Tentei consolar Laurete, quando terminamos de assistir Sempre Ao Seu Lado. Ele chorava como um bebê, estava quase derretido no chão de tanto chorar, um choro mais feminino que o meu. Meus olhos também estavam molhados, o filme realmente era uma lição de lealdade fantástica que atiçava as glândulas lacrimais. Então o abracei bem forte, senti ele molhar todo o meu ombro de lágrimas, enquanto me apertava, quase me esmagando. Alisei seu cabelo bem devagar, e ele balbuciou algo com a voz embargada.

–Adoro você, Mel... Eu não sou um cachorro, mas estarei sempre ao seu lado quando precisar. – ele disse, sensibilizado. Era a primeira vez que alguém me declarara seus sentimentos. – E você também, mana. – ele disse, erguendo os braços pra Cece que veio nos abraçar. Parecíamos três mulheres de TPM. Eu já estava quase chorando quando, de repente, ele levantou, e disse:

–Meninas... Depois dessa experiência, acho que vou virar goy. – ele disse, e eu levantei a sobrancelha me perguntando o que era isso. – Bem, isso quer dizer que só vou beijar garotos. Nada de plantar bananeira em chuva de salsichas. Porque, af, ninguém tá fazendo direito, e agora tô chorando com filme de au-au. – ele cruzou os braços, chateado, não consegui evitar o riso. Desejei que, umm dia, ele achasse a tampa da sua tampa... Não, pera.

O nosso próximo filme foi um clássico: A Casa de Cera. Para assisti-lo, Laurete fez bastante pipoca. Pipoca esta que ele se engasgou vendo o artista principal, tivemos que espancar suas costas, porque a bicha ficou literalmente entalada, e olha que a pipoca se desfaz com a saliva. Todos nós estávamos com máscaras verdes nos rostos imóveis, segundo o Laurete, um tratamento de pele sofisticado que ia deixar nossa pele fantástica, ele queria por uns pepinos, mas não dava para ver o filme com pepinos nos olhos.

Quando o bom filme acabou, ainda assistimos outro, que não me recordo o nome, porque não prestei muita atenção, o Laurete pintava as minhas unhas e via o filme ao mesmo tempo, e eu cochilava a cada esmaltada. Minhas pálpebras cansaram e se renderam, e a última coisa que vi, foram duas pessoas fazendo o que eu não fazia há muito tempo: beijar. A última pessoa que beijara foi meu ex, e até hoje lavo a boca só de imaginar onde ele andava com ela.

Acordei na cama, observei Cece no meio, e o Laurete na outra ponta da mesma cama de casal. Não lembrara como fui parar ali, provavelmente o Laurete esperou minhas unhas que estavam lindas secarem, e me carregou para cama. Ainda estávamos com cara de aliens nada divos. Laurete abriu os olhos, e me encarou, me indicando o banheiro com o dedo. Tá, já entendi, tinha que tirar aquilo do rosto. Tirei-o cuidadosamente, notando o quanto a minha pele parecia renovada, com um aspecto incrível. Aquilo de fato valia o susto.

–Que cara de mal amada é essa? – Laurete me questionou, quando saí do banheiro. Balancei a cabeça, como se fosse óbvio. – Honey, vem cá, bom dia... – ele me chamou, estrangeirando o meu apelido. A sua expressão era de alguém ligeiramente empolgado. Fui até ele, fazendo cara de medo, e ele se divertiu com a minha expressão. – Por que nunca te vi maquiada?

Acabara de acordar, e já queria maquiar alguém. Será que isso é mal de maquiador profissional? Bem, eu devo admitir que não sabia como me maquiar, nem tinha ocasião para tal, também sempre fugia quando ele tentava.

Laurete me analisava com atenção, com uma expressão profissional, e então me puxou para a poltrona. Pegou o estojo de maquiagem, e parecia selecionar a cor mais perfeita, como se sua vida dependesse disso. Disse algo como usar um marrom, esfumar com o preto, usar iluminador, e tudo mais.

Fitei a minha imagem no espelho. Nunca me senti tão bonita. A maquiagem que ele fizera ficou impecável. Tinha um tom um pouco escuro, um pouco suave. Fiquei perplexa, não acreditando que aquela era eu.

Honey, você tá diva. Se eu gostasse dessa fruta, já tinha chupado até o caroço. – ele disse, todo obsceno, ri – Seja minha modelo. – ele disse, pegando seu IPhone branco com capinha de onça, balancei a cabeça e cocei o olho, distraída – NÃAAO, sua quenga!

(...)

A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa: Me joguei na minha cama, exausta. Não tinha energia nem para lembrar do que aconteceu até lá. Fui tirar meu notebook da cama, e num ímpeto, o chequei antes. Quando vi que tinha uma mensagem do e-mail do Dobrev, quase tive um enfarte. Mesmo antes de abri-la, já estava pulando na minha cama e pelo quarto, rolando pelo chão histérica e fazendo a dancinha da vitória. Me esforcei pra não gritar de felicidade. Então, com as mãos trêmulas e o coração quase saindo pela boca, conferi o e-mail.

“Desculpe-me, mas isso não é permitido. Favor não contatar novamente.”

Continua...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Agradeço à Ashlley Nagase e À Luah Fernàndez por favoritarem a história. A todos que acompanham, e aos poucos que comentaram. Gratidão.
Grande beijo, e até a próxima.