Povoando Suas Páginas escrita por Daniela Mota


Capítulo 4
Capítulo 3 - Uma estrela que não brilha


Notas iniciais do capítulo

Vou parar de chamá-los de piupou, porque já estou parecendo retardada, rs. Então... Apenas oi. Tudo certo?
Tenha uma boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/594041/chapter/4

Arthur PDV

Parecia que uma bomba havia explodido, e eu fui aquele que andou calmamente enquanto ela explodia atrás de mim, mas era só o meu telefone tocando, e diferente de um filme de ação, meus tímpanos latejaram. Amaldiçoei quem estava do outro lado da linha, com toda mandinga que eu já havia escutado na vida. O telefone tocou pela segunda vez, enquanto xinguei a mãe, os animais de estimação e até os empregados. Ao tentar abrir os olhos, notei que minhas pálpebras pareciam ter sido coladas com Super Bonder. O James Bond das colas. Me repreendi, não tolerando meu próprio humor. Notei que foi mais fácil forçar para abrir os olhos, mesmo vendo tudo embaçado, do que tentar lembrar o que aconteceu na noite anterior. Tentei enxergar ao redor, e vi ao meu lado uma ruiva peladinha. Uh... Uma noite e tanto.

O telefone tocou mais uma vez, e eu queria atender só para mandar a pessoa do outro lado da linha se foder, mas a ressaca me prendia. Enquanto isso, tudo o que a garota ruiva ao meu lado fez, foi balbuciar algo e virar a cabeça para o outro lado. Como ela viera parar na minha cama? Não tinha a menor ideia, mas provavelmente tinha sido bem fácil. Depois de um tempo, respirei aliviado ao notar que, quem quer que tenha sido, desistiu de me ligar. Era muito provável que fosse meu empresário, sempre preocupado com prazos, horários e meu estilo de vida. E daí que o meu novo livro ia lançar brevemente? Não devia eu, comemorar o quanto de grana vou ganhar com ele? Não devia eu festejar ao lado das mulheres mais desejadas, das músicas mais bem tocadas e dos drinks mais caros? Não devia eu usar e abusar da minha fama? Isso é um crime? Se for, que me prendam, porque, sinceramente, eu tenho dinheiro para pagar a fiança umas mil vezes.

A garota se moveu mais uma vez, despindo o lençol de seda que cobria mera parte do seu corpo, e então uma pergunta chegou a mim: Como conseguira dirigir em todas essas curvas estando bêbado? Novamente repreendi meu humor, balançando a cabeça que estava dolorida. Como se me ouvisse, seus olhos se abriram, e ela me lançou um sorriso sacana. Deitou de bruços, e com a ponta das unhas tocou os gomos da minha barriga, enquanto mordia os lábios. Provavelmente querendo repetir a dose, não sabendo que só repito doses de bebidas. Bela guinada para me tirar da cama. Tirei os seus dedos da minha barriga, e me levantei andando o menos cambaleante possível, até o banheiro, sem nem virar para ver sua reação. Quando fui fechar a porta, dei de cara com ela, enrolada grosseiramente no meu lençol de seda com uma cara de que não estava entendendo nada. Por que elas faziam isso sempre?

–Eu... Te devo alguma coisa? – perguntei, curioso, apoiado no batente da porta. Vai que ela me ajudava a lembrar de algo da noite anterior. Mas mulheres são mulheres, e ela ignorou a minha pergunta, enquanto me olhava como se questionasse. Dei de ombros, e na trilha sonora do seu silêncio, fui até a minha carteira de couro, puxei umas notas, sem me preocupar em contar, e lhe estendi a mão.

–Tá achando que sou algum tipo de prostituta? – ela perguntou, quase gritando. Ri por dentro, e quase assenti com a cabeça, só pra provocar. Como achei aquilo divertido, continuei lhe oferecendo o dinheiro, e vi os seus olhos tremerem de raiva – Você é um cafajeste! – revirei os olhos, não me importando. Elas poderiam variar os xingamentos, caramba. Tirei então mais notas da carteira, e novamente lhe ergui a mão para que as pegasse. Senti que estava prestes a me dar um soco, então acolhi minhas notas na carteira novamente.

Eu estava fazendo o que justamente o meu empresário me proibiu de fazer. Ele dizia: “Dobrev, não despreze as garotas. Elas têm mais que bundas e seios grandes, elas têm línguas grandes também. Você tem uma imagem a zelar, não dê motivos para dizerem que estão grávidas ou magoadas com o Arthur que conheceram. Não esqueça que é um ícone do romance para muitas, e que isso nos enche de grana. Se não se lembrar de nada, finja que se lembra de algo. As mulheres gostam disso.”

–Olha, Gisele. – disse, imaginando o primeiro nome de prostituta que veio na minha mente, e fazendo um link, porque também era um nome de uma modelo famosa, assim podia disfarçar. Quando ela estava prestes a me interromper, continuei – Eu não posso dormir com você de novo, porque é a mulher mais gostosa com quem já dormi, e foi a melhor noite que eu já tive. Prefiro ficar na lembrança para que tenha sido uma experiência única. – eu disse, lhe lançando o meu olhar. Ela abriu um sorriso tão grande que dava para ver de costas. Simples assim. – É bem difícil, mas... agora acho que precisa ir.

Tomei um longo banho frio, com uma ducha bem forte, e aos poucos fui me sentindo mais acordado. Olhei no espelho, e observei as minhas olheiras. Eu tinha um truque para escondê-las, com um pouco de corretivo, parecia perfeitamente normal. Coloquei uma touca depois de pentear meus cabelos. Escovei os dentes com minha escova elétrica, e conferi se a minha barba continuava ralinha como eu gostava, e ao confirmar que sim, fui até o meu closet e peguei uma roupa social. Coloquei um óculos escuros e desci as escadas. Após isso, tomei um café, que já tinha sido preparado pela empregada, largando o resto da mesa cheio de frutas e torradas. Me preocupei com o meu carro, e me senti aliviado quando o vi, na garagem, sem nenhum arranhão, mesmo eu me aventurando com ele na noite anterior.

Entrei na minha Lamborghini Reventon vermelha, o amor da minha vida, que valia cada milhão gasto, e dei a partida, abusando da velocidade daquela belezinha. Quanto mais quilômetros o velocímetro registrava, mais sentia a ressaca me abandonando. Eu adorava aquela adrenalina, o coração batendo forte.

Quando cheguei no prédio, poucos minutos depois, subi o elevador e ignorei cada pessoa que estava nele. Igualmente fiz quando saí do elevador e fui caminhando até encontrar a minha secretária. Entrei na sala, e a loiraça parecia estar concentrada na tela do computador, pigarreei e ela prontamente direcionou o seu olhar à mim.

–Bom dia, senhor Dobrev. – ela disse, já acostumada à não receber nenhuma resposta. Afinal, bom dia pra quem? Já era ruim só em eu ter que trabalhar. – O senhor Martin estava à sua procura toda a manhã. – ela disse, então relembrei o nome do meu empresário, mas esqueci no mesmo instante – Bem... Hoje tem três compromissos: Com a editora, uma entrevista com a revista Prodígios, e gravação para os fãs. – fiquei entediado desde o primeiro deles, mas apenas dei de ombros.

–Cancela a gravação para os fãs. – falei, e ela me olhou com cara de “não posso fazer isso, senhor” – Olha, não estou muito disposto hoje, e isso não é uma coisa muito útil.

–Lamento, mas o senhor Martin me disse que não posso cancelar nada sem avisá-lo. – ela disse, temerosa com a minha reação.

–Mas quem é que paga o seu salário? Eu ou o Martin? – perguntei, intolerante. Ela piscou umas três vezes, respirou fundo e direcionou seu olhar para a tela do Mac.

–Como quiser. – ela disse, depois de alguns segundos.

–Compromisso com a editora de novo? O que eles querem mais de mim? – questionei, irritado com a sobrecarga.

–Lamento, senhor Dobrev, mas o senhor Martin que disse que te explicará o porquê da reunião às vésperas com a editora. – ela disse, concentrada na tela do computador, por um momento fiquei curioso no que ela tanto olhava. Ela percebeu que não estava me dando muita atenção, e que eu a encarava, então remendou – Bem, acho que alguma fã descobriu o seu e-mail, e não tenho a menor ideia como. Desde ontem, eu a bloqueei, e parece que a mesma pessoa fez outra conta só para mandar outro no dia seguinte. Mandou um hoje. Tem escrito “Urgente”. – ela virou para mim a tela do Mac.

Isso não era problema meu, visto que nem entrava no meu e-mail. Odiava resolver problemas, odiava fãs histéricos, que gostavam de investigar tudo e eram extremamente obcecados por mim. Que palhaçada uma adolescente acha urgente?

“Tutuzinho – revirei os olhos, já irritado de princípio com o apelido ridículo que ousava chamar – estou te escrevendo de novo, e sei que está lendo mas não pode responder usando pessoalidade pela ética. Talvez já tenha até se encantado com as minhas palavras, mas não pode admitir isso porque é proibido se envolver com fãs. Mas sou uma admiradora sua. Acredite, eu sou a sua Elisa e não deve ter vergonha ou deixar que te impeçam de marcar um encontro comigo. Como citou em Povoando Estrelas: ‘Somos apenas poeira diante de todo o universo, mas nem por isso devemos agir como tal’. E assim são meus dias, sou apenas poeira sem você, sei que é uma estrela completa sem mim, mas só te peço uma chance. A cada dia, vivo no desejo de povoar as suas estrelas, e quem sabe as suas páginas.” – balancei a cabeça, dando um riso irônico e tirei os meus olhos da tela do Mac, revirando-os, e me arrependendo de cada segundo que gastei passando rapidamente os olhos por aquelas linhas. Deu até náusea. Por que, afinal, eu tinha lido aquela merda? Aquela garota era provavelmente uma lunática, e eu agradecia o fato de ter poder o suficiente para nunca ter que encará-la sem querer na vida. Era provavelmente uma típica adolescente de colegial, com miopia, o que explica muita coisa, que usa aparelhos e é semelhante à uma batata, sonhando que um dia eu vou cair do céu em seus braços, descobrir que sou o amor da sua vida, e pedir para viver feliz para sempre. Me poupe.

–Olha... – tentei lembrar o nome da minha secretária, mas só lembrei que não era bom com nomes – Não me incomode com esses assuntos. Continue fazendo o seu trabalho. Se for preciso, faça outro e-mail, e passe para todos os contratantes. – sugeri, num tom irônico – E não seria nada mal me fazer um café.

“Tão gostosa e tão incompetente.” – pensei, enquanto caminhava à passos largos até a minha sala. Talvez o primeiro adjetivo fosse o que a mantinha contratada. Balancei a cabeça, e entrei na sala ampla, indo diretamente para minha poltrona de couro, e colocando os pés acima da mesa de vidro. Fechei os olhos, inclinando a cabeça e relaxando o meu corpo, porém alguns minutos depois, fui incomodado com batidas na porta. Ignorei, e ouvi a maçaneta girar. Passos de salto irritantes adentraram a sala, nem me dei o trabalho de abrir os olhos, e senti o cheiro do café adentrar o recinto, ele foi deixado caladamente à mesa, e a porta se fechou. Muito bem, é assim que se trabalha. Dei um grande gole, desejando me restaurar para aquele maldito dia.

xxxxx

Ô revista lixo, a que eu não compraria nenhuma edição. Mesmo eu estando nela. Eu era a capa do mês, e precisava fazer uma maldita entrevista para um bando de adolescentes mal amadas para que comprassem todas, beijassem o meu pôster, e achassem que sabiam tudo da minha vida. Você pensa que, uma revista tão famosa, que passara pelos prodígios atores, cantores, escritores, e até o amado presidente atual, teria uma gata de pernas cruzadas, te fazendo perguntas, a quem iria dar uns pegas no final para aliviar a tensão. Você só pensa. Mas tudo que eu tinha na minha frente, era uma mulher gorda digitando num netbook. Tinha suspeitas que o meu empresário tinha caçado esse demônio cuidadosamente no inferno, só para me castigar pela noitada. Sorria forçado, enquanto ela me devorava com os olhos a cada pergunta.

–Como se sente com o seu lançamento chegando? – ela perguntou, cruzando as pernas, e passando as mãos nela. Desejei morrer.

“Me sinto nadando na grana, porque garanto que, maioria das mulheres, se identificarão com o livro, porque são um bando de iludidas procurando algo para que as suas vidas medonhas pareçam ter sentido.” – Pensei.

–Me sinto catastroficamente bem, e espero que ele dê esperança para que esses músculos deixem apenas de bombear e se arrisquem a amar, mesmo diante das catástrofes. – improvisei. Tinha talento com as palavras quando queria, e isso enganava qualquer um, e me fez o que sou hoje.

–Bem, senhor, Dobrev. E o que gostaria de dizer aos seus fãs para encerrar? – a gorda perguntou, com a voz extasiada com meu último comentário. Ah, droga, odiava esta parte.

–Gostaria de agradecer à elas todo o carinho, apoio e torcida que elas têm me dado. Se hoje sou quem sou, é por causa delas. Se sou a estrela do Prodígios, é porque me fizeram brilhar. Por isso, desejo à todas que consigam viver, pelo menos, um dos meus livros. E se não conseguirem, que entre falhas, escreva o seu próprio.

xxxxx

–Dobrev... Não pode tratar tão mal assim os seus próprios funcionários. – disse meu empresário, adentrando a minha sala, logo após que cheguei da entrevista. Dei um sorriso irônico, e não lhe dei nem a atenção que eu daria a uma mosca. – A Sandra estava traumatizada. Pega leve com ela, ela é a melhor secretária, em todos os sentidos, que você já teve. – assenti, concordando – Como foi a entrevista? Não ouviu o seu telefone tocar? Está de ressaca? – ele me bombardeou de perguntas, ignorei – Francamente, Dobrev, tem que ser mais responsável.

–Já pago à você para ser responsável no meu lugar. – eu disse, com um tom um tanto arrogante.

–Não sei se lembra, mas faltam pouco tempo para o seu livro ser lançado. Como é temperamental, e não quis autografar nenhum deles, a editora não conseguiu lançar ainda uma promoção e seus lucros não serão maximizados. Será que é capaz de entender? Seu livro será lançado em poucos dias, nas livrarias de todo o país, e você está indo para boates se divertir como se não tivesse nenhuma responsabilidade. – ele falou, num tom sério – A única saída que a editora encontrou foi fazer algo diferente – ele esperou que eu perguntasse, não o fiz – um dia de autógrafos. Optamos uma cidade em que há muitos pedidos, muitos fãs, porém não muitos habitantes. Em geral, as pessoas de lá têm uma condição financeira bem favorável.

–Não. – eu respondi à sua proposta.

–Eu já imaginava essa resposta, já faz anos que não faz sessões... Mas como este livro promete mais demanda e mais sucesso que o anterior... Consegui fazer um acordo com a editora: Seu contrato será aumentado, ou seja, ganhará mais dinheiro por cada livro vendido. Isso é fantástico, visto que as editoras são mercenárias. Tudo que tem que fazer é sorrir para as câmeras, autografar livros, e tcharan: mais rico. Vai poder curtir o quanto quiser depois disso, sem incomodo. E então, você topa?

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A partir deste capítulo, a história fica mais emocionante, e as coisas começam a acontecer. A Melanie, em suas linhas muito tortas, tenta tirar a sua história do esboço e torná-la real. Você provavelmente está com raiva do Arthur agora, e eu lhe proponho fazermos uma gangue para invadir a mansão dele e espancá-lo até que chore. Topa?
Brincadeiras à parte, espero estar aqui em breve.
Beijo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Povoando Suas Páginas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.